google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014): convidado
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Conforme falado no post anterior do Juliano, além de escrever muito bem, ele também expressa seu talento e sensibilidade através da fotografia. Então ele também foi convidado para expor suas melhores fotos aqui no AUTOentusiastas.

1) Essa é uma foto muito antiga, mas gosto da forma como peguei as linhas da grade do Dodge Charger 1971. Lembra-me o Copan, do Niemeyer. E o farol auxiliar dá um toque de cor ao monocromatismo.



O nosso assíduo leitor Mister Fórmula Finesse faz ótimas contribuições ao AE através de sua participação ativa e frequente com comentários nos posts. Além disso já nos enviou textos excelentes sobre o seu autoentusiasmo. E bota autoentusiasmo nisso!

Por isso ele foi mais um convidado a fazer um texto especial para nosso aniversário.

Entusiasmo
por Mister Fórmula Finesse

Entusiasmo: Forte alegria e animação; júbilo. 2 Arrebatamento , fervor com que se age. 3 Admiração por alguém ou algo.

Eu começo a escrever agora sobre entusiasmo, sem ao menos vasculhar os registros sobre o tema que muita gente bem mais tarimbada do que eu escreveu no primeiro ano desse maravilhoso blog. Posso inclusive estar copiando a ideia de alguém ao descrever a etimologia da palavra para depois explicar o peso dela na minha vida, e a nossa relação comum com os carros. Posso simplesmente estar sucumbindo a pressão de escrever algo relevante em um espaço protegido por censores zelosos da qualidade e acompanhando por um número sem fim de entusiastas dedicados que querem sempre o melhor... Mas, vou deixar de lado essas considerações e a timidez de, deixar o coração falar, pois ele guiará minha pena como uma alma sábia e caridosa guia a mão de um médium...

Mais um convidado especial para a semana de aniversário é o Juliano "Kowalski" Barata. Entre outras coisas ele tem o site Mulsanne e o Blog do Mulsanne. O Juliano tem pelo menos dois dons facilmente identificáveis: perseverança e sensibilidade. A perseverança se vê na minibiografia que ele preparou a nosso pedido, e a sensibilidade salta aos olhos nos seus textos e fotos - devemos fazer outro post com ele só com fotos.

Sua minibiografia é tão interessante que decidimos colocá-la na íntegra.

Quando decidi trabalhar com jornalismo automotivo, em 2004, eu ainda estava no curso de História, na USP. Não conhecia absolutamente ninguém do ramo. Tudo o que eu tinha à mão era o meu Dodge (na época um Charger) e algum conhecimento técnico. Resolvi me aprofundar naquilo que mais gostava: dinâmica automotiva. Sempre gostei de andar forte, mas principalmente, de entender o que se passava. E para repassar isso aos leitores precisaria aperfeiçoar a minha base. Comprei mais livros, comecei a frequentar o autódromo de Interlagos, fiz um curso de pilotagem e após muitas conversas criei amizades com pilotos, mecânicos e engenheiros. Em 2006, o site Mulsanne estava no ar, com o Blog do Mulsanne ao lado, pouco tempo depois. A meta era fazer algo de nicho, direcionado ao entusiasta com o meu perfil: velocidade e técnica. Também entrei no ramo da fotografia, pois estava sozinho e precisaria de imagens. Mal sabia eu que esta se tornaria uma das grandes paixões, e atualmente briga lado a lado com o meu amor aos textos. Hoje, trabalho na revista que leio desde criança, a Quatro Rodas; e sou colaborador do blog Jalopnik. Devo tudo isso ao Mulsanne e ao conselho de vários amigos, que me ensinaram o valor do arrojo e preparo.


Foto: Quatro Rodas / Marco de Bari

O Renato Bellote é mais um convidado para o aniversário do AUTOentusiastas. Um blogueiro que anda fazendo bastante sucesso com uma ideia simples, porém muito legal: reunir todos os carros bacanas numa única garagem. Também vale a pena destacar a perseverança refletida na constância e continuidade do trabalho feito pelo Renato.


Autoentusiasmo: sintomas e prescrição
Por Renato Bellote


Quando recebi o convite para escrever sobre os dois anos do AUTOentusiastas no ar, fiquei animado. Não somente pelo fato de publicar o texto em um blog respeitado, mas também por compartilhar a paixão em comum pelas máquinas de duas, três e quatro rodas.

Sendo um fotógrafo autoentusiasta, o Leo Sposito prontamente atendeu nosso convite para uma exposição de suas fotos aqui no blog. Através do seu olhar, técnica e equipamentos, além de uma apurada técnica de edição, ele produz imagens incríveis. Ele mesmo construiu seu rig, um equipamento especial para fazer fotos de carros em movimento. Já tem destaque na comunidade virtual e recentemente fez trabalhos para as revistas Driver e Full Power. Faz ensaios especiais, sob encomenda, para autoentusiastas que querem imortalizar seus carros.  

Abaixo está uma exposição de 20 fotos com um breve comentário do próprio Leo sobre cada uma delas.

MEU 206
Foi meu primeiro carro, e minha primeira foto de carro. O Photoshop me ajudou na falta de coragem de rebaixá-lo de verdade. Tenho saudades "visuais" do carro, mas nenhuma saudade "mecânica" dele.


O Flavio Gomes é o primeiro convidado para a semana do aniversário de dois anos do AUTOentusiastas. Veterano na internet é um dos blogueiros autoentusiastas (entre outras coisas) de maior sucesso. Gentilmente nos enviou um texto sobre sua paixão.


Eles fazem sorrir
Por Flavio Gomes

Não queira ter uma relação com seu carrão cheio de botões, reboque cromado para não puxar nada, flex powers, trios elétricos, fly by wire, e ABS igual à que eu tenho com os meus. Você vai perder.

Meus carros têm nome, eu converso com eles e entendo o que se passa no seu coração. Ninguém olha para você nesse esquife filmado com vidros escuros como o breu. Para mim, todos olham e acenam.

Se o seu carrão pifar no meio da rua, ou numa estrada no fim do mundo, ninguém vai parar para te ajudar. E se alguém se aproximar, você vai achar que é ladrão. Se um dos meus estancar no meio da avenida mais movimentada de São Paulo , vem um monte de gente para empurrar. E é o pai de um que teve um igual ao meu, o tio do outro que dirigia um táxi idêntico, a avó de um terceiro que ainda tem o seu guardado na garagem que só usa para ir à feira, e se eu não souber o que fazer para ele pegar de novo, alguém saberá.

Meu kit de sobrevivência nas ruas é barato. Um joguinho de ferramentas, desses que se compram em camelôs, com uma chave de fenda, um alicate, algumas chaves de boca. Um frasco com gasolina para jogar no carburador de vez em quando, um galão de água para refrescar o radiador. Oh, que coisa mais primitiva, dirá você.

OK. Tenha uma pane no seu carrão eletrônico para ver o que acontece. Nem tente abrir o capô. Você não sabe o que tem lá dentro. Cuidado, ele pode te engolir. Torça para o celular estar com o sinal pleno e chame um guincho, a seguradora, o papa. Sente e espere. Seu carrão só vai funcionar de novo quando conectarem um laptop nele. E prepare o talão de cheques.

Meus carros, não. Têm carburadores, distribuidores, diafragmas, bobinas e velas, tudo à vista. Sei quando o piripaque é na bomba de gasolina. Sei quando é sujeira da gasolina. Sei assoprar um giclê. Sei onde fica o giclê. Aliás, sei o que é giclê. Procure algo parecido na sua injeção eletrônica.

Seu carro é um emérito desconhecido, sem história ou currículo. Os meus têm 40 anos ou mais, já passaram por muita coisa nessa vida, e quando saíram de uma concessionária, décadas atrás, estacionaram na garagem de alguém em forma de sonho realizado. Carro fazia parte da família, antigamente.

Ah, mas o meu tem ar-condicionado, disqueteira e controle de tração, dirá você. Sim, mas você nunca terá o prazer de dirigir de vidros abertos e cotovelo para fora da janela, meu rádio toca as mesmas músicas, e não me faça rir com o seu controle de tração. Quantas vezes ele foi necessário?

Além do mais, existe um negócio chamado prazer. Prazer de ter algo que lhe é caro e precioso, mesmo que não valha muita coisa. Carros iguais ao seu todo mundo tem. Vejo aos milhares todos os dias, e nenhum deles tem a cara do dono. Os meus têm. E quando eles quebram, eu mesmo conserto. E eles me agradecem andando de novo, fazendo com que as pessoas sorriam quando passam, fazendo barulho e soltando fumaça.

Não há nada como um automóvel que faça alguém sorrir.


Nota: esse texto foi feito originalmente para a Revista Quatro Rodas Clássicos e cedido pelo autor para publicação no AUTOentusiastas.
CORVETTE C6 ZO6, O LEGADO DE DUNTOV AINDA VIVE
Por Carlos Fernando Scheidecker Antunes

O Corvette C6 Z06 é talvez um dos esportivos mais desejados da atualidade, simples, eficiente, extremamente rápido e de um design que incorpora tudo de clássico que a série Corvette apresentou até hoje. Porém é impossível entender o Z06, bem como a atual sexta geração do Corvette, sem falar sobre Zora Arkus-Duntov.

Zora Arkus-Duntov é uma daquelas figuras míticas. Engenheiro, piloto, entusiasta e gearhead nato, Zora é tambem o pai do Corvette. Ou melhor, talvez o padastro do Corvette.

A vida de Zora mais parece uma grande produção de Hollywood, porém seu início nao foi fácil. Nascido na Bélgica em 1909, seu nome de batismo era Zachary Arkus. Seus pais eram imigrantes Judeus Russos. O pai de Zora era um engenheiro de minas e sua mãe, estudante de medicina em Bruxelas, daí o local de seu nascimento.

Após conclusão dos estudos de sua mãe, os Arkus voltam à cidade natal, Leningrado e logo em seguida se divorciam. A mãe de Zora casa-se novamente com outro engenheiro de minas, Josef Duntov e então Zora e seu irmão adotam o sobrenome Arkus-Duntov em respeito ao pai e ao padastro. Estranhamente, tanto o pai de Zora, como sua mãe e seu padrasto, moram juntos na mesma casa.

Zora Arkus-Duntov (1909-1995)

No final da década de 20, a familia muda-se para a Alemanha em busca de uma vida melhor. Desde adolescente, Duntov tem como paixão a velocidade. O seu primeiro veículo é uma moto de 350 cm³ (um absurdo para a época) a qual ele usa para corridas locais, bem como corridas nas ruas de Berlim.

Seus pais, temendo os perigos oferecidos pelas corridas de motocicleta, insistem que Zora se livre dela e corra com algo de quatro rodas. Então ele adquire um carro de corrida. O primeiro carro de Zora é um Bob, marca artesanal alemã voltada às competições e de curta existência. O Bob era fabricado para corridas em ovais e, como consequência, não tinha freios na frente e os de trás eram insuficientes para frear o bólido.


Zora e sua moto


Zora e o seu primeiro carro: o Bob

AUTOENTUSIASMO NÃO TEM IDADE

Por Fabrício Samahá

A expressão "nasceu com gasolina nas veias" aplica-se bem a casos como o meu. Conta a família que, com dois anos de idade, apontei um carro na estrada — vindo no sentido oposto ao do nosso — e disse, de chupeta na boca, que seria o então recém-lançado Fiat 147. Argumentaram que não, que talvez fosse um Corcel ou outro modelo, até que o pequeno automóvel feito em Betim passou por nós e eu, satisfeito, alfinetei: "Viu? Era o Fiat mesmo".

Na infância, acompanhava com interesse os lançamentos, visitando concessionárias para os conhecer e para obter catálogos de divulgação. Aos sete anos passei a ler revistas de automóvel, mês após mês. Sempre gostei de escrever — sobressaía pelas redações nas aulas de Português — e, com 10, decidi "lançar" a própria publicação. Uma máquina de escrever (computadores pessoais eram raridade na época), fotos recortadas de revistas, algumas opiniões sobre os carros e... estava pronto em setembro de 1985 o número 1 do jornal de uma só página, ao qual se seguiram dezenas de outras edições, cada vez maiores.

Em fevereiro de 1988 o jornal evoluía para a revista Auto Magazine, com 80 a 120 páginas mensais. O texto era feito do ponto de vista do garoto de 12 anos, mas com muito capricho na redação e na diagramação, fichas técnicas e opiniões embasadas no que as revistas e jornais mais conceituados haviam publicado. Como ainda era redigida à máquina, saía em exemplar único, então emprestado aos amigos e parentes. Naturalmente, da mesada não sobrava muito após comprar dois exemplares das principais revistas do gênero — um para guardar, outro para recortar as imagens.

O primeiro computador veio dois anos depois e a revista, renomeada Top Speed, ganhou uma pequena tiragem. Como mantive o processo de recortar e colar fotos de revistas no papel, só um exemplar podia tê-las. Assim, a tiragem não cresceu muito: os amigos preferiam o "exemplar especial" ilustrado. Contudo, aos 15-16 anos já não havia tempo suficiente a dedicar à revista, cuja última edição saiu no fim de 1991. Logo naquele momento em que o mercado, aberto aos importados, estava tão mais interessante que o de 1985!

Se o entusiasmo pelos carros só aumentou com a aguardada obtenção da habilitação e a compra do primeiro automóvel, o lado jornalista ficou um pouco acomodado. Até que um dia, já no quarto ano da faculdade de Direito, fui convidado pelo Bob Sharp e pelo Fernando Calmon a colaborar com a revista Autoesporte. Eu os conhecera meses antes, em visita à Redação, e não poderia ter deixado de lhes mostrar as revistas artesanais do tempo de garoto, que fizeram sucesso.

A primeira matéria para Autoesporte saiu em dezembro de 1996. No ano seguinte, com acesso à internet, decidi retomar a ideia de uma produção própria, que me desse plena liberdade de pauta e de opinião. A plataforma para esse espaço seria a rede mundial de computadores, que ainda engatinhava.

Nascia então em 22 de outubro de 1997 o Best Cars Web Site, cujo formato inicial se parecia com o dos blogs de hoje. O êxito do site me surpreendeu e em pouco tempo aquela se tornava minha atividade de tempo integral, mesmo que os "frilas" continuassem necessários, pois a receita com o site foi modesta nos primeiros anos.

Hoje, após quase 12 anos de Best Cars, colho os frutos daquela semente plantada ainda garoto, daquela paixão por automóvel e pelo jornalismo desde muito jovem. Reuni no site uma equipe de aficionados pelo assunto, que se empenham em fazê-lo completo em conteúdo e preciso na informação. Quem visita o Best Cars percebe de imediato que passa gasolina pelas veias de quem o escreve, o que traz imediata empatia.

Meus cumprimentos aos amigos do AutoEntusiastas pelo primeiro aniversário de seu agradável e interessante espaço. E que o delicioso vírus da paixão por automóvel permaneça para sempre nos corações de todos nós!


Fabrício Samahá é editor do Best Cars (www.bestcars.com.br)

OS FRUTOS TROPICAIS

Por José Mahar Rezende

Os inícios da indústria brasileira de automóveis foram em cima de projetos e desenhos meio ultrapassados ou fora do padrão da época, verdadeiros enteados da produção desse tempo. Exemplos fortes dessa teoria foram o Volkswagen, o Aero, o Simca e o DKW-Vemag.

Por partes:

Volkswagen

Nos anos 50 o Fusca tinha já um discreto sucesso nos mercados europeus e mesmo por aqui, montados por um grupo brasileiro, mas nada que se comparasse ao furor de vendas que aconteceu nos anos 60 e principalmente nos anos 70.


CARRO É CARETA

Por Jason Vogel

Pense rápido: qual o carro favorito da garotada de hoje? O sonho de consumo adolescente? Quando minha mulher me fez esta pergunta, matutei, matutei e não encontrei resposta. Há 20 anos, seria fácil: XR3... GTI... Voltando ainda mais no tempo, chegaríamos à geração que passou no vestibular só por causa do Fusca prometido pelo pai abonado. Mas e em 2009? Alguém pode citar um Civic Si, vá lá, mas é algo muito diluído. A verdade é essa: os meninos de hoje (com honrosas exceções) já não amam os automóveis.

E o tuning? É o anti-automóvel. O auto-imovel. Rodas gigantes, som de trio elétrico, telões de DVD, mas nada que represente prazer ao dirigir. Essa substituição da mecânica pelos gadgets, percebida no meu achômetro daqui, já foi rescenseada e tabelada no Japão. Um estudo mostrou que a imensa maioria da juventude de lá já não vê qualquer graça em carro. Perdeu a aura. Virou coisa careta. Bacana mesmo é o celular que canta e sapateia. O iPod que mais pode.

Junte-se a isso a transformação do automóvel em vilão de todos os males. A percepção dos fabricantes de tudo o que importa agora é provar que seus carros são mais verdes, seja lá como for (quem vai gerar tanta energia para carregar as baterias? Pensamos depois...). Estamos acompanhando o começo da caça às bruxas da combustão interna. O nascimento do senso comum de que o futuro está em versões para o século XXI do Detroit Electric 1907.

Daqui pra frente, o que vai contar é a bateria com maior autonomia, no carro mais limpo, que emitir menos ruído e trouxer engenhocas extras para facilitar a vida do dono. Aquele que acelera e freia sozinho, mantendo distância segura dos outros automóveis e formando um trenzinho automático no trânsito. Tudo, claro, vigiado por chip e satélite, evitando certos arroubos.

Alguém há de lembrar que, passada a marolinha da economia, vendem-se carros como nunca no Brasil. Mas que carros são estes? Cada vez mais homogêneos, assistidos e anestesiados, vêm perdendo seu componente lúdico para se tornarem meros utensílios práticos, como máquina de lavar ou geladeira. O máximo de fetiche que carregam são o estepe à mostra e uns penduricalhos pretos de plástico, nostalgia de aventuras não vividas. Acreditem, leitores deste blog: há gente que sabe não sabe qual o fabricante do próprio automóvel. Sou testemunha e dou fé.

Lamento informar que estamos no fim da era dos Autoentusiastas. Aos poucos seremos marginalizados, como já ocorre com os fumantes. Haverá clichês do tipo: eu bebo mas não faço pipi no seu pé, mas você dirige e joga fumaça na minha cara. Nossos queridos carros serão vistos como bestas perigosas, a serem controladas.

Consciente disso, vou curtindo tudo enquanto posso – mesmo que sejam os seis quilômetros do trabalho até a garagem de casa. Nesse breve trecho, posso dirigir com o ouvido, deixando subir a rotação do motorzinho 1300 do meu Volks 1969. Atrasar a troca de marcha um tiquinho, para, então, em dois breves movimentos, cléc-cléc (ahhhh...), engrenar a quarta. Sentir o liso do baquelite escorregando na palma das mãos. Frear, reduzir e depois dar gás milimetricamente no curvão de 360 graus que termina sob o viaduto. Uma volúpia de sons, cheiros e vibrações. Momentos de uma relação íntima de homem e máquina, em que vou agradecendo cada minuto ao Professor Porsche e a seus colegas, que nos legaram tantos projetos geniais.

E pensar que tem gente que não entende um prazer assim. Pobrezinhos...



Jason Vogel, 39 anos, dirige carro velho por amor e carro novo por obrigação profissional. É editor dos cadernos de automóveis dos jornais O Globo, Extra, Diário de SP e Expresso. De vez em quando se descobre apaixonado por algum lançamento, como o Fusion V6 AWD.

COLECIONAR OU NÃO COLECIONAR, EIS A QUESTÃO...

por Alexander Gromow

Um mundo de coisas, sem limites tampouco fronteiras, do saco plástico de supermercado até Rolls-Royce... Um exemplo deste mundo são os colecionadores de automóveis antigos, eu sou um deles. Talvez um tipo particular, pois não tenho dezenas de carros e talvez, por isto mesmo, eu me denominar colecionador seja um tipo de licença poética.

Há poesia no ato de colecionar? Talvez, mas o que leva alguém a se tornar um colecionador é algo intrigante que tem um sem número de possíveis causas. Até psicólogos debatem sobre os motivadores que induzem ao ato de colecionar. Vistos "do lado de fora" os colecionadores podem até ser classificados de verdadeiros malucos. Pessoas que se entregam ao ato de colecionar de uma maneira inexplicável para quem não foi infeccionado por este "mal", que, ao que tudo indica, também é contagioso.
Do lado de dentro, no íntimo de um colecionador há um turbilhão de emoções bastante capazes para atos de bravura e de loucura.

Quando eu estava procurando peças para uma reforma em meu Fusca, que ainda não tinha data para começar, ocorreu um fato que pode exemplificar este estado de espírito. Depois deste relato quem sabe vocês poderão chegar a uma conclusão própria. A busca era por uma peça do sistema de torneira de reserva de gasolina do Fusca 1955, que não tem marcador de combustível. A torneira, quando deixada na posição correta reserva cinco litros de combustível que, via de regra, permite chegar até um posto de gasolina próximo.

Avisei em casa que ia até a Avenida do Cursino - no bairro do Ipiranga, em São Paulo-,e isto despertou a curiosidade de minha esposa. Era sábado pela manhã e ela se prontificou a me acompanhar. Expliquei que não seria um passeio necessariamente agradável, mas os meus avisos não foram suficientes para demovê-la.

Lá fomos nós, a procura levou quatro horas, no final das quais ela disse: "Eu confesso não ter explicação para o que presenciei. Você contou a mesma história mais de trinta vezes. Agüentou gozação, gente dizendo que tinha a peça, mas não venderia para você, ouvindo histórias de pessoas que não se conformam por ter vendido seus Fuscas. Você só descansou quando uma boa alma decidiu vender a peça, que, aliás, ficará escondida em baixo do carro e só você irá saber que ela está lá. Eu não posso definir qual é o motivador que leva uma pessoa como você, com a sua formação e vivência a este tipo de atitude".

Aí surgem as possíveis explicações. Talvez seja a vontade de ter algo que seja o mais perfeito possível, o mais próximo do original, o mais... Será que a razão é a busca do tal de "o mais"? Isto parece um “caso agudo de perfeccionismo mórbido”.
Bem, mas o meu carro já faz parte da família, está conosco desde 1970, apesar de ter sido fabricado em 1955. Já é um caso de amor, será? Gostar de um carro é uma coisa saudável? E os colecionadores que gostam de sua coleção de "saquinhos de enjôo de aviões", são igualmente sãos?

Acho que está surgindo mais um fator: ao lado do perfeccionismo pode existir uma leve e gostosa mania. Dizem que mania é coisa de gente que tem um parafuso solto. Acho bom não voltar a falar de parafuso, que aquele deu um trabalhão para encontrar.
Na enorme tribo dos colecionadores existem os do tipo "enrustido" que colecionam para si e de uma maneira egoísta não dividem a sua coleção com ninguém. São do tipo introspectivo. Por outro lado existem outros que colecionam para se diferenciar dos demais. Mostram o que têm e fazem questão de ter objetos absolutamente impecáveis, ou, ao menos, melhores do que os de sua "concorrência".

Acho que os pacientes do que sofrem do desafiador mal da coleção devem ser analisados caso a caso, pois esta fauna é muito diversificada e existem “avis-raras” de todos os tipos.

O importante nisto tudo é que graças a estes “malucos-beleza” estamos mantendo vários objetos que são importantes para a preservação de nossa história e que suprem, no caso de nosso querido Brasil, a falta de museus e de entidades que se dediquem, de uma maneira organizada, ao “preservacionismo”. Neste contexto, eu lembro que não há nem em São Bernardo do Campo, a pátria do carro brasileiro, tampouco em São Paulo, uma das maiores cidades do mundo, um museu público do Automóvel.

Lembro-me da romântica iniciativa da qual participei ativamente, quando colecionadores de São Paulo descobriram o Tendal da Lapa, então abandonado, e fizeram um mutirão para limpá-lo com vistas a fundar o Museu do Automóvel de São Paulo. O então prefeito Jânio Quadros estava favorável à idéia, mas seu mandato estava por terminar e sua sucessora Luiza Erundina, então PT, nos enxotou de lá sem mais nem menos...

É por isto mesmo que eu digo, talvez sem a necessária isenção, mas com muita convicção: "Salve os colecionadores e suas manias! Salve as horas de estudos e pesquisas. Salve os investimentos que às vezes parecem injustificados, mas que permitem que as metas sejam atingidas!"

Exorto a você para que, mesmo não entendendo os motivos de um colecionador, ajude a este pessoal quando puder, pois assim certamente todos estaremos preservando algo para o futuro.



Alexander Gromow – Engenheiro Eletrotécnico, nascido em 1947 na Alemanha e brasileiro por opção desde 1949, ex-presidente do Fusca Clube do Brasil. Autor de livros e artigos sobre VW. Participou do lançamento do Dia Nacional do Fusca e apresentou o projeto do Dia Municipal do Fusca em São Paulo. Lançou o Dia Mundial do Fusca em Bad Camberg, na Alemanha. Historiador, palestrante e ativista de movimentos de preservação do Fusca e de carros antigos em geral. Mantém a coluna Volkswagen World no Portal MAXICAR.
ENTUSIASMO, SEM AVISO PRÉVIO

Por Fernando Calmon

Como explicar o entusiasmo pelos automóveis e o automobilismo de competição? Muitas vezes não há explicação. No meu caso, até hoje, fico com aquele ponto de interrogação.

Na adolescência, até acompanhava pela leitura de jornais uma ou outra corrida. Comecei cedo ao volante – 15 anos. Apreciava muito dirigir, mas era fanático por... futebol. Aos 17 anos, talvez por sempre me destacar nos estudos, ganhei um Fusca 1963 zero quilômetro, em outubro, mês de aniversário. Com a condição de só dirigi-lo até o início da imensa ladeira da rua Marechal Mascarenhas de Moraes, em Copacabana, Rio. O prédio onde morava era o último da rua e subir a pé, todos os dias, dava uma senhora canseira.

No começo até obedeci. Estacionava o Fusquinha e andava uma quadra para apanhar lotação ou ônibus. A tentação era demais e no começo de 1964 resolvi arriscar, além das voltas dentro do bairro. Li no jornal sobre as 100 Milhas da Guanabara, na distante Barra da Tijuca, um circuito de rua de longas retas e poucas curvas. Foi a primeira vez que presenciei uma corrida ao vivo, vencida por Chico Landi em um Karmann-Ghia/Porsche.

Sem o menor aviso prévio, “aquilo” me contaminou. Simplesmente fiquei maravilhado com os carros passando zunindo – como se falava antigamente – na minha frente. As competições na Barra tornaram-se um momento mágico, a partir daquele dia, sempre ansiosamente esperadas. Daí para o entusiasmo foi um passo. A cada uma das poucas corridas que assistia, mais me empolgava. De fanático pelo Flamengo e assíduo freqüentador do estádio do Maracanã flagrei-me perdendo o interesse pelo futebol. Em poucos meses, à medida que se aproximavam os 18 anos e a sonhada carteira de motorista, menos apreciava o esporte bretão (adjetivo do passado) e mais o esporte motorizado.

Essa guinada acabou afetando minha vida profissional, já como estudante de engenharia. Sentado nas pequenas arquibancadas do velho e precário autódromo de Jacarepaguá, em 1967, sentia que precisava mudar de fora para dentro das pistas. E o jornalismo seria o melhor atalho. Em 21 de agosto de 1967 lá estava eu, em um estúdio da TV Tupi, juntamente com Álvaro Costa Filho, para apresentar o programa Grand Prix, que ficou 13 anos no ar. Depois veio O Cruzeiro, a migração para a capital paulista, a revista Autoesporte, que lia com avidez e nunca imaginava, um dia, poder tocar a redação.

Hoje a paixão pelo automóvel, em quase 42 anos de profissão e 62 de idade, continua inabalada. As competições, é verdade, já desapareceram do meu dia a dia. Talvez a morte prematura de Ayrton Senna, talvez o fim do automobilismo de sonho ou, mais provável, os novos rumos profissionais. Há quatro décadas era possível se dedicar, com seriedade e conhecimento de causa, tanto ao esporte como à indústria automobilística no jornalismo especializado brasileiro.

Nos dias atuais, em razão dos dois ramos tão desenvolvidos, isso se tornou uma missão bastante difícil, possivelmente ingrata. De vez em quando, ainda recebo mensagens de ex-telespectadores do Grand Prix e do Primeira Fila (1985-1994) inconformados pela minha deserção. Não adianta: vai além das minhas forças. Aquelas que me restam, dedico-as dia e noite aos automóveis, com o mesmo entusiasmo de sempre.



Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980.

Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90).

Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 65 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto.

Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

CONTATO
fernando@calmon.jor.br

O ENTUSIASMO

Por José Luiz Vieira

Quando eu tinha meus três, quatro anos de idade, costumava sentar na cama girando uma bandeja como se fosse um volante de direção e imitando barulhos de ônibus, fazendo de conta que estava parando para receber passageiros, minha mãe entre eles. Dona Eurydice tinha de ficar sentada atrás de mim por tempos absurdamente longos. Aos oito anos, deixava meu pai na dúvida se eu estava sendo sincero ou não, ao dizer qual era a marca e o ano dos carros que passavam em frente de casa, na Vila Clementino.

Não tínhamos carro naquela época, meu pai não sabia dirigir e não se interessava por automóveis, mas um dia meu tio Mário, que tinha um Buick 1940 a gasogênio e um Lincoln Zephyr V-12 a gasolina (racionadíssima) que saía uma vez por mês só para não ficar permanentemente parado, garantiu a meu pai que eu ia ser motorista.

Como esquecer aquele Zephyr verde, de estofamento caramelo e imenso rádio a válvulas no centro do painel? Como esquecer a primeira vez que o dirigi, com imensos trancos de embreagem na primeira marcha? Como esquecer depois dele um Chevrolet 1941 de câmbio a vácuo, um Ford 1936 conversível, um Mercury 1942 sem para-choques cromados, um Opel Käpitan 1937 e finalmente um Buick 1941 cupê Super de dupla carburação?

Com o fim da Guerra e a volta da gasolina, dirigir com um certo medo um Ford Prefect, alto e estreitíssimo, que parecia que ia tombar em qualquer curva um pouco mais rápida, um Chevrolet 1946 da repartição em que meu pai trabalhava e que seu motorista saia comigo para ajudar a me treinar ao volante, depois um Mercury 1948e um Buick Super do mesmo ano. Finalmente, um Buick Roadmaster Dynaflow, com que rodei bem mais de 20 mil quilômetros.

Daí para diante, em muitos países, tive a imensa sorte de não parar mais de dirigir carros velhos (às vezes são ótimos), antigos (museus, coleções), usados e novos, alguns deles mulas de engenharia que somente seriam lançados bem mais tarde (e que aí, sim, seriam ótimos). Sem dúvida, a vida tem sido deliciosa – em boa parte por causa deles.

Entusiasmo, como tantas outras faces da psique de cada um, não se explica – sente-se. Ter entusiasmo pelo automóvel não é nada estranho – acontece com quase qualquer jovem, muito antes mesmo dele ter idade para dirigir. Manter esse entusiasmo, pela vida afora, pelo carro ou por qualquer outra coisa, já não é assim tão comum, mas quem o faz leva uma enorme vantagem sobre aqueles que, ao se tornarem maiores de idade, maduros, interessados apenas em 'coisas mais sérias', perdem esta beleza de muleta psicológica.