SUBDIVISIONS - RUSH
Subdivisões
( N. Peart, G. Lee, A. Lifeson)
Sprawling on the fringes of the city
Espalhando-se pelos meandros da cidade
In geometric order
Em ordem geométrica
An insulated border
Uma fronteira isolada
In between the bright lights
Entre as luzes brilhantes
And the far unlit unknown
E o desconhecido longe e escuro
Growing up it all seems so one-sided
Crescer parece tão dirigido
Opinions all provided
Opiniões todas providas
The future pre-decided
O futuro pré-decidido
Detached and subdivided
Destacado e subdividido
In the mass production zone
Na zona de produção em massa
Nowhere is the dreamer or the misfit so alone
Em nenhum lugar o sonhador está tão deslocado
Subdivisions
In the high school halls
No saguão do colégio
In the shopping malls
No shopping center
Conform or be cast out
Obedeça ou esteja fora
Subdivisions
In the basement bars
Nos bares de porão
In the backs of cars
No banco traseiro dos carros
Be cool or be cast out\
Seja esperto ou esteja fora
Any escape might help to smooth the unattractive truth
Qualquer fuga tem que ajudar a suavizar a verdade
But the suburbs have no charms to soothe the restless dreams of youth
Mas os subúrbios não tem atrações para amainar os sonhos sem descanso da juventude
.
Drawn like moths we drift into the city
Cansados como mariposas nós somos arrastados pela cidade
The timeless old attraction
As velhas atrações para qualquer hora
Cruising for the action
Indo para a ação
Lit up like a firefly
Acesos como vagalumes
Just to feel the living night
Só para sentir a vida na noite
Some will sell their dreams for small desires
Alguns vão vender seus sonhos por pequenos desejos
Or lose the race to rats
Ou perder a corrida para ratos
Get caught in ticking traps
Ser pegos em armadilhas
And start to dream of somewhere
E começar a sonhar com algo
To relax their restless flight
Para descansar de seu vôo
Somewhere out of a memory of lighted streets on quiet nights...
Em algum lugar fora da memória de ruas iluminadas em noites silenciosas...
Quase tudo que há hoje no mercado de automóveis é categorizado de alguma forma. Hatch, sedan, perua, utilitário esportivo etc.
Quando algum carro sai um pouco de um padrão, complica a percepção da maioria. Um exemplo bastante simplório foi o Corsa hatch de 5 portas de 1996, com a tampa traseira bastante vertical, considerado por alguns uma perua. Na verdade era uma traseira K, de Wunibald Kamm (1893-1966), o alemão que concluiu que essa forma era vantajosa do ponto de vista aerodinâmico, por produzir uma repentina queda de pressão na traseira, reduzindo o arrasto.
A chegada dos carros com funções e estilos misturados é uma autêntica confusão para quase todo mundo. Esses modelos, batizados de crossover, cruzamento de raça, são sempre um bom assunto, pois dão bastante pano para a manga. Um BMW Gran Turismo ou um X6 é o quê? Hatches gigantes? Jipes esportivos e aerodinamizados? Utilitários esportivos mais esportivos do que utilitários?
É mesmo difícil rotular, e acredito que seja melhor apenas pensar se o carro lhe fala à alma ou não.
A primeira vez que me deparei com um X6, foi marcante. Dentro de um estacionamento, vindo de uma rampa mais alta de onde me encontrava, e era branco. Já havia lido sobre ele, e tinha refletido sobre o que seria aquele "carro", que nas fotos, parecia algo do tamanho de um hatch médio. E com desempenho absurdamente ótimo.
Para mim, não é necessário colocar o X6 em nenhuma categoria, apenas preciso saber que gostei, e se pudesse, seria mais um na garagem. Jamais um X1, X3 ou um X5, mas o 6, certamente.
Tudo isso veio à minha perturbada mente ao escutar pela décima terceira milésima vez a música "Subdivisions" do grupo Rush, a banda canadense que faz o melhor som da galáxia, mesmo que algum habitante de outro planeta não concorde. Além do som, as letras, que fazem pensar em coisas sérias, não em futilidades. Reza a letra dessa canção que você precisa estar dentro dos grupos, ser cool, esperto, bacana, senão você é "cast out ", um excluído. Obviamente isso é uma forma de tratar a própria banda, cujos integrantes sempre foram um pouco estranhos e fora dos padrões. A letra trata da "maldição" da adolescência, onde lutamos por ser aceitos naquilo que nos atrai, e pelas pessoas que participam das atividades que gostamos. Em turmas, as opiniões são entregues prontas, e o futuro imediato, pré-decidido.
Com automóveis parece ser a mesma coisa. O que sai dos padrões da maioria assusta, e se torna rejeitado por essa maioria.
O Paulo Keller explicou claramente no seu post sobre o Livina e o Focus esse ponto. Ele usou a frase "Há também a falta de coragem dos consumidores para se desgarrar do grande rebanho". Perfeito, falta de coragem.
Quem tem tempo, dinheiro e espaço, pode fazer seu próprio carro e ficar 100% de fora do rebanho. Terá, assim, motivo e razão de ser individual em seu gosto. Mas para a enorme maioria isso não é possível, e nem mesmo desejável.
O primeiro ponto do comprador normal de carros é que quase todos não fazem a menor questão de ter um carro que se destaque como diferente por qualquer motivo. Quase todos adoram ver os parentes, amigos e vizinhos com inveja de seu veículo. Quase todos fazem do carro a extensão de suas personalidades públicas, e escolhem carros normais porque querem ser considerados normais. Mesmo que apresentem comportamentos desequilibrados como, por exemplo, sendo reclamantes dos índices de criminalidade, mas consumindo sua drogazinha comprada de traficante armado.
O outro ponto é o preço pago, e aí entramos em uma polêmica que já gerou até mesmo algumas brigas, no bom sentido, entre os integrantes desse blog e alguns amigos.
Sabe-se que os preços dos carros são tratados em divisões e subdivisões. Um "popular" sem nada, não pode custar menos de 20 mil reais. Aparenta ser um acordo entre os fabricantes, que nunca será provado, já que eles brigam por 100 reais de diferença entre concorrentes nos feirões de final de semana argh!).
Cheio de opções, pode ir a praticamente o dobro, 40 mil, numa clara afronta ao bom senso. Mas muita gente compra, então perpetua-se a facada na economia doméstica.
Um carro pequeno considerado "premium" (termo ridículo), não pode custar menos de 50 mil. Precisa ser mais caro que um popular completo, para os donos mostrarem sua condição financeira para o mundo.
Com raras exceções, os preços são feitos pelo tamanho do carro e pela fama que eles atingem. Vejam o exemplo do Focus, que no modelo antigo era cerca de 10 mil reais mais barato do que o atual, alvo de investimento massivo em propaganda, e que vem se mostrando bom de venda, o oposto do modelo original. Pode a banana ficar mais cara se ela é apenas banana? Ilógico.
Pode um Fiat Mille, o Uno de verdade, custar mais de 20 mil reais ? Podia um Audi A3 nacional ser tão mais caro que um Golf, se ambos eram em quase tudo o mesmo carro ? Óbvio que não, mas tinha que ser mais caro, afinal, era um Audi, não um Volkswagen.
Ou alguém aqui acha que o Tucson seria o sucesso que é se custasse menos, e houvesse um monte deles na periferia como os há nos bairros de classe média?
Claro que o que escrevo aqui não vai mudar a situação. Diz-se que o capitalismo é selvagem, justamente por esses desequilíbrios que o dinheiro impõe, e isso não deve mudar em poucos séculos. Assim como o adolescente vai continuar procurando sua turma eternamente.
Mas vejam que não defendo apenas carros baratos como sendo o certo, e que não deve-se gastar dinheiro em carros caros. Sempre acredito que devemos ter apenas o carro de que gostamos de verdade e de coração.
Seja ele um pequeno carrinho de transporte diário com algumas melhorias ao gosto do dono, ou um tremendo esportivo cuja utilidade é apenas o prazer da condução. Compre o que você gosta, não o que querem te empurrar. Você será mais feliz.
JJ