O título foi exatamente o que eu disse a uma repórter da TV Anhanguera, de Goiânia, coligada de TV Globo, ser a medida anunciada pelo governo na manhã daquela sexta-feira 23 de julho de 1976, ante-véspera da III 12 Horas de Goiânia: proibição total de corridas de automóveis no ano seguinte - em nome da crise do petróleo de 1973, a segunda se for considerada a crise de Suez de 1956, quando o presidente do Egito Gamal Abdel Nasser fechou a passagem do Mar Vermelho, no Oriente Médio, para o mar Mediterrâneo, deixando a Europa completamente seca, sem um gota de petróleo.
A decisão de probir corridas no Brasil veio do Conselho Nacional do Petróleo (CNP, já extinto, no seu lugar está a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), na pessoa de seu presidente, o General Oziel Almeida da Costa. "A gasolina é produto nobre para ser desperdiçada em corrida de automóvel", declarara à imprensa.
Antes que o leitor se impaciente, é bom eu explicar o que é a foto. Alguém, no autoódromo da capital goiana, ainda novo, inaugurado fazia apenas dois anos, se apressou em preparar um pôster-protesto com a caricatura do excelente piloto Marcos Veiga, heroi local que tinha uma escola de pilotagem no próprio autódromo. O desenho mostra o Marcos com o capacete em posição de receber esmola e representava a perspectiva de pilotos, mecânicos e preparadores sem emprego em 1977.
Estava todo o circo armado em Goiânia para essa etapa do campeonato brasileiro, inclusive a equipe Mercantil Finasa-Motorcraft, que representava oficialmente a Ford, eu e Arthur Bragantini dividindo o Maverick sob novo regulamento, o grupo 1 (tivemos muitos problemas, chegamos em sétimo, depois de vencermos a prova anterior, em São Paulo).
O piloto carioca Mauro de Sá Mota Filho assina o pôster sobre o capô do Maverick de Billy Sharp, com quem fez dupla na prova.A seguir o pôster foi afixado na porta da escola de pilotagem do Marcos, numa tentativa de sensibilizar tantos quantos o vissem, em especial a numerosa imprensa presente ao treino de classificação naquela sexta-feira. Depois todos os pilotos o assinaram, como Mauro de Sá Mota Filho (já falecido), que tripularia o Maverick V-8 n° 20 de meu primo-irrnão Billy Sharp.
Por que economia de palitos? Assim que soube do ato do CNP fiz um cálculo de quanto o Brasil consumia de gasolina durante um ano, todas as categorias, treinos e corridas propriamente ditas. Cheguei a 300.000 litros. Esse volume, eu soube depois, era o que UM posto Esso no Rio de Janeiro, que existe até hoje e fica defronte do estádio de remo da Lagoa Rodrigo de Freitas, vendia durante UM MÊS.
Uma verdadeira, inequívoca e real economia de palitos de que um anfitrião se vale para reduzir o custo do jantar de gala. Eu tinha de dizê-lo e tive a sorte de falar isso para a Rede Globo.
O Brasil foi o único país do globo a ter interrupção total de corridas. No resto do mundo houve restrições tipo cortar a duração de uma corrida em 10%. Mas foi só. Tinha que ser nós dar o vexame do exagero
Sempre digo que esta decisão, mesmo que tivesse sido revogada em meados de 1977, causou danos irreversíveis ao automobilismo nacional. Não só pelo fato de uma penada poder interromper todo um processo, como, e mais importante, corridas da noite para o dia passaram de heroi a vilão. Deixou de ser um atividade boa para investir. Está voltando, mas mui lentamente.
Na época era presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo o General Eloi Menezes, com quem eu mantinha ótimas relações. Eu era piloto ativo e presidente da Comissão Nacional de Pilotos. Foi ele quem me disse, à noite, que havia dado um duro danado para convecer o colega de farda General Oziel a não me prender... Lembre-se, vivíamos tempos de AI-5, sem nenhuma garantia constitucional, com a mão de ferro do presidente Ernesto Geisel.
BS
Bacana esta parte da história. Eu desconhecia esse fato da proibição das competições.
ResponderExcluirTirando a parte trágica, uma mancha irreversível no cenário de competições, podemos dizer que o Sr Robert teve MUITA sorte perante os "milicos". Qualquer contestação era motivo para ser tratado "na bala", durante o AI-5.
Valeu por compartilhar este pedaço da história, Bob! E "parabéns" por "ter passado por essa são e salvo" podendo agora nos reportar alguns fatos.
Tempos perigosos hein Bob?
ResponderExcluirEram militares aqui e acolá até presidindo quermesses escolares...
Quem bom que havia um autoentusiasta "infiltrado" lá no meio, senão era bem capaz de não termos mais a sua companhia para nos servir de referência (fatalista ou não, as pessoas sumiam com facilidade naquele tempo pelo que estudei).
Ótima lembrança sobre a crise do petróleo, realmente fazer esse tipo de "economia" - e fechar os postos aos finais de semana - foram mais um passo "adiante" para o eterno estado de atraso que o Brasil se encontra.
Eduardo Chiavaloni
ResponderExcluirSe não fosse o General Eloi Menezes...é bom nem pensar.
Mister Fórmula Finesse,
ResponderExcluirFechar os postos merece um post à parte, mas foi uma burrice inominável. O nosso problema não era (e continua a não ser) gasolina, mas diesel. Era ele que comandava toda a importação de petróleo. Resultado: menos carros nos fins de semana, mais uso de ônibus, mais consumo de diesel. Nunca vou esquecer que na guerra do Golfo de 1991, em 17 de janeiro, o imbecil do Collor mandou fechar os postos das 20 às 6 horas. Pois no dia seguinte ao começo do bombardeio o preço do barril do petróleo caiu de 40 para 19 dólares o barril, e mesmo assim o fechamento continuou até à expulsão do Iraque do terriótio kwaitiano, um mês e dez dias depois, o fim das operações.
Foi um ato típico de um regime autoritário jogando para a platéia. Outro do mesmo feitio foi a ridícula reserva de mercado que atrasou em décadas a informatização deste país.
ResponderExcluirNa verdade, o regime nem precisa ser abertamente autoritário para adotar medidas como essas. Basta ser populista.
Maldição energética? Que nada, isso é a maldição dos des(governos) que tivemos, temos e teremos por muito tempo. E, lembre-se, o Brasil não um país propício para auto-entusiastas. Infelizmente.
ResponderExcluirBob
ResponderExcluirAcho que já tinha lido algo a respeito, se bobear foi você mesmo que escreveu.
Incrível como nossos governantes lá na ilha da fantasia conseguem pensar (sic) nessas bobagens.
A nível mundial é a mesma coisa que Ferrari e Porsche projetarem esportivos híbridos e a Aston Martin fazer aquela coisa horrenda chamada Cygnet.
Quantos carros de competição existem no mundo? Quantas tranqueiras existem rodando aos milhões com carburadores?
E quando falo em "tranqueiras" falo de carros mal cuidados, não de antigos bem conservados.
Paulo
Afinal, como funcionava essa lei de reserva?
Eu sei que até a injeção eletrônica demorou a chegar aqui por isso.
Ditadura Brasileira, anos de chumbo!..lamentável período onde vimos a manifestação dos ''Déspostas esclarecidos'' nas cores verde-oliva!. Eu desconhecia as sanções do regime militar que foram impostas ao automobilismo e a todos os envolvidos. Estava pensando aqui, imaginando a cena..uma viatura da Polícia do exército ( Crevrolet Veraneio )juntamente com o DOI-CODI ''caçando'' os subversivos nos fins de semana de corridas em Interlagos. Triste período vivênciado pelos AUTOentusiastas daqueles tempos, ainda bem que um deles está aqui entre nós!, e que certamente vai nos contar mais a respeito daqueles tempos!
ResponderExcluirValeu pelo texto Bob!
Henrique Martins
É Bob, vemos aqui fatores como a "politicagem" contribuindo em mais um episódio para a nossa "maldição energética".
ResponderExcluirQuem diria, nosso amigo Bob Sharp praticamente um subversivo :-)
ResponderExcluirInfelizmente essa mentalidade de "jogar para a torcida" é algo muito enraizado na cultura do país. Todos os níveis de administração jogam assim, basta ver a quantidade de asfalto (vagabundo) despejado nas ruas do Rio em ano de eleição (aliás, nem em ano, nas últimas eleições só nos dois, três meses anteriores).
Eu uma vez ouvi falar que a solução para o alto consumo da Brasília foi instalar uma mola que tornava o acelerador mais duro. E isso em uma empresa alemã, olha só...
Bob, estive vendo a tua avaliação em vídeo do Agile, e gostaria muito de ver uma avaliação tua, em vídeo, do Ford Focus Hatch 2.0. Tenho um Focus Hatch 2.0 (modelo novo), 2009 à gasolina, e tenho curiosidade sobre a tua opinião sobre o carro, já que eu sou fã deste carro, mas queria a opinião de um especialista. E acho que daria um post interessante também uma avaliação do "New Fiesta", este sedan que a Ford esta trazendo do México. Desculpe ter fugido do assunto deste post. Abraço. MRM21.
ResponderExcluirO pior é ainda hoje ouvir pessoas dizendo que sentem saudades do regime militar, q naquela época as coisas não são como agora. Me dá vontade de matar qdo ouço isso.
ResponderExcluirMas eu, apesar de não ter nascido nesse ano, só em 78, já havia ouvido sobre essa proibição e que ainda nos dias de hoje, apesar de reduzida, vemos censura e/ou repressões por parte de poucos q mandam nessa país. Mas brasileiro quer mesmo saber se o time dele vai ou não pra proxima fase do campeonato brasileiro, libertadores, se for blz, se não, o bicho pega, vão brigar com tecnico, jogadores....
Enquanto tiver pão, água (bolsa familia, etc) e circo (futebol e carnaval) esse país vai ser o que é e ninguém fará nada pra mudar.
Bob,
ResponderExcluirExcelente, aula de história autoentusiasta brasileira!
Quem sou eu pra questionar? não tinha nem nascido, mas lendo agora sobre os AIs, contrapondo ao final do seu texto, não foi o Geisel que revogou as AIs que feriam a constituição?
Paulo,
Falou tudo!!! Basta ser populista!!!
Abs
Fabio
ResponderExcluirPreciso verificar isso. Pode ter sido o Geisel ou então o Figueiredo.
Anônimo MRM21
ResponderExcluirVocê tem todos os motivos para ser fã do Focus 2,0 hatch, o carro é fabuloso em todos os aspectos, uma das melhores compras que se pode fazer hoje. Tanto esse novo Focus quanto o new Fiesta estão na nossa agenda de avaliações. E nada de desculpas por sair do assunto do post. não é necessária rigidez nesse ponto.
Joel,
ResponderExcluirUm bom resumo sobre o que aconteceu durante a vigência da extinta Lei da Informática, escrito por um profissional de TI que apoiou essa lei na época de sua promulgação, pode ser lido em http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/02/274653.shtml
Bob, lembro muito bem!
ResponderExcluirNa quinta feira a noite desembarquei em Brasília de onde junto com dois amigos comissários da prova seguiriamos de carro na manhã seguinte para Goiania e as notícias já eram preocupantes acabando por dar no que deu.
Depois da sua declaração foi um Deus nos acuda com muita gente se preocupou com o que pudesse acontecer.
Seu carro (se não me engano) foi o único dos Ford Maverick oficiais a chegar classificado já que ocorreu um festival de semi-eixos quebrados (??!!) e a vitória ficou com o Opala da pela dupla Afonso Giafone/Edgard de Mello Filho que do alto do podium fez um emocionado apelo pedindo que não deixassem aquela festa acabar.
Foi duro!!!
Esta caricatura do piloto mendigo foi desenhada pelo Marcos Veiga Jardim saudoso piloto Goiano que entre outras coisas mantinha uma escola de pilotagem.
Bob, foi no Governo Figueiredo ou antes já que no famoso 7 de Setembro onde ocorreu o festival do Álcool no Rio De Janeiro (meu conterrâneo) Cel. Cesar Calls de Oliveira era o Ministro das Minas e Energia.
ResponderExcluirBob,governo Figueiredo segundo o http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9sar_Cals
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