Esse DKW-Vemag é diferente dos demais no material de grande parte da carroceria. Toda a dianteira, portas, folha do teto, para-lamas traseiros e extremidade traseira é de plástico reforçado com fibra de vidro. O carro era um 1964 do meu sócio na concessionária Volkswagen Cota, no Rio de Janeiro. Havíamos sido antes concessionários Vemag e em 1968, com a compra da Vemag pela Volkswagen, mudamos de bandeira automaticamente.
O carro já estava um tanto rodado e o sócio, piloto com eu, resolveu que deveríamos fazer alguma coisa com o DKW, aproveitando nossos recursos e experiência de reparo de carrocerias feitas desse material plástico, uma vez que comercializávamos GT Malzoni e depois Puma GT, ambos com mecânica DKW-Vemag.
O carro poderia correr na categoria Protótipo Experimental CBA e evidentemente o objetivo era fazer um DKW de corrida mais leve que os 945 kg originais do sedã.
As próprias partes da carroceria serviram de molde e em pouco mais de um mês o carro ficou pronto. Ao pesá-lo, boa surpresa, apenas 650 kg, praticamente 300 kg menos que o sedã DKW.
Resolvemos fazer a dianteira em uma só peça constituindo capô e pára-lamas, visando principalmente facilidade de serviço, pois podia ser removida totalmente.
No primeiro dia de teste no Autódromo de Jacarepaguá, notamos que, como era de esperar, o baixo peso tornou o carro rápido de aceleração. Mas na reta, em vez de o motor atingir as 7.200 rpm, como esperado, repetindo o giro do carro original todo em aço, o conta-giros não ia além de 5.500 rpm.
"Motor bichou", pensamos, e pusemos outro. Mesma coisa. Outro motor bichado. Voltamos para a concessionária.
Motores desmontados, não havia razão para perda de potência. Voltamos para a pista. Novamente, o carro não ia na reta.
Por algum motivo, resolvi andar sem a parte dianteira da carroceria e agora a rotação esperada era atingida. Mistério total. Foi quando dessas coisas coisas que acontecem, o cérebro busca os arquivos e me lembrei de ter lido a história do Morris Mini, de Laurence Pomeroy, livro que tenho até hoje.
Me lembrei que no desenvolvimento do Mini o carro tinha muito problema de superaquecimento, que só depois de muita luta descobriram. O radiador ficava no lado esquerdo do motor transversal, paralelo ao eixo longitudinal do veículo e a hélice puxava ar da caixa de roda para o radiador. Alguém da engenharia se lembrou de medir a pressão atmosférica da caixa de roda e descobriu que ali a pressão era subatmosférica. A hélice pouco ou nada puxava de ar.
A soluçao foi infantil, bastou inverter o passo da hélice, de modo que o ar que entrava pela grade era sugado com grande eficiência para a depressão da caixa de roda.
O raciocínio levou ao DKW de plástico. Ao fazermos a frente inteiriça, desprezamos as saias internas do projeto original que separavam caixas de roda e cofre do motor. Com as três cornetas dos carburadores Weber DCOE 45 puxando ar da caixa de roda não havia alimentação de ar, que se acentuava quanto maior fosse a velocidade. A solução? Está na foto: removemos, ali mesmo na pista, a carcaça do farol direito, desse modo pressurizando a caixa de roda correspondente. Resolvido, o câmbio ficou curto tanto que o giro passou a subir. Tinha até que aliviar um pouco no fim da reta.
E assim corremos durante o ano de 1969, pois eram provas curtas e o carro podia correr sem faróis, segundo o regulamento.
Apenas um pequeno detalhe.
BS
esse bichinho devia ser nervoso...
ResponderExcluirMark
Bob
ResponderExcluirNão ficou nenhum registro em vídeo dessa época? Adoraria ver e, principalmente, ouvir o zunido desses 2T quebrando a casa dos 7000 giros.
Bob, boa tarde.
ResponderExcluirDeveria ser coisa de louco, sem os pesos de fabrica, toda aliviada.
Tenho uma reportagem das Belcar V6 2T,gostaria de saber como te mandar.Pois sou meio leigo neste assunto de pc.
Quem já acelerou um vemag, nunca mais esquece seu ronco, a minha foram 3 medalhas em arrancadas, mas tive que vende-la, sabe como é ou a esposa/filhos ou a vemag,na época eu era ajuizado, mas agora!
abraco,
giancarlo
BS, os Weber DCOE 45 não possuem dois venturis separados? Acredito que esse carro teria um venturi por cilindro, implicando em três venturis. Porém com dois carburadores, temos 4 venturis.
ResponderExcluirComo foi anulado o quarto venturi?
Bob, perdão em dois tempos.
ResponderExcluirPuts, o texto é do Eduardo Zavataro com revisão sua.
Um abraco,
giancarlo
O mais interessante de tudo é ver o quanto de coisas foram viabilizadas para produção em série com o advento dos ventiladores elétricos de radiador.
ResponderExcluirBob,
ResponderExcluirInteressante .. deveria andar muito..
Ha algumas replicas das carreteras da Vemag (Belcar 2p) que correm na "Formula Classic" em SP. Com certeza vc as conhece bem como seus proprietarios.
Vc ja pilotava em 1966 qdo um GT Malzonni quase ganhou as Mil Milhas ? Se nao me engano era conduzido por Emerson Fittipaldi.
Abracos
Bob,
ResponderExcluirconta aí o que acontecia quando à noite batia o farol do carro de trás na carroceria desse DKW.
Conta aí, que essa é um sarro.
Bob, como você é simplesmente inteligente! Quando eu iria pensar que a divisória entre cofre do motor e caixa de rodas evitava turbulência?
ResponderExcluirRenan Veronezzi
Francisco V.G.
ResponderExcluirInfelizmente não tenho nenhum vídeo, pena.
André Dantas
ResponderExcluirUm dos carburadores tinha o corpo cortado e todos os furos de combustível, obturados. Ficava então uma cuba/dois corpos e uma cuba/um corpo. Funcionava à perfeição.
Anônimo,
ResponderExcluirSem dúvida, o ventilador elétrico foi uma dádiva para o motores, pois o sistema mecânico gira lento quando mais precisa de ar, como carro parado ou baixa velocidade, e gira em rotação alta quando não precisa, como na situação de trafegar acima de 60 km/h. Mas no caso do Mini o problema seria igual, embora a solução fosse diferente, inverter a rotação do motor elétrico.
Soares,
ResponderExcluirSim, já pilotava, tendo começado quatro anos antes. Eu estava no box da equipe Brasil (a equipe Vemag acabara algums meses antes) e presenciei todo o drama. Por muito pouco o Emerson e o Jan Balder não venceram.
Arnaldo,
ResponderExcluirEsse fato ocorreu no primeir treino noturno para a 1000 Quilômetros de Brasília de 1969. Assim que entrei na pista pela primeira vez naquele treino tomei um enorme susto quando o carro acendeu todo por dentro - o plástico era tão fino que os faróis dos carros atrás deixavam o interior totalmente iluminado. Mas depois me acostumei...
Renam
ResponderExcluirNa verdade as saias destinavam-se a impedir entrada de água no motor jogada pelas rodas. Mas como se tratava de carro de corrida, inocentemente não fiz as saias na frente única. Vivendo e aprendendo, diz-se...
Mark,
ResponderExcluirEra nervoso mesmo, você está certo.
São histórias que depois viram lendas automobilísticas,como por exemplo a história da válvula pop-off que o Ayrton Senna mandou trocar,apesar do parecer contrário da Honda. Dizem que depois disso,os japoneses passaram a respeitar o Ayrton,até então apenas uma promessa.
ResponderExcluirBOb, impressão minha ou tu contaste essa história no BCWS há alguns anos?
ResponderExcluirNão rola uma reconstrução nos moldes desse aí?
Joel Gayeski
ResponderExcluirFoi há pelo menos sete anos atrás.
Bob,
ResponderExcluirEssas suas histórias são um deleite. Aprendo muito lendo seus textos Por acaso vc já publicou um livro?
Fico imaginando como era essa época onde inovações vinham de forma empírica e a criatividade tinha mais terreno p/ aflorar...
Um grande abraço
Caio Cavalcante
ResponderExcluirQualquer hora dessas sai o livro. Já o tenho na cabeça.
Bob, que história incrível! As vezes a eletrônica também me faz sentar no cantinho pra pensar, pensar até achar a solução.
ResponderExcluirCaio, há muito imploro ao Bob por uma versão 'sólida'(não eletronica) de suas histórias... São fatos memoráveis com experiências nas pistas e montadoras... Bob, outro dia cheguei a uma conclusão com um colega meu "O Bob é o cara".
ResponderExcluirOutra, como leio diversos blogs além desse, notei que a palavra 'entusiasta' se tornou comum após a aparição de vocês(normalmente para justificar a doença do cidadão pelo old school mode de manejar um automóvel), o blog de vocês é simplesmente uma referência de qualidade de leitura. Parabéns mais uma vez, a todos que compoem este.
abraço e bom fim de semana
GiovanniF
Daniel San,
ResponderExcluirConta aí como foi essa história do Ayrton Senna e a pop-off.
Dessa eu nunca tinha ouvido falar.
Bob, um livro com estas suas histórias que vem com soluções e macetes para os carros antigos, seria um manual valioso. Parabéns pela idéia.
ResponderExcluirBob,
ResponderExcluircomo tudo que é genial, a solução foi simples.
Ótima história, e sobre o livro, nem vou dizer nada, pois já lhe incomodei com isso algumas vezes.
Abraço.
Bob, como voce disse, "pequeno detalhe", mas diria um SUPER pequeno detalhe e uma SUPER historia. Bacana mesmo.
ResponderExcluirEspero ter estes insights analógicos ao Mini na hora de afinar a RD...
Fernando RD
Muito bom, ouvir histórias como esta, onde idéis geniais, com as limitações da época, eram superadas com muita garra, suor e técnica no braço! parabéns!!
ResponderExcluirBob,
ResponderExcluirSensacional. Li e reli. Muito bom, bom demais mesmo. Meu pai era um grande admirador da marca e teve vários vemags. Imagino se ele tivesse visto e acompanhado isso.
Abração.
AG
Caro Bob,
ResponderExcluirLembro-me dos 1000 Km de Brasília de 69 que, se não me engano, você correu no DKW de fibra.
Eu pilotava o fusca 1700 azul, número oito, que ficou o tempo todo em um pega de horas com o seu carro.
Vou procurar, nos meu arquivos uma foto que tenho deste pega, nossos carros com o sol nascendo no cerrado!
Boas lembranças,
Carlos Zarur
Bob, pode xingar, não resisti: Em terra de cego quem NÃO TEM um olho é rei!
ResponderExcluirBussoranga;
ResponderExcluirPelo que sei,a válvula de prioridade do turbo estava abrindo cedo demais,não deixando que o turbo atuasse com força total. O pessoal da Honda ficou quebrando a cabeça pra achar a solução quando o Senna descobriu que o problema estava na válvula.A turma da Honda achou que não era por aí,e o Ayrton propôs trocar a válvula e dar uma volta na pista,a título de "tira-teima". E o Senna voou baixo. Tudo isso cheira a lenda automobilística,mas a partir deste episódio,nascia ali a imensa admiração dos japoneses pelo Senna.
Neste ano (1969) eu corria ali de Fusca 1600 veja em https://picasaweb.google.com/jrpbotelho/1969AUTODROMODORIODEJANEIRO#
ResponderExcluirJorge Roberto Botelho