google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Som e crise - AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

Som e crise

Não tem jeito. Por mais que admiremos tecnologia avançada, por mais que precisemos respirar ar limpo, por mais que detestemos ruídos desagradáveis e intrusivos, carro tem que fazer barulho. Veículo motorizado tem que ter som. Motor tem que ter explosão para ser considerado motor de verdade.

Alguém é capaz de imaginar a Formula 1 do futuro com carros elétricos e silenciosos? O som de um carro de Formula 1 fica marcado na alma de todos que já o ouviram pessoalmente, em qualquer lugar do mundo. Fico imaginando a primeira corrida em algum país onde nunca houve Formula 1. Os sons normais do lugar são somados a um rugido nunca antes ouvido por lá. Algo como um avião a jato passando pela primeira vez sobre uma tribo indígena. De repente, toda uma área antes alheia a algo tão diferente, fica tomada por um novo item, dominador, no ambiente. Um som descomunal, elevado, intenso, um berro emitido por uma máquina mecânica que mais faz imaginar algum monstro lendário ou um cataclisma do que um carro.

Carros sem som podem ter sua utilidade, podem até mesmo se tornar indispensáveis num futuro bem próximo. Mas o som de um motor bem projetado, construído e munido de um escapamento decente, é insubstituível. E não precisa ser barulhento para ser bonito ou mesmo marcante. Basta ter personalidade, assinatura sonora, como já li certa vez.

Quando o Dodge Viper foi lançado, um dos pontos criticados foi justamente o som do motor. Montado em um carro de uma ferocidade visual como poucas vezes realizada na história do automóvel, o som do V-10 originário de caminhão, porém construído em alumínio, era pouco inspirador. Muito menos excitante e entusiástico do que um bom V-8 com vários litros a menos. E o pior, vindo da Chrysler, mãe do Hemi, um dos mais fabulosos roncadores. Aí devemos lembrar o seguinte: o Hemi atual, ao menos quando colocado num 300C, que podemos ouvir de vez em quando, é absolutamente amordaçado. Como se trata de um sedã e não de um esportivo, há silenciadores do tamanho do tanque principal do Space Shuttle, e o carro se recusa a berrar, mesmo quando se afunda o pé com força. Se for o automático então, o contraste entre ler aquela plaqueta "Hemi" e escutar o dito cujo, é absurdo. Um anticlímax.

Quem já escutou um Hemi antigo, colocado naqueles toscos, e por isso mesmo maravilhosos, muscle cars dos anos 60, tem certeza que esse Hemi novo, todo silenciado e isolado, é um 4-cilindros qualquer. Dia desses tive o prazer de acompanhar com meu carro, andando atrás e ao lado, um Mustang novinho, que além do borbulhar do V-8, tinha um gemido de compressor mecânico tocado por correia, aquilo que se chama de whine noise em inglês. Um outro mundo. Um mundo que a "crise" quer que acabe. Essa maldita e impessoal crise, que domina nosso dia-a-dia se formos só um pouquinho pessimistas. Uma crise a que tudo de ruim é atribuído e que serve de desculpa para tudo.

Em nome dos entusiastas de todo o mundo, eu torço todos os dias para que essa situação desconfortável não perdure, para que tenhamos mais e mais carros com sons memoráveis.

Carros com sons que nos façam lembrar deles daqui a 30, 40 anos como se fosse hoje.

9 comentários :

  1. JJ,

    Já lhe disse pessoalmente, mas fica registrado aqui: Excelente e inspiradíssimo texto!

    Gosto de imaginar que a inspiração veio de um passeio com um certo navio de guerra japonês que pensa que é uma Ferrari...

    MAO

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  2. Concordo plenamente! Todo carro tem que ter seu ronco característico, sem necessariamente ser barulhento.

    Fazendo um "gancho" no post do MAO sobre o Opala, estes tinham um som (maravilhosamente) inconfundível, tanto 4 quanto 6 cilindros. Os mais experientes conseguiam inclusive perceber a diferença entre um 250-S e um 250 normal.

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  3. Fabio,

    O 250-S é facilmente identificado pelo clac-clac dos tuchos mecânicos...

    Parece uma máquina de costura dentro do carro, rsrsrsrsr

    MAO

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  4. Assinatura sonora é o termo. E, apesar de Chevy lover, tenho que admitir que das big three, os V8 de melhor sonoplastia são os da Ford.

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  5. MAO, a inspiração foi mesmo essa !

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  6. Gosto muito dos Mopar e infelizmente nunca ouvi um Hemi ao vivo...logo tenho que concordar com o Garcia, os V8 Ford tem um som magnífico.

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  7. Que belo post!
    Mas acabo de ler uma reportagem na 4R deste mês que considerei o fim da picada: um teste do Tesla Brabus, em que o repórter acha a coisa mais linda do mundo o fato do carro possuir diversos altos falantes (conjugados a um programa) que imitam o som de um V8 ou fórmula 1, conforme o gosto do motorista, tudo para disfarçar o fato de ser elétrico. É muita palhaçada, não?
    Abraço.

    Lucas

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  8. E não precisa ser motor grande não!!
    O Marea de 5 cilindros canta bonito em alta, igual os primeiros Palio 1.6 16v.
    Tenho um Tempra 16v que faz um som estridentemente lindo e coloquei um abafador no meio de um tubo de aço inox na ponteira. Sem barulho, apenas som!
    Um Alfa igual esse 164 aí embaixo ou o seizão do Opalão é um tesão!!
    V8 borbulhando é a antecipação da abertura dos portões do inferno!!

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  9. Eu gosto do som da Dodge Ram V10 do AG. É mais agudo que o V8, mas é um belo som, mesmo assim.

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