Toda traquitana relacionada ao automóvel, mas que não é peça ou automóvel em si, é chamada pelo nome geral de automobilia.
Tenho alguns amigos cujas casas são totalmente decoradas com essas traquitanas, e as mais populares são sem dúvida nenhuma as miniaturas. Ao contrário da maioria, porém, eu não tenho quase nenhuma delas. Minha casa é quase completamente limpa de motivos automobilísticos, e mesmo as minhas 3.000 revistas e mais não sei quantos livros estão em duas estantes discretas, e você só percebe que são sobre carros olhando de perto.
Mas tem duas coisinhas que eu acho muito legais, e que queria dividir com vocês. A primeira, é esta latinha aqui embaixo
Trata-se de um lubrificante que veio em um comando de válvulas Iskenderian que comprei novo em 2001, mas foi fabricado em 1980, e portanto era uma legítima peça “New Old Stock”, uma das coisas mais cool que você pode por num carro antigo, ainda mais se for uma peça de preparação, e ainda mais ainda se for um comando de válvulas “de corrida” da Isky. Esta latinha veio dentro da caixa dele, uma peça criada para motor Chevrolet seis em linha 230-250 cid (pol³ de cilindrada) com 260/260 graus de duração “advertised”, e simétrico portanto, como todo Isky devia ser. Eu e meu mecânico velhinho montamos este comando em meu Opala 74 numa tarde modorrenta, num domingo qualquer em dezembro de 2002. Não usei o resto da lata nas válvulas e balancins, como reverso da lata pede (abaixo), porque não achei necessário.
Não sei se ainda existe essa latinha, mas duvido. E sei que deve existir um milhão dessas latas nos lixões americanos, mas eu guardei a minha como um tesouro. Só quem já montou um comando Isky antigo tem uma latinha assim, não é vendido ao público, como está escrito bem a vista nela. É uma lembrança constante de que eu realizei um sonho infantil.
Eu cresci durante os anos 70 e 80 (quando nada era importado, lembrem-se) andando em Opalas de meu pai, e lendo a revista Hot Rod americana. Para mim, um comando Iskenderian sempre foi algo tão inatingível quanto um Santo Graal, e já ter comprado um e usado em um velho Opala, é um sonho realizado. O mecânico se riu todo naquele domingo de 2002, me vendo tratar aquela reles peça de carro como algo sagrado e único, e de todos os meus gemidos de prazer ao descobrir adesivos, intruções técnicas e a latinha, lá dentro da caixa. Essa latinha pequenininha fica sempre em minha mesa de trabalho, e olhá-la longamente ainda me dá um prazer inexplicável, e me faz lembrar o prazer que tive naquele dia modorrento.
O meu segundo item de automobilia mais adorado (abaixo) representa, ao contrário da latinha, um sonho ainda a realizar. Trata-se de um punhado de sal.
Mas ah... este sal é também sagrado. É um presente que o meus amigos Belli e Egan me trouxeram do lugar mais cultuado pelos seguidores da religião da velocidade: Bonneville Salt Flats. Eu sou vidrado por este lugar, e pela semana de velocidade que lá ocorre todo ano há mais de 50 anos. Um dia, ainda pisarei neste solo sagrado, e ainda vou dirigir um carro lá.
Mas por enquanto, essa pequena amostra já me conforta o coração, e faz uma coisa que parecia quase irreal e inalcançável, um pouquinho mais fisicamente real e próxima.
MAO
P.S.: o quadro do Ferrari Enzo em Bonneville foi pintado pela minha esposa a partir de uma foto da revista Road & Track. Outro item de automobilia que me esqueci de comentar...
E a caixa da porsche?
ResponderExcluirTem/tinha um motor alí?
MAO, sensacional!
ResponderExcluirFico feliz em ver que a lembrança valeu mesmo o trabalho que deu pra pegar! hehehe
abs!
é, realmente ha coisas que pras outras pessoas parece inutil (e as vezes é mesmo) mas que tem um grande valor por representar algo que prezamos. eu chamo isso de "tranqueirabilia", pois varios desses itens só ocupam espaço, mas nunca vou jogar fora. exemplos: um manual de motores ford de 1952, um velho poster da vw dos anos 90 na parede, uma vela escrito "volvo" que saiu de algum carro sueco, dezenas de folhetos e brindes das feiras de automoveis por aí, mais de 500 revistas, mais de 500 miniaturas, um velho calendario da continental pneus, um livro que ganhei numa visita a fabrica da vw...
ResponderExcluire no futuro quero adquirir esse porsche: excellence was expected. por enquantoso posso adquirir "o pequeno grande livro da porsche" e "porsche: a lenda"(risos)
abraços
MAO,
ResponderExcluirQuando vier aqui para Utah em Bonneville, nao esqueca de me ligar. O Milton tinha meu cell e nao me ligou.
O carro que sua esposa pintou e do Ricahrd Loose. Entrei nesse carro varias vezes e falei muito com ele muito sobre essa Enzo um dia antes de ele bate-lo na I-80, destrui-lo inteiro e quebrado 3 costelas, estourando o Rolex do pulso, etc.
Ah sim, o carro esta na California agora sendo refeito e tenho fotos deles na oficina. E sabe como fizeram com as partes da carroceria? Bem, fizeram um P3/4 que o Arnoux dirigiu a partir de uma Enzo e o dono guardou as pecas da carroceria que depois vendeu a Loose.
Assim o Cavalo de Loose (como ele o chama) vai ficar curado.
A batida foi tao forte que motor ficou de um lado e o monocoque de Carbon Fiber do outro.
Alias, depois ele escreveu um artigo super bacana para a R%T do que e cair do cavalo com a Enzo e com um cavalo que ele tinha quando crianca aqui em Utah.
Um abraco.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMAO,
ResponderExcluirvoce sempre surpreende, escrevendo bem sobre coisas que a maioria ignora, ou não percebe.
Gostei, e já me inspirou.
Abraço.
Muito legal mesmo este post! Posso imaginar a emoção que você sentiu ao instalar o comando no seu Opala. Deve ter sido a mesma coisa que senti quando instalei o AP2000 em meu primeiro carro, um Passat 1981, lá nos idos de 1996.
ResponderExcluirTambém tenho o sonho de algum dia ir à "meca" da velocidade, Boneville Salt Flats. Não preciso nem dirigir um carro por lá, só pisar naquele solo sagrado já basta!
MAO
ResponderExcluirAinda não sei se vc é um poeta ,um contador de causos ou um entusiasta, só o que sei é que vc consegue transmitir atravez de poucas palavras, a esperança de que ainda tem jeito e que nem tudo está perdido .
Ronaldin,
ResponderExcluirÉ uma caixa de 3 livros, "Exellence was expected", de Karl Ludvigsen.
MAO
Belli,
ResponderExcluirValeu mesmo!!!
MAO
CF,
ResponderExcluirte ligo sim, fique tanquilo!
MAO
Zé da Silva,
ResponderExcluirObrigado cara, se ajudei em algo já fico feliz.
MAO
Sabe MAO, 3.000 revistas do gênero e duas estantes de livros... sua sala deve ser parecida com a minha. Mas esse montinho de sal me emocionou... O glorioso recordista neozeolandês Burt Munro (do Filme Desafiando os Limites) levou 60 anos da vida para poder aravessar o mundo e conseguir realizar um sonho de correr em Bonneville Salt Flats. Depois de todas as dificuldades encontradas no caminho (isso em 1962 ou 63) ele consegue pisar no "sal" e diz: "Esse lugar é sagrado" Logo meu querido, você quarda um montinho do terreno mais sagrado do nosso mundo. Coloque-o numa capela !! rsrsrs Congratulations...
ResponderExcluirMAO,
ResponderExcluirPoeta.
Sempre surpreende
Eu costumo guardar algumas coisas que compro pro meu carro. Caixas, manuais, encartes promocionais e uma colação de revistas. Minha mãe e minha irmã dizem que são lixo...
ResponderExcluirCaro MAO,
ResponderExcluirPassei por uma experiência parecida com a sua: em 1988, comprei um comando de Chevette 0km, levei-o comigo aos EUA, e de lá o despachei via UPS para a Iskenderian, acompanhado de uma carta com os specs requeridos. Na última etapa da minha viagem, recebi, também via UPS, o comando devidamente preparado. Não lembro se veio com a latinha de graxa, mas tenho as instruções de montagem e os adesivos "Isky Cams" guardados até hoje. E o comando vai muito bem, obrigado, ajudando o Chevettinho 75 a deixar muita gente com um baita ponto de interrogação em cima da cabeça.
Mas a parte mais engraçada foi quando eu ia embarcar de volta ao Brasil com o meu precioso comando embaixo do braço, dentro da caixa de papelão da Isky. No aparelho de raio X do aeroporto, o comando ficou com cara de metralhadora ou coisa parecida. Como os tempos eram outros, uma simples explicação aos fiscais foi suficiente para desarmar os espíritos...
MAO, você é um BARDO da combustão interna! um Shakespeare do asfalto...
ResponderExcluirm
Obviamente eu tenho esse livro.
ResponderExcluirA biblia.
Abs!!
MAO,
ResponderExcluirFaltou voce explicar como ficou o Opala com este comando 260/260.
Isso aí era advertised duration ou duration @ 0.050"? Parece muito pouco para ser advertised duration.
Mudando um pouco de assunto: voce não tem vontade montar um Opala turbo? Se existe um troço automobilisticamente maligno nacional é o bom e velho motor linguição com um turbo bem grande. Se bem que pode se tornar um moedor de câmbios, hehehehehehehe.
Apesar de eu ser um grande fã de motores V8, um linguição turbo é capaz de gerar um torque similar a um V8 bigblock!
Mahar,
ResponderExcluirVc foi um dos que me formaram. Li muito você na saudosa Motor 3.
Vindo de ti, é um elogio e tanto. Muito obrigado mesmo pelo elogio, e por tudo que você me ensinou!
MAO
Bussoranga,
ResponderExcluirO comando era advertised, bem calminho mesmo...Mas frente ao que vinha originalmente num 4100, já deu pro gasto. Ficou muito bom.
Um amigo próximo teve um seis turbo, andei muito, e gosto pacas. Provavelmente é o que terei no próximo opala, se não for fazer V8.
Mas dei um tempo em Opalas. Uma hora volto a eles (sempre volto, é como minha casa), mas por enquanto, não.
MAO
Paulo Levi,
ResponderExcluirVocê ainda tem o Chevette? me conta mais!
mao4100@ig.com.br
MAO
Songa,
ResponderExcluirAdoro este filme também, é muito bem feito. A casa/barracão do Munro é idêntica a de verdade!!!
Esse filme é um trabalho de amor. Por isto é tão legal.
MAO