Quais são as características da moderna minivan? Tração dianteira? Motor transversal? Rodas dianteiras localizadas bem adiante da cabine? Um desenho monovolume com capô curto e bem inclinado? Um assoalho plano em toda a extensão e arranjo flexível de bancos e espaço para carga? E quem foi a primeira? Renault Espace, Dodge Caravan/Plymouth Voyager ou Nissan Prairie, as três em 1982? E a DKW Schnellaster (transportador rápido)? Ela tinha tudo isso em 1949. É mais do que hora de lhe prestar esse reconhecimento.
À luz dos argumentos intermináveis sobre as origens da moderna minivan, a verdade é que praticamente impossível dizer qual foi a primeira. Mas em termos das qualidades que definem a moderna van em otimização de espaço, especialmente com a transmissão e as rodas dianteiras à frente do compartimento de passageiros, a DKW é forte concorrente ao título. Se houver alguma outra, que se apresente.
Não seria surpresa se fosse a DKW quem iniciasse esse notável projeto de aproveitamento de espaço, já que a fábrica pode ser considerada pioneira dos carros de tração dianteira produzidos em grande série, ponto final. Começando no final dos anos vinte, a DKW desenvolveu uma série de carros de enorme sucesso usando motor de dois tempos transversal. Era um dos carros mais vendidos na Alemanha nos anos trinta e a DKW continuou produzindo mais tarde motores de três cilindros dois-tempos até meados dos anos 1960, mesmo tendo a Auto Union sido vendida para a Daimler-Benz em 1958.
Quando a Auto Union passou para as mãos da Volkswagen em 1965, a marca Audi ressurgiu com um pacato motor 1,7-litro de comando no bloco no lugar do três-cilindros dois tempos 1,2-litro do DKW F102, modelo que agora se chamava Audi 60.
Em 1949, a DKW, a única marca da nova Auto Union - a original caíra na mão dos soviéticos na divisão do pós-guerra – colocou a compacta unidade motriz de dois cilindros para fazer bom uso dela na espaçosa série Schnellaster, o que incluía furgões, camionetas de uso misto, picapes e outras carrocerias especializadas. A Schnellaster veio antes do Transporter VW, embora por pouco. Obviamente, os dois concorriam no mesmo páreo, do mesmo jeito que seus automóveis. Desnecessário dizer, o VW vendeu bem mais que o DKW e finalmente a Auto Union deixou o mercado de comerciais leves.
A febre dos dois tempos deu-se nos anos trinta, e mesmo que tenha sobrevivido até o começo dos anos sessenta, suas limitações tornavam-se cada vez mais evidentes nos anos 1950. Essa, entre outras razões, provavelmente explique por que o VW Bus (Kombi) acabou dominando o mercado, apesar da invasão de seu motor traseiro no compartimento dos passageiros que tornava impossível o assoalho totalmente plano.
Uma coisa é clara: o Schnellaster era o espelho fiel do DKW. A primeira série tinha um motor de dois cilindros de 700 cm³ que produzia 20 cv, o câmbio era de três marchas e velocidade máxima de 70 km/h . Não era exatamente schnell no sentido exato da palavra. Foi quando o VW Bus (Kombi) entrou em cena começando com 25 cv, que também não era nenhum foguete.
Os modelos que vieram em seguida passaram por gradual aumento de potência, chegando a 30 cv, e em 1955 foi lançada a versão 3=6, 900 cm³ de três cilindros e 38 cv, cujo mote indicava que os três cilindros a dois tempos tinham os mesmo impulsos de força e suavidade de um motor de seis cilindros quatro-tempos. Finalmente, o projeto original foi substituído pelo mais comum motor entre os bancos e numa evolução posterior, o quadrado Imosa.
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A configuração de tração dianteira do DKW era a plataforma ideal para campers também. Até uma firma americana fez um veículo de lazer com a Schnellaster, a Flintridge Caravan, mas é um desafio à mente imaginar o que 38 cv poderiam fazer, especialmente numa subida de serra. Era realmente um “novo conceito” de paciência. Mas muitos, como o autor, se lembram de andar num VW Bus de 30 cv totalmente carregado com nove adultos e algumas crianças através do Alpes entre a Alemanha e a Suíça, A magia das marchas bem reduzidas e o cenário espetacular tornava isso possível e suportável. Mas as estradas largas e retas dos Estados Unidos impunham dificuldades.
Tivemos a Schnellaster no Brasil, tanto a furgão quanto a Bus, mas com motor de dois cilindros somente. Era curioso o som que fazia, o pipocar tipico dos dois-tempos e a demora para cair de rotação. Notável nesses motores DKW de dois cilindros era o Dynastart, dínamo e motor de partida numa só unidade, a útlima palavra hoje nos sistemas em que o alternador é também o motor de partida, como no Citroën C3 Start and Stop.
Mas não há dúvida de qual tenha sido a primeira minivan de fato: DKW Schnellaster
BS
Nota: Este post foi baseado, com adaptações, no artigo "The mother of all modern minivans", de Paul Niedermeyer, publicado no site www.thetruthaboutcars.com, onde as fotos e brochuras foram obtidos..
Muito interessante.
ResponderExcluirPost muito interessante e bem fundamentado. Nunca vi uma dessas por aqui, mas lembro de uma com um jeitão bem parecido chamada Tempo "Matador".
ResponderExcluirPensando na enorme dificuldade que quase todos tinham nos anos 50 para pronunciar o nome do recém-lançado Volkswagen sedan, fiquei pensando no que aconteceria por aqui com o nome dessa minivan DKW. Provavelmente viraria "chinelaster".
Tem um certo charme, e um estilo muito próprio.
ResponderExcluirGostei muito dela pelas fotos.
Parece uma Kombi com o olhar entristecido.
ResponderExcluirPaulo Levi, e de "chinelaster" iria virar "chinela" ou "chinelinha" em pouco tempo... uma versão com motor mais forte poderia virar a "tamanca"!
ResponderExcluirBrincadeira à parte, reproduzia o conceito de "carro tocha" da Tempo Matador, com o tanque de combustível dianteiro sobre o motor. E possuía um aproveitamento de espaço interno nunca mais visto desde o aparecimento do Ralph Nader...
Lembram da Fiat Multipla, a antiga? era o mesmo conceito, mas com motor traseiro e capacidade para 6 pessoas,uma ideia genial!
ResponderExcluirHehehe. Bianchini, Ralph Nader foi o primeiro chato da era moderna a transformar tudo o que existia até então em politicamente incorreto. Acho que foi ele que inventou que brincar na rua descalço na chuva era perigoso. hehehe. Mas que era bom era. Gostaria de ter vivido esse tempo de descobertas e invenções na indústria automobilística. Deve ter sido muito bacana "assisir" os lançamentos baseados em tentativas e erros e mesmo assim a indústria progredir de maneira espantosamente rápida. Na minha época já existia praticamente tudo o que existe hoje, air bag, injeção eletrônica, computador... E olha que eu nasci em 1981, mas como meu pai trabalhava numa multinacional da informática, sempre tive acesso a informação. Hoje tudo que é lançamento parece que já existia.
ResponderExcluirApesar de tudo eu continuo preferindo a simpatia da Barkas B1000 com o mesmo motor 2 tempos. :)
ResponderExcluirVou jogar gasolina nessa fogueira: tudo bem que o esquema mecânico era diferente, com motor (Ford V8) e tração traseiros, mas... e o Stout Scarab?
ResponderExcluirSempre fui fã da VW Kombi. Simplicidade, versatilidade e racionalidade juntos
ResponderExcluirAinda criança fiquei admirado em saber que tinha o mesmo motor do Sedan.
Sedans 1200 tinham dois na família. Eu conhecia bem o desempenho, ainda que como passageiro. Era o tipo do carro que despertava no motorista o gosto pela embalagem antes das subidas,principalmente na estrada.
Já a kombi, só convivi com as 1500 em diante, eram realmente muito valentes se considerarmos o tamanho e capacidade de carga do veículo que o pequeno motor ficava encarregado de movimentar. Devagar, mas sem recuar. Se o veículo exigia muito do motor, esse não exigia muito do motorista. Nas subidas perdia o embalo, mas não pedia marcha. O motorista podia escolher o momento da redução com boa margem de liberdade, sem prejudicar muito o andar da carruagem, pois o motorzinho perdia velocidade sem perder força.
Na família nunca teve nenhuma, as oportunidade de andar nessa perua não eram muita. Mas quando havia, não as perdia. Nos trajetos ansiava pela chegada das subidas para sentir o que podia fazer aquele motorzinho. Nesse tempo o poder do motor era mostrado nas subidas, altas velocidades não contavam tanto como hoje. Não haviam muitas estradas boas, nem se tinha a pressa dos tempos atuais.
Bob
ResponderExcluirO DKW Schnellaster tinha como concorrente o "Tempo Matador" produzido por uma montadora alemã independente de Hamburgo, chamada Vidal und Sohn, que produzia o veículo utilizando mecânica VW a ar, com 1131 cc e 25 Hp.
Os dois são muitos parecidos, praticamente identicos, tanto no design como na configuração mecanica, de motor e tração dianteira.
Eles retratam bem a necessidade de enfrentar crise econômica do pós guerra com produtos baratos e econômicos com a necessidade de cada vez mais transportes .
Tony Belviso
http://motor-rama.blogspot.com/
"Quais são as características da moderna minivan? Tração dianteira? Motor transversal? Rodas dianteiras localizadas bem adiante da cabine? Um desenho monovolume com capô curto e bem inclinado? Um assoalho plano em toda a extensão e arranjo flexível de bancos e espaço para carga?" Nossa jurássica Kombi não tem nenhuma dessas características e continua firme e forte, agora metida a 'besta' (Kia?) com seu motor a água. Vai entender...
ResponderExcluir"Laster" é uma forma coloquial de "lastkraftwagen" (carro motorizado para cargas ou caminhão). Schnell laster significa caminhão de entregas rápidas (no caso camioneta). Não se refere à velocidade do veículo. AGB
ResponderExcluirJá vi uma dessas em péssimo estado (claro). O mais impressionante era que, ao abrir o capô, as "bolhas" dos faróis iam junto, mas o refletor e a lâmpada ficavam, ldeando o minúsculo motor. Parecia (e, de certo modo, era!) um carro dos anos 30 usando fantasia de caixote.
ResponderExcluirNesses youtube da vida, também dá pra ver que vieram ao Brasil algumas com três rodas, motor apoiado sobre a roda dianteira, relação final por corrente, e o conjunto todo se movendo quando girava-se o motor. Certamente mais engenhosas que seguras...
Cadê o chinelaaaasteeeer?
ResponderExcluirCadê o chinelaaaasteeeer?
Muito interessante. Parece a minha Meriva azul :-)
ResponderExcluirO caso com o Tempo Matador era mais sério do q. vocês se lembram...O tanque de combustivel ficava atras do painel frontal, acima dos joelhos dos ocupantes, o motor ficava atras da cabine, a transmissão ficava embaixo do assoalho, e a bateria, embaixo do assento. Numa porrada frontal, neguinho ia descobrir o porquê do nome "Matador"- gasolina nas pernas, motor quente na bunda e curto-circuito comendo solto...
ResponderExcluirFui sempre fã de carteirinha da Schnelaster e lamento a falta de "usinas de idéias" como a AutoUnion e a Citroen daqueles tempos
Abs para todos
Gostei muito do post e voto na Schnellaster como a primeira van do mundo. E o Mini, com seu revolucionário motor transversal, perdeu a primazia para os DKW 2 cilindros.
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