Quando meu querido sobrinho, o primeiro, tinha uns 14 anos, referiu-se, para o pai, a um ciclomotor de um amigo como "enceradeira". Meu irmão me contou isso bem chateado e que por isso havia dado uma tremenda bronca no filho, dizendo-lhe que aquele pequeno veículo havia sido fruto de estudo e empenho de uma ou mais pessoas, que encerrava muita engenharia em meio a toda aquela aparente simplicidade. Jamais poderia ser chamado daquela maneira tão desrespeitosa.
Eu e o mano dois anos mais velho temos muito em comum e uma das coisas que cedo aprendemos - não só em casa mas também com um vizinho americano, que havia se mudado para o Brasil com a família para ocupar alto cargo na Esso - era que devemos respeito às máquinas. "Respect the machine", dizia.
Assim crescemos e nos tornamos adultos, agora em plena terceira idade. Mas o respeito pela máquina é o mesmo de quando jovens, senão maior. Por isso a foto que abre este post, uma espetacular máquina chamada locomotiva a vapor que muita gente conhece por um nome que não admito em hipótese alguma: maria-fumaça. Denigre a máquina, é pejorativo ao extremo. Coisa de velho? Pouco me importa se assim acharem.
Mas a locomotiva a vapor não está sozinha nessa questão de apelido a um só tempo sem-graça e ofensivo. Há outra máquina, que desliza na massa de ar ao ser gerada sustentação, uma força vertical ascendente, apenas pelo ar que passa pelas suas asas: o avião. Fruto da engenhosidade humana, que faz parte até hoje das nossas vidas, é descrita por muitos, quando são de pequeno porte, como teco-teco. Igualmente pejorativo e inadmissível por mim.
Um Neiva P-56 momentos antes do pouso (foto airliners.net) |
Finalmente, a terceira máquina, a que mudou verdadeiramente o mundo, seguramente a maior expressão de liberdade individual que existe e que é o motor deste blog pelo entusiasmo devotado, a qual até bebês no seu primeiro ano de vida já se sentem atraídos por ele: o automóvel. Pois esta máquina incrível, quando antiga, é tratada por muita gente como calhambeque. Das três máquinas citadas, considero a mais desrespeitada com esse nome cuja origem desconheço.
"Maria-fumaça", obviamente, vem da observação do vapor saindo dos cilindros, embora muitas tivessem regenadores que transformavam o vapor em água novamente, e da fumaça que saía pela chaminé, pois havia queima de combustível - lenha, carvão ou óleo combustível.
"Teco-teco" certamente é uma onomatopeia, palavra ou expressão que representa um som da natureza, de algum ser vivo ou de uma máquina. Os aviões pequenos como o da foto emitiam um som fraco e algo ritmado de seu pequeno motor de quatro cilindros horizontais opostos de 65 ou 90 cv.
E "calhambeque:"? Seria onomatopeia também, do ruído de carro antigo e alquebrado rodando? Sei lá, se alguém souber diga, por favor.
Ford modelo A 1929 (foto timelessclassics.us) |
Coronel Fulgêncio fica logo antes do Túnel da Mantiqueira, que divide os estados de Minas Gerais e São Paulo, palco de batalhas na Revolução Constitucionalista de 1932, com os paulistas se defendendo das investidas mineiras, que estavam ao lado do governo federal de Getúlio Vargas, sobre a cidade paulista de Cruzeiro.
Para mim, só aquele passeio valeria o II Blue Cloud. Ao chegar à estação ferroviária de Passa Quatro, muitas lembranças da infância e adolescência logo começaram a dançar na mente. Com meu irmão, fui logo ver de perto a locomotiva, sentir seu odor característico de ferragem quente misturado com os lubrificantes dos motores e das rodas acionadas por bielas.
Meu irmão Ronald e eu (foto de Jorge Lettry) |
Começou o passeio, o sons da velha locomotiva 332 de 1928 fazendo muita força serra acima continuava me trazendo memórias, os passageiros no vagão de madeira - eram dois vagões- quietos como que compartilhando minha emoção e do meu irmão naquele momento. Só que a alegria durou pouco.
Um trio contratado pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, que explora o passeio, começou a executar pagodes que mascaravam todos aqueles sons da velha locomotiva dando toda a potência que lhe restava para vencer a forte subida de 3%. Que decepção! Não me contive e, com muito tato, pedi ao grupo que fosse tocar um pouco no outro vagão, explicando-lhes o motivo...No final, com dó, dei-lhes uma boa gratificação.
O túnel de 996 metros. No outro lado, São Paulo (foto Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) |
Embora essa parte relatada sobre o passeio de trem pareça fora do tema autoentusiasta, ela serve para mostrar que o autoentusiasmo, para muitos, é real, muito forte. Seja ou não coisa de véio.
BS
Nota: Depois de este post estar na rede, meu irmão me escreveu lembrando outro termo totalmente impróprio para descrever carro de corrida monoposto: baratinha. Igualmente péssimo.
Nota: Depois de este post estar na rede, meu irmão me escreveu lembrando outro termo totalmente impróprio para descrever carro de corrida monoposto: baratinha. Igualmente péssimo.
Caro Bob Sharp, não seja radical, são só apelidos que todos usamos, e o VW Sedan que virou Fusca? e os tuk tuk ? teco teco ? faz sentido, afinal não é nenhum Boeing , certo? não é falta de respeito, é somente a mania que todos nós temos de dar apelidos, e acho até que isso mostra o carinho que temos pelas maquinas, mesmo "enceradeira" é justo pela alta performance da maquina rsrs adoro os trens também , e os movidos a vapor são muito charmosos !
ResponderExcluirTem um trenzinho mais velho que esse da foto que sai de S.João Del Rei até Tiradentes, um passeio que recomendo. Quando fiz o circuito das cidades históricas de Minas, para que minha filha conhecesse a região - uma overdose de igrejas, tantas que chega a cansar - um mergulho na terra em mina de ouro em mariana etc... culminando com o passeio no trem, quem realmente curtiu feito criança fui eu. Me senti no velho oeste dos filmes das sessões domingueiras. Quanto aos apelidos, até que não fico incomodado, pois na maioria absoluta são jocosos demonstrando carinho e afeto. Nesse quesito discordo com vc. Além de velho (like me) tá ficando chato.
ResponderExcluirEu também. Prefiro assim... ;)
Belíssima postagem e belíssimas palavaras!
ResponderExcluirParabéns pelo blog.
Caro Bob,
ResponderExcluirMais uma “masterpiece” de sua lavra!
É difícil catalogar as máquinas que foram e são importantes em nossa evolução, mas é interessante ver que houve, num dado momento “recente” de nossa evolução, uma concentração de desenvolvimentos que nos levaram ao estágio que estamos agora.
Inventos (ou melhor, domas de fenômenos existentes na natureza por parte do homem dando-lhe um uso específico) no campo da mecânica e da eletricidade, envolvendo pessoas iluminadas, resultaram em “coisas” que você tão bem descreve em seu artigo.
Sou, como muitos de minha geração (safra 1947) um “ferroviário frustrado”, e engenheiro dedicado. Como você sabe a China ainda produz hoje em dia, para consumo próprio, locomotivas a vapor segundo um projeto da Krupp, com as rodas de tração de 3 metros de diâmetro, capazes de a pleno comboio trafegarem a 180 km por hora “rated speed”.
Estas locomotivas evoluíram e agora possuem um tamdem que as torna “onívoras”. Este tandem percebe o poder calorífico do combustível triturado que é aduzido ao queimador e “tempera a mistura” com óleo pesado para garantir um rendimento mínimo. Dá para queimar até lixo...
Você já imaginou aqui no Brasil, locomotivas como estas fazendo o transporte nas áreas não densamente habitadas, queimando de modo controlado o lixo (com cuidado em relação à dioxina) e desengatando o comboio para locomotivas elétricas levarem o mesmo até os centros das cidades?
Pois é, cheguei a fazer um trabalho de faculdade sobre isto, mas este ano eu completo 40 anos de formado, e ai está o motivo do que eu antes chamei de “ferroviário frustrado”. Não era só porque eu gostava de brincar com o meu trenzinho Märklin não...
Parabéns
Alexander Gromow
Excelente post, muitobonito mesmo! Nostalgico!
ResponderExcluirApenas um a parte sobre "teco-teco" (termo que me incomoda terrivelmente). Anos atrás soube de uma historia, no Aeroclube de São Paulo de um piloto de Boeing 747 da então VARIG que havia comprado um Paulistinha para recreação: Precisou fazer vôo de treinamento e adaptação...Voar um Paulistinha é simplesmente Voar!!!! E não pilotar um computador!
Certa vez parei de carro em uma estação ferroviária abandonada em Cachoeira Paulista, com uma máquina fotográfica ultrapassada mas não menos digna, uma olympus PEN, fui tirar fotos do lugar com o seu estilo clássico escadas trabalhadas em madeira e piso de ladrilho hidráulico tudo abandonado e destruído mas em minha mente existia um filtro que remontava todo o ambiente frequentado por senhoras de chapéu e senhores educados que recebiam as pessoas. Logo um Senhor se aproximou e começou a contar sobre o lugar e disse que ha anos não parava trem alí. Bastou ele sair e parou um trem de cargas com 2 máquinas e uma enorme composição carregada de bauxita. Oba! estava com sorte e tirei mais algumas fotos antes de puxar conversa com o maquinista que me recebeu muito bem e explicou que havia parado alí por ter sido avisado de um acidente na linha mais adiante. Me mostrou o motor GM 10 diesel cilindros em linha deixou que eu o acelerasse até o limite de giro, incríveis 400 rpm se não me engano. Me explicou sobre os freios e mostrou também a parte de geração de energia que é o que alimenta os motores elétrico dando tração às rodas. Me explicou sobre as "marchas" da locomotiva que são variações na ligação elétrica, estrela depois triângulo ou delta. Ganhei o dia viajei muito naquele trem sem ao menos sair do lugar com as histórias daquele maquinista. Histórias muitas vezes tristes fruto do desrespeito humano. Bonecos humanos que são jogados na linha afim colocar o maquinista na situação de decidir em segundos entredescarrilhar a composição e a vida de um possível suicída ou demente e até troncos de madeira amarrados em pontes de forma a atingir o parabrisas da locomotiva.
ResponderExcluirJoão Ferraz,
ResponderExcluirFusca era apelido de um modelo de carro específico, ao passo que maria-fumaça, teco-teco e calhambeque são genéricos, é diferente. Mas é evidente que cada um é livre para chamar esses três veículos do que quiser. A ideia foi só chamar a atenção para um fato.
Aproveitando as citações dos apelidos feitos pelo Bob, e notando a presença de um leitor chamado "tratores antigos" ( tratores também são máquinas apaixonantes ), me lembrei que aqui na minha cidade ( Joanópolis- SP) o pequeno Massey Fergunson de 35 cavalos das décadas passadas recebe o apelido carinhoso de "paçoquinha"!
ResponderExcluirO porquê disto, ninguém soube me contar...
Shimomoto
ResponderExcluirSào mesmo incontáveis os pilotos de linha aérea, de jatos de grande porte, que compram um avião leve para terem de volta o prazer da verdadeira pilotagem. Bem lembrado.
Giovanni
ResponderExcluirQue experiência fantástica, inesquecível, essa que você teve.
regi nat rock
ResponderExcluirEntendo a sua curtição perfeitamente, deve ter sido mesmo uma delícia de passeio. Agora, uma coisa é carinho, outra é organizar uma corrida de calhambeques, como vem sendo anunciado na internet esses dias.
Alexander,
ResponderExcluirQue incrível, eu não fazia ideia desse estágio de desenvolvimento das locomotivas a vapor na China. Por falar em trenzinho, em 1995 fiz baldeação em Frankfurt vindo de Hannover no Intercity Express, para pegar noturno para Milão, e adivinhe o que tinha na enorme bahnhof de Frankfurt? Uma gigantesca maquete ferroviária para as pessoas ficarem se distraindo com todo tipo de trem, Marklin, naturalmente. Coisa de Alemanha mesmo!
AntonioCJr.
ResponderExcluirComo já comentei com o leitor João Ferraz, nesse caso é totalmente compreensível, trata-se de um apelido a uma máquina específica. Por que paçoquinha, é mesmo curioso.
Tratores antigos,
ResponderExcluirAgradeço suas palavras.
Bob, eu acho que é apenas uma questão pessoal e não desrespeiro. No meu caso, possuo um MP Lafer 1978 placa preta que chamo carinhosamente de "calhambeque". E detalhe, em breve colocarei uma buzina "ugauga".
ResponderExcluirTambém tive o prazer de conhecer um dos 3 projetistas do avião Paulistinha, Sr. Adonis Maitino, que não gostava muito, mas não ficava irritado quando o chamavam de "teco teco".
Acho que não sendo pejorativo, é válido.
Bob
ResponderExcluirPesquisando encontrei apenas que "calhambeque" em Portugal é um barco que se usa próximo à costa. Se a origem é essa? Talvez. Mas por que alguém chamou um carro de calhambeque?
Talvez seja uma versão antiga e às avessas do costume atual de chamar informalmente o carro de "nave".
É uma 4-8-4 "Northern", com cano de exaustão encurtado para passar por túneis na abertura do artigo? Ela fazia a ligação dos estados do norte dos EUA, e é uma das mais bonitas do Ferrorama...
ResponderExcluirBob, não que eu seja o maior especialista vivo do assunto, mas o regenerador de vapor não é mais usado em usinas e navios, uma vez que o acréscimo de volume na máquina reduzia a vantagem da autonomia de uma máquina que, de um modo ou de outro ainda teria que parar frequentemente nas estações?
A velocidade máxima de uma locomotiva a vapor, se não me engano, foi registrada na Inglaterra, Alemanha e EUA com um mesmo modelo que chegava a 203 km/h. Algo muito respeitável até para carros médios atuais.
E falando de apelidos, é estranho que antigamente chamassem os coletivos de "jardineira" e os carros usados de "ximbica". Jardineira ainda entendo como uma corruptela de "Giardinetta", mas "ximbica", acho que nem o Mazzaropi conseguiria explicar.
Carlos J. F.
ResponderExcluirNesse caso é um apelido seu, nada contra. O que considero errado é generalizar. O Sr. Adonis Maitino não gosta de teco-teco mostra que não estou sozinho. Já ficar irado ou não depende do temperamento de cada um.
Eu acho teco-teco e calhambeque apelidos carinhosos e não pejorativos.
ResponderExcluir[]s
Leonardo,
ResponderExcluirE por que seria o nome desse barco calhambeque? Qual a origem etimológica da palavra? Isso é o que eu gostaria de saber.
Bob
ResponderExcluirEu acho que quem é criado em um ambiente cultural diferente do brasileiro, caso do americano que vc falou, não compreende essa falta de respeito por tudo e por todos que acomete o brasileiro típico ("ah,é só um apelidozinho"), e da mesma maneira o brasileiro não entende quem respeita.
Acho que essa é a origem de todos os problemas que enfrentamos, como corrupção, trânsito caótico e outros.
Já fiz um passeio desses, de trem, e a toda hora somos importunados por músicos de fim de semana e vendedores. Haja saco, tão cedo não me pegam de novo.
McQueen
Certa vez li que os gregos acreditavam que se algo é capaz de se mover, em geral de agir, por sua conta, deve ser considerado vivo.
ResponderExcluirNão sei se de fato essa era a filosofia deles. Mas é a minha.
Acho que toda máquina, uma locomotiva, um carro, um avião, um sistema computacional, um robô, são de certa forma vivos. São de certa forma extensão da mente de seus criadores, são seus filhos.
Pensando logicamente, um ser vivo é um sistema complexo fabricado com os recursos disponiveis no planeta.
Com esse foco, e excluindo a autoreplicação (que a ciencia já está cuidando), o que difere maquinas de um ser vivo?
brauliostafora
ResponderExcluirNão sei qual a locomotiva, escolhi uma boa foto para ilustrar, mas você parece ter conhecimento e deve ser isso mesmo. O regenerador era para precisar para menos no caminho para reabastecer de água, faz sentido. Ximbica? Nem eu...
Quanto mais leio e ouço falar sobres as máquinas dos tempos passados, mais respeito eu tenho por elas, por seus criadores e por seus condutores!
ResponderExcluirFossem o que fossem, veleiros das épocas das viagens aos polos, aviões de madeira com seus gigantescos motores radiais, carros de Grand prix nervosos...
Incrível imaginar uma locomotiva a vapor, com toda a sua massa absurda e seus comandos rústicos , rasgando a linha a 203Km/H!!!
Fantástico!
Parabéns pelo post Bob.
McQueen
ResponderExcluirVocê foi direto ao ponto.
Guilherme Costa
ResponderExcluirBoa pergunta. Muitas vezes senti que o carro pensava, protestando ou agradecendo. Por exemplo, já notou como depois de bem lavado o carro parece melhor? Depois de chegar de viagem, estacionar na garagem e desligar o motor, dou um tapinha no painel cumprimentando-o pelo desempenho e agradecendo. Maluquice? Pode ser, mas faço.
Locomotiva a vapor é uma das maquinas mais infernais e cheirosas que exitem . . .
ResponderExcluirJulio C. Carone
ResponderExcluirDefinição perfeita!
Bob e Guilherme Costa;
ResponderExcluirVocê falou que carro lavado anda melhor...que ele "pensa", "reclama"...
Não é tanta maluquice ou efeito psiclológico...é veridico!
Semana passada, minha sogra, proprietária de um Corsa 1997 (unica dona por sinal...125 mil km) reclamou que o carro estava ruim, fazendo barulho e sem potencia.
Primeiro vi que apesar de só ter rodado 3 mil km desde a ultima troca de óleo, o oleo havia sido trocado há mais de um ano! Abria-se a tampa do óleo e via-se uma borra. Depois, velas levemente desgastadas (engasgos em baixa rotação).
Nas velas eu não mexi mas mandei trocar o óleo, lavar por completo (apesar da lavagem nao tr ficado do meu gosto) e devolvi o carro para ela (sem falar o que tinha feito, exceto a lavagem).
No dia seguinte perguntei o que ela achou e ela disse: "O carro ficou quase bom! Falta só o engasgo quando está frio mas de resto...parece que está mais solto, o motor funcionando mais suavemente andando melhor e parece que está fazendo até menos barulho!"
Meu pai sempre conta que no tempo em que ele tirou brevê no Aeroclube de São Paulo, havia uns 10 Paulistinhas P-56 de 90cv e motor Continental para instrução. E ele sempre se recorda que, cada Paulistinha era um apesar de alguns deles terem até prefixos sequenciais (tipo PP-HPM, HPN e HPO). Segundo ele, havia os mais "duros", os mais dóceis, o que voavam mais rapidamente e consumiam menos combustivel, enfim, eram diferentes apesar de sequencialmente iguais. Diferenças no processo produtivo, forma de vôo? Talvez, mas quem explica?
Bob, também não gosto da palavra calhambeque, mas nunca tinha parado para pensar sobre o uso de expressões como teco-teco e maria fumaça. Acho que essa diferença de percepção vem do meu envolvimento muito maior com o assunto automóvel.
ResponderExcluirE por falar em calhambeque, veja só o que diz o manual de estilo do jornal português O Público, pertencente ao Grupo Sonae:
"A concisão na escrita (...) é uma regra essencial: tudo o que puder ser escrito em cinco ou seis palavras não deverá sê-lo em dez ou doze. (...)A escolha das palavras também conta: a "compra" não tem de ser "aquisição"; "calhambeque" é melhor do que "automóvel velho".
Ah, esses jornalistas...
Nunca achei os termos "teco-teco" e "maria-fumaça" pejorativos... Muito pelo contrário pois para mim era apelidos carinhosos!
ResponderExcluirMeu pai me deu de presente, quando eu era um bebê, uma "Maria-Fumaça" e por isso sempre chamei assim às locomotimas a vapor.
Calhambeque eu até entendo como pejorativo... mas para isso que existe outra palavra que meu pai ne ensinou quando criança para se referir a um carro antigo:
"Ximbica"
Tinha uma coleção de carrinhos em miniatura, todos importados, mas para mim era o "Monza", o "Delrei", "Asa de gaivota" e o "Chaparral"... ô tempo bom!!
Mas aí tinha aquele carrinho antigo que eu nunca tinha visto nas ruas ou nas revistas que eu já gostava de ler, sem saber ler...Mas pra mim aquele era um legítimo "Ximbinca".
Paulo Levi
ResponderExcluirEssa é mesmo incrível. Bem, em se tratando de imprensa portuguesa tudo é possível. Li na revista Turbo, de lá, a seguinte frase, leia atentamente:
"Dos quatro carros testados, nenhum tinha catalisador". Não seria mais lógico escrever "Os quatro carros testados não tinham catalisador."?
Guilherme
ResponderExcluirÉ claro que se dá nomes às coisas, até como carinho, como ximbica, fon-fon e até xambrega, como minha babá dizia (calhambeque). Até em inglês se diz "Choo-choo", onomatopeia do apito, há até a famosa canção "Chattanooga Choo-Choo", sobre trem. Mas à medida que vamos crescendo, falando e escrevendo, esses apelidos tendem a ser substituídos pela palavras corretas. Por que se deveria escrever "Vende-se um teco-teco"? Muito melhor dizer "Vende-ss um avião leve".
Segundo o Caldas Aulete:
ResponderExcluirXimbica:
(xim. bi.ca) [ch]
sf.
1. Bras. Pop. Carro velho; CALHAMBEQUE.
2. RJ Tabu. A vulva
3. SP Lud. Jogo de cartas, popularíssimo, semelhante à manilha.
4. RJ Lud. Casa de jogo especializada em apostar sobre corridas de cavalos.
5. RJ Tomador de apostas em corridas hípicas.
6. Bras. Pej. Aguardente de cana; CACHAÇA; XIMBIRA.
7. PE Pej. Indivíduo mentiroso, fiteiro
[F.: De or. contrv.]
Calhambeque:
(ca.lham.be.que) [é]
sm.
1. Embarcação velha, desgastada, que não oferece real segurança
2. Fig. Automóvel velho ou em mau estado de conservação; LATA-VELHA.
3. Objeto velho, danificado ou destruído, sem uso; TRASTE
[F.: De or. expres., posv.]
Teço-teco:
(te.co-te.co) Bras. Aer.
sm.
1. Pequeno avião monomotor, de pouca potência, us. em trajetos curtos ou para treinamento.
[Pl.: teco-tecos.]
[F.: De or. onom.]
Maria-fumaça:
(ma.ri.a-fu.ma.ça) Bras.
s2g.
1. Tipo de locomotiva movida a vapor.
2. Pop. Pessoa que fuma exageradamente.
[Pl.: marias-fumaças e marias-fumaça.]
Saudações verborrágicas
Alexander
Alexander
ResponderExcluirObrigado, mas continuamos sem saber a origem etimológica de calhambeque.
Bob,
ResponderExcluirNão posso julgar se seu cumprimento ao carro é maluquice ou não, pois me pego conversando com o meu em inumeras ocasiões. Logo, ou isso não é maluquice, ou somos malucos. Afinal loucura é apenas um ponto de vista.
Para você ter uma idéia, tenho um Palio 16v, e esse carro possui uma caixa de marchas muito ruidosa. É um ruido agudo, delicioso, as vezez se destaca mais que o proprio motor. Já sou capaz de falar a velocidade do carro só de ouvi-lo. Sempre em reduções mais fortes, esse ruido me soa engraçado, como se o carro falasse um "Nein", rapido e seco, como quem não quisesse parar. E eu imito o barulho com a boca, debochando do carro. Me pego rindo sozinho disso as vezes.
Creio que como um cavaleiro agradece seu cavalo depois de uma longa viagem (abstraindo seu exemplo), ou como um caçador afaga seu cão depois de uma boa caça, devemos sim ter uma relação mais humana com nossas máquinas. Afinal, nada criado por uma espécie tão passional pode nascer sem sentimentos e personalidade.
Eu teria sugerido aos pagodeiros que fossem tocar dentro da fornalha da locomotiva. Acesa, obviamente.
ResponderExcluirAlexandre Zamariolli
ResponderExcluirBoa, essa!
Se ao invés de um grupo de pagodeiros fosse um grupo de Chorões (que tocam Chorinhos), que tal seria???
ResponderExcluirAlexander
Eu também me pego falando com o carro, tanto com o Uno como com o Maverick.
ResponderExcluirE louco é quem confia sua vida a uma máquina e não é capaz de reconhecê-la.
Pedro Bergamaschi.
Antonio Filho-
ResponderExcluirBob !!! Voce não sabe como eu me senti aliviado em saber que conversar com o carro não era uma maluquice somente minha ! Eu nunca disse isso a ninguém, pois achava que iriam me sacanear até o fim da vida...rs
Faço a mesma coisa também: converso bem, peço, agradeço, exijo, me desculpo, dialogo, mas somente sozinho.
Já vi que você é dos meus.
E já que falamos de vapor, um conceito de que gosto muito é o Turbo Steamer da BMW (http://www.gizmag.com/go/4936/), que usa líquido de arrefecimento como propulsão extra, aproveitando o próprio calor do escapamento como forma de aquecer o vapor. E tudo isso em circuito fechado, o que significa alta eficiência energética.
ResponderExcluirCom isso, em um motor 1.8 da marca, também se consegue cortar o consumo em 15%, gerar mais 13,6 cv de potência e 20 Nm de torque.
Antonio
ResponderExcluirVocê me lembrou: também peço desculpas quando não vejo ou não evito um buraco!
Anônimo 12/2 05:30
ResponderExcluirQue engenhosidade, não? Pode ser chamado de HERS, heat energy recovery system...
Meu "ser um autoentusiasta" é ter no genôma aquela atração indescritível por essas máquinas que movem-se por força própria; muita vezes ineficientes sob ponto de vista da engenharia, mas maravilhosas sob o ponto de vista da alma de quem as aprecia. E por outras que não se movem, mas tem seu valor sentimental.
ResponderExcluirNa minha infância e juventude, tive um tio que trabalhava como maquinista das locomotivas da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Por inúmeras vezes, no pátio de Bauru, interior de SP, acompanhei o mesmo nas chamadas manobras; que nada mais é que montar uma composição de vagões específicos manobrando-os pelo pátio ferroviário. Tive oportunidade de conhecer (e pilotar por várias vezes) algumas GE U20C e uma GE 2-C+C-2 (Popularmente conhecida como V8, Escandalosa, Focinho de porco, etc.)
Com a idade, percebi o quão pejorativo estes termos eram utilizados por algumas pessoas.
Acredito também que seja uma tremenda injustiça.
Outros termos que acredito serem muito chulos: "Pois é" e "pau-véio"...
Ainda sobre o Turbo Steamer, o mais interessante de tudo é que dá para considerar que ele meio que cancele as perdas de força causadas pelo bombeamento de líquido de arrefecimento, uma vez que usa o próprio como força propulsora complementar e gera potência quase que de graça.
ResponderExcluirFora isso, há também a vantagem de desde as mais baixas rotações haver pelo menos 20 Nm de torque para tirar o carro da imobilidade, o que é uma força e tanto.
Se compararmos com um turbocompressor, há o tal problema de acrescentar menos potência, mas ganha-se a vantagem de ser um sistema que de fato corta consumo (afinal, não esqueçamos que pisar muito um carro com motor downsizing turbinado é pedir para que ele consuma mais do que um motorzão aspirado). Seria interessante saber se o Turbo Steamer, se aplicado em motores maiores, poderia gerar ainda mais redução de consumo do que em uma unidade menor.
Também fica-me a impressão de que o tal sistema a vapor não precise daqueles cuidadinhos típicos de turbocompressor e que quase todo mundo esquece (como ficar um minuto em marcha-lenta antes de desligar, troca de óleo menos espaçada e por aí vai).
Claro que daria para conciliar turbocompressor e Turbo Steamer, ainda que os dois sistemas juntos ocupassem um espaço em cofre razoável. Se perigar, talvez até desse para a turbininha a vapor pegar o calor do turbocompressor como forma ou de ficar um circuito de líquido de arrefecimento circunscrito ao cofre ou de obter ainda mais calor para o vapor.
Bob,
ResponderExcluirSobre a palavra calhambeque, encontrei na Internet uma versão bem engraçada envolvendo Tom Jobim:
"Aquela obsessão pela origem das palavras levava todos à loucura e o Jobim contava ainda uma improvável história sobre a origem da palavra “calhambeque”. Dizia ele que a palavra teria surgido numa visita de um desses Gran Circus Norte Americanos, cuja principal atração era o carro velho que se desfazia com as estrepolias dos palhaços.
O público adorava, e chamava-os de volta… daí o “call them back”, que teria dado origem ao calhambeque.
Duvido que seja verdade, mas que é genial é! Tom era um gênio."
Em: http://pierrebarth.wordpress.com/2009/07/10/almocageme-e-tom-jobim/
Acessado em: 12/02/2011
Bob,
ResponderExcluirRespeito muito e tenho sentimentos nobres pelas máquinas. Sobre as "Marias Fumaça" tive a oportunidade de ter uma "aula" com um maquinista em atividade, conduzi por uns 800 metros entre ida e volta. Foi há uns dez anos em pernambuco quando fui fazer uma matéria para meu site. Na Usina Serra Grande, fiquei muito gratificando em ver que eles tinham muito respeito pelas tradições, mantinham um museu e uma locomotiva a vapor em atividade dentro das terras da usina. Nas festas eram engatados alguns vagões devidamente ornamentados. Tudo por conta da Usina, muita gente simples da área rural, muita alegria, comidas, danças, procissão. Um dia inesquecível
Também fiz o passeio nas serras gaúchas com meu filho, também inésquecível. E sempre que vou a , estação de metrô de Recife me deleito com o museu da RFN. Muitas máquinas inoperantes, mas em exposição e em razoável estado de conservação.
Há poucos anos, fiquei muito triste em ver algumas locomotivas dessas, provioniente de usinas de cana de açucar de Alagoas à venda em sucatas. O dono de uma grande me falou que já havia vendido duas. Destino???
Forno de fundição.
A que olhei estava praticamente completa, não devia exigir muita coisa para voltar a rugir...
Esse é o dia que não gosto de lembrar!
Abraço
Rômulo,
ResponderExcluirPode ser "call them back" realmente, faz sentido. Muitas palavras surgem assim. Por exemplo, o Fusca "modelinho", o 1966 que trazia algumas características do 1967. Outro dia lendo a coluna do Nasser no blog do Marhar, vi que ele escreveu "modelia" em vez de model-year. Na hora deduzi que tal do "modelinho" era apenas corruptela de model-year. Ou então "batida de pino", do inglês ping noise, onomatopeia do ruido do motor em detonação.
Bob,
ResponderExcluirMais uma sobre motor a vapor:
No final da década de 70, meu pai tinha uma transportadora. Numa das viagens que fiz com ele, encontrei acho que em Castanhal diversos locomóveis novos, provavelmente a venda e produzidas em loco. Era final de semana e não pude obter informações. Nem pude voltar lá. Mas, fiquei entusiasmado com a possibilidade de se produzir pequenas unidades geradoras de energia elétrica movidas à vapor naquela região. Lhe propus que me deixasse perquisar sobre a viabilidade comercial. A idéia era produzir unidades para propriedades rurais sem enegia elétrica, onde houvesse resíduos de madeiras - pequenos galhos, folhas, serragem, etc. - acompanhados de estufas solares para secagem do material e pequenas prensas para produção de briquetes. Acreditava haver demanda, já que o custo dos combustíveis seria muito baixo e de origem local. Talvez uma versão com motor alternativo e outra maior com turbina.
Apesar do apoio que sempre me deu, ele desaprovou essa minha proposta categoricamente. Caldeiras são muito perigosas e o risco financeiro desse nicho seria muito alto devido a falta de conhecimento de diversos fatores e dificuldade de pesquisas confiáveis. Sendo ele empresário de uma família de metalúrgicos e com bastante conhecimento de causa, não havia como convencê-lo nessa empreitada muito menos num "paitrocínio" para o filho mais novo, técnico recém formado e sem experiência de empreendedorismo nem profissional.
Nunca consegui o sucesso do meu pai na vida profissional e o sonho foi se juntar a outros no meu lotado baú das intenções por falta de verba. Mas, nunca vejo esse velho baú como arquivo morto... Abraço, peço desculpase espero que não fique bravo com a extensão dos meus textos. É que seus Posts têm a força de me entusiasmarem.
.
Rômulo
ResponderExcluirPena que seu pai não tenha aprovado sua ideia, que é órima. E não se preocupe com o tamanho dos seus textos. Fico contente de incentivá-lo.
Bob;
ResponderExcluirA uns 2 anos estive numa oficina de restauração na Cidade Ocidental (perto de Brasília) e havia um carro esquisito lá. Foi a primeira vez que vi um Traction Avant na vida e imediatamente me lembrei de vc. Acabei associando a sua pessoa a figura do Citroen, pelas diversas vezes que li seus textos na QR e no Best Cars falando algo sobre ele. Na última sexta-feira ao ir ao trabalho vi um Citroen 11 na rua. Uma grata surpresa, pois nesta cidade o carro antigo não é cultuado. E imediatamente lembrei de vc, imaginando as suas experiências a bordo deste citroen.
Respeitar as máquinas é muito nobre. Mas respeitar e preservar a sua história é muito mais gratificante.
A maria fumaça ficará para sempre no rol das coisas que nunca deveriam ter saído de fabricação,a exemplo do Fusca e do avião Electra. Mudando de assunto gostaria de sugerir um post sobre a decisão do governo (creio que de SP) de colocar um chip em todos os carros,com o intuito de checar se cada veículo está em dia com o licenciamento e o IPVA.
ResponderExcluirParabéns pelo post Bob.
ResponderExcluirCreio que os apelidos acabam por um lado se tornando uma forma mais carinhosa do que pejorativa. Mas acho que realmente falta-nos admirar mais a grandeza das obras realizadas no passado. Principalmente aqui no Brasil.
Não somente pela obra em si, mas pelas pessoas que as conceberam e realizaram. Deveríamos refletir melhor sob as condições, métodos de produção, recursos disponíveis na época remota em que foram concebidas e produzidas.
Do alto de nossa arrogância de conhecedores da tecnologia do século XXI parece-nos tolas e infantis as máquinas antigas. Mas deveríamos pensar nas dificuldades daqueles pioneiros. De como não havia para eles conhecimento, nem recursos, nem tecnologias que temos hoje.
Sob essa ótica, parece fácil criticar uma objeto antigo. Parece fácil desprezá-lo ou menosprezá-lo. A própria palavra "museu" aqui no Brasil desperta na maioria do povo algo negativo, tal como "eu? ver coisa velha? ah não!"
Basta voltarmos no tempo para ver a grandeza de feitos do passado. Hoje em dia, qualquer criança de sete anos sabe mais sobre o planeta e o universo do que o mais sábio dos sábios da antiguidade, tais como Aristóteles ou Platão.
A um clique do mouse, podemos por exemplo, investigar, aprender, acessar conhecimentos e informações, ver imagens do universo conhecido que Copérnico, Kepler ou Galileu jamais tiveram a chance de ver com seus olhos. No entanto aqueles pioneiros criaram teorias corretas apenas tendo como instrumentos telescópios rudimentares, observações, matemática e perseverança.
Atravessar o Oceano Atlântico numa caravela de madeira se orientando apenas por bússolas e pelas estrelas, sem saber o que (nem quando) encontrar terra do outro lado era mais arriscado do que o que fizeram os astronautas da Apolo XI. Muitos morriam de fome, ou de doenças, ou eram vitimas de naufrágios. Hoje em dia temos GPS, previsão do tempo, rádio, radar, sonar... guarda costeira, helicópteros...
Sinto que esse lado de valorizar o conhecimento, a ciência e a técnica antiga, realmente deixa a desejar em nosso país. Analizando o passado as pessoas deveriam ter um profundo respeito pelos corajosos pioneiros que construíram o conhecimento humando e criaram máquinas fantásticas quase de forma heróica. A humanidade deve muito a esses pioneiros.
Não sei se no século XXV as crianças olharão com desdém ou desinteresse para os veículos que produzimos hoje. Espero que não.
Belo post Bob!
ResponderExcluirNão falo com os meus carros, mas às vezes falo sozinho, enquanto estou pensando sobre os meus carros e as situações que passei com eles.
Abs