Incrível como determinadas sensações nos acompanham pela vida toda. A de começar a dirigir, por exemplo. Me lembro que foi com dez anos feitos. Se sou de novembro de 1942, então foi bem no final de 1952 ou início de 1953, nas férias escolares.
Tio Paulo, irmão de minha mãe, tinha uma motocicleta BMW R50 1938 e sempre me levava para uma voltas, eu sentado no tanque. Até mesmo na moto anterior, uma Royal Enfield, inglesa, 350 cm³. Dessas duas lembro o odor de gasolina que exalava de algum lugar, ou do tanque, ou da boia do carburador, ou ambos, mas o fato é que para mim aquilo era perfume, especialmente junto com o calor que o motor irradiava. Eu achava a BMW com cardã em vez de corrente o máximo.
Ele era policial da então Polícia Especial e acumulava a função de instrutor de condução de motocicletas na corporação. Dominava bem as duas rodas e meus pais nunca se preocuparam com aquelas voltas com ele. Mas um dia ele se cansou das duas rodas e comprou um Citroën 11L ano 1947. "L" é de légère, leve em francês, era a carroceria do 7CV, 1.303-cm³ e 34 cv, com motor maior, como veremos adiante.
O tio vendeu a BMW por 30 mil cruzeiros e pagou 45 mil no Citroën. Raspou o fundo do cofre e a mana teve que lhe emprestar algum para pode abastecer o carro nos primeiros dias .
Um das primeiras coisas que o tio fez foi ensinar os sobrinhos - eu e meu irmão dois anos mais velho - a dirigir. Ele nos adorava e nós a ele. São esses primeiros quilômetros que não vou esquecer nunca.
Foi assim a minha primeira experiência de avaria mecânica. E a segunda vez que minha mãe teve que socorrer o mano, só que desta vez não foi empréstimo, mas ressarcimento...
Numa viagem à França, meu tio comprou uma carcaça de câmbio de ferro fundido: havia reclamações lá de quebra da carcaça de alumínio. Só que o peso na extremidade aumentava, indesejável do ponto de vista de comportamento.
Tio Paulo foi de uma habilidade ímpar para ensinar (prática de instrutor na polícia?). A fase de arrancar controlando motor e embreagem foi rápida. Ele disse que era como pegar o bonde andando: você está parado e o bonde vindo. Para ser possível pegá-lo você tem que dar uma corridinha. Essa "corridinha" era soltar o pedal de embreagem lentamente, sem pressa, até que motor e carro ficassem juntos. Pegamos rápido, eu e o meu irmão.
O tio ia muito lá em casa e a cada vez era um aula. Saíamos do alto Gávea e íamos à praia do Leblon e Ipanema, o trajeto favorito.
Um dia emparelhou com o Citroën uma radiopatrulha Ford 1949 e fiquei apavorado. Mas bastou um "Salve!" do tio para a guarnição, que logo o reconheceu, e bastou. Retribuiíram a saudação e foram embora.
Um dia emparelhou com o Citroën uma radiopatrulha Ford 1949 e fiquei apavorado. Mas bastou um "Salve!" do tio para a guarnição, que logo o reconheceu, e bastou. Retribuiíram a saudação e foram embora.
O Citroën tinha os mesmos odores de gasolina das motos e o motor devia ter um senhor volante, pois custava a cair de giro. O tio, nas suas explicações, disse que não se podia passar primeira com o carro andando, não era sincronizada, tinha que parar primeiro.
Como eu já lia fazia um bom tempo a revista Mecánica Popular (em espanhol), li uma vez sobre a dupla-embreagem (ou dupla-debreagem, como queiram) que era necessária para engrenar marchas não sincronizadas. Num momento em que o tio não estava me olhando passei a primeira andando. Ele percebeu a acelerada interina e se voltou - para ver a primeira entrar sem protesto da caixa.
O 11 tinha um detalhe interessante. Como a alavanca no painel ficava basicamente na horizontal, para que ela não "caísse" da segunda ou da ré, havia um interbloqueio com o pedal de embreagem. Desse modo, só era possível usar a alavanca apertando o pedal. Se quebrasse o cabo de embreagem e o motorista não soubesse passar marchas "no tempo", só guinchando. Mas quando eu, já com 12, 13 anos, guiava sozinho nas calmas ruas do bairro, eu fazia trocas sem usar embreagem. Mas isso ele nunca soube.
Pensando bem, para quê esse interbloqueio? Eram só duas marchas em pauta, uma para manobras somente, fora que a inércia da alavaca era baixa comparada com a dos dois varões.
O 11 tinha um detalhe interessante. Como a alavanca no painel ficava basicamente na horizontal, para que ela não "caísse" da segunda ou da ré, havia um interbloqueio com o pedal de embreagem. Desse modo, só era possível usar a alavanca apertando o pedal. Se quebrasse o cabo de embreagem e o motorista não soubesse passar marchas "no tempo", só guinchando. Mas quando eu, já com 12, 13 anos, guiava sozinho nas calmas ruas do bairro, eu fazia trocas sem usar embreagem. Mas isso ele nunca soube.
Pensando bem, para quê esse interbloqueio? Eram só duas marchas em pauta, uma para manobras somente, fora que a inércia da alavaca era baixa comparada com a dos dois varões.
Por falar em câmbio, numa noite teve aula e fomos todos passear eu, ele ao meu lado e no banco traseiro, papai, mamãe e a mulher dele, o Citroën com carga se não máxima, perto. A nossa rua era sem saída e o trecho final era uma subida não muito íngreme. Fui até o fim da rua, manobrei e comecei a descer, em primeira com o pé na embreagem, coisa de novato. Um pouco adiante o tio deu o comando: "Tire o pé da embreagem para sentir o freio-motor". O sobrinho obedeceu fielmente e tirou o pé - de uma vez! Que barulho infernal de coisa quebrando, ouvia-se pedaços de engrenagem caindo na rua de paralelepípedos! A carcaça do câmbio, que era de alumínio, abriu no meio!
Numa viagem à França, meu tio comprou uma carcaça de câmbio de ferro fundido: havia reclamações lá de quebra da carcaça de alumínio. Só que o peso na extremidade aumentava, indesejável do ponto de vista de comportamento.
O carro tinha detalhes incríveis. Curioso por mecânica, logo me chamaram a atenção os coxins do motor. Eram molas "espirais" (claro, helicoidais) e o motor ficava ali oscilando quando em marcha-lenta. Muitos anos depois eu soube tratar-se da solução moteur flottant, motor flutuante. O arame da mola era de seção retangular, bem estreita, lembro-me bem.
O motor do 11 Légère era um quatro-cilindros de 1.911 cm³ (78 x 100 mm), cinco mancais e válvulas no cabeçote (OHV). Com taxa de compressão de apenas 6,5:1 desenvolvia 56 cv a 4.250 rpm e 12,5 mkgf a 2.000. As camisas eram removíveis, com veríamos aqui alguns anos mais tarde, no fim da década, na família Renault fabricada pela Willys-Overland do Brasil.
O motor do 11 Légère era um quatro-cilindros de 1.911 cm³ (78 x 100 mm), cinco mancais e válvulas no cabeçote (OHV). Com taxa de compressão de apenas 6,5:1 desenvolvia 56 cv a 4.250 rpm e 12,5 mkgf a 2.000. As camisas eram removíveis, com veríamos aqui alguns anos mais tarde, no fim da década, na família Renault fabricada pela Willys-Overland do Brasil.
Depois, os pedais. Estava habituado a ver os pedais cujas hastes atravessavam o assoalho por um furo, primeiro no Mercury 1946 cupê duas portas e depois no Oldsmobile 88 1950, ambos lá de casa, e agora os pedais eram articulados em cima, suspensos, como na maioria dos carros hoje. Aquilo me fascinou. Por esse motivo, o reservatório de fluido hidráulico ficava no cofre do motor, no alto, como nos carros atuais, não sob o assoalho.
Outro atrativo do 11L era o para-brisa basculante que se abria alguns centímetros pivotando pela parte superior, comandado por um botão giratório na parte superior do painel. No escaldante calor do verão carioca era uma dádiva em tempos ar-condicionado em automóvel ser um sonho distante.
Outro atrativo do 11L era o para-brisa basculante que se abria alguns centímetros pivotando pela parte superior, comandado por um botão giratório na parte superior do painel. No escaldante calor do verão carioca era uma dádiva em tempos ar-condicionado em automóvel ser um sonho distante.
Pedais suspensos, a novidade. No meio do painel, o botão giratório para bascular ligeiramente o para-brisa |
Aqueles dois carros americanos tinham a alavanca de câmbio na coluna, o Mercury manual 3-marchas e o Oldsmobile, automático Hydramatic de quatro. A alavanca de câmbio do Citroën saía do painel! Três marchas com a primeira e ré afastadas do motorista e segunda e terceira, junto dele. Lógica de carro com volante no lado direito.
Foi a primeira vez que ouvi falar em prise, mas que no 11L não era direta, embora a relação fosse 1:1. Quem me disse? O tio, claro.
A transmissão do movimento da alavanca, por sinal ótima de usar - me lembra um pouco a alavanca do Fiat Doblò -, bem ao alcance da mão, chegava ao câmbio na extremidade dianteira do transeixo por dois longos varões que passavam rente ao motor, arranjo no mínimo curioso.
A transmissão do movimento da alavanca, por sinal ótima de usar - me lembra um pouco a alavanca do Fiat Doblò -, bem ao alcance da mão, chegava ao câmbio na extremidade dianteira do transeixo por dois longos varões que passavam rente ao motor, arranjo no mínimo curioso.
No desenho, os dois varões que iam até o câmbio na extremidade dianteira |
E as portas dianteiras abriam para trás, naquilo que chamam de "portas suicidas" - nome que discordo, pois é mais fácil se atirar do carro em movimento se as portas forem convencionais e numa batida frontal tanto faz como a porta abre.
Era bom de andar, o Citroën 11L - ou Traction, como dizem os franceses, tração traseira é propulsion. Com seu baixo centro de gravidade, conseguido pela tração dianteira e pelo fato de ser monobloco, era excelente de curva, a rolagem de carroceria era mínima. Havia até o boato, nunca confirmado, de que quem conseguisse capotar um Citroën ganhava um carro novo da fábrica. Mesmo com estreitos pneus diagonais 165-400 era bem rápido e equilibrado. Na época eu não sabia o que era sair de frente ou de traseira, mas podia-se entrar rápido nas curvas sem receio.
A suspensão era um ponto alto do 11. Triângulos superpostos com amortecedor telescópico na dianteira e eixo de torção com barra Panhard atrás, também com barra de torção, como a do DKW F102/Audi 60, de 1965. Era uma suspensão macia e bem controlada.
A direção, isso me lembro, era muito pesada, mesmo com volante que deveria ser de 40 cm de diâmetro, mas o freios a tambor eram bons, não requeriam atenção maior ao dirigir, embora demandassem algum esforço.
Andava razoavelmente bem para seu tempo. Dados de fábrica indicavam aceleração 0-100 km.h em 17,4 segundos e velocidade máxima de 120 km/h. Pesava 1.060 kg e consumo médio era de 9,8 km/l.
É evidente que essas observações dinâmicas foram de quando eu já tinha de 13 para 14 anos.
Era surpreendente o espaço interno, especialmente para os passageiros do banco traseiro, graças ao enorme entre-eixos de 2.908 mm (3.086 mm no 11 normal) e comprimento de 4.380 mm, (4.630 mm, idem), mais os assoalhos absolutamente planos. Os bancos, revestiidos de tecido, eram bem macios, típicos de carro francês. Era um carro baixo para seu tempo, 1.500 mm de altura, como o VW sedã, que iniciava sua longa vida no Brasil..
Tudo isso, todas essas sensações, tenho-as na mente mais de meio século depois. Mas não é porque tenho boa memória apenas. O carro ajudou.
BS
REalmente, caro Bob, o carro ajudou a guardar na memória, até o perfume que exalava. Aprendi num 1951 aos 16 anos e foi meu primeiro carro. Cinza escuro. O único problema permanente eram as cruzetas frágeis, problema também recorrente nos primeiros Corcel. Depois da homocinética, assunto superado. Enfim para mim, um ícone inesquecível. Trocar marcha no tempo, um tesão. E andava muito. Via Anchieta morro abaixo numa época irresponsável, com baixo transito ... ai ai ai...
ResponderExcluirPost bem legal.
Não é a toa minha fotinho.
Belíssimo relato, Bob! Uma pena que as fascinantes idiossincrasias e particularidades dos Citroën sejam coisa do passado. A meu ver, o último "legítimo" (ainda que com grande conteúdo técnico da Peugeot) foi o belo XM, ótimo carro muito prejudicado por um desleixado controle de qualidade. E no Brasil, por um péssimo, despreparado e ganancioso pós-venda.
ResponderExcluirHum, que carro interessante hein Bob, me pareçe que você é (muito) fã da Citröen. Eu também sou, mas o único que andei foi no C3. Eu tenho um desses Traction em miniatura, da italiana Bburago e sempre o achei o patinho feio da minha coleção, mas gosto dele do mesmo jeito. Sobre a 1ª e 2ª marchas, por exemplo, eu, que guio um Gol, raramente uso a 1ª. Apenas para manobras, saídas em aclive, mesmo que leve, e arrancadas de farol mais vigorosas. Saindo em 2ª em lugares planos e declives, a embreagem nem patina em excesso, já que a 1ª da MQ200 é muito curta. Há algum problema nisso? Eu posso perder a embreagem precocemente por sair, às vezes, em segunda?
ResponderExcluirRenan Veronezzi
Ah, e sobre os automóveis precursores da minha vida, lembro de um chevette 1.6 que minha mãe tinha. Foi o primeiro carro dela pós-fusca. Era um hatch preto completo. Toda manhã ele era teimoso pra pegar pois era à etanol, quantas vezes eu acordei com a minha mãe saindo meio que ligeiramente e com o carro frio, com uma nuvem de vapor atrás, mas nunca a deixou da não. Lembro também do cheiro de Fords zero KM, de um Escort GL e de um Fiesta com motor Endura-E (este último, o primeiro carro que dirigi, em 2003, aos 14 anos). Minha mãe dizia que gostava do Fiesta pois era muito macio. Boas memórias que tenho deles.
ResponderExcluirRenan Veronezzi
que história!
ResponderExcluirQue bela aula sobre condução e Citroen Bob! E ainda mais alinhavado com algo tão importante para todos nós como a primeira vez que se domina um carro (...na verdade, eles que nos dominam desde a mais tenra idade)
ResponderExcluirOs cheiros, as sensações, as impressões...podem se passar décadas que a gente lembra como se fosse ontem da primeira vez que mãos suadas e pés inábeis começaram a movimentar um carro pela primeira vez.
O enigma de acelerar e soltar a embreagem de forma progressiva, as mudanças desajeitadas de marcha, os olhos arregalados - querendo engolir o mundo - ao se perceber autônomo e de posse do objeto de sonhos e desenhos desde o maternal.
Passam-se literalmente milhões de pensamentos, acontecimtos e experiências desde essa primeira vez ao volante, mas ela sempre persistirá como uma das lembranças mais poderosas de nosso ínicio de vida.
abraço Bob
ahhh...renan, utilize as marchas de forma correta e preconizada pela fábrica. Em descidas, no farol, pode soltar o carro e já engatar uma marcha mais ascendente para manter a maciez na condução, mas no plano, só dá para dispensar - e olhe lá - a primeira em veículos muito reduzidos como as antigas D20, F1000, Silverado..etc.
ResponderExcluirMeu primeiro contato com a direção de um carro, foi o Fuscão 1973 de meu pai, no longíncuo 1979 ... foi uma volta no quarteirão de casa, com o carro "morrendo" em todos os cruzamentos ... e o banco literalmente "ensopado" de suor ... este Fuscão era "batido" e "puxava" como um louco para a esquerda ... pouco tempo depois, meu pai trocou o fuscão por um "fusquinha" (1300) e o aprendizado continuou ... este último fusquinha, ficou na família por 14 anos (de 1980 a 1994) e ensinou a mim, meu irmão e minha esposa a dirigir (em 1986, o fusquinha passou para minhas mãos e foi com muita dor no coração que eu me desfiz dele) ...
ResponderExcluirGeraldo
Meu primeiro carro foi um 147...todas as marchas eram não sincronizadas..rs...aprendi de forma compulsória mecânica de automóveis e técnicas de lanternagem com ele também...
ResponderExcluirBob, salvo engano esse perfil de eixo de torção do Traction também foi usado no 2CV, não?
ResponderExcluirBob,
ResponderExcluirExcelente post. Muito gostoso relembrar os primeiros contatos com os automóveis e o fascínio de criança então... Me lembro de meu pai deixar "estacionar" uma Fiat Elba quando eu era pequenino, no colo dele, claro, pois tinha 4 anos e nem alcançava os pedais. Era um modelo duas portas, bege a alcool. Recordo da manhã em que meu irmão nasceu: o carro não pegava de jeito nenhum e minha mãe foi a pé para a Clínica São José, nossa vizinha.
Esse 11L é um belo exemplo do espírito inovador da Citroën. Tração dianteira, monobloco, carroceria baixa com melhor centro de massa, eixo de torção, eram raros, pena que a marca perdeu um pouco desse espírito nos últimos tempos. Ele foi inclusive um dos primeiros carros a ser fabricado em linha de montagem na europa.
Aliás, o recorde de tempo de desenvolvimento do projeto, apenas 18 meses, ainda perdura?
Um grande abraço
Gostei muito de ler este post, das manhas do Citroën como também reviver essas emoções de se aprender a dirigir, ainda mais num Citroën 47. Também aprendi num 47, tinha 7 anos e só ia no colo com o volante. Os pedais e as marchas, ainda demorei algum tempo para pegar e sair solto, até por questão de tamanho mesmo. Andava ali pela Tijuca, Pça. Afonso Pena, Canal do Trapicheiro (canal de um lado e carro estacionado do outro, só uma pista) e cheguei a subir o Alto da Boa Vista algumas vezes. A Glória!
ResponderExcluirObrigado pelo texto e pelas lembranças, até dos cheiros.
Marco
Hummmm....
ResponderExcluirCupim de ferro Bob?
Uma quase coincidência, Bob Sharp. Meu carro inaugural - fui menos precoce, teria meus 14 anos - foi o Citroën 15 de meus pais. Mas, falando do bom design, os primeiros 11 são de 1934 e nota-se a semelhança da grade do radiador com a do Ford '33, levemente inclinada. Também, sempre ouvi que o 11 foi o primeiro automóvel a não ter estribos, mas me parece que o Cord Aero Sedan de 1933 foi quem deu adeus a esse legado das carruagens. A Citroën teria consolidado a tendência. Belas lembranças.
ResponderExcluirEntão o 147 é double-engranada.
ResponderExcluirCaro Bob: memória e relato fantásticos! Vejo que o automovelvirus o pegou desde criança. A sua descrição dos fatos é precisa e pareceu-me visualizar o que estava acontecendo com você, principalmente na ladeira abaixo. Gostaria de ver a cara do seu Tio, pois afinal foi ele quem mandou você tirar o pé da embreagem. Abraços.
ResponderExcluirÓtimo texto Bob. Incrível como as sensações são muito parecidas em todos nós autoentusiastas. Aprendi a dirigir aos 13 anos numa Saveiro 93, 1.6 com o famoso motor AP e uma embreagem que chutava minha perna. Depois de meses de insistência consegui convencer meu pai e num fim de tarde de agosto (me lembro bem) lá estava eu dando os primeiros 'passos', ou primeiros trancos. Emoção indescritível pra alguém cujas recordações automobilísticas configuram entre as primeiras memórias. Duas das imagens que mais me marcaram quando o assunto é carro, são um pequeno Lada vermelho cujo dono deveria pesar mais que o carro, e um omega preto recém-lançado. Tudo por volta de meus 3 anos de idade da janela da casa de minha avó. Dessa idade já tinha se desenvolvido a paixão? Não, definitivamente nascemos assim.
ResponderExcluirAprendi num Ford Canadense 1952 de meu pai. V-Oitão de 90 cavalos. Para mim era o máximo em 1964.
ResponderExcluirAprendi a dirigir num Passat 80 do meu pai. Cinza com uma faixa prata abaixo dos vidros. Na traseira tinha um borrachao e os emblemas LS. Havia um pequeno contagiros no painel e o motor era 1.6, mas com carburador de corpo duplo com a inscrição "made in germany".
ResponderExcluirCom 11 anos meu pai me levou a um campo de futebol de várzea aqui perto de casa. Damos muitas voltas no campo até ter controle total sobre os comandos do carro. Depois com o automatismo gravado, comecei a andar na rua, sempre com ele ao meu lado, num cuidado muito grande pra não fazer merda (assim que ele dizia).
Acho que nesse dia deixei de ser criança.
Uma bela lembraça de um belo carro carro, parabéns. Fico aqui com um "poucão" de inveja por não ter tido a sorte e nem a oportunidade de guiar um carro desses com meus poucos 22 anos de idade. Abraço!
ResponderExcluirMister Formuia Finesse
ResponderExcluirTem razão, são eles que nos dominam!
Aprendi a dirigir num Volks. Muitos anos depois passei por um VW 1967, dei meia volta e vi que estava 'a venda. Entrei no carro. Parecia um túnel do tempo, como se nunca tivesse me afastado do carrinho. Comprei o Fusca, que restaurei e esta' comigo ate' hoje.
ResponderExcluirAnônimo 26/1 11:59
ResponderExcluirComo assim, todas as marchas do 147 não eram sincronizadas? Claro que eram.
Anônimo 26/1 12:58
ResponderExcluirO 2CV tinha suspensão independente nas 4 rodas, braço arrastado atrás e braço empurrado na frente, com mola entre os dois braços dos mesmo lado. Os amortecedores eram de outro princípio, de massas dentro de cilindros (batteurs). Esse amortecedor foi usado no bico do Renault R25 de F-1 para reduzir oscilações da dianteira, mas incrivelmente foram proibidos pela FIA.
Caio Cavalcante,
ResponderExcluirEra de fato muito avançado. A maioria dos carros europeus tinha motor de válvulas laterais e o 11 já era OHV. Sim, 18 meses do primeiro traço na prancheta ao salão de vendas, realçado pelo fato de ser um carro verdadeiramente inovador. André Lefévre era mesmo gênio.
Pisca
ResponderExcluirSem dúvida!
Roberto,
ResponderExcluirQue legal, seu pai ter tido um 15. Eram raros por aqui. Isso, o Cord não tinha estribos.
Delícia de texto, Bob - parabéns!
ResponderExcluirParece que estou no banco do carona desse 11 "Ligeiro", para usar o termo carioca da época.
Uma curiosidade: você lembra se o carro do seu tio tinha o para-choque dianteiro de cabeça para baixo? Na época, quase todo mundo no Rio invertia a posição da peça "para proteger a caixa de câmbio"...
Bob.
ResponderExcluirParece que os tios tem mais paciência do que os pais. Também aprendi com um, que era meu padrinho, num jipe Willys da década de 50. Foi bom para aprender a usar o câmbio. Minha madrinha tinha um Bel Air 53, duas portas, azul e creme: quando o dirigi fiquei maravilhado com o câmbio na coluna, muito mais macio de usar.
Naquele tempo, em Araçatuba, os guardas corriam atrás dos carros de bicicleta; a gente escapava, mas não adiantava, pois sabiam onde morávamos.
A propósito, mudei para São Paulo em 1.956 e um parente português foi nos buscar, na Estação da Luz, com um reluzente Citroen preto (pra variar), que para mim foi uma novidade. No interior só haviam carros americanos, alguns europeus e um único fusca.
Parabens pelo post. Despertou lembranças em muitos Autoentusiastas.
Ervin Moretti
ResponderExcluirEle errou ao mandar tirar o pé do pedal e eu errei ao fazer isso muito rápido. A cara dele, nem é bom pensar...
"Sensações que ficam", na minha infancia tinha um Citroen igual a este abandonado e eu brincava dentro dele.
ResponderExcluirHoje ele daria um belo carro se recuperado original ou colocar umas rodonas um motorzão....
Anônimo 26/1 14:12
ResponderExcluirEssa assunto está esgotado. Sugiro que siga o recomendado pelas fabricantes de pneus, mas nesse caso lhe desejo boa sorte. Sinceramente.
Aproveitando isso, como é que era aquele Fusca 52, acredito eu que o motorista médio não consegue realizar a dupla-debreagem.
ResponderExcluirEntão como funcionava ali?
Obrigado desde já...
Leonardo F. Prado
ResponderExcluirAcho que você está certo, já nascemos assim.
Sandro
ResponderExcluirParabéns, é por aí mesmo.
Eurico Jr.
ResponderExcluirO Xantia também era avançado, tinha um comportamento perfeito. Agora, má assistência técnica mata qualquer produto, você tem toda razão.
Nadio Lesley
ResponderExcluirDaqui a 40 anos você poderá ter essas mesmas lembranças.
Jason
ResponderExcluirTexto fácil...Não, o para-choque do Citroën do tio, placa DF 2-43-10, ficavam em posição normal. Aquele câmbio no bico do carro mesmo incrível de tão vulnerável.
nrporto
ResponderExcluirPor que será que os tios são almas bondosas? Sempre achei isso.
Anôniomo 26/1 21:08
ResponderExcluirTambém vale como sensação, sem dúvida.
Lutz,
ResponderExcluirTinha que usar dupla-debreagem, especialmente nas reduções, ou a marcha não entrava. Por isso é o diretor-superintendente tratou de mudar isso assim que assumiu a direção da fábrica em 5 de janeiro de 1948, criando a versão Export.
Sim, mas eu digo.
ResponderExcluirO consumidor conseguia opera-lo?? Eu acho que é um tanto difícil para o motorista médio...
Lutz,
ResponderExcluirAcabava aprendendo à força, mas era mesmo difícil.
Bob,
ResponderExcluirque bela descrição de momentos tão importantes. Muito bacana mesmo.
Muito bacana mesmo, Bob!
ResponderExcluirNão fui tão precoce quanto você, mas ainda assim precoce, aos 12 anos um amigo de escola, deixou que eu manobrasse o Gol GTS de seu irmão dentro da garagem de sua casa (típica garagem que é um corredor ao lado da casa).
Isto me encorajou a "roubar" o Uno da minha mãe, ou o Voyage do meu pai, posteriormente. Sem permissão as mãos suam ainda mais... hehehe
Abs
Ah sim... obrigado Bob!
ResponderExcluirExcelente post Bob, vivenciei sua história como se fosse minha.
ResponderExcluirSó quero discordar de um detalhe.
As portas suicidas são muito melhores para cometer o pior. Com o carro em movimento, ela dobra totalmente para trás com a força do vento, deixando o caminho livre para o ato, coisa que teoricamente a porta normal, empurraria para dentro do carro novamente.
Abs
Frustrado mas vivo
ResponderExcluirA porta pode ir toda para trás ou não, depende do tipo de limitador.
Já teve a oportunidade de assistir ao filme "Juventude Transviada" (Rebel Without a Cause, 1955, com James Dean)? Na parte do desafio "Frouxo" (Chicken), em que dois carros rumam ao precipício, vê-se que é mais fácil se atirar do carro no último momento com a porta de abertura para frente.
Bob, eu aprendi a dirigir num 147 82 aos 13 anos e me lembro até do cheiro carro. Cada reação, a tensão de embreagem e freio, o barulho; tudo é nítido como se tivesse sido ontem. Aproveito pra te fazer uma consulta: O civic tem uma característica(ou defeito...) que consiste na queda acentuada do giro do motor com o pesado compressor do ar ligado. Quando paro num sinal e aciona a embreagem, o giro cai até mais ou menos 500 giros e retorna à normalidade em seguida. Isso tem relação com o volante do motor ou falei besteira? Obrigado e parabéns!
ResponderExcluirjrvalias
ResponderExcluirA única razão para o giro cair é aumento de esforço sobre o motor e neste caso a única variável é apertar o pedal de embreagem. Portanto, acredito haver problema no rolamento de embreagem, que não está girando livre como deve. Recomendo ficar atento a quanto cai de rotação, se piora cada vez mais. Não tem nada a ver com o volante do motor.
Bob,
ResponderExcluirDesculpe-me por aproveitar o gancho, tive que trocar o coxim do motor de dois carros (5,5 e 4 anos de uso). Será isso normal? Será que abuso demais dos coitadinhos? Ou será que a mulherada aqui anda dando muito tranco com os carros? Quem eu? Eu não! hahahaha
Abs
Post saudavelmente saudosista. Muito bom, viajei no tempo, senti saudades de uma época que não vivi.
ResponderExcluirTambém tive o privilégio de contar com um TIO desse...
ResponderExcluirMas antes dele, minha mãe que levou para as primeiras voltas. Ela é autoentusiasta...
Almofadas enormes( daquelas de sofás de TV)no banco inteiriço do Ford LTD 4.800, transmissão em D , pé direito no acelerador e esquerdo no freio, que é como guiavam esse carro lá em casa.
Bah este carro eu posso endossar algums comentários, tive o prazer de andar no do meu sogro, de carona, com minha esposa no volante, (que não é tão pesado com o carro em movimento), rebocado por um gol, o carro foi totalmente restaurado pelo meu sogro, o motor tem um giro forte e um ronco muito bonito, para faze-lo pegar depois de algum tempo, este carro tem uma manha, possui uma alavanca pequena na bomba de gasolina, que serve para bombear do tanque o minimo de gasolina possivel para fazer o carro pegar, aliás esta bomba dá vazamento que não é mole e talvez seja daí o cheiro de gasolina que se sente o andar no veiculo.
ResponderExcluiré realmente muito legal a abertura do vidro, outro detalhe muito importante sobre este veículo, principalmente para quem está restaurando um, é que os pneus tem a medida 16,5" e são muito dificeis de se conseguir.
A lenta deste carro é inconfundível e o conforto interno impressionante, o traction avant tinha uma propaganda de época que dizia, que quem virasse um, ganhava outro!! era muito dificil de acontecer devido sua grande estabilidade!
Li todos os comentarios e me encoragei, tinha um Citroen 11 BL 1951 guardado e estou recuperando. É facinante mexer com coisas do passado, um ano a mais que eu. Já desmonte o carro inteirinho, agora estou buscando informações sobre onde encontrar peças?, saber sobre detalhes, cores, e tudo mais para cumprir essa empreitada.
ResponderExcluirEdison Dorigatti - eddorigatti@ig.com.br