Poucas coisas são tão imprecisas como prever o futuro, e, portanto, minha cabeça treinada na engenharia procura evitar tais exercícios. Mas volta e meia aparecem algumas coisas que mostram tão claramente o caminho a seguir que é impossível não notá-las e fazer algumas previsões.
Uma dessas coisas aconteceu recentemente quando estava pesquisando sobre o sistema chamado de MyFord Touch, que equipa o Edge (acima). Já sabia, por comentários na imprensa, que o sistema era genial e muito bem pensado, mas olhando com cuidado o vídeo explicativo (veja aqui) no site da Ford americana, algumas visões do futuro passaram inevitavelmente por minha cabeça.
Vou abrir parênteses aqui para explicar que não sou nada ligado ao chamado "entretenimento embarcado". Na verdade, sou uma pessoa que só costuma adotar novas tecnologias eletrônicas quando elas já estão bem enraizadas e comprovadas. Demorei em comprar serviço de banda larga, meu celular ainda faz e recebe ligações somente, e ainda escuto músicas em CD's que comprei em lojas. Mas tenho o costume de acompanhar o desenvolvimento deste tipo de sistemas em automóveis, porque sua importância cresce a cada dia. E se é importante para automóveis, é importante para mim.
Pois bem, o sistema da Ford não é o primeiro a oferecer os recursos multimídia apresentados no filme, mas traz algumas novidades legais, que apontam para um futuro próximo que trará grandes mudanças no interior de nossos carros. A primeira coisa é a integração de todos os recursos do carro, do som e vídeo e celular ao navegador, passando pelas funções do próprio automóvel, em um único sistema, de interação clara e fácil, e com o benefício do comando por voz e/ou botões no volante.
O sistema consiste fisicamente em uma tela no centro do painel, e mais duas pequenas, uma de cada lado do velocímetro, único instrumento permanente. Estas duas telas são reconfiguráveis para mostrar de tudo, como por exemplo, navegação, ligações de celular etc. Mas a do lado esquerdo do motorista pode mostrar também um conta-giros, nível de combustível no tanque etc. Verdadeiros “reloginhos” virtuais.
No futuro, acredito que os módulos de instrumentos deixarão de ser instrumentos para serem substituídos por telas como a do seu micro, reconfiguráveis. Você poderá ter todas aquelas informações que hoje não temos mais na maioria dos carros, como pressão do óleo, vácuo na admissão, tensão da bateria, e assim por diante. Ou apenas um grande conta-giros no meio do painel e luzes espia para o resto. Ou, ainda, uma tela enorme de navegação apenas. As possibilidades são ilimitadas e interessantíssimas.
E o mais interessante é que pode propiciar uma vantajosa comunização de componentes nas linhas de montagem, e mesmo ao projetar um novo veículo. Hoje, esses mostradores principais, chamados usualmente por seu nome na língua inglesa, cluster, são exclusivos para cada carro, fisicamente. Peças plásticas, lentes, e um sem-fim de pecinhas têm que ser empacotadas, e depois ferramentadas, a um custo imenso. As posições de espia são limitadas fisicamente, e logo, quando o carro evolui para precisar de mais espias pelo ganho de funções durante a sua vida no mercado, é necessário modificá-lo de novo. No caso da tela, o número de espias é ilimitado, e quando ela acender, pode ocupar o painel inteiro, se for o caso. Pode-se até colocar um submenu (tipo um link, "saiba mais", ou “o que é isso?”) explicando mais um pouco. A luz de pressão do óleo, por exemplo, no submenu apareceria: "pare o carro e desligue o motor assim que possível".
Como hoje os computadores mantém controle de tudo num carro, desta forma poderemos pelo menos nos informar sobre o que ele está fazendo, coisa hoje impossível. Velocidade e temperatura do ar de admissão? O carro sabe sempre esses dados, e desta forma poderíamos saber também, se assim desejássemos. Curva de torque instantânea do motor? Por que não? E nem vamos falar de acesso a internet e outras coisas do tipo, porque nada impede de que se coloque um Windows lá e você possa terminar aquela apresentação de PowerPoint no caminho do escritório... Sei que é uma loucura isso, mas tecnicamente possível. E sempre se pode desabilitar a função quando o carro entrar em movimento.
As possibilidades são realmente ilimitadas, porque de um carro para outro se muda apenas o software, e ainda assim apenas em detalhes. Os mostradores podem ter vários desenhos e cores, inclusive. O leitor, aposto, já pode pensar em várias possibilidades por ele mesmo... Muitos carros como o novo GT-R já brincam um pouco com isso (tempo de pista, aceleração lateral etc), mas não da forma integrada de que falamos aqui. Nem com os ganhos de escala possíveis na produção realmente em massa, e na unificação da tela e software básico.
Recentemente a Ford lançou o novo Explorer (abaixo), e para surpresa de ninguém, o sistema é praticamente o mesmo do Edge. Mas podem ter certeza que evoluções devem estar nas pranchetas hoje.
O painel do Ford Edge/Explorer é apenas um sinal; o futuro bem próximo vai ver uma verdadeira revolução dentro do carro. Esperto será o fabricante nacional que perceber as possibilidades já e sair correndo atrás dessa tendência. Quando começarem a aparecer nas ruas, significa que foi iniciado seu projeto há pelo menos 3 anos, uma eternidade neste tipo de coisa. Tarde para reagir se você não entrou no bonde na hora certa...
MAO
MAO,
ResponderExcluirAo ler seu post, não pude deixar de lembrar do colocado aqui dias atrás pelo André Dantas, aquele sobre "O inferno da obsolescêcia eletrônica". Esse sistema traduz perfeitamente o drama...
Minha dúvida é de quanto tempo essa tela e esse painel tem de vida útil, pois se tiverem problemas, serão caríssimos ou mesmo inviáveis de se reparar, ao contrário do velho painel do meu carro, onde se pifar algo, é simples e fácil de se consertar, afinal são instrumentos eletro mecânicos, ao contrário desses, que parecem ser descartáveis, assim como esse monte de gadjets eletrônicos que nos empurram goela abaixo hoje em dia.
O vídeo me deu até sono, pois o carro e o prazer de dirigir parecem relegados a segundo plano. Parece que os seres humanos do futuro só se preocupam com música eletrônica, i-pods, laptops, filmes, fotos... Que chatice essa eletrônica toda!
Imagino quando o sistema do carro der uma "tela azul da morte"... numa ultrapassagem, já imaginou?
ResponderExcluirComo será que são feitos os testes de confiabilidade destes sistemas???
Tenho duas dúvidas: O sistema do Edge é uma evolução do MySync, o que torna o sistema do Fusion obsoleto? O onde foi parar aquela projeção das informações do painel no pára-brisa, como em caças? quais carros saem de fábrica com essa opção de visualização?
ResponderExcluirFrancamente, estou até as tampas de tanto gadjets em tudo, até na máquina de lavar roupa.(alias fui dar uma força pra chefa dia desses, é quase apanhei pq não programei a engenhoca como "tinha" que ser). Enfim cada vez mais está perdendo a graça. Se alguns são importantes e ajudam, a maioria está lá só pra agregar valor ao preço final. Du-vi-de-o-dó que alguém usa full time toda essa tralha disponível.
ResponderExcluirPrefiro só pilotar ouvindo um som agradável, bem baixinho. Se o celular tocar, se der, atendo, se não, não. E como o seu, só faz, recebe e manda torpedo o que me atende perfeitamente. Tudo isso muito mega ultra blast super me dá um sono.....
Concordo com o MAO, acho que o futuro está chegando mesmo.
ResponderExcluirMuito do carro atual está sendo pensado para as condições atuais de tráfego: sempre congestionado. Por isso o prazer de dirigir está sendo cada vez menos enfatizado, ficando essa ênfase no conforto para os ocupantes. Exempo: câmbio automático é quase uma obrigação hoje, devido ao caos do trânsito. Sistemas cada vez melhores de ar condicionado, de som (um Volt precisa de tantos alto-falantes?) e num futuro breve internet. Todo esse processo aconteceu nos EUA nos anos 50, com a popularização dos itens de conforto, e agora está chegando ao resto do mundo. Por isso os carros estão cada vez maiores e mais pesados. Americanização do estilo de vida? Com certeza.
McQueen
O Pedro Navalha viu a luz, estou com ele e não abro. A indústria parece que está focada em detonar a longevidade do automóvel. Dá-se uma boa garantia, que cobrirá os contratempos do primeiro proprietário, e lambam os beiços - o segundo dono pegará uma bomba relógio que só o cacife de alguém capaz de comprar o veículo zero km poderia sustentar. O futuro? Vejo, cada vez mais, a indústria adotar procedimentos perversos, usando as fronteiras da tecnologia para criar um sistema para dar sinuca de bico no consumidor. A Apple é um exemplo. Nasceu cheia de qualidades, inventou a interface gráfica, etc, que a Micromole roubou. Mas esta software house baseia-se num hardware genérico, aberto, que tende a fazer da experiência com computadores algo democrático e universal. Não a Apple. No ipad que comprei só posso navegar usando o browser da casa. O tal de itunes, antes um mero player de áudio, transformou-se num leão de chácara vigilante que controla tudo o que entra ou sai da máquina. É uma longa lista de dentadas nas liberdades do consumidor, de modo que eu, antes um fã absoluto da marca, hoje quero distância dela. Um amigo, abonado até, vendeu o Audi que havia comprado, zero, ao descobrir que as trocas de óleo teriam que ser feitas na concessionária ao preço de 400 pratas, já que a chave que dá acesso ao bujão, segundo ele, é proprietária. E por aí afora. Argh!
ResponderExcluirConcordo com essa teoria da conspiração a respeito da eletrônica automotiva. Realmente, o proprietário acaba vinculando-se perenemente aos serviços oferecidos pelas concessionárias; isso é perigoso.
ResponderExcluirA nossa sorte é que esse tipo de tecnologia nunca equipará nossos carros de entrada, o que nos livra, de certo modo, da ganância da indústria em tolher a liberdade do proprietário em escolher a manutenção a ser realizada.
O ideal é que tivéssemos dois carros: um para o dia-a-dia e situações de uso em regime forçado, e outro exclusivamente para o lazer, conforto e bem-estar...
Nesse contexto, teríamos carros como o Mille, que é pau pra toda obra. Um aquecimento no mercado de usados populares, de notória resistência, supriria a demanda por veículos-utilidade.
Pedro Navalha,
ResponderExcluirOs painéis atuais já são totalmente eletrônicos. O único elemento mecânico é um servomotor para mover os ponteiros.
Concordo com o Regi Nat,com o Pedro Navalha.Pra que tanto gadjets nos carros novos?
ResponderExcluirCadê a busca pelo prazer em dirigir,cadê a simplicidade.Se der pau em um painel desses,já era o carro,pq é tudo interligado" inteligentemente" por computadores,ou seja se o seu painel parar de funcionar,acabou seu carro.E um carro desses 10 anos depois,pq vai ser uma bomba ambulante o preço de revenda vai cair drásticamente.
Eu estou cansado de tantas porcarias nos carros novos,querem transforma-los em computadores que se movimentam.MAO me desculpe,mais se o cara quer terminar a sua apresentação de PowerPoint que faça no seu pc,ou not,e não no seu carro.
Daniel,
ResponderExcluirAté já ouvi falar que mesmo os painéis analógicos dos carros atuais tem muita eletrônica por trás. Mas quando eu me referi a painéis, estava mesmo lembrando dos meus carros antigos. O mais moderno deles é de 1985 e possui um check-control que infelizmente vive dando problemas. E olha que naquela época, eletrônica embarcada se resumia a alguns poucos transístores e circuitos integrados, aquelas famosas "centópéias" que queimavam só de encostar os dedos...
Tenho medo que esse excesso de eletrônica acabe tornando os carros descartáveis, assim como descartáveis se tornaram os televisores, câmaras, telefones, onde ninguém quer reparar nada, quando muito trocar peças ou jogar na sucata mesmo.
Eu gostaria de um sistema desses para rodar somente com o conta-giros na frente do volante. Velocímetro? Não precisa, não fosse essa paranóica de radares, carro não precisava de velocímetro, velocidade se limita pelas referências visuais, por isso carro de corrida não tem velocímetro, velocidade por sí só é o que menos interessa. Experimente o leitor um dia guiar apenas pela referência, você notará que estará sempre acima dos nossos limites, ou seja, eles não passam de armadimha para arrecadação, são anti-naturais.
ResponderExcluirMeu Fiesta está com quase 3 anos de uso "civilizado" e quando completou o primeiro aniversário o painel se recusou a funcionar. Só o conta giros, temperatura e nivel de combustivel.
ResponderExcluirLevei na autorizada. O custo? absurdo. Levei no meu meca que desmontou tudo e recomendou comprar um usado. Me recusei. andei assim mais de ano e milagrosamente, algumas funções retornaram e a duas semanas pifou tudo de novo. Estou esperando uma explicação ou um novo milagre... Pode parecer piada mas é absoluta verdade.
Tenho medo do preço da manutenção de uma coisinha dessas, se der problema imagine o tempo que vai levar para consertar também.Precisamos de prazer ao dirigir, para mim um ABS e air bags já estão de bom tamanho.
ResponderExcluirPedro, hoje os CIs são bem sensíveis a estática também, apesar de muitos possuírem proteção contra ESD embutida. Mas de qualquer modo hoje os componentes through-hole já eram, agora é só SMD (inclusive os chatos BGA e flat-pack já devem ter chegado à industria automobilistica).
ResponderExcluirEstranho seu check control dar problema, eles eram só shunts pra monitorar as lâmpadas, mais o monitoramento dos interruptores de níveis. Pode ser culpa de soldas frias, oxidação ou capacitores eletrolíticos secos.
Aqui o único problema de painel que tivemos foi no odômetro do Omega, que ainda era mecânico, acionado pelo sinal elétrico.
Na minha opinião um projeto bem feito, com componentes de qualidade não há o que se temer.
Abs
MAO,
ResponderExcluirEsses dias me peguei pensando neste assunto. Seria muito bom e racional que o quadro de instrumentos que conhecemos hoje fosse facilmente substituido por uma tela.
Mas fico pensando na real utilidade que as fabricantes vem dando a esse recurso. Enfiar entretenimento 100% do tempo num carro cansa quem está dirigindo. Nesses tempos de gente multitarefa, como dividir a atenção entre dirigir e responder a um email urgente com comando de voz? São coisas muito diferentes entre si, nosso cérebro não é um processador dual core... Tem muita dondoca ai que vai esquecer do volante pra responder o scrap da miguxa... Não quero ver isso acontecer, Karl Benz vai se revirar no túmulo!
Instalei no carro da patroa um DVD. Coisa linda, 7 polegadas, kit 2 vias pra um som mais envolvente... Primeira viagem com o dito cujo, coloquei um filme do James Bond, "Goldfinger". Quase bati o carro umas 3X, na disputa da minha concentração entre o volante e o 007. Agora já peguei o jeito de andar com aquilo ligado sem levar um puxão de orelha da patroa: Concentrar na estrada, como fiz a vida inteira.
Carro é pra dirigir. O resto pode esperar, né?
Estão todos preocupados ? porque ? os carros novos virão com um condutor próprio ,já programado para conduzir a máquina , o feliz novo proprietário será um mero carona, o nome do condutor é Flash Gordom, sim o mesmo que lutava com o imperador Ming , logicamente por um precinho a mais!
ResponderExcluirZé,
ResponderExcluirSe é para escolher o condutor do meu futuro carro, prefiro que seja a Vivi Fernandes. Aí esqueço até do carro...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMao, esse é um dos novos conceitos na esfera da informática, para quem não conhece é chamado de "realidade aumentada", já aplicado em diversas outras situaçãoes, e agora cada vez mais presente na interação entre motorista e carro. De uma forma genérica realidade aumentada é trazer em tempo real o máximo de informações e serviços que possam ser úteis à quem está desempenhando uma tarefa. Nesse caso o motorista que tem na ponta dos dedos ou na voz acesso à diverssas informações e configurações possíveis dentro do sistema operacional do carro. A tendência é o SO abranger mais e mais funcionalidades do carro como já podemos ver nos modelos mais luxuosos.
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