Muito antes de decidirem homenagear de uma forma no mínimo discutível o Fusca tradicional com o New Beetle, a fábrica de Wolfsburg fez tentativas mais inteligentes de reviver o carro mais popular de todos os tempos.
Ao se analisar esses dois modelos, fica claro que havia mais engenharia do que marketing atuando na empresa, em um passado não muito distante.
SCOOTER - 1986
O Salão de Genebra de 1986 foi o palco para a apresentação do Volkswagen Scooter, um conceito de carro simples e barato para o novo milênio que se aproximava.
O Scooter tinha 3 rodas, com duas à frente, responsáveis pela tração. Dois motores de 4 cilindros diferentes foram colocados nos dois exemplares fabricados. Um de 1,05 litro com 40 cv e alimentação por carburador, e um outro 1,4 litro com injeção eletrônica e 90 cv.
O baixo peso, 550 kg, e as dimensões reduzidas, 3,17 m de comprimento, 1,50 m de largura, altura de 1,24 m, além das 3 rodas na configuração incapotável, fizeram desse estudo um carro esportivo excepcional, como fora o Morgan inglês por mais de 40 anos de produção.
José Luiz Vieira avaliou o modelo de motor maior em 1987, e o considerou ágil como um kart, e dada a relação peso-potência favorável, dotado de desempenho muito bom. Mais de 200 km/h de final e 8,5 segundos de 0 a 100 km/h. Um fato interessante é que estava prevista a possibilidade do carro ser conduzido sem as portas, fazendo-o ainda mais esportivo e divertido.
A estabilidade era um ponto de dificuldade em assumir esse carro, com vários componentes do Polo da época, como desenvolvível para produção. A suspensão traseira com braço longitudinal oscilante com um amortecedor e mola, que já eram comuns em motos nessa época, e que no Brasil, foi primeiro visto na Honda XL 250R, hoje quase universais, não era eficiente em evitar movimentos verticais na traseira. Assim, o carrinho era nervoso e não muito fácil de ser conduzido rápido por motoristas de habilidades comuns. Provocava movimentos longitudinais que requeriam contra-esteço constantes. Porém, em velocidades normais era muito estável e seguro.
Além disso, já extrapolando o pensamento para os pisos mal-feitos de alguns países e cidades, imagina-se a situação desagradável de se desviar com as rodas dianteiras de um buraco, e cair com a roda traseira nele. Mas esse é um problema de qualquer carro de 3 rodas -- e, por extensão, o Romi-Isetta, com sua estreita bitola traseira que o deixava com ar de carro de três rodas.
As portas abrindo para cima, conhecidas como asa de gaivota, eram uma característica desejável por exclusividade e também por praticidade, já que muito menos espaço entre o Scooter e uma parede ou carro ao lado era necessário para entrar ou sair do carro.
CHICO - 1992
Em Frankfurt, a mais importante arena para apresentação de carros na Europa, a marca alemã mostrou o Chico, um carrinho pequeno e simpático, que previa um novo carro de baixo preço e fácil utilização.
O Felipe Bitu já havia falado um pouco sobre ele aqui.
Este era um híbrido gasolina-elétrico, sendo apenas elétrico em condições de necessidade de pouca potência, com o motor a gasolina de 2 cilindros e 34 cv ligando automaticamente em velocidades acima de 50 km/h, ou quando se acelerava mais forte. O comprimento era de 3,20 m e largura, de 1,48 m.
Novamente com inteligência, os alemães mostravam portas com abertura diferenciada, com quatro dobradiças que deslocavam as portas para fora e para frente do carro. Ou seja, as portas faziam movimento de translação em vez de apenas rotação. Repare na foto abaixo o quão pouco distante as portas estão da carroceria, em sua distância máxima, e notem que o vão para entrada e saída é suficiente para a maioria das pessoas.
Bem mais lento que o Scooter, era eminentemente urbano, com não mais de 130 km/h de velocidade máxima, e uma aceleração fraca, de 30 segundos até os 100 km/h, insuficiente para um uso necessário para não atravancar a fluidez do trânsito.A massa em ordem de marcha era de 785 kg. Podia transportar 350 kg de carga.
E HOJE...
Dois anos depois, em 1994, chegava o Concept One, que imitava o Fusca na sua forma arredondada, e a esperança de um carro pequeno e barato se foi da cabeça dos comandantes de Wolfsburg, com o New Beetle já saindo para as ruas como "carro de nicho", expressão detestável, e a mecânica do Golf, algo bem mais caro do que se imaginava antes.
O conceito up! de 2007 irá se chamar Chico quando em produção, conforme anunciado recentemente, e deve ser apresentado em 2011 para a Europa e no ano seguinte nos EUA, trazendo uma nova esperança de que essa que é agora a maior fábrica de automóveis do mundo, possa ter algo verdaderiamente popular em seu catálogo.
Estamos torcendo para que seja bem barato e chegue a ser produzido no Brasil.
JJ
JJ,
ResponderExcluirExcelente post, muito bem lembrado.
O Scooter é um dos meus carros preferidos de todos os tempos, ainda não acredito que a VW teve a pachorra de fazer algo tão sensacional assim e não produzí-lo em série.
MAO
Quando a VW lançar o Chico, se é que lançar, vai ter de pensar num nome diferente para o mercado brasileiro.
ResponderExcluirAfinal, ninguém vai querer comprar esse carro pra ouvir a pergunta: "E aí, tá de Chico"?
Boa Thulum, tô rindo muito !
ResponderExcluirEngraçado como a manopla de câmbio dele se parece com a do meu fusca itamar. E esses rebaixos nos parachoques já eram sensores de estacionamento?
ResponderExcluirAgora falando sério, o que me chama a atenção nesse Chico é o estilo da parte dianteira. É um perfeito carro japonês, sem tirar nem por. E isso em 92, quando os japoneses ainda não tinham aderido às formas arredondadas nos seus designs. Se alguém tirasse o emblema VW da frente desse carro e colocasse um de Mitsubishi em seu lugar, o resultado pareceria absolutamente natural.
ResponderExcluirMuito bom o Post.
ResponderExcluirO JLV não deixou passar em branco e testou o carro da VW em autobahn para nós, acho que com esposa a bordo. Lembro que reclamou um pouco do calor a bordo( vidros para todo lado sem ar condicionado) e muito da instabilidade direcional acima dos 180 .Depois de atingir a máxima , deu por encerrado o teste " para chegar em uma peça só em casa"...
O Chico foi exposto no Salão do Automóvel de 92, não?
ResponderExcluirCarrinho bem interessante e bonito.
O Scooter eu não conhecia, realmente estranho como não se tornou carro de produção.
O New Bettle é um caro legal, mesmo o JJ fazendo campanha contra ele :-)
ResponderExcluirEssa porta do Chico é genial e foi usado na versão de produção da Renault Avantime.
ResponderExcluirDeveriam usar mais essas idéias ao invés de encher os carros com perfumarias.
Interessante...
ResponderExcluirO velho Ferdinand Porsche não aprovava triciclos e micro-carros, desenvolveu um vencedor: o Fusca.
será que a VW irá se dar ao luxo de dar este passo?
Não sei, o que sinto é que há várias vertentes dentro da VW e no momento ainda está em vigor a "vertente desvairada" que quer transformar a VW num fabricante de carros de luxo!
Menos, a VW deveria ser fabricante de carros populares, e como cresceu passar a parte de carros de luxo para a AUDI, agora também para a Porsche...
As tentativas de luxo da VW me lembram as histórias dos "nouveau riche" que casavam com meninas quatrocentonas paulistas para adentrar na elite local...
Só que os casamentos da VW ainda nã conseguiram tirar a sua imagem de fabricante de carros populares sem cacuete para carros de luxo...
Alexander Gromow
Outro conceito da VW que gosto muito é o Futura. Esse tinha portas asa de gaivota, direção nas quatro rodas, fora um motor que era praticamente um diesel movido a gasolina, entre outras coisas.
ResponderExcluirPara mim é impressionante a semelhança do Chico com o Corsa 4200. Parece que fecharam o Chico e encheram de ar a alta pressão, deixando ele mais gordinho, e assim ele se transformou num Corsa.
ResponderExcluirPK
esse Scooter seria o novo padrão de automóvel VW: a quarta roda seria um opcional
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