O post abaixo do senhor Marco Antônio Oliveira me fez acelerar as coisas e finalmente preparar um texto sobre um dos meus carros favoritos de todos os tempos. Marco Antônio Oliveira é jornalista por hobby, não faz testes, não faz comparativos, não vai a coquetéis de lançamentos de novos modelos. Se fosse jornalista no sentido clássico, seria sem dúvida dos melhores do mundo. Se texto é mais apaixonado do que técnico e esse é o estilo que mais gosto. José Rezende Mahar no Brasil e Richard Meaden, na Inglaterra, são outros exemplos de textos onde a paixão se sobrepõe à ficha técnica.
Eu não sou técnico, muito menos sei escrever... Mas vamos lá. Vamos falar sobre o brilhante BMW E30 M3, provavelmente o carro de turismo mais vitorioso de todos os tempos.
Com o excelente desempenho do Mercedes 190 2.3 no Campeonato Alemão de Turismo, a BMW resolveu se coçar e decidiu que ser chegada hora de ter a Série 3 com o emblema “M”.
O ano era 1986. Para tanto decidiu-se criar um Homologation Special. A ideia era fabricar 5.000 carros com a especificação de carroceria, características de motor e suspensão exatamente como seriam usadas nas pistas. Ao final da produção, mais de 17 mil carros foram feitos.
Para o desenvolvimento do motor foi convidado o mago dos motores, Paul Rosche, engenheiro responsável pelo desenvolvimento do propulsor de 1,5 litro turbo que impulsionou Nélson Piquet para o primeiro título mundial de Fórmula 1 da BMW. A configuração final ficou bem próxima do 190 2.3 de rua. Um 2,3 litros com 200 cv que passam a existir depois de 4.000 rpm. O limite de rotação é de 6.750 rpm (10.000 rpm na versão de corrida). Alimentação por injeção Bosch Motronic e uma borboleta de admissão por cilindro. O filtro de ar fica em uma caixa de ar, muito parecida com as usadas em monopostos de Fórmula 3.
Caixa de câmbio Getrag de 5 marchas e trambulador dogleg (1a embaixo, 2a, 3a, 4a e 5a no "H") na versão alemã, beneficiando a velocidade de troca entre segunda e terceira marchas, as mais utilizadas em circuito. Tração traseira, obviamente, e diferencial autobloqueante.
A suspensão tem os pontos de ancoragem alterados em relação à Série 3 de uso civil, beneficiando a estabilidade e a tocada esportiva. Amortecedores Sachs de maior carga e acerto da BMW M no circuito norte de Nürburgring (prática pouco comum na época). A carroceria é absolutamente distinta. Única peça em comum com as Série 3 normais é a chapa do teto. A tampa do porta-malas é mais alta e de plástico, a coluna traseira é mais inclinada, ambos para favorecer o melhor fluxo de ar na traseira e no aerofólio. As caixas de roda são alargadas para rodas de tala 10 funcionarem sem problemas na versão de corrida. Pela primeira vez nas Série 3, os vidros dianteiro e traseiro da versão M vinham colados, para aumentar a rigidez e melhorar o fluxo de ar.
Eu tenho a felicidade de ser proprietário de um modelo alemão, ano 1987, câmbio dogleg, cinza bem escuro, quase preto. Daqui pra frente passo a narrar minha experiência com o carro e mando às favas a imparcialidade (já fui parcial aqui?).
Tudo no carro é inspirado nas pistas. A posição de guiar é irretocável, para trocar as marchas basta deixar cair a mão do volante que lá está a alavanca, de encaixes justos e curtos, do alto dos seus 20 anos de idade. O motor pede pra girar... e quanto mais gira mais o carro gosta. Como dito antes, até 4.000 rpm as coisas são mornas... depois é deleite puro. Os freios são hiperadequados, parando o carro em espaços inimagináveis, mesmo com padrões modernos como referência. O ABS é dos menos intrusivos que já experimentei. A suspensão copia muito bem o terreno e traz o carro de volta para o lugar de maneira muito rápida. A caixa de direção é um pouco lenta, talvez para minimizar o efeito “chicotada” em saídas de traseira. O carro é absolutamente neutro. Um primor de equilíbrio (bateria no porta-malas MAO!, as it should be). Em pista não gasta pneu. Por falar em pista, é um carro que “freia mais dentro e acelera primeiro” que eu já guiei em circuito. Ao entrar forte em curva, quando acaba a neutralidade, primeiro a frente começa a sair, daí você pisa e a traseira se pronuncia colocando as coisas no lugar. Um pouco mais de abuso no pedal e a traseira começa a querer ultrapassar a frente, tudo muito comunicativo. Exagerou na dose da traseira? Basta tirar o pé que ela volta. Por mais inacreditável que seja a situação de sobreesterço, ela volta. É basicamente como um kart de motor 125-cm³ dois-tempos, muito da tocada e da mudança de trajetória em curva está no pedal da direita. Em serra, até hoje ela anda junto com carros de 300 cv e tração integral.
A beleza do projeto, a falta de concessões, a beleza clássica dos BMW de quatro farois, fazem do carro um sucesso até hoje. Quando do lançamento do novo M3 V-8 (E90), a revista EVO fez um teste com o título “The Greatest Ever M-Car” O vencedor foi o pequeno BMW esportivo de quatro cilindros. Venceu carros com mais do dôbro da potencia e décadas de juventude de projeto. Venceu pela finesse, venceu pelo que transmite ao condutor. Venceu porque, provavelmente, o slogan da BMW, “Sheer driving Pleasure”, foi baseado nele.
Esse post acontece porque eu li o que MAO escreveu sobre o também brilhante 190 2.3. É um carro de fato também muito bacana. Dogleg, interior que transpira esportividade. Excelente. Mas eu já guiei o 2.3 e posso afirmar que perto do M3 o Mercedes é lento. Não em velocidade, em sensação. Os engates são mais lentos, o motor pede menos para girar, a suspensão é muito mais macia. Não parece te chamar pra brincar como o M3. É um outro bicho. Guiar os dois carros, talvez os mais nobres de uma linhagem, me faz citar um amigo que tenho em comum com Marco Antônio Oliveira, o PH. É dele uma frase que trago comigo, que é de uma beleza e compreensão ímpar do mundo que eu gosto. Uma frase que eu não poderia concordar mais.
“Mercedes faz carros e caminhões, BMW faz carros e motos. Por isso os carros da Mercedes são como são, por isso os carros da BMW são como são.”
Mais um presente em forma de conhecimento que só temos o prazer de apreciar aqui. Eu já conhecia bem esse carro, mas nunca em poucas palavras escritas pude obter uma idéia precisa do que seria guiar forte o mesmo, a comparação com um kart - que você faz literalmente o que quiser - é uma analogia muito interessante, parabêns pela preciosidade!!
ResponderExcluirSó um comentário. Vende?
ResponderExcluirVR,
ResponderExcluirSabia que sua resposta não tardaria, o post foi quase uma provocação, rsrsrsrsr.
I simply love them both.
MAO
Excelente!! Por acaso a umas semanas atrás eu tava pra te pedir um texto comparando seus dois brinquedos pela visão do dono, mas acabei não te escrevendo para pedir isso e por sorte chego aqui hoje e encontro este post.
ResponderExcluirEsse "freia mais dentro e acelera mais cedo" se refere ao Scooby também? A parte do freia mais dentro eu consigo acreditar, já a do acelera mais cedo... Só vendo!
São carros de exceção,tanto a M3 E30 como a W201 2.3 16v,o ideal é ter os dois,hehehe,o antigo dono da minha tem esse prazer, a sorte que a 201 ele tinha em duplicata e sobrou a que está comigo, na época a guerra na pista foi vencida inicialmente pela E30,depois a 201 consegui encarar de frente a casa bávara,depois veio a sequencia Alfa 155 contra as EVOII, mais à frente W202 contra Calibras, Alfa 155 , Audi A4, na minha opinião os melhores anos DTM,incluindo tb o Supertouringwagen (STW) em 96/97 no hiato da DTM, brigas homéricas na pista com Ceccoto,Aiello, Winkelhock e cia....Vic, que tal programar uma subida no Jaraguá ano que vem com as duas "nervosinhas"?Divrsão garantida,hehehehe..........
ResponderExcluirVic,
ResponderExcluirespetacular, muito espetacular mesmo. Tô com o MAO, eu quero os dois.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNão dá pra não gostar dos dois...eu gosto de automóveis na sua essência, apesar de de vez em quando preferir um ou outro, no fundo eu gosto igualmente de todos =)
ResponderExcluirE a comparação entre a 190E 2.3 16 e a M3 é a mesma coisa, não dá pra eleger o melhor, na minha opinião e no meu coação, ambos ocupam o mesmo lugar no pódio, disputam ombro a ombro, mas nenhum dos 2 vence. É como os elementos da natureza (água, ar, terra, fogo): cada um com sua particularidade, mas um completando o outro :D
Villa
ResponderExcluirEm curvas como a Vitória, sem duvida nenhuma a M3 comeca a caminhar antes do Subaru. É assustador como dá pra atrasar o ponto de turn in e ainda assim chegar no apex na saida de curva já dando motor. Enquanto a M3 caminha o subaru ainda tá mandando força pra roda da frente que patina.. Em saida de curva de alta/media talvez a diferença não seja tão gritante. Um dia faço um comparativo entre os dois.
Vai ficar bom.
Maluhy, vamos sim, quem sabe ano que vem...
Ter as duas na garagem já passou pela minha cabeça. Mas seria ter mais um carro com o mesmo proposito.
Simplesmente demais. Se eu morasse na Europa, seria meu weekend car. Como moro aqui, de fim de semana desfruto do meu 1.6R . Rs.
ResponderExcluirTb tenho um projeto de montar uma 201 AMG by Maluhy,hehehe, na verdade a 201 AMG de época usava o M103 6 em linha 12v arrombado para 3.2 com cabeçote trabalhado e outras cositas más...a minha idéia é comprar uma 201 2.6 e usar o motor M104 6 em linha 24v 3.0 ou 3.2 ,mesmo sem mexer teremos os mesmos 220/230cv da AMG de época , mantendo o peso na casa dos 1300kg ,acho que a diversão vai ser deveras interessante, já tenho uma 201 6c com cambio mecanico na alça de mira...então está combinado,Jaraguá 2010!levarei Mahar de testemunha,hehehehe.....
ResponderExcluirPerdoem minha ignorância e minha curiosidade mas, eu sou um dos que possue apenas carros "sem graça" e gostaria de adquirir algo mais interessante, como este M3 por exemplo.
ResponderExcluirTalvez meus questionamentos sejam até infantis, mas espero encontrar respostas com quem tem experiência.
Como é manutenir um modelo assim? Onde encontro peçs e mecânicos? Faz-se seguro?
grato
Renato
Renato,
ResponderExcluirEsse M3 é tão unico e especial quanto qualquer outro carro que nos desperte paixão. Eventualmente por ser um modelo raro, é mais delicado e dificil de achar um profissional habilitado a fazer sua manutenção e eventual reparação. Se voce tem alguma experiencia e vontade de mexer, lugar e ferramentas adequadas, encorajo fortemente vice a fazer por si só a manutenção dele, buscando boa orientação em manuais como Chilton auto repair ou Haynes, que são sempre de grande valia ao entusiasta. Caso isso não te seja uma opção viável, é sempre prudente pesquisar junto aos proprietários de veiculos da marca informação e conselhos a respeito de profissionais qualificados a trabalhar em seu precioso veiculo. Dos meus preciosos carrinhos, cuido eu mesmo!
Senhores,
ResponderExcluirQual o valor de mercado de um carro como estes no Brasil ?
É difícil chegar a um valor num carro tão restrito,mas os que eu vi sendo negociados foram na casa dos 40/50 paus, mas eram exemplares perfeitos, qq detalhe a fazer num carro desses desce a pedida....
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