Um amigo e ex-colega de GM, o Francisco Satkunas, me enviou, como curiosidade, a imagem de um cartão postal de 1929, enviado por uma oficina independente a um proprietário de Ford Modelo T. O famoso carro deixou de ser produziido em 26 de maio de 1926 após 15.458.781 de unidades fabricadas a partir de 1° de outubro de 1908.
Parou porque não vendia mais - o Chevrolet estava por tomar a dianteira - e a Ford teve que correr para lançar o substituto, que seria o Modelo A, lançado no ano seguinte no dia 27 de outubro. Mas o fato é que ainda havia muito Modelo T rodando e, claro, precisavam de assistência técnica. É onde entra este cartão postal datado 29 de junho de 1929.
O texto, no verso, dizia:
"Prezado senhor - Estamos lhe escrevendo essa carta hoje porque queremos ajudá-lo a tirar o máximo de seu Modelo T.
Ele ainda é um carro tão bom quanto era no dia em que o novo Ford Modelo A foi anunciado e não há razão para descartá-lo.
O Ford Modelo T ainda é utilizado por mais pessoas do que qualquer outro automóvel. Oito milhões ainda estão em serviço ativo e muitos deles podem ser usado um, dois, três e cinco anos e até mais que isso.
Traga-nos seu carro e deixe-nos dar uma olhada nele. Você se surpreenderá em ver como custa pouco colocá-lo em perfeito estado.
Para-lamas novos, por exemplo, custam de $3.50 a $5.00 cada, com mão de obra de $1.00 a $2.50. Regular o motor e trocar a caixa do comutador, escova e contatos de vibração custa apenas $1.00, com uma pequena cobrança de material. Sapatas de freio podem ser instaladas e freios de emergência equalizados por um custo de mão de obra de apenas $1.25. A mão de obra de $4.00 a $5.00 cobrirá recondicionamento do eixo dianteiro, colocação de novas buchas nas molas e nos varões, e desentortar, alinhar e ajustar as rodas.
A mão de obra para recondicionar o eixo traseiro em média vai de $5.75 a $7.00. Esmerilhar as válvulas e descarbonizar pode ser feito por $3.00 a $4.00.
Um jogo de pistões e anéis novos custa apenas $7.00. Por um custo de mão de obra de $20 a $25.00 você podera ter o motor e a transmissão completamente revisados. Peças são à parte.
Atenciosamente, C. R. Gleason Co. - Bottineau, North Dakota"
Um simples cartão postal continha uma absoluta e bem explixada promoção de serviço, com o cuidado de serem dados preços para algumas operações. Achei fantástico isso, especialmente por ser algo que se passou ainda nos anos 1920.
Os últimos Modelo T custavam 265 dólares, depois de partirem de 850 dólares em janeiro de 1914, quando começou o processo de produção em linha de montagem.
BS
Os últimos Modelo T custavam 265 dólares, depois de partirem de 850 dólares em janeiro de 1914, quando começou o processo de produção em linha de montagem.
BS
Ou seja, o conceito de pós-venda praticamente precede o automóvel, mas infelizmente hoje está longe de ser aplicado.
ResponderExcluirMuito interessante Bob! Valeu!
Bob, reveja o número de unidades fabricadas do modelo T.
Sds
Fabio,
ResponderExcluir15.458.781. Desculpe a falha. Já corrigi no texto.
E olha que passado tantos anos ainda tem um monte de Ford Modelo T rodando pelo mundo todo!
ResponderExcluirÉ um carro tão simples que não deve ser tão difícil mantê-lo em funcionamento. Quero só ver os carros de hoje, cheios de plástico e eletrônica embarcada durarem pelo menos 1/4 desse tempo...
Pedro Navalha,
ResponderExcluirse é pra voltar no tempo, então tem carro de boi que é bem mais velho que os Ford T e durará muito mais.
Não dá pra comparar.
Mas os carros de hoje rodam muito mais com menos manutenção que os de anos atrás.
Há uns 30 anos um carro com 100 mil km já estava abrindo o bico e esguichando óleo pra todo lado.
E não dá pra comparar a guiada de um Ford T com um Ford A. O A é muito melhor de guiar e tudo mais, anos-luz à frente do T. Tinha mais é que trocar.
Claro que temos sempre que evoluir, mas uma parte em especial da carta me chamou a atenção: quando ele diz que, com os devidos cuidados, o carro poderia durar muito mais tempo.
ResponderExcluirPena que muita gente hoje em dia esqueceu disso e acha que trocar de carro todo ano é uma obrigação.
Corsario Viajante tirou as palavras da minha boca...
ResponderExcluirHoje em dia se precisar arrumar o carro, tanto faz se for a mecânca ou a funilaria,dá vontade de descartar o carro.
ResponderExcluirCobram em algumas peças, quase o valor do carro. Principalmente as autorizadas, que lucram muito no pós venda.
Mas será de quem a culpa dos altos preços
das peças originais? Das autorizadas ou dos fornecedores?
No nosso mercado, não é raro o modelo novo ser tecnicamente pior que o predecessor. Mais um motivo para eu manter o meu "velhinho", que tem custo de propriedade muito inferior ao de carros "mil" novos muito piores de dirigir...
ResponderExcluirPara mim, o mais interessante é o fato desse cartão não ter sido enviado por uma concessionária Ford, mas sim por uma oficina independente. Isso revela duas coisas: 1) Uma iniciativa oportuna e bastante persuasiva por parte desta última, e 2) Um provável desinteresse por parte da Ford em oferecer esse tipo de serviço, já que de acordo com a mentalidade vigente na época isso significaria um número menor de unidades vendidas do novo Modelo A.
ResponderExcluirCara essa mão de obra para fazer o motor e câmbio heim. Quase 10% do valor do carro novo.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCara?
ResponderExcluirA retifica de um motor Fire tá por volta de R$2.500. Do câmbio, sei lá quando tá. Mas soma um preço aí.
Bem mais que 10% do carro.
Já que a fábrica não se importa com o pós venda, que alguém se preocupe! Esse cara foi esperto, aposto que tinha fila de espera para o atendimento.
ResponderExcluirQuanto mais leio sobre Henry Ford vejo que foi, de muito longe, o maior gênio da indústria automobilística. E foi muito além da tecnologia embarcada em si. Produção em série, criação do conceito de carro popular, valorização da mão de obra, mudança na relação empregado/empresa, inclusive com a criação da participação nos lucros, e tantas outras "coisitas mas".
ResponderExcluirEsse é mais um que vem fomentar a admiração que tenho pela figura espetacular do Sr. Ford.
Ótimo e gratificante post!
Os antigos falavam que carro tinha que durar a vida toda e mais três meses...
ResponderExcluirMister Fórmula Finesse
Rômulo,
ResponderExcluirMuito bem observado, todo administrador (no caso, pessoa formada em Administração de Empresas) com certeza realizou mais de um estudo de caso com base nos conceitos do Sr. Ford.
Sds
Me surpreende a clareza e a qualidade da informação contida nesse cartão-postal. Fantástico!
ResponderExcluirBem que poderia ser assim atualmente, sem as eventuais surpresas e a já rotineira "empurroterapia" de serviços e vendas casadas...
Hoje em dia manter um carro usado em dia, realmente em dia, acaba sendo muito difícil, especialmente pelo desinteresse das autorizadas e pelas cavalices de muitas oficinas independentes que acabam por estragar ao invés de arrumar.
ResponderExcluirPor isso que as pessoas trocam tanto de carro. Outro dia um amigo pagou pela troca de correia do seu Uno, não é que o mecânico coloca o carro tão fora do ponto que atropela válvulas? Pois é, imagine esse mesmo mecânico trocando correias de um V6...
Quando foi ver o custo que queriam cobrar dele para arrumar a besteira do mecânico (sim ele perdeu confiança e tirou o carro de lá), foi mais barato repassar o uno e pegar um zero com a diferença. E aí?
Anônimo, eu colocaria no "pequenas causas" (se tivesse tempo pra tal)... Absurdo!
ResponderExcluirAgora, o maior problema é que a maioria dos mecânicos saem trocando peças e depois dão desculpas esfarrapadas pra justificar a troca desnecessária. É de tirar a saúde! Olha, isso em mecânica com nome forte aqui na cidade! Bom, deixa quieto!
Do tempo em que o cliente ainda era importante !
ResponderExcluirNão é à toa que o nome de Henry Ford consta de todos os livros de administração.
ResponderExcluirPor vários dos comentários acima, creio que está havendo um mal-entendido. O cartão a que se refere o post não tem nada a ver com a Ford - quem o enviou foi uma oficina independente, aproveitando uma provável falta de interesse das concessionárias Ford em prestar esse tipo de serviço.
ResponderExcluirPaulo Levi,
ResponderExcluirCertamente, é mais que louvável a visão do proprietário da oficina em ter enxergado um nicho bastante rentável na manutenção da modelo descontinuado. A abordagem aos clientes potenciais é brilhante, principalmente se levarmos em conta o tempo em que foi concebida, como foi dito pelo autor. Vejo toda a condução, como um modelo ainda a ser seguido nos dias atuais. Uma atitude surpreendente que deve mesmo ser o motivo maior do post.
Mas, não vejo outro carro ao tempo que possibilita-se tal oportunidade. E o texto traz dois parágrafos que para mim destacam o quão brilhante foi a criação de Ford:
"O famoso carro deixou de ser produzido em 26 de maio de 1926 após 15.458.781 de unidades fabricadas a partir de 1° de outubro de 1908."
Sabemos que o Fusca teve produção, numericamente falando, maior. Mas ficou em linha muito mais tempo. Num tempo em que já se vendia muito mais carros.
"Os últimos Modelo T custavam 265 dólares, depois de partirem de 850 dólares em janeiro de 1914, quando começou o processo de produção em linha de montagem."
É quase inacreditável a queda de preço conseguida em pouco mais de uma década. Acho que esse ainda é um mérito histórico e isolado do modelo T.
Voltando a falar do Fusca, o fato de Porsche ter conhecido a linha de montagem da Ford é apontado como um fator decisivo para ele ter se convencido de que era possível produzir o Fusca oom o preço próximo ao imposto por Hitler. E o meio era para isso era copiar a fórmula de Ford, como foi feito.
Por isso acho que o post também evidencia e valoriza, em muito, a saga e obra de Henry Ford.
Como não admirar Ford? A empresa que colocou o V8 em escala industrial.
ResponderExcluirViva Ford.
GiovanniF.
Alguem sabe se essa oficina ainda ta aberta?
ResponderExcluirVou levar meu XR3 pra la.
Nelson