google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014): Alfa
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foto: Paulo Keller/AE

Tudo começou com um e-mail do Bill Egan. O amigo e ex-colaborador deste blog estava maravilhado com o novo carro na sua garagem eclética: um vermelhíssimo Alfa Romeo Duetto 1300 Junior. Queria que a gente o experimentasse, queria conversar sobre ele, queria mais. Pensou até em voltar a escrever para o blog, algo que o incentivei a fazer veementemente. Um talento desperdiçado é um dos maiores pecados que se pode cometer usando roupas, afinal de contas.

Marcamos um dia então, um domingo de manhã em um posto de gasolina no caminho para minha casa, já fora de São Paulo para facilitar para mim, e tirar o trânsito do encontro. Andando por ali acabamos por encontrar, quase por acidente, uma estradinha maravilhosa: longa, mão dupla, vazia, cheia de curvas legais, e belíssima naquele dia de sol. Encontrar algo tão bom de andar tão perto de São Paulo já valeu o dia.

Um monte de amigos resolveu vir junto, o que tornou o encontro ainda mais legal. O Paulo Keller, renovando sua vontade de trabalhar no blog que ele mesmo fundou, apareceu com seu maquinário retratista para registrar tudo. Mas o que Egan não esperava era a horda de viaturas bávaras que apareceu para mudar totalmente o foco do negócio: eu obviamente fui com minha perua 328i de câmbio manual, porque ela é meu carro de uso diário, meu meio de transporte primário. O Rafael Tedesco também veio com o seu E36 de uso diário, um bem surradinho cupê 325i, também com o raro e desejável câmbio manual. Mas a estrela do passeio prometia ser outra: O M3 de primeira geração (E30) de nosso amigo e ex-colaborador VR.


Foto: Paulo Keller/AE

Sete meses já, e prometi que faria de novo... bom, aí vão algumas, para colorir a mente insone e provocar a mente curiosa:

Não, não é uma garagem perdida no interior da Itália.

Fuselage look, huh?

Sempre adorei o centro de São Paulo. Em cada portaria, em cada fachada, uma surpresa.

Pit Stop para reabastecimento


Yeah, Evil. MOPAR RULEZ!

Nada excepcional nessas duas. Só gosto das cores delas.

Cores, velocidade, um pouco de ação. Eu preciso de uma dose. Rápido, para o Egan-móvel!
Com uma semana de atraso, cansado de protelar o momento de relatar aqui nosso passeio, decidi que era hora de falar sobre o Encontro Paulista de Autos Antigos. Mas sem apelar pro clichê e o jornalismo comum. Esse tipo de coisa você leitor encontra em qualquer outro lugar.

Fizemos um passeio legal, eu e o amigo MAO, saindo de São Paulo com o raiar do sol. A estrada tranquila e vazia, a capota aberta na montaria do dia (uma Alfa - sim, sempre elas - Spider, mas dessa vez uma 96, V-6.) e o Who tocando alto no rádio combinavam como poucas coisas na vida. MAO, velhinho que é, reclamou do frio boa parte da viagem, mas aproveitou o passeio, temendo por sua vida só no trecho final de serra entre Lindóia e Águas de Lindóia.

Chegando à cidade ainda dormindo, vazia, sem trânsito, tranquila, pudemos estacionar o carro numa boa vaga, atrás de um Chevette S/R que deixou MAO pirado. Depois de alguns minutos, seguimos para a praça, onde o mesmo de todos os anos nos aguardava. Nada de excepcional, nada de fenomenal, porém, nesse ano nada de situações ridículas como no ano passado. A média geral dos carros subiu, algumas peças interessantes, mas nada tão digno de nota assim.

Uma bela Corvette de primeira geração e a sombra de nosso intrépido colunista MAO



Como prometido, o troféu AUTOentusiastas para o veículo que mais gostaríamos de dirigir vai para o belo MG TC da foto abaixo, de um colecionador de São Paulo:



Criando um novo troféu, o do veículo que mais gostaríamos de levar para casa e chamar de "meu", vai para o inerentemente cool Chevy 56 abaixo:


Das negativas

Num evento já marcado pela falta de significado e ganância, o desse ano surpreendeu por não ter afundado ainda mais que o anterior. Ponto para a organização, ou para a sorte, ou para a crise, não sei. Só nos resta torcer para que ano que vem o evento talvez volte a ser o que era há 7 ou 8 anos. There´s always next year.
Ontem, na hora do almoço, fui buscar um carro para um amigo; ele mora em outro estado, e tendo comprado à distância um automóvel, não tinha como buscar o carro. Fui recebê-lo, e hoje ele está guardado na garagem secreta dos Egan. O carro? Uma Corvette 1972, amarela, targa.


Um sonho deveras comum é se imaginar num lugar rodeado de pessoas conhecidas, escola, faculdade, trabalho, que seja, porém nú. Posso dizer que ontem tive o equivalente automotivo desse sonho. Cruzar o trânsito da metrópole paulistana, cruzando favelas, bloqueios políciais, túneis, buraqueiras e etc.. a bordo de algo discreto como uma mulher na mais sexy e vulgar lingerie, falando as frases mais indecentes na voz mais alta possível, cruzando uma movimentada rua no centro paulistano é algo que incomoda um pouco. Posição de dirigir OK, peso dos comandos OK, motor meio desregulado, mas OK, mas meu deus, aqueles pára-lamas invadindo a vista, naquele tom de amarelo que queima as retinas... credo!
Um outro amigo contava um "causo" de que uma "amiga", que, tendo visto uma Corvette de terceira geração, como a 72 amarela de meu sonho (ou seria pesadelo?), exclamou: "Uau! Meio que me lembra meias-arrastão... que vulgar!"

Mas, como todo homem que se preze, não vou dizer que não gostei. A little kinky, sexy, in a sick, twisted way, but cool nonetheless.

E por que AMOR E SEXO? Porque ao guardá-la no esconderijo secreto dos Egan, eu precisava de um carro para vir para casa; escolhi a velha companheira Alfa Spider. Leve, ligeira, delicada. Um amor. Para apresentar aos pais. Para levar à missa no domingo. Para levar almoçar na casa da vó no domingo...

Hoje, depois da chuva feia do final de tarde, duas travas foram destravadas e do meu banquinho, travado no meio do trânsito paulistano, joguei o teto para trás e voilá! As estrelas me aguardavam me olhando lá de cima. Lovely. Just Lovely.
P.S.: Vale notar que, procurando fotos para ilustrar o texto, o Google devolveu como resultado da busca de fotos de Corvette 1972 uma mulherzinha bem vulgar em poses idem sobre uma Corvette. Logo, não sou só eu não...
P.S.2: Post devidamente corrigido pelo autor. Aos Pasquales de plantão, o autor recomenda Veríssimo.
P.S.3: Preaching to the wrong choir perhaps, mas aos cricas de plantão, LEIAM o texto. Eu gostei da Corvette. Gosto de Corvettes. Mas essa aí de terceira geração é vulgar demais. Não gostaria de ser pego morto numa. E o texto nem sobre a Corvette era!
No final de semana, aconteceu de novo. Minha sina me alcançou, por mais que eu a evitasse, viajando para um lugar ermo bem acompanhado. Perdido em alguma rua em Itatiaia, RJ, cruzei com mais uma Alfa GTV em busca de um dono. A namorada, já escolada, nem esperou eu pedir:"Pode ir lá ver o carro. Acho que tem um anúncio de vende-se na janela", e lá fui eu.

Prata, rodas de liga-leve, volante de 2300, vidros elétricos, e, segundo o anúncio, com direção hidráulica. Crap! Mexida demais, mas não custava nada ligar. Nada, a não ser o custo de uma ligação DDD de um celular fora de área + impostos. Caixa postal, deixei recado, e segui viagem, obviamente pensando em um donor car para a esquecida neguinha na garagem.

Chegando em São Paulo, o celular toca, um número com prefixo do RJ. Atendo, e obviamente, guio logo a conversa para o preço.

(Interrompo agora para deixar uma nota ligeriamente relacionada: alguém se lembra do Citroën AX GTi que encontrei tempos atrás num passeio de Alfa Spider? Aquele cujo dono ficou com um cartão meu, e disse que entraria em contato quando fosse vender o veículo? Pois é, ele me contatou, perguntando se ainda havia interesse, há cerca de uma semana. Respondi que sim, e ele não respondeu. Flertei com a idéia de um carrinho com a pintura faded com o preço FIPE equivalente ao que pagaria de seguro esse ano no daily-driver mais a franquia, caso eu necessitasse dos serviços, mas como não houve resposta, deixei para lá.)

O dono da Alfa prontamente respondeu, 45 mil reais. Na minha cabeça, pelo estado do carro, 10 mil era muito bem pago. Funilaria porca, nada de original... mas desconversei logo, e falei que nesse preço compraria um carro aqui em SP mesmo, agradecendo o retorno da ligação.

Hoje o dono do Citroën respondeu, 11 mil reais. Por um carro cuja tabela FIPE é 5500 reais, e que necessita de pintura!!! E por que escrevo aqui se achei tudo caro e não vou comprar nada?

Para agradecer, isso sim. Preciso mesmo guardar dinheiro, venho gastando muito. E nem um AX GTi barato, muito menos uma GTV barata poderiam me ajudar agora.

Os fiéis leitores de nossa coluna sabem que passei por momentos difíceis de digerir tempos atrás: a perda do par e a perda do Porsche foram dois duros golpes, um emocional e um financeiro/automobilístico. Difíceis de lidar, mas são parte da vida adulta e de tudo aquilo que um dia reconheceremos como "crescimento", como aprendizado, como experiência. Os mais emotivos, atentos e ligados (em músicas antigas) provavelmente já pegaram a dureza do lado emocional dos últimos tempos, no primeiro título.

Já os mais interessados no Porsche vão gostar de saber de uma história que ouvi de um amigo à época. Não contá-la-ei por inteiro, pois farei o amigo o fazer um dia neste blog, mas vai aqui a referência. O amigo perdeu um negócio similar, um bom tempo atrás. Diria até que era um negócio melhor, mas perdeu, assim como eu. E se arrepende até hoje, como eu certamente me arrependerei no futuro; mas esse não é o ponto. O ponto é uma singela pergunta que não consegui evitar de fazer ao amigo: "Se tivesse ficado com o carro, hoje teria os bolsos cheios, certo?" - antes mesmo dele responder eu já havia entendido a resposta - a questão não era o que aconteceu, e nem o que aconteceria; era a decepção por não saber, o arrependimento não da posse, mas do não conhecimento. E isso, meus amigos, é a maior dor que nossas lembranças guardam.

Vou voltar à Vespa. Ela ao menos não me deixa em dúvidas e as peças ficaram prontas. Atividades para as férias. Isso e a embreagem da Alfa. Acho que agora resolvo tudo e entro em 2009 com outros projetos na cabeça.
Dia desses, voltando para casa no ônibus fretado que tomo (sim, eu sei, what a lousy way to get to work and back sendo que eu gosto tanto de carro, mas o trânsito sempre toma o melhor de mim), me peguei pensando, ou melhor, sonhando, em voltar para casa sobre uma moto. Não pelo trânsito e, defintivamente, não pelo conforto físico, mas, com certeza, pelo prazer de andar de moto.

Não é segredo algum que sonho freqüentemente com uma bela (e relativamente barata) Harley 883R, laranja, mas o fato de ela ter se tornado cada vez mais comum a tem feito perder boa parte de sua graça... Comprar uma Buell pequena, talvez? Ou uma Harley maior ainda, uma XR1200?

Engraçado como mesmo começando um sonho pequeno, sempre nos convencemos que o salto para algo melhor é pequeno o suficiente para valer a pena. E em pouco tempo estamos gastando o dobro do que pretendíamos antes.

Bom, voltando ao assunto, ou melhor, à falta dele. O texto do meu amigo MAO, ao invés de ajudar, só complicou ainda mais as coisas. Por que agora sonho com uma 883R "vestida" como uma dirt-track-racer, como uma HR XR750?

Acho que é melhor ir atrás das peças da Alfa. Elas já devem estar prontas por esses dias e ter um carro italiano para trabalhar é um bom jeito de ocupar uma mente ociosa...


Outro dia, há algum tempo já, convenci Egan Sr. a largarmos um dia de trabalho para ir atrás de dois carros de que tínhamos ouvido falar, que estavam no Rio de Janeiro.

A proposta era boa, inicialmente. A pista indicava que eram duas Alfa Romeos, uma Alfetta "esportiva" e uma GT 1967. Ambas quase prontas e as duas pelo preço de uma. Ligamos para o dito dono dos carros. Ele confirmou, dizendo que estavam na oficina de um amigo e poderia buscar-nos no aeroporto e levar-nos lá para ver os carros. Eram dois mesmo, uma Alfetta, "esportivíssima, parecida com uma Ferrari, com o câmbio e diferencial lá atrás e tudo, quase pronta, faltando umas coisinhas pra sair da oficina", e uma GT 1967 "lindo, mas com motor de Opala 4 cilindros; eu tenho o câmbio original, vai junto, só precisa achar um motor por aí em São Paulo. E, ah!, ia esquecendo! Tenho um monte de peças de Alfa, elas vão junto no negócio!". E sim, o preço era bom. Compramos as passagens da ponte aérea para o dia seguinte e lá fomos nós.

O vôo, previsto para decolar às 8h30, levantou vôo às 10h45; chegamos ao RJ com um belo atraso e nosso anfitrião ainda não tinha chegado ao aeroporto. Aquilo já começou a cheirar mal, mas poxa, duas Alfinhas, uma para cada Egan? De repente, um senhor de idade, cambaleante, veio em nossa direção, perguntando "Seu Egan? Sou eu, o João (nome trocado, obviamente). Vamos lá?" Seguimos o velhinho, que entrou em dois (sim, dois) táxis errados antes de encontrar aquele que o tinha trazido ao aeroporto. Na saída, o taxista e "seu" João discutiram e perderam alguma saída importante, e caímos na ponte Rio-Niterói.

Maravilha, já que o tempo já seria escasso sem erros de trajeto. Pedágio no final da ponte, perguntamos como retornar, ouvimos as instruções, mas, obviamente, o taxista errou mais uma vez e perdemos o retorno. Cutuquei o cotovelo de Egan Sr. e lhe falei, "Pai, essa viagem será inesquecível..." O taxista então pára para pedir informações na beira da estrada, e, do nada, o homem para quem perguntamos responde sem pestanejar: "Estão indo ao Rio? Pô, merrmão, deixa eu ir com vocês (enquanto ele dizia isso, esticou a mão pra dentro do carro, destravou a porta e entrou) que eu explico o caminho e vocês me deixam na saída da ponte, ok?"

Naquele momento, pensei que Alfa nenhuma valia aquilo. Paulistanos temem o Rio como cariocas temem São Paulo e não era nada confortável a situação. Mas, já estávamos lá e não tínhamos muita volta naquela hora, então...

Long story short, deixamos o caroneiro no final da ponte, o taxista se entendeu com "seu" João e chegamos a um bairro longínquo da periferia do Rio. "Seu" João, agora mais certo do que fazia, dizia, confiante, a cada esquina "Direita! Esquerda aqui! Direita no final da rua! Esquerda ali, depois da Brasilia parada! Esquerda de novo! Ué, não tinha esse semáforo aqui... dá marcha ré que erramos!" Ao que o taxista respondeu prontamente, atravessando o carro no meio da rua para retornar, sem prestar respeito a nenhum dos dois ônibus que vinham um em cada sentido... "Seu" João, ainda sem se dar conta da situação, gritou: "É aquela oficina ali!" -- e paramos o carro e entramos.

"Seu" João entrou perguntando pelo José (ou qualquer outro nome genérico) e os funcionários da oficina reponderam prontamente "Aqui não tem nenhum José." E "seu" João, coçando a cabeça, sem entender, se lembrou que na verdade a oficina era a outra, vizinha de parede. E finalmente chegamos aos carros.

Entramos, eu e Egan Sr., nos espremendo entre vários carros, até chegar a uma Alfa 2300 completamente desmontado, onde o "seu" João parou e disse "Veja só a minha Alfetta, que bela - tá vendo, só falta umas coisinhas pra sair com ela...". Bom, era uma Alfetta sim. Mas não era nenhuma "Alfetta esportiva", não, era o feio sedã cujo feio desenho foi copiado para a nossa 2300, brasileira. E realmente só faltava uma coisa para terminar o carro: o interior. Inteiro.

Decepcionado ao extremo, pensei em esganar o "seu" João ali, na hora, naquela oficininha boca-de-porco na periferia carioca. Respirei fundo, mas pensei na GT 67 e nas peças que, segundo "seu" João, lotavam sua casa e eram motivo de ódio de sua esposa. Ainda poderia haver algo ali.

Seguimos mais em frente na oficina, embrenhando-nos entre carros que lembravam experiências do Dr. Moreau, feitos sem nenhum dó, nem recurso. E lá, no fundo da oficina, rodeada pelo mato já alto, estava a bela carroceria step-nose de uma GT 1967. Ao relento. Sobre UM ÚNICO cavalete (apoiando um braço da suspensão dianteira esquerda) e as rodas traseiras.

Olhei para Egan Sr. e no silêncio que fizemos um observador atento poderia ouvir a Alfa enferrujando. Tomado pelo ódio, revirei as peças e constatei que o câmbio original estava lá. Só que no chão. E com um rombo na carcaça do tamanho de uma moeda de um real (para quem nunca viu uma caixa de câmbio de uma Alfa do período, isso é mais ou menos um quinto da área lateral da caixa). Abri o capô e vi o maldito iron duke, mal e porcamente adaptado. As portas obviamente não abriam, e se abrissem não fechariam mais, mas o interior, apesar de em péssimo estado, era completo.

Ainda tentamos olhar com atenção para ver se algo ali se salvava e ainda tivemos coragem de mandar um oferta por tudo aquilo. Não chegava a 20% da pedida de "seu" João, mas era uma oferta. Ele obviamente não topou e então entramos no táxi. Ele fez questão de mostrar ainda "o lote imenso de peças que ele tinha guardado em casa e "que minha mulher vive reclamando por que não consegue andar em casa". Como era caminho do aeroporto, fomos lá.

No elevador antigo que nos levou ao apartamento, a ansiedade por encontrar aquele carburador Weber perdido, esperando um dono, só crescia. Entramos na casa, empoeirada e fedendo a mofo e maresia e, da porta, "seu" João apontou um pára-brisa de GTV apoiado na parede: "Olha ali todas as peças! Vocês vão adorar!".

Sim, senhores, o "lote de peças" era simplesmente um pára-brisa e três gavetas de peças miúdas debaixo de uma mesa. Dois ou três tipos de buchas de suspensão, lanternas de Alfas nacionais, condensadores e cabos de vela, mas nada mais. Nada de interessante. Eu, já nervoso, falei a Egan Sr. na frente do "seu" João: "Pai, vamos embora que não tem nada aqui..." e fui interrompido pelo "seu" João, que disse: "Calma, eu vou lá dentro pegar os meus carburadores para a gente fazer negócio com eles também"...

Ele trouxe para a sala um belo jogo de Webers 40 horizontais, perfeitos para a Alfa GTV 2000 que Egan Sr. tinha à época. Perfeitos, completos e ideais. "Vou fazer deles um abajur, que tal? Não é uma ótima idéia?", perguntou "seu" João, que emendou: " A não ser que vocês queiram eles também. Vocês me levam os carros pelo meu preço e com só 5 mil reais a mais vocês levam essa preciosidade para casa..."

Egan Sr. disse então umas verdades ao "seu" João e fomos embora do apartamento. Ao nos despedirmos e entrarmos no táxi para o aeroporto, "seu" João ainda soltou: "Como vamos fazer com o custo do dia do taxista? aqui metade do dinheiro, o resto vocês completam, ok?"

Fim de semana e, como tal, duas coisas pulam à mente (sim, o texto está atrasado há alguns dias -- ficou em "rascunhos" e, sobrecarregado de trabalho, simplesmente esqueci dele). Uma é a solidão, que ainda demorará um pouco a passar. E a outra, como sempre, são os projetos abandonados na garagem.

Sábado pela manhã viajei à uma oficina especializada em freios e circuitos hidráulicos automobilísticos. Um amigo havia comentado que eles eram capazes de recondicionar os cilindros do circuito da embreagem hidráulica da Alfa, e então lá fui eu, carregando o mestre e seu escravo, para um retrabalho que espero ser definitivo. Quando mostrei as peças ao atendente, ele logo retrucou "Isso é de quê, de Alfa?" -- bom sinal.

Depois de algum tempo retrucando que eu não queria de modo algum tentar adaptar algum cilindro-escravo moderno no bellhousing da Alfinha, o atendente aceitou ficar com as peças para fazer os reparos. Me pediu um mês de prazo e logo pensei: "Ah, um mês livre de gastos e dores de cabeça com a Neguinha. Que delícia!".

Desse modo, a GTV se une à Vespa, ficando abandonado na garagem à mercê da boa vontade do serviço alheio. As peças da Vespa ainda não voltaram da pintura, preciso ligar para o meu amigo lá, e a Alfa só terá embreagem mês que vem.

Com a cabeça livre para pensar, no domingo, a solidão voltou. E com ela a vontade de fazer algo sozinho e egoísta. Decidi então apelar para a Grazi, que apesar do nome e do que posts anteriores podem sugerir, não é uma loira alta de seios fartos.

Acordei-a do sono após o encontro com o Scania e ela, alegremente, me levou por um longo e demorado passeio. Andei pela Av. dos Bandeirantes, pela JK, pela Faria Lima. Passei em frente de bares de motociclistas, cruzei com um amigo passeando num antigo Golf GTi, curti o sol. Curti o ronquinho do motorzinho Sachs a uma velocidade que seria confortável pedalando e curti a brisa.

Mind-cleansing indeed, my friends, indeed.


Sábado passado acordei de um modo que não acordava há tempos num sábado: sem programação nenhuma. Sem ter que comprar peças da Vespa, sem ter que levar a Alfa em algum lugar, sem ter que ir ver algum carro em algum bairro distante, nem nada disso. Sol forte, cabeça ainda centrada no passado, achei melhor dar uma volta. E what better way to do it do que num conversível, para limpar a mente?

Apelei à garagem de Egan Sr., onde ele guarda sua Alfa Spider 73. Capota aberta, tanque quase cheio, óleo de motor e circuitos hidráulicos (you never can tell, diria Chuck Berry) checados, saí pelas ruas da cidade, debaixo do sol forte. Pouco trânsito (fato cada vez mais incomum em São Paulo durante os sábados) pelas avenidas, atravessei a cidade, curtindo o passeio. Relembrei a primeira vez em que dirigi uma Spider como aquela, muito anos atrás, quando Egan Sr. tinha um carro idêntico. Eu tinha 10 anos de idade à época e, como presente de aniversário atrasado, meu pai dirigiu o carro até a Cidade Universitária e me deixou guiá-lo à vontade, "no lugar onde um dia eu estudaria". Pensando no assunto, me dei conta de que estava chegando à Cidade Universitária, então resolvi fazer ali meu passeio a esmo.

Rodei bastante pelas ruas da USP, ora me imaginando num fictício "Grande Prêmio da Cidade Universitária" (thinking about it, dá pra fazer um belo circuito lá dentro), ora pensando em inúmeras memórias que surgiam à cabeça conforme os prédios iam passando, e a Alfa roncando. Lembrei daquele dia, com meu pai ali, quando coloquei pela primeira vez a terceira marcha num carro. Lembrei de quando estudei lá, por seis meses, até abandonar o curso de medicina. Lembrei dos amigos que ficaram lá e se formaram, e hoje levam uma vida completamente distinta da minha. Lembrei do que fiz e do que fazia quando saí de lá. Lembrei de dias e fatos, de aprendizados, de pessoas.

Dirigir algo que gostamos, em um belo lugar, é algo realmente excepcional. O prazer de dirigir se mistura ao prazer de estar lá, e a mente viaja no ritmo do ronco do 4-cilindros. É algo realmente especial, recomendado e sem contra-indicações.

Dirigi sem rumo por três horas, sob o sol forte. Hoje exibo um bronzeado avermelhado, F1-bleachers-style e os braços dóem das queimaduras. Mas, a cabeça, apesar de queimada e com a marca dos óculos de sol, está mais tranquila.

Vale notar que no passeio vi meu próximo brinquedo, parado na rua, à espera de um novo dono. Um belo e simpático Citroën AX GTi, verde escuro. Pintura original, bem faded, quase todos os detalhes de acabamento lá (faltava uma moldura no pára-lamas dianteiro esquerdo), interior novo, o que já vale o carro. Conversei com o dono, que disse que pretendia vendê-lo, sim. Mas que droga. Limpei minha cabeça de um lado e enchi de outro. Não vendo mais a GTV, mas acho que a restauração dele vai demorar um pouquinho mais pra sair...
Terça passada levamos o Mini ao Sambódromo, onde haveria um desfile de carros pequenos. Vão aqui algumas fotinhas.
Sim, um Renault 4CV. E com o Ventoux original ali atrás, não um motor de Gordini, ou pior, Corcel.
Rovin, acho que 1957; o carro atrás (e que parece grande) é um Nash Metropolitan, para um efeito de escala. O motorista é um humano de tamanho normal.


Ah, o meu favorito. Um NSU Prinz 1000, e está à venda. Dirigi o carro e me apaixonei. Pena que desisti de vender a Alfa...
Sim, amigos, estou de volta. As últimas semanas bem que tentaram, mas não tiraram o melhor de mim. Continuo aqui, e mais calmo quanto a algumas coisas, e menos preocupado com outras. Hard times indeed.

Voltando aos projetos, um update rápido: Anunciei a Alfa, mas pra ser sincero, acho que desisti da venda. Por enquanto ela ficará guardada, e depois verei o que fazer com ela; quanto à Vespa, algumas peças precisaram ser repintadas, e as levei de volta à oficina do meu amigo, para a repintura. São principalmente os componentes do guidão, e portanto, a montagem está on hold pelo momento. O Mini está parado, pois Egan Sr., o verdadeiro dono do carro, está vendendo ele.

Na verdade, não tinha muito motivo para escrever. Ânimo me faltava, como também assunto, pelo mesmo motivo. Mas hoje ajudei meu irmão a ir buscar um carro dele (sim, ele também é como nós). E para facilitar, levei junto meu outro moped italiano, no porta-malas do carro dele, para voltar de sua casa. Grazi, como eu costumo chamar minha Carnielli MotoGraziella, se acomodou no chiqueirinho, e quando chegou sua hora, acordou do seu sono de um ou dois meses na segunda pedalada. O pequeno motorzinho acordou nervoso, inebriando vosso escriba com o delicioso cheiro de gasolina podium misturada a óleo 2 tempos. Engraçado como certas coisas trazem sorrisos instantâneos e naturais, como se nada de errado houvesse. Subi nela, e saí, lá dos Jardins, para vir para Moema, às 21h precisamente.

O caminho é curto, esburacado, e em alguns trechos, escuro, mas cruzar o parque do ibirapuera à noite é um raro prazer. Confesso que, apesar de ter feito a viagem toda a Wide-Open Throttle, senti medo apenas num trecho, quando estranhamente cruzei com um cavalo-mecânico Scania próximo ao parque. Caminhões imensos são really scary quando vistos a poucos centímetros de sua moto, ainda mais quando a moto calça pneus aro 8. Mas cheguei em casa. E menos triste. E é para isso que curtimos tanto nossos carros e motos, para fazer nossa existência algo mais divertido e menos triste. Aproveitem a semana!
Semana dura, essa que passou. Aperto financeiro, perdi a oportunidade de entrar num negócio memorável (compraria um Porsche 911, a preço de banana!), a namorada me largou, bateram no meu carro (não a Alfa, nem o Mini e sim aquele meio de transporte amorfo que uso no dia-a-dia) e, pra completar, um pneu furado.
Nessas horas, já disse aqui, não há nada melhor do que virar a mente transtornada para algum projetinho com o tempo livre. Comecei a montar minha velha Vespa, que estava esquecida desmontada e recém-pintada na oficina de um amigo.
Um dos grandes prazeres secretos dos homens é desmontar coisas. No dia do desmonte da Vespa, com a ajuda de algumas latas de cerveja, convenci três amigos a me ajudarem a tornar aquele adorável brinquedo em nada além de uma pilha de peças num armário e um conjunto de chapas estampadas. Hoje, preferi atacá-la sozinho, ouvindo música, para clarear a mente. Para limpar a mente, melhor dizer. Tirar da cabeça todas aquelas aflições mundanas e etéreas que nossa cabeça teima em nos propor.
Acordei cedo (cedo demais para um domingo, anyway), e fui para a garagem, sem nem tomar café. Separei logo as peças que sabia que usaria no começo da montagem e apoiei o monocoque da Vespa sobre o carrinho de ferramentas, para que o trabalho ficasse a uma altura confortável. Primeiro passo, repassar o chicote elétrico dela por dentro do casco fechado, levando os fios aos devidos lugares dos componentes que eles alimentarão. Nada simples, graças à moderna e complexa construção da nossa amiga artrópode. Terminada essa parte logo antes do almoço, decido passar pelo casco o conduíte do cabo do acelerador, mas não termino antes da fome chegar. Parada para o almoço e para cumprir meus deveres com a democracia.



Ao retornar do almoço, termino de passar o cabo do acelerador e passo para a instalação de todos os outros conduítes. Parece pouco, mas é uma trabalheira danada. Justo o que eu precisava, depois dessa semana.
Para a semana que começa, o objetivo é montar o guidão, outra trabalheira danada. Depois disso, it´s all downhill from there. Fica moleza terminar ela. E os domingos solitários pela frente pelo menos terão a companhia do inseto barulhento que sempre me fez rir.



Esse final de semana pensei em escrever um pouco mais por aqui. Há tempos que não escrevia nada sobre o Mini, nem sobre o Alfa, então decidi que andaria com eles. Invariavelmente algo ocorreria, digno de nota.

Sábado, saí com o Mini. Tirei-o da garagem e pude notar que ele olhou para o Alfa como que se dissesse a ele, "Está vendo? É a mim que ele prefere!". Tentei ignorar, melhor não dar corda para o inglês maluco e nem para a ciumenta italiana.

Saímos, em direção ao MG Clube, pela Marginal Pinheiros. Os 90 km/h demoram a chegar, mas uma vez lá, é difícil reduzir desse ritmo. O Mini segue sólido a essa velocidade, porém com alguma vibração, provavelmente vinda de toda a rigidez da suspensão lutando contra o asfalto de nossa metrópole paulistana.
 


Essa vontade toda de ter um esportivo me fez lembrar onde tudo isso começou. Quando eu tinha por volta de dez anos de idade, meu pai comprou um Alfa Spider 2000, 1974. Dirigi o carro no meu aniversário, na cidade universitária, para meu deleite. Quatorze anos depois ele voltou a ter um carro desses. E aí embaixo vai o relato de um final de semana que passei com ele, para um evento de subida de montanha no interior paulista. Desculpem o português ora chulo, ora simples demais, mas é um texto que tenho guardado, escrito no calor do momento:

"Rodar 850 km numa semana faz tudo parecer natural, mas não deixa você encarar com naturalidade a falta de rigidez do Spider. Mas tudo bem, é só levá-la com calma que não tem galho.

Dos pontos, o óbvio. Conversível é tudo de bom e do melhor. Viajar à noite, sob o céu estrelado, e de manhãzinha, com o nascer do sol são experiências que todo mundo devia ter uma vez por mês. Ainda mais ao volante de um Alfa e ouvindo Simon e Garfunkel. Carro de veado o kct!
Olá a todos!

Ando um pouco sumido, pensando um pouco no futuro. Mini e Alfa vão bem, parados lado a lado na garagem, um rindo das minhas desgraças com o outro. Preciso tirar os pára-choques da Alfa para levá-los ao polimento, mas aparentemente o tanque de combustível deve sair antes do pára-choque traseiro. Ao constatar isso, juro que ouvi o Mini rindo. Ou enferrujando, não sei ao certo...Logo desisti e nesse tempo que sumi nada fiz nos dois carros.

Tentei andar de Alfa, mas como amante esquecida que se tornou, ela instiga, instiga, e depois de dez minutos simplesmente faz que não é com ela e me deixa na mão... (ops, desculpem mais uma vez os leitores familiares deste blog — parece que com o Alfa não há como não ter frases de duplo sentido). As chuvas atrapalharam, não por que os carros não podem se molhar (vão enferrujar  anyway, então por que evitar a chuva?), mas pelo desânimo natural que chuvas causam.



Como vocês já sabem, há mais de uma semana, estou com English fever. Achei uns Lotus desmontados por aí, pensei em mil maneiras de como comprá-los mesmo sem saber os preços, sonhei com Lucas, Lockheed, Girling, Chapman etc. E, por estranho que possa parecer, me lembrei que tinha levado "a amante italiana" para um polimento. Não tanto me lembrei, na verdade, fui lembrado, pelo dono do ateliê que cuidou do tratamento. Tinha esquecido completamente da danada, desde que o Mini surgiu em nossas vidas...

"A amante italiana", como o apelido indica, é algo que gera inveja nos olhos dos mais atentos, é algo que provoca as mentes mais sórdidas, é algo que fala alto para que todos notem, é algo que mexe com nossos mais profundos sentimentos, e é algo que tem um custo de manutenção absurdamente alto frente à diversão que proporciona, e que pede acessórios caríssimos. "A amante italiana" é um Alfa Romeo GTV, 1973, vestido no mais belo nero. Passeando com os olhos pelas curvas de sua carroceria, alguns não podem deixar de se sentir provocados. (Pais, tirem as crianças da sala) tocar suas partes internas, e ouvir a sinfonia dela gritando alto é algo que faz homens crescidos corarem (ok, ok, esse não é o nível esperado nesse blog familiar, me desculpem — mas só aqueles que já tiveram no mínimo um íntimo final de semana com uma amante dessas pode concordar sem corar).