2014. Este é o ano em que a Porsche promete voltar a Le Mans para disputar a vitória. E já estão fazendo propaganda para instigar os fãs. Veja, abaixo, o vídeo divulgado pela fábrica.



As fotos que vocês podem ver ilustrando este post são do carro que tem feito entusiastas bambear as pernas e babarem até colar o queixo na gola da camisa, desde que foi anunciado mês passado no Concurso de Elegância de Pebble Beach, na Califórnia.
Usando como base um 911 original com entre-eixos longo (1969 a 1989), a empresa que o criou clama ter pego o melhor de 40 anos de desenvolvimento do 911 refrigerado a ar (aquele, o que era realmente um 911) e juntado tudo neste amálgama de modernidade e passado glorioso que ela chama apenas de "Singer 911". Praticamente todo escriba que se preza adorou só de olhar a cara do bicho, e quando soube os detalhes quase teve um orgasmo tântrico de 6 horas.

Mas eu, estranhamente, principalmente por ser o puristra maluco por 911 refrigerado a ar oficial deste blog, fiquei meio em dúvida. Ápice do 911 original? Será?
Se você perguntar a alguém de sobrenome Porsche, ele dirá que o ápice do 911refrigerado a ar foi o tipo 993 (nomeado assim devido a seu ano de lançamento, 1993) fabricado até 1997, mas que um 911 zero Km que se pode comprar em concessionária hoje é ainda melhor. Realmente existem poucos argumentos lógicos para refutar tal afirmação. A Singer, porém, parece ter uma idéia interessante: seus press-releases evocam a leveza, a simplicidade e até o barulho característico do motor refrigerado a ar como algo que não devia ter sido abandonado.
Eu mesmo sou largamente conhecido por apregoar a mesma coisa aqui neste Blog. Muitas vezes, menos é mais, e mais é simplesmente um exagero inútil. Mas o que diferencia um carro como este Singer de , por exemplo, um Carrera 2.7? Aparentemente, pelo uso de componentes e tecnologia moderna, seria um carro também usável no dia-a-dia.
O carro começa com uma carroceria usada de um 911. Ela é totalmente limpa de pintura, e solda MIG é usada para reforçar toda junção de chapas. Um "backbone" (chassi tipo espinha) existe para reforçar ainda mais a estrutura, embora a empresa não dê detalhes de como isso funciona (provavelmente, uma estrutura tubular por baixo do túnel central). Pode-se ver no primeiro carro montado, um santantônio tubular por dentro do carro também. Segundo a empresa, todas as superfícies externas (exceto a porta) são substituidos por peças moldadas em resina plástica reforçada com fibra de carbono (material conhecido por aí apenas com o nome da fibra de reforço). A rigidez, já uma característica que nunca foi ruim num 911, com certeza melhorou. Somente o reforço das soldas com cordões de solda aumenta sobremaneira a rigidez de qualquer carroceria soldada a ponto, apesar de ser extremamente trabalhoso, e por consequência, caro.
O motor também parece ser uma jóia: baseado no bloco grande de 3,6 litros do 993, é aumentado para 3,8 litros por meio de pistões e camisas (parecidas com as de fusca no 911 "a ar") de 103mm de diâmetro e o virabrequim de 76,4mm de curso do Porsche 997 GT3 . Montado pela empresa do famoso preparador Jerry Woods, usando peças da Ninemeisters inglesa, o motor tem ainda bielas de titânio e cabeçote especial usinado de um bloco sólido de alumínio forjado. Balanceado e feito com cuidado, gira a 8000rpm e debita 425cv. Empurrado por essa usina de força (e, sem dúvida, de ruído), e pesando apenas 1088kg, o Singer 911 acelera de 0-100Km/h em torno de 4 segundos, e chega a 275km/h.

A suspensão dianteira, por barras de torção na balança triangular inferior e torre de amortecedor no original, é substituida por torres McPhearson, e a traseira é a mesma dos 911 de corrida dos anos 70: braço arrastado com mola helicoidal concêntrica com o amortecedor.O melhor da indústria de preparação de 911 é utilizado: amortecedores Moton com reservatórios separados, molas Eibach, e buchas e barras estabilizadoras Smart Racing. Os pneus são enormes Michelin sport cup, 225/45 17 na frente e 245/40 17 na traseira, em rodas que imitam as gloriosas fuchs forjadas dos anos 60/70. O desenho dos pneus é claramente focado para aderência máxima em pista seca, com apenas as concessões necessárias para homologação para o uso em rua.
Por dentro, um belíssimo volante Momo de pequeno diâmetro, sem air-bag, domina a impressão inicial. Existe algo em um volante simples como esse que é uma brisa de ar fresco para o entusiasta, uma coisa que nos alivia e nos leva a um mundo mais simples que não existe mais... Os bancos são Recaros antigos, parecidos com os do 2.7 RS, e apesar de espartano, a ampresa diz que amenidades modernas como ar condicionado, som potente e navegador GPS estarão disponíveis. Um detalhe interessante e de bom gosto na escolha dos componentes é o uso dos limpadores de parabrisa do 993, que denota realmente o esforço de usar o melhor de todos os 911 originais. O desenho externo é realmente, de novo, de extremo bom gosto, evocando principalmente o magnífico Carrera RS de 1974. Fica especialmente malvado e adorável no laranja das fotos.

Lendo e vendo tudo isso, não há dúvida que o carro será incrível para dirigir, e causador de furor por onde passar. Mas penso que não tem como ficar barato; todo este trabalho especializado feito a mão individualmente nunca é. E acho que fica num estranho limbo, uma zona cinza entre um carro de pista e um carro de rua, que não consigo entender, ou realmente desejar de forma tão compulsiva quanto a maioria das outras pessoas.
Para o uso nas ruas, no dia-a dia, não entendo onde pode ser melhor que um 993. Sim, é mais potente e mais cru, mais próximo de um carro de competição, mas isto é na verdade um problema para um carro de rua. O 993 tem uma suspensão traseira mais sofisticada, multibraço montada numa bela estrutura de alumínio, que transformou o 911 em um dócil companheiro tanto para estradas esburacadas, como em pistas sinuosas. O ronco e a persona bruta e sem sofisticação de um 911 refrigerado a ar está presente no 993, mas é um carro perfeitamente usável e dócil, um belo companheiro para o dia a dia, e ainda possível de se usar numa pista.
O balanceamento rua-pista é sempre delicado neste tipo de carro. O Singer 911 pretende ser um 911RS3 refrigerado a ar, mas tendo usado componentes dos 911 antigos, acabou deixando o pendulo cair mais para o lado da pista do que pode ser aceitável para que o conceito faça sentido. Não existe como este motor ultra-preparado não soltar um berro gutural que apesar de muito legal nos primeiros 7 dias, será impossível de aturar nos subsequentes. Sua suspensão será rígida demais, e o carro caro e exótico e bonito demais para ser deixado em qualquer lugar, por medo de se repor ou ter que pintar um paralaminha de fibra de carbono. E para pista...algo ainda mais cru e focado é o necessário.
O fato é que pelo preço deste carro, muito provavelmente você poderá comprar um 993 original e deixá-lo em estado de zero, usá-lo todo dia , e ainda rebocar um 911S 68 de corrida (depenado, rollcage, slicks, mármore italiano no lugar de suspensão, sem abafadores de escape) para as pistas no fim de semana. Ou comprar um RS3 novinho, que faz perfeitamente o balanço pista-rua, e deixar toda esta bobagem de passado para atrás. Mesmo porque carros como este Singer, por mais bem feitos que sejam, nunca terão a confiabilidade de um Porsche original. Este fato, amigos, quase nunca é lembrado quando se fala de carros deste tipo, mas é um tremendo problema. Como um brinquedo de fim de semana, tudo bem, mas para este fim existem literalmente infinitas opções.
Desta forma, apesar do extremo bom gosto na execução, este belíssimo 911 me parece ser destinado apenas aos que querem ser diferentes, passar a imagem de puristas ou conhecedores, ou apenas ter algo raro, ou ainda, infelizmente, apenas aparecer. Nenhum problema com nenhum destes motivos, mas definitivamente não toca a minha música.
MAO


Se hoje 600 cv parecem corriqueiros, como posso cometer a heresia de apontar um carro de apenas 210 pôneis alemães de melhor? Como, num tempo em que o desempenho do Porsche ilustrado aqui pode ser obtido de uma perua com ar-condicionado, vidros elétricos, direção hidráulica, navegador via satélite, enormes bancos revestidos de suave couro, transmissão automática e um equipamento de som com mais potência que um carro pequeno?
Mas um carro, principalmente um carro esporte, é mais que o desempenho que entrega. Você é pego pelo apelo de um carro esporte não pelo seu desempenho, seu preço, seu equipamento básico. Não, em um carro esporte o que interessa é aquela conexão profunda entre o homem e sua montaria, aquela perfeita harmonia que se sente ao dirigir algo que lhe responde da maneira que você deseja. Deve ser uma relação intensa, algo exasperantemente bom, ao ponto de exaurir toda sua energia. É algo que se lembra de noite ao colocar a cabeça no travesseiro, que te perturba durante o café da manhã, e que faz o dia de trabalho ficar imenso na ansiedade de voltar a ela.
Como um novo amor, como uma dose de Drambuie com gelo, como o abraço apertado de seu filho mais novo, um grande carro é uma daquelas coisas que nos faz acordar de manhã e enfrentar mais um dia de luta. É o que nos move para frente.
E para isso acontecer, a experiência atrás do volante é o que conta. A maneira como ele responde a seus comandos, a dirigibilidade nunca subjugada pela aderência maciça, a leveza nos movimentos e nos comandos é o que nos faz feliz. Leveza aqui é a palavra-chave. Nunca um mastodonte de 4 toneladas vai se mover como algo que tenha um quarto de seu peso, nunca rodas que pesam um Fusca cada vão conseguir a delicadeza de uma direção de pinhão e cremalheira sem assistência que não esteja sobrecarregada de massa e área de contato dos pneus.
O que nos leva ao objeto deste post. Não é segredo nenhum que tenho uma fixação por Porsche 911, principalmente os de antes de 1980. E para mim, não obstante a incrível quantidade de magníficos automóveis que atendem pelo nome geral de 911, este é o melhor de todos. E não somente o melhor de todos os Porsches, mas muito provavelmente o melhor ponto final.
Criado como uma homologação para competições em 1972, o primeiro 911 Carrera nasceu com aquela clareza de propósito que só carros de competição possuem. Basicamente, olhando de fora e sem conhecer sua fama posterior, foi uma versão para lá de simples de se fazer: mais potência por meio de mais deslocamento, e menos peso por meio de depenação. Mas, como vivo repetindo para quem quiser ouvir, cada carro é mais do que seus componentes, é a soma de como esses componentes se juntam, para que, e mais importante, por quem são juntados.
A ideia por trás do Carrera RS era a de, em primeiro lugar, criar um Porsche de competição que não drenasse os caixas da companhia como havia feito o poderoso 917, e de criar um 911 vencedor de corridas, para que o interesse no carro (na época se aproximando dos 10 anos de idade) não sumisse, enquanto o novo 928 era desenvolvido para substituí-lo.
Pode se começar a entender o apelo deste carro quando se vê que teve tanto sucesso que criou uma verdadeira dinastia de 911 de competição, que teve tanto sucesso que simplesmente imortalizou o modelo. Quem se lembra do 928 hoje?
Mas mais do que isso, para mim este 911 é perfeito. Leve, do tamanho correto, com rodas e pneus de tamanho normal, e veloz o suficiente para causar uma morte bem gloriosa. Não importa o que veio depois, não consigo imaginar porque alguém precise de mais desempenho do que o deste carro.
Empurrado por uma versão aumentada do então corrente 2.4, o seis-cilindros contraposto se tornava (inclusive em diâmetro e curso) a metade exata do doze cilindros do 917/10 contemporâneo: 2,7 litros. Com 210 cv e injeção mecânica Bosch, o irascível propulsor é tudo que um carro esporte precisa: barulhento, girador, exótico, leve, baixíssimo e nervoso.
E tinha muito pouco carro para empurrar. A Porsche diminuiu a espessura das chapas de carroceria não estruturais pela metade, trocou os vidros por outros menos espessos mas com a mesma resistência (bem mais caros, vinham de uma empresa belga especializada em vidros e cristais), retirou o banco traseiro, trocou os dianteiros por modelos Recaro estreitos e aliviados. Todo isolamento termoacústico foi abandonado, contribuindo para a atmosfera esportiva, ascética e com propósito. Não havia nem tampa de porta-luvas, e nem para-sol do lado direito. Até a buzina era um modelo comum e barato, mais leve. Com todos os fluidos cheios, o Carrera RS pesava apenas 900 kg.
A suspensão usava, pela primeira vez na empresa, amortecedores pressurizados Bilstein, que além de mais rígidos e eficientes, contribuíram com uma redução de massa de 3,4 kg em relação ao 911 S. Mais baixo e com barras estabilizadoras bem mais rígidas, o Carrera recebeu rodas forjadas Fuchs calçando pneus Pirelli CN36 nas medidas 185/70 R15 na frente e 215/60 R15 na traseira. Medidas absolutamente perfeitas para um carro do porte e peso do Carrera RS, e que, pasmem os mais ligados em pneus gigantescos, permitiam o carro alcançar até 0,912 G de aceleração lateral no recém-inaugurado skidpad de Weissach.
O capô e a tampa do motor eram de plástico termofixo reforçado com fibra de vidro, fixados por travas externas de borracha (Sky-clamps), de novo para reduzir massa. Mas no capô traseiro aparecia o primeiro spoiler em um 911, um discreto “rabo de pato” hoje famoso. Totalmente funcional, reduzia o lift no eixo traseiro do 911 de 145 kgf a 250 km/h para praticamente zero, ao mesmo tempo reduzindo o coeficiente de arrasto aerodinâmico. Além disso, melhorou a refrigeração do motor admitindo mais ar. Quanto ganho para um componente que não custou praticamente nada, integrado como está ao capô traseiro...

A Casa de Zuffenhausen, com receio de não conseguir vender os 500 carros necessários para homologação, aguçou a criatividade de seus designers para decorar a versão especial do 911, e eles responderam à altura. A hoje clássica e copiada decoração do Carrera RS também salva massa: não há nenhum logotipo no carro a não ser o brasão da Porsche no capô e o imenso letreiro “Carrera” na lateral, e assim mais algumas gramas foram economizadas na santa busca da inércia baixa.
Mas o que importa é que, fazendo as rodas e o letreiro da mesma cor, criou uma aparência memorável e inesquecível. Um carro totalmente depenado e ascético se tornou motivo de cobiça simplesmente por sua decoração. A Porsche descobriu que 500 foram poucos e acabou fazendo quase 2.000 deles.

Capaz de acelerar até 100 km/h em 5,5 segundos, e de arrepiar os cabelinhos da nuca de todos os jornalistas tarimbados da época (e de hoje), o Carrera RS se tornou um clássico instantâneo, e ainda é na opinião dos melhores jornalistas do meio o mais visceral e equilibrado 911 já criado.
Disse a Autocar inglesa em seu teste: “...o carro despeja simplesmente toda sua potencia no chão. Não chama atenção com powerslides: ele apenas acelera - e como! Sair de uma curva de baixa é uma das melhores sensações do mundo do automóvel. Você pode baixar a bota cedo, que o carro estilinga pela reta com as rodas traseiras aparentemente coladas ao asfalto. Amazing!”
Para mim, juntando um comportamento dinâmico bem-acertado, um bravo e cacofônico seis contraposto lá atrás, e sendo o pináculo do early-911 que tanto adoro, é simplesmente o melhor carro esporte já criado. É um divisor de eras, depois dele o 911 ia se tornar infinitamente mais veloz, mais confortável, mais, mais, mais, mais...
Mas se pensarmos um pouco, para que mais? Algo tão perfeito em suas proporções, em seu desempenho e no seu imenso fator de diversão deve satisfazer até o maior dos gourmets do volante.
É como receber um presente: como, de quem, e o carinho que é passado ao receber é infinitamente mais importante do que o valor ou a quantidade. E quem não percebe isto, perde o que de melhor a vida nos oferece.
MAO


Lançada em 1978, e com desenho de carroceria desenvolvido totalmente no Brasil e exclusivo para ela, a Variant II incorporava importantes melhorias realizadas nos VW refrigerados a ar europeus, que até ali (e mesmo depois dela) permaneciam inéditos no Brasil: suspensão traseira independente por meio de braços semi-arrastados e suspensão dianteira McPherson, muito superiores aos sistemas adotados nos Fuscas e seus derivados por aqui.
O carro foi um fracasso comercial, e selou o futuro refrigerado a água da VW também em terra brasilis. Mas tenho carinhosas memórias dela, visto que meu sogro, ao redor de 1988, tinha uma muito útil Variant II branca como segundo carro.
Me lembro do espaço interno generoso; dos dois generosos porta-malas; da estabilidade e controlabilidade bem divertida, e do motor valente, apesar de fraquíssimo para o carro.
Era uma perua divertidíssima enfim, muito mais segura e melhor no comportamento dinâmico que a infinitamente mais popular Brasilia.


Acho até que bastaria dar uma melhorada no motor dela mesmo (alto deslocamento com "kit" importado? Turbo? Injeção?) , visto que o motor Porsche seria exótico e caro demais. Seria uma perua Porsche infinitamente mais cool do que a irrelevante Cayenne. Sempre tive vontade de fazer uma coisa assim, apenas para provar uma teoria que toda vez que exponho, é recebida com os olhares reservados aos mais dementes esquizofrênicos.
AG, tem medicação sobrando por aí? A minha acabou...
MAO


Para que os menos versados na história da companhia, explica-se:
Na verdade, a Porsche, em seus primeiros anos de vida como fabricante, fazia uns carros que, à primeira vista, seriam dificílimos de vender.
Eram pequenos, estranhos, parecendo uma nave extraterrestre na qual foram adicionadas rodinhas para rodar no solo. Além disso, eram obviamente baseados no VW, mas custavam uma fortuna. Eram velozes em termos relativos (para motores de menos de 1,5 litro) mas em termos absolutos, lentos pelo preço que era cobrado por eles.
Por meio de um inteligente programa de competições, da fama do nome Porsche e da exclusividade advinda da pequena quantidade de carros produzidos, a empresa conseguiu um status invejável em pouco tempo. Quem tinha um Porsche acreditava fazer parte de um clube seleto, que entendia porque aquelas banheirinhas invertidas eram especiais. Acreditava ser um motorista melhor, por causa da notória propensão a sair de traseira subitamente. Acreditava dirigir um carro do futuro, pequeno, mas veloz , aerodinâmico e eficiente. Se imaginava diferente, e sabedor de segredos que os menos iniciados na arte de dirigir não conheciam.
Desta forma, desde cedo a espécie que hoje conhecemos com o nome geral de "Porschéfilo" começou a proliferar e diversificar. Abaixo segue o resultado do último estudo científico feito para classificá-los, já atualizado com as espécies mais recentes que apareceram no lançamento do Panamera. Classificados por ordem de nível de Porschefilia crônica, sendo 10 os mais doentes e 1 os mais "normais".
Nível 10:
Tipo inicial de Porschéfilo. Este indivíduo acredita que a Porsche traiu seus princípios quando lançou o 356A em 1955. Para ele, a terrível instabilidade dos Porsches era uma virtude, porque separava os homens das crianças, os pilotos dos meros motoristas. O 356A era muito melhor (com uma ajudinha de Zora), mas esse tipo de Porschéfilo doente achou que a Porsche ficou molenga, que fez o 356A benigno para americanos gordos e abandonou seus seguidores fiéis. Prova de que tudo é relativo nesse mundo.
A maioria desse tipo de Porschéfilo já morreu. Alguns poucos ainda podem ser vistos indo pra lá e prá cá em umas estranhas banheirinhas invertidas feitas em alumínio num celeiro no interior da Áustria, com pequenos motores de 1,1 litro e 40 cv, e ainda se acham superiores a tudo mais que existe. A maioria deles, obviamente se concentra na Inglaterra, ilha para onde foram banidos todos os realmente estranhos.
Nível 9:
Variação pequena em relação ao anterior; aceitou resignado o 356A e o B. Mas o C foi muito! Tinha até aquecedor (movido a gasolina) que funcionava, e era pesado demais e ágil de menos. Obviamente, uma traição aos princípios que fundaram aquela empresa!
Nível 8:
O mais famoso Porschéfilo nível 8 que se tem notícia foi o conhecidíssimo jornalista (e co-piloto de Moss na lendária Mille Miglia de 55) Denis "Jenks" Jenkinson. Jenks era famoso por acompanhar por anos o circo de F-1 a bordo de seu fiel 356 de 1955, e era um conhecido e devotado membro da irmandade Porschéfila. Mas tudo isso mudou quando o 911 foi lançado.
Jenks ficou chateadíssimo com o seis-cilindros lá atrás. Muito pesado, iria sacrificar o delicado e perfeito balanceamento do 356 no altar da maior potência. Ficou muito grande, gordo, pesado, un-Porsche.
Nosso amigo abandonou a irmandade: trocou o 55 por um Jaguar E-Type ("seis cilindros por seis cilindros, melhor 4,2 litros do que 2") e pasmem: se recusou, mesmo tendo acesso total a carros de imprensa da Porsche, a mesmo experimentar o 911!! Meu tipo de sujeito...
O irônico é que quando finalmente o experimentou, em 1967, adorou o carro. Não há lógica na paixão.
Nível 7:
A maioria dos nível 7 conheceu a Porsche já no 911, mas ainda era ligado às suas raízes do 356. Esses acharam que a Porsche morreu quando lançou, em 1976, o 924. Tudo bem, era feito de componentes VW como os 356, mas motor DIANTEIRO? E refrigerado a água? Inaceitável.
Quando veio o 928, então, com um V8 lá na frente, o nível 7 vendeu seu 911 e se mudou para o Tibet para aprender a controlar a raiva num mosteiro budista.
Nível 6 e 5:
Tolerou os refrigerados a água, mas não suportou o 911 Turbo ganhar a 5a. marcha em 1986.
Explica-se: esses doentes achavam que a esta época, o Turbo, que se mantinha inalterado desde 1978, era o exemplo da perfeição. Mexer nele era sacrilégio.
Esse tipo de entusiasta da marca usava o turbo como bandeira: a Porsche tentava substituir os 911 pelo 928, mas eles continuavam comprando o velho carro, que por seu comportamento assassino (turbo-lag abundante, sobresterço maligno) era como os primeiros Porsche, separadores de homens e moçoilas. Na verdade, o problema não foi só a quinta overdrive; em 86 deram uma civilizada geral no comportamento do carro. De novo, a Porsche fazia concessões a “pessoas normais”, segundo o nível 6.
O nível 5 é quase o mesmo. Esses se incomodaram, mas relevaram a ligeira civilização do Turbo, mas ficaram ofendidíssimos quando o carro foi descontinuado logo em seguida.
Nível 4:
Porsche 911 refrigerado a água. Precisa dizer mais?
Nível 3:
Aceitou o 911 refrigerado a água, achou o Boxster genial, mas não pode pactuar com uma perua Porsche de 325 toneladas, tração total e V8 dianteiro refrigerado a água, por mais rápida, veloz e ágil que ela fosse.
Nível 2:
Tinha relevado a Cayenne meio a contragosto, mas com o lançamento do Panamera decidiu que nada é mesmo sagrado, e voltou a achar que o último Porsche de verdade foi o último refrigerado a ar, o 911 Turbo de 1998.
O colunista que vos fala é acometido de Porschefilia crônica neste estágio. Quando acusam-no de purismo, ele aponta que é purista sim, mas num nível bem baixinho...
Nível 1:
Nivel de pessoa normal. O Bob Sharp é o mais conhecido representante. Para ele, não importa como são os Porsches, e sim o resultado. Se é Porsche, foi bem projetado, então ele gosta. Mesmo sem experimentá-los, dirigi-los só irá confirmar o que era esperado.
Lógica perfeita, mas um pouco pragmático demais para este que vos fala...
Quem nunca sentiu a dor de amar e ser traído?
MAO


Esta semana a turma que faz este blog discutiu bastante o Panamera. Acho que nestas conversas eu finalmente decidi minha opinião sobre ele.
Minha opinião sobre o Panamera é a mesma que tenho sobre o Cayenne: preferia que não existisse.
Não há dúvida que o Panamera, assim como o Cayenne, será um carro ótimo. Provavelmente será o melhor carro do seu tipo, como o é o Cayenne. E aí está a raiz do problema. Existem literalmente dúzias de peruas 4x4, altas, caras, com V8s superpotentes à venda hoje em dia. Mercedes, BMWs, Range Rovers, e até baratas Jeep SRT8 e Chevrolets SS.
Existem também um monte de sedãs esportivos: Maseratis, Mercedes, BMWs.
Mas só existe um Porsche 911. Não há mais nada como ele. Isto é que costumava fazer um Porsche especial: uma fórmula única e inimitável. Se a particular forma de cupê 2+2 com motor contraposto traseiro lhe toca como faz a mim, só existe um lugar onde consegui-lo: no subúrbio de Stuttgart chamado Zuffenhausen.
Não sou tão tradicionalista a ponto de achar que empresa morreu, ou que não significa mais nada, mas gostaria que ambos os carros nunca tivessem existido. Antes deles, se uma pessoa lhe dizia que tinha um Porsche, você sabia que era um tipo especial e diferente de pessoa que entendia uma longa e bonita tradição. Ao contrário do Ferrari, que sempre contou com jogadores de futebol deslumbrados entre seus donos, a Porsche apetecia a quem gostava de dirigir, e só a eles. Agora, "eu tenho um Porsche" não significa mais nada. Só que o cara tem algum dinheiro.
E o que me deixa mais triste, no caso do Panamera, é que a ideia é ótima. Não existe motivo para que um carro esporte não possa ter 4 lugares, 4 portas e portamalas. E não existe motivo para que um Porsche não possa ter 4 lugares, 4 portas e portamalas. Mas a ótima ideia pegou o caminho errado.
E por que? Vejam bem, a Porsche teve um bruta trabalhão para fazer a experiência de dirigir o Panamera ser digna de Porsche (ou seja, fosse como um 911). Teve um trabalho danado também para que o carro tivesse aparência de Porsche (ou seja, parecido a um 911). Então por que cargas d'água ela não fez ele SER um Porsche de uma vez????
Bastava colocar um motor contraposto lá atrás, ou mesmo em posição central-traseira. Caramba, era só alongar um 911, pelamordedeus!!!
Conseguiria um carro original e único como o 911, que agradaria os puristas e os não-entusiastas (que nem sabem onde fica o motor de qquer forma) duma vez só.
O Panamera me entristece não pelo que é, mas por tudo de grande que poderia ter sido.
MAO

Quando abri essa caixa de pandora de listas relacionadas ao deslocamento volumétrico de motores, imaginava que esta seria a mais fácil, e mais efadonha. Ledo engano... Foi a mais difícil delas para compilar. Por pouco não a dividi em 10 posts diferentes, visto que há muito que falar de cada um dos eleitos. Mas como o André Dantas há tempos tornou obsoleta uma regra do blog que pedia posts curtos, resolvi colocar tudo junto aqui mesmo.
Queria muito incluir aqui o Miller 122, com seu magnífico oito-em-linha supercomprimido, antecessor do 91 sobre o qual já falei aqui. Mas carro de corrida não vale, muito menos monoposto. O Bill Egan vai ficar chateadíssimo por isso, mas regras são regras... Muito ficou de fora, queria ter lugar para um sedã BMW moderno com o seis-em-linha DOHC, para o AC 16/20 seis-em-linha do pré-guerra, para o Peugeot 205 GTI 1,9 (close enough)...mas de novo, regras são regras e só cabem 10 deles.
Sem mais delongas, e sem nenhuma ordem particular, vamos a eles então:
1) Ferrari GTB turbo

Já falei bastante da Ferrari “popular” em um post anterior, e portanto não vou demorar nela.
Apesar de pessoalmente preferir a 208 GTB turbo produzida de 1982 a 1986 (10 vezes mais bela), a lista é dos melhores carros, portanto fico com a última geração, de 254 cv, produzida até 1989.
2) Porsche 904:

O 904 foi um carro de competição desenvolvido concomitantemente com o famoso 911, durante o início dos anos sessenta. Era a evolução de um conceito que estreara no famoso 550 spyder, 10 anos antes: um carro esporte de competição que também podia ser usado na rua e, portanto, podia (e devia: a FIA exigia pelo menos 100 veículos produzídos para enquadrá-lo nas categorias de carro-esporte pretendidas) ser vendido ao público.
O 904 (na verdade uma designação interna da empresa que “pegou”; o nome oficial é Carrera GTS) acabou por se tornar o último de seu gênero. Seu sucessor, o Carrera 6 de 1966, já era um carro exclusivo para competição, fruto de um relaxamento das exigências da FIA. Muitos ainda acham que o 904 era melhor como carro de rua do que de competição e que a Porsche errou feio em não fazer mais que os 120 carros (aproximadamente) que produziu.
Foi o primeiro Porsche vendido ao público a não usar a clássica suspensão dianteira com braços arrastados sobrepostos e barras de torção, usada desde os Auto Union dos anos 30 (e que a maioria conhece por equipar o onipresente Fusca). Tinha um chassi exemplar, com motor central, suspensão de braços triangulares desiguais sobrepostos em cada roda e direção por pinhão e cremalheira (outra relativa novidade para a empresa) posicionada à frente da suspensão dianteira. Sua carroceria de resina poliéster reforçada com fibra de vidro era laminada a mão e formava com o chassi tipo escada (longarinas de perfil “C” fechadas por um reforço) uma estrutura indivisível e muito rígida, mas que deve dar pesadelos a quem pretende reformar um hoje em dia.
Junte-se isso a um desenho de carroceria que é reconhecido por seu criador, Butzi Porsche, como sua obra-prima, e têm-se um automóvel que, somente pelo dito até agora, bastava ter um motor de 2 litros qualquer que já merecia estar na lista. Mas na verdade, o que torna este carro indispensável a ela é justamente o fato de que não apenas um tipo de motor equipou-o, mas nada menos que três motores totalmente diversos, e todos deslocando dois litros!
E que motores! Como não podia ser diferente naquela época, e naquela empresa, todos os três eram motores de cilindros contrapostos e refrigerados a ar. Mas as similaridades param por aí.
O primeiro deles era a última evolução do 4-cilindros de Ernst Fürmann, o mesmo lendário e excelente motor de 4-comandos, oito válvulas e duas velas por cilindro que desde os anos 50 vinha sendo montado em spyders e nos 356 Carrera, além de monopostos de Fórmula 1 e 2 (em versão de 1,5 litro). Nesta versão, chamada internamente de tipo 593/3, deslocava dois litros e debitava algo entre 180 e 190 cv, uma impressionante potência específica para um motor dos anos 50, e ainda por cima refrigerado a ar.
O segundo foi na verdade o motor para o qual o 904 foi desenvolvido para usar, o depois famosíssimo flat-6 que seria lançado em 1965 no 911. A Porsche acabou por lançar o 904 com o 4-cilindros “Carrera” por considerar que o novo motor ainda não estava pronto para o público. Como consequência, todo 904 vendido ao público tinha motor de 4 cilindros, apesar de várias unidades que pertenciam a fábrica usarem o seis cilindros, na maioria dos casos para competição em sua equipe oficial. Peter Porsche, filho mais velho de Ferry e irmão de Butzi, usou um 904 de seis cilindros laranja como seu carro particular até meados dos anos 70, o que significa que pelo menos um deles foi usado nas ruas.
O seis-cilindros usado era obviamente a versão de competição do motor de série (tipo 901/2), que usava duas velas por cilindro e debitava entre 190 e 200 cv. Mais barato, por derivar de um motor de alta produção, que os outros dois usados no carro, era tão integrado ao veículo que muitos ainda acham que a Porsche deveria ter esquecido o 911 e vendido o 904 de seis cilindros em grande escala.
O terceiro e último motor é também o mais interessante. Usado em talvez meia dúzia de carros da equipe oficial de competições, o tipo 771 era um motor de oito cilindros contapostos, quatro comandos de válvulas, duas velas por cilindro e nada menos que 240 hp debitados a partir dos dois litros de deslocamento. Derivado diretamente do motor de 1,5 litro do 804 de Fórmula 1, era altamente complexo e caro (cada motor precisava de dois dias para ser montado por um funcionário experiente), mas era leve e minúsculo, pesando praticamente o mesmo e ocupando o mesmo espaço do 4-cilindros “Carrera”. Girava com segurança até mais de 10 mil rpm.
Todos os 904 eram extremamente velozes, capazes de mais de 250 km/h, mas o de oito cilindros era obviamente o mais potente deles: já foram cronometrados a mais de 300 km/h.
3) Chevrolet Cobalt SS

Pessoalmente adoro este tipo de carro: barato, mundano e comum, mas capaz de desempenhos avassaladores.
Independente do que tenha ouvido por aí na esteira da crise que quase faliu a GM ano passado, a empresa hoje em dia dificilmente erra em seus lançamentos. Movidos pelo megaentusiasta Bob Lutz, seus carros são simplesmente geniais, um lançamento após o outro.
Vejam o caso deste Cobalt: o carro-base é antigo e ultrapassado, mas como ainda demoraria para chegar o moderno Cruze ao mercado americano, investiu-se algum dinheiro para se lançar uma versão melhorada no ano passado.
O carro passou simplesmente da água para o vinho. E o SS recebeu um moderníssimo 4-cil em linha, com injeção direta e turbocompressor, e 260 cv. O propulsor é uma verdadeira jóia, suave, econômico e com potência abundante em qualquer rotação. Chega a 100 km/h na casa dos 5 segundos e a velocidade final ao redor de 250 km/h.
Mas o mais incrível é que o carro não é só motor como se poderia esperar. A GM sempre foi muito boa em motores, mas os carros em que eram montados muitas vezes deixavam a desejar, principalmente quando de tração dianteira como o Cobalt. Mas não agora. O chassi foi desenvolvido em Nürburgring, e o carro tem um desempenho exemplar em pista e em rua.
O resultado é um carro que, custando apenas 22 mil dólares nos EUA, é um perfeitamente dócil e econômico carro pequeno (para os EUA), mas ainda assim é capaz de, numa pista, ser mais rápido que alguns ícones modernos como o Mitsubishi EVO, o Subaru WRX, o Golf R32 e pasmem, até o Lotus Elise!!!
Para os que ainda reclamam do acabamento e outros frufrus, para mim é reconfortante ver um carro assim. O investimento foi no que faz o carro andar, não em alças de teto com retorno amortecido e outras besteiras. Até o motor não tem aquelas ridículas capas de plástico que escondem tudo, o motor está lá para quem quiser ver, e sem nenhuma decoração.
Vejam também:
http://www.autoblog.com/2008/10/13/in-the-autobog-garage-2009-chevy-cobalt-ss-turbo/
4) Ford Sierra Cosworth

O carro em que se baseou esta homologação especial, o Ford Sierra original de 1982, teve como principal característica um revolucionário desenho aerodinâmico, baseado em estudos avançados da Ford neste campo (mostrados ao público como a série de protótipos “Probe”). Apesar de eficiente, o desenho não agradou e de novo os grandes fabricantes, por muito tempo, viraram as costas a esta ciência...Ou pelo menos colocaram-na em segundo plano.
Uma verdadeira instituição britânica, o famoso “Cossie” foi durante os anos 80/90 o que hoje são os EVOs e Subies, praticamente carros de competição que podem ser comprados em concessionárias com garantia.
5) Citroën C4 Picasso
Por mais que alguns entusiastas chiem e bufem, esta é uma lista de Melhores Carros e, portanto, este Citroën cabe nela sim senhor.

A mais exclusiva e tradicional marca inglesa criou sua marca produzindo carros de dois litros, usando uma unidade de seis cilindros em linha BMW, que no pós-guerra se tornou inglês como reparação de guerra. O 404 de 1953 foi o melhor deles; único Bristol de dois lugares apenas, era leve o suficiente para que os 125 cv do motor fossem suficientes para mover com vigor o carro. O motor tinha comando no bloco, mas válvulas dispostas como em um DOHC, acionadas por varetas.
7) Fiat Dino 206 cupê

Muito mais raro que o já raro 246 Dino (de 2,4 litros), a versão de dois litros da clássica união entre a Fiat e a Ferrari é bem mais interessante, por contar com bloco de alumínio (ferro fundido no 2,4).
8) Honda S2000
Criado para comemorar os 50 anos da Honda, este magnífico roadster de alumínio carregava debaixo do capô o dois-litros de aspiração natural mais potente da história montado em um veículo de produção em série: um moderníssimo 4-em-linha DOHC com o famoso VTEC e 240 cv.
9) Toyota 2000GT

Nos anos 60, querendo se livrar do estigma de fabricante de carros bons mas chatos (um estigma verdadeiro do qual ela obviamente nunca vai se livrar), a Toyota resolveu fazer um carro esporte. O resultado foi o 2000GT, um carro magnífico, mas que pelo preço não foi o sucesso que merecia.
Usando um seis-em-linha derivado do usado no Crown, mas com um cabeçote DOHC desenvolvido pela Yamaha, o 2000GT tinha suspensão independente nas 4 rodas e uma semelhança não-intencional com o Jaguar E-type, o que acabou por ajudar o mito de que ele seria uma cópia do carro inglês. Na verdade, postos lado a lado, descobre-se que nada é similar, mesmo porque o japonês é muito menor.
10) Porsche 911S

Vamos combinar: se um 911 é elegível, está na lista. Qualquer lista. Nada é mais legal que um alemão que não é totalmente lógico!
MAO
Big, Bad, Evil Black Bat, o Morcego Negro do também meu amigo PH, que já contou sua história aqui com a ajuda do MAO. Essa foto é da derradeira viagem nas mãos de Herr Hanser. Devo achar mais revirando meus arquivos... Não são PK-quality, mas acho que vocês vão gostar. Em outra nota, adicionamos um novo link para mais um blog. É o "vida de piloto", tocado pelo Adriano Griecco. Bom relato do dia-a-dia de um aspirante a piloto de F-Classic. Vale a visita.
E os contornos são de uma menina. Uma menina linda e simpática, daquelas que iluminam qualquer lugar; que apesar de não mais tão jovem, é bela na companhia de belas. E quando a vejo, parece que ela se ilumina, que se inquieta. Se inquieta porque, tristemente, a menina é sozinha. Não por falta de companhia; outras máquinas sempre estão por perto; mas por falta de calor humano. Sozinha em seu galpão ao meio de paquidermes, a bela repousa esperando o dia em que novamente possa gritar a plenos pulmões, sentir o vento, sentir o sol e a chuva, enquanto aconchega dentro de si seu amante. Você quer acabar com o sentimento de carência afetiva que emana dela, você quer tirá-la dali e levá-la a uma vida cheia de carinhos diários.
E ela quer ir às vias de fato. Quer desesperadamente. Não tem pudores nem reservas, não tem fidelidade a ninguém; permite que qualquer um que saiba fazê-lo se refastelar. Mas o atual amante não é tão permissivo. Enquanto ele não está por perto, ela se assanha para o meu lado, permite um pouco de contato físico, deixa passar a mão, mexer, fuçar, tudo menos o que interessa.
Alguns saciariam-se só em levá-la às vias de fato. Eu não, eu quero mais. Eu quero ela só para mim. Eu quero fazê-la feliz, quero fazer cafuné toda manhã, quero levar a família para passear.
A menina se chama Porsche 911 72, dourado. E ela me ama. Eu amo ela. Ela mora em um galpão em São Paulo, junto com várias outras raridades. É extremamente bem cuidada, na verdade, mas quando se tem uma família grande, é difícil se ter tempo sozinho com qualquer um dos membros dela. Minha família é pequena e tem vaga sobrando.
Ela parece um ovni no meio de gigantes americanos. Pequena, baixa, leve. Senta-se bem no meio do carro, e o motor, um cacofônico e levíssimo dry-sumped flat-6 refrigerado a ar soa áspero, irascível, nervoso. Dois carburadores triplos aspiram vigorosamente. O couro de seus bancos está macio de uso, perfeito, e os bancos te aconchegam e te convidam a explorá-la. Pedais pivotados no assoalho, chave do lado errado, conta-giros na sua frente em um painel que de tão famoso parece familiar desde o primeiro dia. Rodas Fuchs, forjadas em alumínio. Dois bocais de abastecimento, um para gasolina, o outro de óleo, para o cárter seco. Lugar para meus filhos pequenos atrás ou razoavel bagagem.
Ao volante, tenho certeza que pude ouvir seus clamores. Vem, vem, liga, vamos andar, vamos, acelera, meu bem. Vamos, você nunca mais será o mesmo depois de andarmos de lado, vem, meu amor, me experimenta...
Vadia! É melhor ignorá-la, é melhor ir embora, é melhor acabar com o sofrimento.
Ela vive num mundo diferente do meu. Nosso amor é impossível. Ela é Julieta, eu sou Romeu.