google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014): tecnologia
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Criar carros de corrida cada vez mais modernos, rápidos e econômicos é um objetivo essencial para qualquer equipe sobreviver no ambiente mais competitivo do mundo automobilístico. Às vezes a própria evolução precisa ser barrada por diversos motivos, como custos e segurança.

O Grupo B foi o ápice da insanidade automobilística no mundo do rali. Carros rápidos e extremamente potentes, em uma época de poucas preocupações com segurança. Nigel Mansell pilotou um Peugeot 205 T16 e ficou surpreso com o potencial do carro, dizendo até que seria mais rápido que um F-1 na aceleração.

Segurança, ou falta dela, foi o que matou o Grupo B do Campeonato Mundial de Rali nos anos 1980. Com carros cada vez mais potentes, os acidentes tornaram-se mais sérios, envolvendo tanto pilotos quanto espectadores. Foi quando ao final de 1986 a FIA assinou o atestado de óbito da categoria, e os monstros de mais de 600 cv que voavam sobre castalho tiveram seus dias de glória encerrados. Já vimos um pouco da história do Grupo B aqui.

A proposta da FIA foi o Grupo S, limitando a potência dos carros em 300 cv e abrindo as normas do regulamento para que carros mais modernos e seguros fossem criados. No Grupo B era exigido 200 exemplares do mesmo modelo fabricados dentro de 12 meses para que ele pudesse ser homologado, enquanto que no Grupo S, apenas dez. Isto permitia que carros não convencionais fossem projetados, pois a pequena quantidade permitia.

A Lancia, italiana, era um dos grandes nomes do rali da época. Seus carros e pilotos eram extremamente competentes. Desde os tempos do Lancia Stratos, passando pelo 037 até o genial Delta Integrale, os carros da Lancia surpreenderam o mundo.

Lancia Delta S4, um dos maiores carros de rali de todos os tempos


Vamos direto ao ponto. Acho ótima a idéia de uma categoria de corrida de carros elétricos, e um carro tipo fórmula foi uma excelente escolha para o primeiro campeonato oficial da FIA. Mas fizeram uma besteira enorme no regulamento desportivo e ficou parecendo uma gincana.

Com a enorme quantidade de carros elétricos urbanos no mercado global, inclusive esportivos, como o Tesla Roadster, o novo Mercedes-Benz SLS Electric Drive e versões convertidas do genial Ariel Atom, era de se esperar que uma categoria de competição surgisse. Era uma questão de tempo.

A velha discussão sobre o que será do automóvel no futuro não pára, e nem vai parar. Fato é que dificilmente os carros serão todos elétricos em um curto espaço de tempo. O carro que queima combustível deve continuar existindo, em paralelo com os elétricos. E assim deve ser o automobilismo.

Os carros de corrida mais avançados que existem hoje em dia já são híbridos. Fórmula-1, como falamos recentemente aqui e os protótipos da categoria P1 de Le Mans são híbridos. O caminho dos motores elétricos, sendo como fonte auxiliar ou principal de propulsão, já está traçado e não voltará atrás tão cedo. Então nada mais lógico que uma categoria com carros 100% elétricos. Um dos principais pontos deste campeonato é manter o baixo custo. Diversas limitações de quantidade de testes e até jogos de pneu por corrida vão forçar as equipes a ter gastos mais controlados.

Ford na feira de tecnologia Campus Party

Não é de hoje que estamos observando e discutindo em posts no AUTOentusiastas o cerco ao automóvel, seja por ativistas implacáveis ou pela própria condição de tráfego nas cidades e megacidades. Não faltam exemplos para mostrar que a liberdade proporcionada por um carro, embora ainda seja algo inigualável, anda prejudicada. E isso acaba refletindo na predisposição para se usar o carro em determinadas situações que antes não haveria dúvida. Chamou muita atenção a recente notícia sobre o crescente número de famílias sem carros no país mais motorizado do mundo, os Estados Unidos. Quem ainda não leu pode achá-la aqui: Estudo mostra que cresce o número de famílias sem carro. Os comentários também valem ser lidos. Em outros países e cidades da Europa e no Japão principalmente, o carro já não é uma necessidade essencial e nem sinônimo de liberdade. 

Mas calma! Pois isso não significa que a indústria automobilística esteja encolhendo ou vá deixar de existir tão cedo. E muito menos que não podemos continuar a ter algum prazer. Desde 2010 a indústria já superou os níveis de vendas de antes da última crise. E muitos países ainda apresentam um potencial enorme de crescimento, pois a motorização é baixa como na China, na Índia e até no Brasil. Além disso, estudos da Shell indicam que o petróleo e derivados só deixarão de ser fonte de abastecimento de veículos em 2070 e o pico da demanda ocorreria em 2035. Temos muito chão para rodar ainda!

Vendas mundiais (fonte: OICA)
Número de veículos por 1.000 habitantes – 2011 (fonte: OICA)



O dia 16 de março deste ano será, no mínimo, curioso. A data será a da primeira etapa do Mundial de Fórmula 1 com o novo regulamento, se dará em terras australianas e ainda não sabemos o que pode acontecer. Este deve ser o ano em que as alterações de regulamento são as mais drásticas.

Salvo alguns detalhes mais básicos, como o fato dos carros terem quatro rodas e um só piloto, basicamente mudou tudo. Mas vamos com calma, os carros ainda terão o mesmo formato, asas dianteiras e traseiras, rodas expostas, motor a gasolina etc, certo? Nem tanto.

Para um carro de competição tão preciso e avançado como um F-1, as mudanças técnicas do regulamento de 2014 praticamente fazem com que o projeto seja um carro novo, mesmo que por fora pareça ser a mesma coisa. O nível de refinamento e precisão é tão grande, as novas características dos carros afetam tanto o projeto, que dificilmente alguma coisa é aproveitada.

Quando falamos “aproveitada” não quer dizer que tudo é jogado fora e refeito do zero, em termos de construção. O material do habitáculo e a forma de construção pouco mudam, o tipo de braços de suspensão também, a tecnologia das rodas, dos pneus, do sistema de direção, o básico do ciclo Otto dos motores, tudo é quase igual ao ano anterior. O que muda mesmo é a forma de colocar todos estes componentes funcionando em conjunto.



Nos tempos modernos, a imagem de uma empresa, pessoa ou corporação, é tudo. Fortunas são feitas em cima de imagem. As pessoas lembram das marcas por seus maiores (ou piores) destaques.

Stanley Kubric é o homem do filme "Laranja Mecânica"; Ian Fleming é o pai do James Bond; a Porsche é o reflexo do 911; e a Nissan é a marca do Skyline.

Mas, o que é um Skyline? É o nome usado no Japão para as dinastias dos modelos anteriores do atual GT-R. Hoje pouco vemos o nome Skyline nos produtos correntes da marca, pois a sigla GT-R foi o destaque do carro criado sob o olhar cuidadoso de Carlos Ghosn, para trazer de volta o ícone japonês dos anos oitenta e noventa. E ainda mais, espalhar pelo mundo o poder do Godzilla.

O Nissan GT-R atual nasceu por ordem direta do presidente da empresa. A equipe de projetos deveria entregar um carro que fosse não apenas competitivo, mas referência no mercado. Leia-se “o GT-R tem que acabar com o 911 Turbo, e ser mais barato”.

Nissan GT-R da geração atual




Um dos principais materiais utilizados na fabricação de componentes estruturais de carros de competição e superesportivos é a fibra de carbono, mais precisamente o compósito de fibra de carbono, oplástico reforçado com fibra de carbono (em inglês, carbon fiber-reinforced plastic, CFRP). Sua leveza e resistência excepcionais revolucionaram a forma de construir carros de alto desempenho.

Quem mostrou ao mundo a real capacidade deste material foi a McLaren. Tanto no automobilismo como nos carros de rua, eles foram pioneiros na aplicação do carbono como material principal na construção do chassi.

Nos primórdios do século 20, pouco mais de cem anos atrás, uma empresa americana chamada Hercules produzia diversos materiais, entre componentes químicos, explosivos e armamentos, ligada ao forte nome DuPont, já conhecida no mercado por diversos produtos em diversos ramos, inclusive no automobilístico.

A Hercules passou pelas duas guerras mundiais fornecendo pólvora, explosivos e outros materiais bélicos para o governo americano. Nos anos sessenta, entrou no ramo de combustíveis sólidos para foguetes, algo que o governo dos EUA tinha grande interesse, pois a corrida espacial contra os soviéticos estava em alta. Seu campo de pesquisa era extenso, e a área de novos materiais também estava em constante crescimento.

Tecido de fibra de carbono, é possível ver os fios nas extremidades


A F-1 é a categoria mais desenvolvida do automobilismo mundial, seus carros são o estado da arte da engenharia e seus engenheiros, os artistas de cada uma das maravilhas mecânicas que movimentam milhões e milhões de dólares.

Cada centésimo de segundo mais rápido que um carro pode conseguir por volta é o resultado de horas e horas de engenharia, estudos e testes. Muitas soluções são simples, outras complicadas, e outras ainda muito mais complicadas porque devem contornar as brechas do regulamento técnico da categoria.

Não é de hoje que o controle de tração é um recurso discutível, não apenas na F-1. Eventos recentes com a equipe Red Bull trouxeram à tona a discussão sobre este recurso que pode dar uma enorme vantagem ao piloto.




Mais uma vez os paulistanos tiveram a oportunidade de ver de perto as incríveis máquinas de Le Mans. Os mais sofisticados carros de corridas de longa duração estiveram em Interlagos no fim de semana 31/8-1/9 para a segunda edição da "6 Horas de São Paulo", corrida que é parte do calendário oficial do WEC (World Endurance Championship – Campeonato Mundial de Longa Duração), uma parceria da FIA (Federação Internacional do Automóvel) e do ACO (Automobile Club de L'Ouest), esta a entidade promotora e detentora dos direitos da 24 Horas de Le Mans.

Émerson Fittipaldi foi novamente o promotor do evento, uma alternativa aos costumeiros eventos do nosso automobilismo como Stock Car e Fórmula Truck, os únicos que atraem algum público. A estrutura montada foi maior que a do ano passado, com mais atrações para quem não estava muito focado com o que acontecia na pista. Le Mans possui um grande parque para entretenimento durante todo o evento. É tradicional e faz parte da corrida, e foi tentado fazer algo parecido em Interlagos.

As corridas preliminares de motovelocidade e da Porsche Cup completaram a gama de atrações na pista. Infelizmente alguns acidentes nestas duas categorias deixaram pilotos feridos. Já na 6 Horas, a corrida não teve acidentes sérios, mesmo tendo sido necessárias diversas intervenções do carro de segurança. 

O Audi R-18 e-tron, destaque da prova pela velocidade e silêncio


Autorama: diversão e alta tecnologia

Na minha vida como estudante e como profissional, já passei por muitas experiências, e boa parte delas são extraordinárias perto de muitos colegas que vivem da tecnologia.

Duas destas experiências importantes vieram de um brinquedo. Mas não é um brinquedo qualquer. É um brinquedo que muitos classificariam até como simples, mas é de uma riqueza e de uma beleza  de ordem técnica enormes. Refiro-me ao bom e velho autorama (o slot car para os americanos).

De todos os tipos de carros elétricos de brinquedo, é o mais acessível para ser entendido, mexido, reparado, modificado e preparado, mesmo pelos menos experientes, tanto na parte mecânica como na parte elétrica. É essa facilidade que engana a maior parte daqueles que lidaram com ele. É um brinquedo extremamente sofisticado, se o objetivo for levar o desempenho ao limite.

Nunca fui muito bom como piloto, mas mexer para fazer funcionar melhor, estender limites, alcançar o que poucos antes alcançaram, e para isso ter de entender os problemas e as barreiras, estudar ciência e a tecnologia relacionadas, pensar e encontrar soluções, esse é o meu tipo de entusiasmo.

E este é o ponto de partida para minhas duas grandes aventuras no mundo desses carros elétricos em miniatura.

Ao longo dos últimos anos, diversas novas tecnologias foram aplicadas aos veículos convencionais de uso “civil”. Praticamente todos os carros novos possuem, pelo menos como opcionais, ABS no sistema de freio e airbags. Itens de segurança cada vez mais obrigatórios em todo o volume produtivo do fabricante.

Além de itens classificados como de segurança, outros recursos como a direção com assistência elétrica também está crescendo mundo afora, inclusive no nosso mercado de carros mais acessíveis. Os veículos híbridos também já estão no mercado com preços mais razoáveis, tecnologia antes restrita aos carros de alto valor.

Algumas novidades no campo da assistência ao motorista também já estão disponíveis em nosso mercado, ainda em modelos mais caros, na faixa dos R$ 100.000,00. mas que até então também eram exclusivos dos carros de luxo. Sensoriamento de mudança de faixa, assistência de manobra e controle de velocidade adaptativo são os que chamaram a atenção. 

Para um carro ser classificado como “bom” pela maioria das pessoas, mídia técnica inclusive, alguns requisitos são primordiais. Qualidade de acabamento está entre as principais. Teor tecnológico também conta bastante, com recursos e itens de moderno desenvolvimento.

Alguns conceitos são tidos como ultrapassados, que não agregam mais ao produto. Entre eles, podemos destacar dois conceitos usados em suspensão traseira utilizados hoje em dia em dois grandes nomes do mercado americano. Para o grande público, a realidade é que pouco importa qual é o tipo de suspensão que o carro tem. Importa se é barato e se não quebra.

O primeiro item é o tipo de suspensão propriamente dito, no caso, o eixo rígido traseiro trativo. Este conceito é usado largamente em picapes, vans e caminhões por ser simples e funcional, com boa capacidade de carga e baixo custo de manutenção. Antigamente, este tipo de eixo era usado na maioria dos carros, mas aos poucos foi sendo substituído por sistemas independentes, ou mesmo pela eliminação da tração traseira.

Eixo do Mustang, com buchas de posicionamento no centro do diferencial.



Em 1993 surgia um carro especial na história da Fórmula 1.

Para esta temporada da Fórmula 1, a Williams trouxe Alain Prost para o lugar de Nigel Mansell, e deu a ele o FW-15C, evolução do FW-14 do ano anterior. Este carro era nada menos que o mais avançado carro de Fórmula 1 de todos os tempos, uma vez que toda evolução tecnológica presente neste carro foi posteriormente banida pelo regulamento da Fórmula 1.

Este carro era equipado com suspensão ativa, câmbio semi-automático, controle de tração, ABS, diferencial e equilíbrio de freios eletronicamente ajustáveis, telemetria completa bidirecional em tempo real. E, de quebra, a Williams ainda estava desenvolvendo um câmbio CVT que iria otimizar o uso do motor ao longo de todo circuito.

Câmbio CVT: proibido pelo regulamento antes de ser usado

E o pior de tudo para a concorrência é que todo este pacote tecnológico não só funcionava perfeitamente, como cada subsistema funcionava completamente integrado aos demais, em perfeita harmonia, enquanto os concorrentes ainda tentavam fazer suas suspensões ativas funcionarem ao menos razoavelmente.


Não é por acaso que um tubarão é o melhor e mais eficiente predador dos mares. Durante milhares e milhares de anos, sua forma foi se adaptando às condições do ambiente e as necessidades de sobrevivência básica. Cada detalhe do corpo do tubarão realiza sua função com primor, graças aos anos de evolução, fazendo do conjunto uma verdadeira obra de arte da natureza.

O Audi R18 não é diferente. Anos e anos de disciplina e, claro, muito dinheiro investido, tempo e dedicação da equipe e dos projetistas que fizeram este carro o vencedor da 24 Horas de Le Mans deste ano. A Audi já está no topo da tabela de vencedores desta mítica corrida, com nada menos que onze vitórias nas últimas treze provas. O modelo vencedor deste ano, o R18 e-tron quattro, é a evolução do modelo R18 TDI vencedor do ano passado, mas com a peculiaridade de ser um veículo com motorização híbrida, e o primeiro deste tipo a vencer em Le Mans.


2014. Este é o ano em que a Porsche promete voltar a Le Mans para disputar a vitória. E já estão fazendo propaganda para instigar os fãs. Veja, abaixo, o vídeo divulgado pela fábrica.


A primeira conquista da Porsche na mais importante corrida de longa duração do mundo foi em 1970, quando Hans Herrmann e Richard Attwood levaram o 917K vermelho e branco para a vitória (o segundo e terceiro lugares também foram da Porsche). Desde então, foram nada menos que 16 vitórias, recorde absoluto até hoje. A Audi está com 10.



A partir do final do século 19, a ciência evoluiu para uma visão estranha do Universo que nos cerca.

O matemático Henri Poincaré, ao estudar o problema de múltiplos corpos orbitando mutuamente, proposto sem solução desde os tempos de Newton, chegou à conclusão que as órbitas dos planetas não eram matematicamente determinadas, mas que ocorriam em caos em torno de certos limites. Apesar de caóticas, Poincaré ainda foi capaz de demonstrar a importância das ressonâncias entre as órbitas dos planetas




Lendo o excelente artigo do MAO, “FASHION BLUES”, sobre a redução de massa não-suspensa, lembrei de uma história sobre radicalizar este aspecto, e de algumas importantes lições de engenharia que ela trouxe.

Corriam os anos 50, época da reconstrução no pós-guerra e de grande crescimento econômico europeu.

O mercado de trabalho por todo continente estava cheio de engenheiros, técnicos e práticos experimentados no projeto e construção dos mais variados equipamentos militares. Não demorou muito, e toda uma onda de criatividade e de transferência de tecnologia surgiria nas novas fábricas de automóveis.

Entre as novidades que enchiam as mentes destes especialistas, havia o conhecimento de que a suspensão de um veículo era tão mais eficiente quanto menor fosse a massa não-suspensa do conjunto. Esta verdade técnica era inquestionável.

A partir desta ideia, houve uma corrida tecnológica atrás da redução massa não-suspensa, e todos os detalhes das suspensões foram pensados e repensados dezenas de vezes, buscando alívio de peso dos componentes.

Em 1952, a Jaguar vence a 24 Horas de Le Mans com o C Type, e o grande trunfo deste carro era seus freios a disco. Mais eficientes, se refrigeravam melhor e eram imunes à água. E, além disso, mais leves que as robustas panelas de ferro fundido dos freios a tambor dos concorrentes.

Freios a disco já eram utilizados pela aviação havia alguns anos e toda uma leva de especialistas vindos da aeronáutica militar estavam habituados com eles. Não demorou e logo o novo tipo de freio se espalhou por entre os fabricantes de automóveis.

Porém, a redução de massa não-suspensa proporcionada pelos freios a disco não havia deixado os engenheiros satisfeitos. Eles queriam uma redução de massa não-suspensa ainda maior.

Em 1955, a Citroën lança seu modelo DS, com freios a disco montados na saída do transeixo dianteiro. Eram os chamados freios “inboard”.



Com esta configuração, a massa do conjunto de freios deixava de ser não-suspensa para a condição de suspensa, e ainda oferecia a vantagem de transferir os esforços de segurar a pinça durante a frenagem das articulações dos braços da suspensão para os suportes fixos do transeixo.

A Rover, em seu modelo P6, utilizou freios a disco inboard montados no diferencial traseiro.



A NSU, mais conhecida pelo uso do motor Wankel, também foi usuária dos freios inboard.


Muitas outras fábricas usaram freios inboard, como a Audi, a Mercedes e a Jaguar. Mas o exemplo máximo do uso dos freios inboard está no Lotus 72, que daria o primeiro título de pilotos ao Brasil pelas mãos de Emerson Fittipaldi. Reparem que ela possuía freios inboard tanto dianteiros como traseiros.


Apesar da aparente vantagem técnica de reduzir a massa não-suspensa, o uso dos freios inboard foi praticamente abandonado, restando como maior exemplo atual de seu uso o Hummer H1 de uso militar, que tira proveito desta configuração não por causa do problema de redução de massa não-suspensa, mas porque aloja o disco numa posição mais segura contra imprevistos vindos de solos muito acidentados e hostis.

Se os sistemas de freios inboard apresentavam uma vantagem evidente tão grande na redução da massa não-suspensa, então por que seu uso não se generalizou? Há duas linhas de problemas relacionados com esta pergunta, uma referente ao calor, outra relacionada com a árvore de transmissão.

A função dos freios é transformar a energia cinética do carro em calor. Como um automóvel possui muita massa e anda em alta velocidade, a quantidade de energia cinética que os freios tem de transformar é muito grande. Uma vez gerado, esse calor deve ser rapidamente dissipado. Se ficar retido, certamente causará problemas.

Uma roda com furações adequadas funciona como um ventilador, sugando ar de debaixo do carro e jogando para o lado de fora. Um freio instalado junto à roda tira proveito desse fluxo forçado de ar fresco para refrigerá-lo.

Uma observação que nosso colega FB sempre nos faz é que muita gente levou sustos com Gol GTS que usavam rodas modelo orbital. As rodas modelo orbital possuíam furação mínima e não refrigeravam adequadamente os freios, que acabavam falhando quando muito solicitados. Também já ouvi o mesmo tipo de comentário a respeito da roda “pingo d’água”, do mesmo carro. Isto evidencia o quanto o disco depende da refrigeração forçada proporcionada pela roda.

Boa parte do calor que flui pelo disco é conduzido para a roda, que é montada diretamente sobre ele, e esta se torna um radiador adicional para a dissipação deste calor.

Especial atenção a esta propriedade deve ser notada no uso das rodas de liga leve. Assim como vários tipos de radiadores e dissipadores de calor, as rodas de liga leve geralmente são feitas de liga de alumínio, que possui uma condutividade térmica muito superior ao aço, ajudando ainda mais na tarefa de dissipar o calor dos freios, estendendo sua eficiência.

Os freios inboard não possuem estas facilidades, tornando-se muito mais críticos sob serviço severo. Eles geralmente ficam em locais pouco ventilados naturalmente e sem ventilação forçada, estando mais sujeitos aos efeitos do calor, como o fading (o "sumiço" temporário da eficácia e a vitrificação das pastilhas.

Como os freios inboard são montados no transeixo ou no diferencial, muito calor é conduzido para estes componentes, afetando o óleo de lubrificação das engrenagens. Isto tem que ser levado em conta no projeto do transeixo ou do diferencial.

Alguns freios inboard, por estarem perto do assoalho do veículo, exigem uma manta térmica para que o calor irradiado não aqueça indevidamente o habitáculo.

Os freios inboard também exigem uma árvore de transmissão biarticulada entre eles e as rodas. Nas rodas de tração estas árvores já existem, porém estas árvores deverão conduzir torque nos dois sentidos. Enquanto isso, nos carros com freios convencionais, estas árvores têm vida projetada levando em consideração a transferência de torque num único sentido. Esta diferença exige maior dimensionamento das articulações das árvores para a mesma vida estimada, o que representa peso e custo adicionais.

Nas rodas sem tração, o uso de freios inboard exige árvores exclusivamente para a frenagem. Como estas árvores estão ligadas à roda, metade de sua massa opera como massa não suspensa, reduzindo a vantagem esperada.

Sendo de aço, as árvores de transmissão possuem uma elasticidade torcional, tal qual à das barras de torção usadas em suspensões. Esta elasticidade dá certo grau de liberdade entre o movimento da roda em relação ao movimento do disco. Esta elasticidade, somada à inércia de giro (momento de inércia) da roda apresentam uma determinada frequência de ressonância, que pode se manifestar durante uma frenagem de emergência, interferindo na capacidade de frenagem.

Mais modernamente, a relativa liberdade de movimento entre a roda e o disco propiciada pela elasticidade da árvore tornaria muito mais complexa a função de controle do atuador do ABS.

Diante de tantos problemas, a vantagem do uso dos freios inboard para redução de massa não suspensa acabou anulada. Apesar de uma ou outra aparição, é praticamente uma opção tecnológica descartada para a produção em massa. Desta e de muitas outras histórias semelhantes, há duas grandes lições a serem aprendidas.

A primeira é a de que nunca se deve levar a ferro e fogo um projeto baseado numa verdade técnica. Como em toda engenharia, cada escolha técnica possui vantagens e desvantagens. O bom projeto é aquele que consegue balancear as escolhas de forma a conseguir o máximo de vantagens com o mínimo de desvantagens.

Aqueles que projetam sem fazer concessões de compromisso, obedecendo fielmente uma verdade técnica correm o risco de obterem uma pequena vantagem em troca de inserirem um número enorme de problemas onde antes eles não existiam.

A outra lição que se toma daí é com relação ao entusiasmo com que abraçamos algumas ideias novas e maravilhosas. Nada neste mundo é perfeito. Quando alguma idéia maravilhosa ou alguma tecnologia revolucionária aparece, é sempre bom tentar enxergar o que está escondido por trás. Pode ser que ela carregue defeitos e desvantagens ocultos, mas significativos para não escolhê-la.

O mundo da tecnologia possui sua própria versão do processo darwinista de seleção natural, e este processo é implacável. Investir com excesso de ânimo e falta de cautela numa tecnologia nova, não suficientemente testada, é correr o risco de investir para vê-la fracassar. Os freios inboard foram adotados com enorme entusiasmo logo que apareceram. Parecia uma ótima solução para reduzir a massa não suspensa.

Porém, ao competir com os freios montados de forma convencional, junto às rodas, suas desvantagens logo ficaram aparentes, e hoje estão mais para uma tecnologia que se tornou obsoleta e uma mera curiosidade que vez ou outra acaba ressurgindo.

Os engenheiros que os adotaram, quer fosse pelo entusiasmo da novidade, quer fosse pelo radicalismo de obter a suspensão com a menor massa não-suspensa possível, tentaram e aprenderam estas lições na prática. Os demais, que foram mais ponderados e consideraram que esta solução realmente não valia a pena, não cometeram o mesmo erro.

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