google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 "SHE’S REAL FINE..." - AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

"SHE’S REAL FINE..."



She's real fine my 409
She's real fine my 409
My 4-0-9


Ser tema principal de uma música famosa não é para qualquer carro. Mas se são raras as músicas sobre automóveis, imaginem então músicas sobre motores...Mas é este o caso do Chevrolet 409 V-8 e a famosa música dos Beach Boys lançada no lado B do vinil “Surfin' Safari”, de 1962. Ah, quando discos tinham lado B e falar sobre carros velozes era tão divertido que se chegava a cantar sobre eles sem culpa alguma...

O motor em questão na verdade não é só um motor, intimamente ligado que está aos Impalas em qual foi montado do ano-modelo de 1961 em diante. Quando alguém fala que tem um 409, vem logo à cabeça o carro também, um sedã duas portas básico e simples, praticamente um carro de drag-race para as ruas como o que aparece na foto abaixo.



Este motor foi a primeira geração do Chevrolet V-8 big-block, e nasceu em 1958 (e portanto depois do small-block de 1955; clique aqui para ver a diferença entre os dois, cortesia do AG). Desenvolvido para aplicações principalmente de carga (caminhões com mais de 4 t de PBT), inicialmente deslocava apenas 348 polegadas cúbicas (5.702 cm³) a partir de um diâmetro de 104,8 mm e um curso de 83 mm. Ficou imediatamente conhecido como o motor "W", devido à semelhança das tampas de válvulas com a letra, que ocorria devido ao posicionamento das velas de ignição, agrupadas em dois grupos de duas de cada lado. Como a vasta maioria dos motores de então, tinha bloco e cabeçotes em ferro fundido.


A câmara de combustão havia sido fruto de extensa pesquisa da GM, que resultou em um desenho ímpar, onde ela era localizada toda dentro dos cilindros, e um cabeçote absolutamente plano. O topo do bloco não é paralelo ao pistão, e sim inclinado 16 graus em relação a ele (ou 74 graus em relação à linha de centro do cilindro, ao invés dos 90 graus usuais). A teoria era que este desenho aumentaria o torque (e por conseguinte a potência, claro) nas baixas e médias rotações, via aumento da pressão média efetiva.

Esta configuração morreria quando o chamado Big Block Mark IV apareceu em 1965, deslocando 396 polegadas cúbicas, e efetivamente substituiu os "W". O Mark IV tinha uma configuração tradicional (apesar do intrigante posicionamento de válvulas em planos diferentes, splayed), com câmara de combustão no cabeçote e "deck" paralelo, e era infinitamente melhor e mais moderno.

Mas nada disso interessa; o que vale mesmo é que muito antes disso, em 1961, a Chevrolet entrava na horsepower race com força, aumentando o diâmetro e o curso do 348 simultaneamente (para 109,5 x 89 mm), atingindo as famosas 409 polegadas cúbicas cantadas em verso e prosa pelo resto da década. Quatrocentos e nove polegadas cúbicas são generosos 6.702 cm³, e equipado com dois carburadores Carter AFB de corpo quádruplo, taxa de compressão de 11,25:1 e comando com tuchos mecânicos, debitava inacreditáveis 425 cv em sua versão mais potente, de 1963. O motor tinha um trem de válvulas leve, como o de seu antecessor Small-Block, com varetas ocas (por onde passava óleo de lubrificação para o cabeçote), e balancins estampados, e por conta principalmente disso girava com segurança até 6.500 rpm. Com câmbio manual de quatro marchas e diferencial autoblocante (Positraction), os Impalas (e os mais leves e básicos Biscayne) "409" se tornaram praticamente imbatíveis quando a luz ficava verde. Tanto nas ruas quanto nas pistas.


Mas ninguém ficava na frente de ninguém por muito tempo nas pistas de arrancada americanas do início dos anos 60. A Chevrolet teve que, logo em 1963, colocar um RPO (Regular Production Option, opcional de produção normal) novo para se manter competitiva: Z11. Caríssimo, este opcional era na realidade direcionado aos pilotos profissionais que estivessem na procura de uma arma mais efetiva para suas campanhas, e portanto foi produzido em quantidades ínfimas (algo ao redor de 50; historiadores diferem na quantidade exata). Era um verdadeiro monstro: 427 polegadas cúbicas obtidas por mais curso (93 mm), taxa de 13,5:1, coletor de admissão de alumínio alto para maior potência somente a altas rotações. Era declarado como tendo 430 cv, mas se sabe hoje que a realidade estava bem acima dos 500 cv.




Mas tudo isto é história antiga; o Mark IV substituiu o velho 409, e hoje mesmo ele é algo antigo e superado. O atual V-8 de bloco pequeno (ainda menor e mais leve que o de 1955) Chevrolet, chamado de família “LS”, desloca sete litros (427 pol³) como os antigos big-block sem problema algum, e estes gigantescos monumentos ao metal do passado se tornaram apenas curiosidades históricas. Ou não?


Não é bem assim na realidade. Hoje em dia, nos EUA, potência não é mais só o que conta. Sempre interessados no diferente, em demonstrar alguma criatividade, os Hot-Rodders americanos têm causado uma deliciosa volta a motores antigos em geral. Veja o caso do 409: a Edelbrock tem uma linha completa de componentes para ele, de carburadores e coletores até tampas de válvulas. Mais recentemente, lançou algo ainda mais legal: cabeçotes completos, novos, para o motor, e em alumínio! O 409 completa 49 anos este mês, e ainda hoje tem gente lançando coisas deste tipo para ele. Simplesmente sensacional!

A revista Hot Rod este ano acompanhou os primeiros testes da Edelbrock com este novo componente, fazendo com a empresa um motor realmente especial para ele (abaixo). Com o diâmetro dos cilindros aumentado para 111 mm, desloca 421 polegadas cúbicas (6 899 cm³) e é equipado com bielas forjadas Eagle, pistões especiais JE, bomba de óleo Melling e Ignição MSD. Obviamente, é fechado com cabeçotes em alumínio, tampas de válvulas, bomba de água, coletor de admissão em alumínio e dois carburadores quádruplos, tudo da Edelbrock. O motor é belíssimo de se ver, com suas tampas de válvula com desenho de época e os “dual quads” em cima. E furioso; nada menos que 469 cv a 6.000 rpm, usando taxa relativamente baixa de 9,5:1. Pode-se estimar quase 600 cv possíveis com uma taxa ao redor de 12:1.


Mas o que mais gostei dessa história foi de onde tiraram o bloco para a experiência: de um caminhão Chevrolet abandonado (abaixo). Existe algo de sublime, com alma, em um carro cujo motor foi tirado de um caminhão num ferro-velho e hoje pode obliterar carros esporte 50 anos mais novos, nem que seja por um quarto de milha em linha reta apenas. É algo caro ao coração de um entusiasta, um sopro de esperança e simplicidade num mundo hoje complexo e chato demais.



E ainda tem mais. A World Products anunciou que está desenvolvendo, junto ao especialista americano em 409's Lamar Walden (foto abaixo), um bloco novo, zero-km, de novo em alumínio! O motor usará toda a tecnologia desta empresa, famosa por seus Chevrolet big block “Merlin”, seriamente reforçados para potências acima de 1000 cv. O 409 de alumínio vai resolver um velho problema dos drag-racers dos anos 60: as capas de mancais eram fixas por dois parafusos apenas, e não resistiam a aplicações realmente sérias em competição; o 409 Merlin de alumínio já nascerá com 4 parafusos segurando cada mancal.




Provavelmente custará uma montanha de dinheiro, mas é uma notícia sensacional. É completamente sem lógica se fazer um motor desses gastando tudo isso (muito mais barato e melhor comprar um LS small-block direto da GM) mas a lógica que se dane! Um 409 todo em alumínio será em breve algo possível, e era algo simplesmente impensável em 1963.

Como prega a música, 45 anos depois do último Impala sair da linha com ele, você poderá poupar seus centavos e seus reais, para que um dia você possa comprar seu 409 novinho. Mesmo que seja só o motor. E que você precise de centavos e reais pra chuchu.

Well I saved my pennies and I saved my dimes
'fore I knew there would be a time
When I would buy a brand new 409

MAO

17 comentários :

  1. MAO,

    Super legal. Nesse mundinho nosso do vale o que vale, nada como saber que nossos sonhos estão disponiveis. Acho o 348/409 um motor fantástico. É caro, dificil de conseguir, mas foi um grande salto para a Chevrolet, que podia contar com um motor grande para enfrentar os Fords FE e MEL e os Mopar Wedges que cada dia ficavam maiores e mais cruéis. O W foi completamente superado e caiu rapidamente no esquecimento com o advento dos novos big blocks Mk4, que mesmo sendo menor em sua versão inicial, o 396, já deixava muito claro o quão espetacular e sensacional era logo em sua chegada.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. A música fala assim :

    Four-ô-nine

    4-0-9 !!

    Amo ouvir o borbulhar dum motor desses arrancando com vigor e o alegre barulho dos pneus cantando com pouca rotação e esforço !

    Isso é a melhor música para um autoentusiasta !

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  4. Mister Fórmula Finesse01/12/2009, 08:33

    Deveria ser lindo o pega com o Ford Thunderbolt, ambos são até parecidos. Claro que essas potências imensas eram cifradas em valores brutos, mas mesmo assim motores um tanto acima de 300 cavalos reais - feudo exclusivo praticamente dos americanos - eram quase que comuns naquela época...que época!!!!!

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  5. MAO,

    Já havia lido a respeito do 409 por indicação sua. Comprei o livro Muscle Car Confidential e estou adorando a leitura.

    Abraços,

    Marcus Lucchezi

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  6. Mister Fórmula Finesse01/12/2009, 11:43

    MAO, continuando..


    Isso também é realmente interessante, a utilização de um bloco que pachorramente tinha que lidar com enormes cargas sobre o chassis do velho caminhão.

    Giro baixo, a busca por torque para movimentar aquele peso todo...a caixa lenta, uma utilização totalmente doméstica por muitos e muitos anos com manutenção talvez menos do que básica. E como por encanto, o velho coração de ferro que tanto serviço prestou, agora sendo transformado em um reator para brincar e sacanear as massas muito menores e não ficar mais subjugado por elas.

    Todo carro tem história, todo motor o tem...são milhares de peças que tem algum propósito e que nos podem trazer tantas alegrias...Deus abençoe posts deste tipo!

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  7. Clésio Luiz01/12/2009, 20:17

    Nos anos 70 a gasolina mudou nos EUA, ficou sem chumbo, se eu não me engano. Me parece que por causa disso os fabricantes tiveram que baixar a taxa de compressão dos motores, para se adequar a nova gasolina.

    Mas fica a pergunta: e os motores antigos com altas taxas de compressão, podiam trabalhar bem com a nova gasolina?

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  8. MAO,

    Que belo post. Aprendi mais uma!

    PK

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  9. quem quiser a música, eu tenho em mp3 !!! rsrsrsrsrsrsrsrs

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  10. Putz...

    Lá nos idos das décadas de 80 e 90, em Bauru-SP, havia uma perua Impala creio que do proprietário de uma então famosa padaria/confeitaria, pois sempre estava parada nas vagas em frente à empresa.

    Me recordo de umas vezes cruzar com aquele carro e escutar o ronco do "oitão" borbulando no escape.

    Acho que os pistões não chegavam a "meio curso" de tão tranquilo que o cara parecia dirigindo/curtindo ela...

    Era um carro magnífico!

    Não sei se "ela" ainda existe... *rs* Seria bastante bacana ver "ela" novamente.

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  11. MAO, sabe o que eu acho mais bacana da história? É que se passaram 45 anos e o motor parece moderno, taxa de compressao, a alimentacao perfeita, um comando que fechava com a engenharia do motor, claro que podem haver upgrades, mas o motor era tão bom, era tão enorme a genialidade de sua concepção, que hoje ainda, anos e anos depois é muito dificil conseguir melhorá-lo, parabéns e obrigado pelo post.

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  12. Marcus Luchesi,

    Legal! Espero que tenha gostado!

    MAO

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  13. Clesio Luiz,

    Podiam não...Mas existia aditivos que aumentavam a octanagem, gasolinas especiais, etc.

    MAO

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  14. Olá, muito legal o post sobre um motor muito pouco conhecido por aqui. Entretanto cabe um esclarecimento. Esses motores (348/409/427) não eram chamados de w por suas tampas de válvulas, mas porque eram o protótipo w. Quando foram colocados em testes pela Chevrolet haviam ainda outros dois protótipos: o X e o Y. Ambos eram variações do 283 com mais de 300 polegadas cúbicas. Nenhum dos outros dois protótipos provou serem viáveis quando comparados ao W tanto em termos de custos como durabilidade e viabilidade de produção. Por isso optou-se por ele. Seu funcionamento é muito suave e tem muito torque em baixa. She is real fine my 409, she is just great my 348!

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