Não dá para acreditar que um sem-número de pessoas, até da indústria automobilística, para não falar dos jornalistas especializados em veículos e de economia, chamem a fábrica da foto de montadora. Os mais atentos sabem que essa fábrica é a: da Fiat, em Betim, MG. São 3.000 carros "montados" por dia, a maior produção do mundo numa única unidade fabril. Área, 2,2 km². Mas é uma "montadora"...
Montadora com uma vasta ala de prensas de estampagem de peças de carroceria, um enorme parque de robôs de solda para armar carrocerias, um grande seção de usinagem de componentes de motores e transmissões e uma respeitável seção de pintura.
A Toyota, foco de reportagens em todo o mundo devido aos problemas de acelerador de seus carros – uma autêntica histeria, diga-se – tem sido citada, de boca cheia, como "a maior montadora do mundo".
Como somos os únicos certos no mundo, e estando os outros errados – carros não se fabricam, se montam, como os jogos de armar Lego – vamos então ensinar aos povos do planeta, da potência do Obama à quer-ser potência do iraniano louco Ahmadinejad, que fábrica de automóvel já era, agora é montadora.
Curiosidade: dia desses vi na revista argentina Auto Test, do mesmo grupo da revista Carro (uma das onde trabalho), a Motor Press International, um texto no qual se lia a expressão las terminales, as terminais, referente às fábricas. Aí fiquei sem saber se "eu sou você amanhã" ou se "eu sou você ontem", quem primeiro teve vergonha de dizer 'fábrica' ou 'fabricante' ou, pior, quem quis bancar o erudito e encher a boca com "montadora" ou "terminal"....
BS
Seguindo essa lógica de "montadoura":
ResponderExcluir- uma fábrica de pães e bolachas se transforma em "batedoura";
- uma fábrica de laticínios vira "pasteurizadora";
- um escritório de advocacia vira "defendedoura";
- a polícia vira "prendedoura"...
Abraço
Bera Silva,
ResponderExcluirBoa!
Essa mania de chamar fábricas de automóveis de montadora vem, em parte, delas próprias. Vira e mexe vê-se uma campanha publicitária onde aparece em destaque coisas do tipo "a montadora número um do Brasil", "a montadora líder de vendas nos últimos X anos" e por aí vai...
ResponderExcluirMontadoras, de fato, são os fabricantes de computador, que compram tudo de fora e montam as placas de circuito impresso na fábrica (e, mesmo assim, houve todo o desenvolvimento do projeto, para somente depois efetuar a fabricação dos componentes em fornecedores independentes). Mas é interessante que, para computador, todos se referem a fabricantes, vai entender...
Engraçado que esses bobões das grandes redes de comunicação nunca chamem a Boeing, a Airbus ou a Embraer de montadora. Como nem motores elas produzem (compram da GE, da Pratt & Whitney, da Rolls Royce etc.), creio se enquadrarem bem mais na categoria do que nossas fábricas de automóveis. Aliás, fábrica é uma palavra tão cheia de bons significados, tão bela, que por vezes fico feliz de não vê-la na boca de alguns imbecis.
ResponderExcluirAbraço!
Acredito eu que isso se deve ao fato das primeiras atividades da Ford e GM no país, apenas montando os carros que vinham ao país desmontados. Cada parafuso era importado, colocando apenas alguns pouco componentes nacionais (CKD).
ResponderExcluirDepois outras empresas fariam o mesmo, popularizando o termo. Só que o termo ficou mesmo após os anos 50.
Bom, é uma opinião...
Por essa ótica ridicula, eu trabalho numa montadora de fulões...
ResponderExcluirNos EUA e em UK eles chamam de "auto-maker", ou seja fabricante de automnóveis.
Artur.Y,
ResponderExcluirAté onde minha memória alcança, começou bem no início dos anos 80, no âmbito da própria Anfavea, a Associação Nacional dos FABRICANTES (e não das montadoras...) de Veículos Automotores. Nunca havia-se falado em montadora no período pós-implantação da indústria automobilística, setembro de 1956 em diante.
Muito bem lembrado Bob, o Fabricio ja tinha feito um editorial do Best Cars uma vez comentando isso, também acho horrível terem adotado o termo "montadora" para as fabricantes de automóveis, o pior é que isso virou padrão nos diversos meios jornalisticos.
ResponderExcluirEles querem ser "chique" eheheh... liga não.
ResponderExcluir[]s
Olá, Bob. Sei que esta é uma das "cruzadas" da sua vida, mas, sinceramente, não me importo muito com a maneira como as fábricas são chamadas, posto que aquilo que sai delas continua sendo a mesma coisa (carros), e chamem como chamarem (montadora ou fábrica, embora também prefira a segunda) isto não interfere na minha vida prática, caso em que as coisas começam a me irritar para valer. Quer um exemplo? Você ir a um supermercado, comprar coisas de supermercado, e na hora ir ao caixa pagar, ter que esperar três ou quatro sujeitos pagando contas de luz, telefone, gás, etc, o que deveria ser feito em bancos. O mesmo se dá quando se vai fazer uma fé na casa lotérica. Isto sim, me irrita profundamente.
ResponderExcluirInterfere sim na vida prática.
ResponderExcluirAté mesmo professores de Engenharia de Produção da Poli-USP chamam as fábricas de montadoras e defendem com unhas e dentes que assim sejam denominadas.
Defendem ferrenhamente que elas não fabricam mais carros, pois compram as peças de fornecedores.
Acabam por doutrinar um sem-número de futuros engenheiros, arquitetos, designeres, enfim, profissionais de áreas intimamente ligadas à indústria em geral, não somente automotiva.
Imagine a visão distorcida que esses profissionais terão de suas próprias atividades?
Só para exemplificar:
Há pouco, semestre passado, houve um trabalho de projeto de produto no curso de Design da FAU-USP cujo tema era Transporte Urbano.
Pois bem, os grupos deveriam projetar um veículo urbano compacto com três rodas, ou seja, um triciclo compacto.
O projeto deveria englobar inclusive aspectos mecânicos, ou seja, definição de suspensão, trans-eixo, e tudo mais. Um trabalho quase de engenharia.
O projeto desenvolvido teria de dar origem a dois veículos diferentes. Ou seja, deveria haver o desenvolvimento de uma plataforma.
Os professores responsáveis pela disciplina são dois acadêmicos conhecidos e respeitados em suas respectivas áreas, Engenharia um e Design o outro.
A maioria dos alunos sequer sabia o que era plataforma, imagine então suspensão McPherson?
Enfim, imaginem o tamanho da confusão.
Mas aí o problema é que os dois professores também não tem uma formação adequada em automóveis.
Levaram um outro professor para dar uma aula sobre automóveis, mas o sujeito sequer sabia explicar a diferença entre um motor 8V e 16V.
O problema todo não foi a bagunça que se tornou esse trabalho.
Mas sim a martelação que foi em cima do termo montadora. Todos os professores que se apresentaram nessa disciplina insistiam que hoje não há mais fábricas de carros. A Toyota é o maior exemplo de que hoje existem montadoras, não fabricantes.
Como é que fica então? À população em geral não faz diferença, mas e a essas pessoas?
Isso cria uma visão totalmente errada sobre a indústria automotiva.
Só não criei caso por não eu não ser aluno, professor ou qualquer coisa ligada ao curso em questão.
Apenas ajudei um dos grupos a desenvolver seu carrinho...
Mas a cada vez que algum idiota versava sobre montadoras, me dava vontade de mandá-los ler os diversos textos do Bob sobre o assunto.
No fim, acredito que o tiro deles tenha saído pela culatra.
Pois o trabalho foi tão extenso e complexo, que os grupos que o fizeram corretamente perceberam que as fábricas realmente são fábricas, não apenas "juntadoras" de peças.
Perdão pelo longo texto.
Em tempo,
ResponderExcluirultimamente reparei o uso do termo "automobilístico" no lugar de "automotivo".
Indústria automobilística, setor automobilístico...
Além da troca de "elétrico" po "eletrônico".
Regulagem eletrônica do assento do motorista.
Esse país tá perdido....
Belo exemplo, Kenji.
ResponderExcluirTenho o intuito que muitos defendem esse termo "montadoras" porque ALGUMAS peças vem de fora da fábrica. Pra mim isso só se resumiria ao regime CKD.
Mesmo as fábricas de carros artesanais não são meras "montadoras". Há um trabalho de engenharia por trás disso. Como já o MAO já nos disse: Um carro nunca é somente a soma de seus componentes. Sempre haverá diferenças dos modelos que lhe doaram suas partes.
Não é mero erro gramatical, é uma falha de generalização bem ridícula.
Kenzo: para mim, continua não interferindo em nada, e nem os engenheiros terão "visão distorcida" de suas atividades. A atividade deles é uma (projetar), e se à realização deste projeto chamarem de "montagem" ou "fabricação", tanto faz, o produto final será o mesmo. Já ficar mais meia hora em cada fila que eu for enfrentar, por conta de gente que deveria ir ao lugar certo para cumprir determinadas atividades, isto sim intefere na minha vida prática.
ResponderExcluirE eu aqui esperando algum " homenzinho verde" dos softwares dessa fábrica imensa desenvolver um simples programa decente pro T-JET , de uns 190 Cv , e ainda calçá-lo de Michelins no lugar de P6.
ResponderExcluirDo jeito que está, micou.
Com relação à visão distorcida da atividade, posso afirmar que isso acontece.
ResponderExcluirIndependentemente se a atividade seja projetar e o produto final, carro, existem engenheiros hoje que não conhecem a estrutura da organização e do mercado em que atuam.
E o exemplo que você dá de vida prática, cotidiana é tão deslocado que fica difícil comparar, desculpe.
Da mesma forma, então eu comparo, para que questionar a veracidade das informações contidas nos rótulos dos alimentos se o que me importa na vida prática é se tem ou não moedinhas de um centavo de troco no caixa?
Não confunda bife à milanesa com bife ali na mesa.
Cada problema no seu âmbito... Já disse aqui no fórum minha opinião: se eu questiono e me indigno com muitas coisas, é porque me importo.
Ah, e longe de mim querer te convencer de algo.
ResponderExcluirTenho minha opinião, você tem a sua e vice-versa.
Assim que deve ser.
Kenzo, não sou engenheiro, mas acredito mesmo que existam tais profissionais que não conhecem a estrutura da organização em que atuam, entretanto, isto já é outro caso. O sujeito conhece ou não conhece, independentemente de nomenclaturas. Seu exemplo de vida prática é que está deslocado. Se a informação do rótulo de alimento diz "um quilo" ou "mil gramas", tanto faz, não muda nada. Só muda se afirmar que tem este peso, e não tiver. No caso das fábricas de carros é a mesma coisa: saem carros de lá, não importa se digam que foram "montados" ou "fabricados". Também não quero te convencer (nem ao Bob) de nada, só mostrar que na vida prática, chamar de um nome ou de outro, não altera o produto, tal como chamar de arqueiro, goleiro, ou goal-keeper, não muda a função daquele cara que está lá. Mas concordo, fiquemos então, com nossas opiniões, já que nenhum de nós vai conseguir convercer ao outro.
ResponderExcluirNomenclaturas e conceitos são elementos dijuntos.
ResponderExcluirMontadoras e fabricantes se referem a coisas distintas.
Por ter essa formação enviesada é que está difícil atualmente encontrar não somente engenheiros, mas pessoas com visão estrutural e integradora das coisas.
No caso dos rótulos dos alimentos, pensei em algo como estar escrito "Alimento geneticamente modificado" ou "Alimento transgênico".
Nomenclaturas semelhantes, porém conceitos e produtos diferentes.
Mas é isso aí mesmo, viva as opiniões!
Ok, Kenzo, poderia continuar o assunto, mas conforme você disse, "viva as opiniões", e conforme eu disse, "não vamos convencer um ao outro", portanto vou dar por encerrado este debate, para que não se estenda "ad infinitum". Até (quem sabe) outra ocasião, então, he, he!
ResponderExcluirAbraço.
Bob,
ResponderExcluirContinuemos na luta!
Eu faço a minha parte, minha família e amigos já sabem: montadora é o escambau!
MAO
BS,
ResponderExcluirSe minha memória não falha, a primeira vez que alguém chamou um fabricante de carros de "montadora" foi o próprio Mário Amato, ex-presidente da FIESP.
Isso foi em meados da década de 80. Me corrija caso voce se lembre de algo diferente.
Antigamente existiam as agências de mudança e transportadoras.
ResponderExcluirAgora são todas "Logísticas"
Tenho notado que os integrantes do Autoentusiastas andam com uma certa predileção por esta "montadora" localizada em Betim...
ResponderExcluirAquele post do 500 foi o ápice do puxasaquismo, então o que rola afinal?
Não quero ser agressivo, mas parecia que estavsa lendo um informe publicitário da 4 patas...