Pequeno e leve, receita de diversão |
Em outubro de 1998, um carro inglês fora do comum era apresentado no Salão do Automóvel de Londres, o Dare DZ. Dare significa ousar, e o DZ se encaixa muito bem nessa descrição.
Mas a empresa atribuía esse nome devido à sigla Design and Research Engineering (Engenharia de Projeto e
Pesquisa), que fora fundada em 1991 por
Trevers e Ivor Walklett, dois dos quatro irmãos que originariamente formaram a
Ginetta em 1958,
fabricante especialista em esportivos pequenos e leves que existe até
hoje. A empresa foi vendida pela família em 1989 e abriu caminho e verba para outro
empreendimento, a Dare, que começou como consultoria de projetos na área
automobilística.
Para facilitar a
apresentação de suas idéias aos clientes potenciais e provar o que sabiam fazer
sem ter que explicar demais, os dois irmãos criaram o DZ, que veio a encontrar
seu local de produção de forma interessante. A Ginetta, nas mãos do novo
proprietário, logo se tornou concordatária, em 1992, mas ainda tinha pedidos do importador japonês e não podia deixá-lo na
mão.
Cópia de folheto de propaganda |
Com ausência de pessoas capacitadas a fabricar os carros no ritmo
necessário, fizeram então o óbvio, contratando os irmãos Walklett, que eram os que mais conheciam os detalhes dos carros que eles mesmos haviam criado. Essa interessante virada se traduziu em facilidade para que o DZ se tornasse um carro que poderia ser
vendido, agora que tinha uma fábrica à disposição. A utilização da área e dos equipamentos foi considerada no momento da negociação de ambos com os administradores da concordatária.
O desenho do DZ foi
feito apenas pela dupla, nada de designers nesse jogo, trazendo algo inusitado.
Um cone dianteiro como a frente de um carro de corrida monoposto, com faróis
escamoteáveis abrindo para os lados, atrás e acima das rodas cobertas apenas
por guarda-lamas, um pára-brisa bem curvo e inclinado, como de um Porsche
917 e portas pequenas do tipo asa de gaivota presas a uma espinha dorsal no teto.
Logo depois das portas, bem baixas, entradas de ar para radiadores do motor
localizado atrás da cabine, e um vidro traseiro também curvo similar ao de um
Corvette, que na versão conversível obviamente não existia com esse desenho. Na traseira, um pequeno aerofólio. Essa parte do carro nada tem a ver
com a dianteira, parecendo com um carro normal.
Traseira larga não combina com a parte dianteira |
Com preço de £ 21.972, seria produzido em quantidade para atender não apenas os britânicos, mas também japoneses que gostam de sair do lugar-comum e aproveitam os carros de pequena produção de construtores especialistas britânicos feitos
com volante de direção no lado direito.
Como o maior mercado
era o Japão, os projetistas não tiveram muitas preocupações em fazer o espaço
interno confortável para quem tem mais
de 1,70 m de altura. Quem fosse maior
deveria esperar a versão de entreeixos
longo, que não chegou a ser fabricada. Também é bem estreito, largura máxima de
1.650 mm fazem os bancos serem bem próximos um do outro. Com comprimento total
de 3.470 mm e altura de 1.030 mm, é realmente diminuto em todas as medidas,
inclusive no entreeixos, 2.235 mm. Havia um pequeno porta-malas com 150 litros
de capacidade na dianteira.
O motor e câmbio são do
Ford Mondeo, o Zetec com 132 cv originais, de quatro cilindros e dois litros
(1.996 cm³), montado na transversal atrás da cabine. Com massa de apenas 680 kg
fazia a relação peso- potência ser de praticamente 5 kg/cv, a par com esportivos
muito maiores e mais complexos e caros. Essa relação, o resumo de tudo de bom que um carro pode ter para andar rápido, resultava em aceleração de 0 a 96,5 km/h (60 mph) em 5,4
segundos, absolutamente ótimo.
Note a distância entre os bancos |
Com pequena massa a ser deslocada, o consumo melhora, algo que deveria ser regra para qualquer fabricante que se preze, e é algo que se persegue arduamente hoje, quando os combustíveis tem preço de metal precioso. Dessa forma, um tanque de apenas 36 litros deveria dar para 530 km, com consumo médio de 14,8 km/l combinado entre uso de ruas e estradas. Autonomia é ponto-chave para muita gente que não gosta de parar em postos a toda hora. Para viajar então, melhor ainda, pois não se perde tempo que pode ser usado para coisa melhor.
Com as facilidades de
trabalho e componentes para motores Ford no Reino Unido, uma versão com um
compressor de marca Rotrex ou Scanpower —
fontes de informações inexatas aqui — poderia ser montado, chegando a 210 cv e melhorando ainda
mais um desempenho já ótimo, indo a 96,5
km/h em 4,7 segundos.
O conforto das
suspensões era reportado como muito bom
apesar do curto entreeixos. Formada com triângulos superpostos na frente e atrás, na dianteira, amortecedores e molas internas eram longe das rodas, acionados por
alavancas. Tinham acabamento cromado.
Em altas velocidades o carro oscilava um pouco mais do que o que seria desejável. Mas o comportamento é muito bom, empolgando quem o dirigiu, sem ser tão preciso como um Lotus Elise dessa época, um padrão de referência de esportivos pequenos.Com mais um pouco de desenvolvimento teria ficado melhor ainda.
Para parar, freios a
disco ventilados nas quatro rodas, na frente com pinças de quatro pistões e
atrás simples. Obviamente um sistema trabalhando com folga, com tão pouco peso
para enfrentar. As rodas são de 6,5 polegadas de tala por 15 polegadas de
diâmetro na frente e atrás, mas com pneus diferentes, 195/50R15 na frente e
205/50R15 atrás.
O chassis estrutural
foi feito em tubos soldados, e os painéis em resina de compósitos estruturais da Cray Valley, uma empresa da
França com grande linha de produtos na área de polímeros e, mais uma vez, devido à escassez de
informações exatas, não é possível afirmar exatamente qual material foi
empregado. Imaginemos algo similar a plástico com baixa densidade, já que ter pouco peso era uma premissa de projeto.
Um carro
interessantíssimo, pena ser tão raro. O número mais certo é de apenas dez
carros construídos, quatro fechados e seis conversíveis, com capota de lona.
Recentemente, um
exemplar nos Estados Unidos estava à venda por US$ 45.000, nada barato, mas
interessante pela raridade.
Fotos: dareuk.com; jonrb.com; coastautoconnection.com
JJ
Um vídeo do Top Gear: http://www.youtube.com/watch?v=ERkkmYtiG44
ResponderExcluirObrigado pelo link!
ExcluirTenho certa atração por faróis escamoteáveis, principalmente estes que sobressaem ao desenho limpo do veículo. Sei que aerodinamicamente são como pedras ("verrugas"), pesados, geralmente de difícil ajuste (e firmeza deste) e manutenção comum, mas...
Achei mais feliz do que o Chrysler Prowler...
ResponderExcluirOs pequenos fabricantes mereciam ter vida mais longa, pois são esses quem fabricam carros para quem realmente gosta de carros.
ResponderExcluirOs grandes fabricantes deveriam fechar acordo de parcerias com essas empresas, de modo a garantir certa sustentabilidade em suas operações e produzir produtos com menores custos. Acredito que isso iria melhorar em muito a imagem das grandes empresas junto aos entusiastas, e de quebra seria uma excelente propaganda.
Existem muitos carros assim, apenas as fabricantes pequenas dificilmente são lembradas.
ExcluirEu gostei, diferente mesmo!
ResponderExcluirMas esse pequenino inglês parece uma mosca-varejeira.
E daquelas bem grandes!
Jorjão
Pensei que iria dizer:
ExcluirOmbros colados, apertadinho. Carro para andar com a namorada.
jorjao
És tal como o "Plutônio", mas em outro viés :)
-
Uma mosca, ou uma lancha ao contrário.
Com este "apertar de mãos" - de direção - e certa disposição dos japoneses ($) e gosto por pequenos esportivos, poderiam surgir mais "crias" destas, típicas de Lotus (ou Caterham - alô, rabisquem algo novo por aí). Será falta de melhor estratégia ou o caixa ($) está baixo mesmo? Tantos times ingleses tomando conta das grandes equipes do esporte automotivo, poderiam empreender em projetos mais simples como estes (algo do porte da McLaren já é outra conversa).
Onde estará o Plutônio e o seu típico humor; apresente-se!
Acho que o Jorjao e parente do Plutonio
ExcluirO que tenho certeza e que esses dois sao muito loucos!
Me lembrou o ford indygo
ResponderExcluirQuanto ao desenho, acho que se um Lotus seven andasse se engraçando com uma bala de fuzil, o resultado seria isso aí!
ResponderExcluirSem dúvida um carrinho interessante. Só que se alguém quiser saber a temperatura e a pressão do óleo tem que tirar a mão do volante e, de preferência, pedir para o carona ler. Acho que mesmo o povo que faz xuning consegue encontrar lugar melhor para os instrumentos...
Me lembrou levemente o Gillet Vertigo
ResponderExcluir