Attwood à direita, com Steve McQueen |
Richard James David Attwood nasceu em 4 de abril de 1940, na cidade de
Wolverhampton, na Inglaterra. Iniciou sua vida profissional no mundo automobilístico como
aprendiz de mecânico na Jaguar, justamente na área de competições. Sua
experiência nas lojas e oficinas de automóveis do pai, Harry, sem dúvida o qualificaram como uma
pessoa com prática nessa área, o que sempre lhe ajudou nos desenvolvimentos
dentro das equipes pelas quais pilotou.
Se não foi um piloto com grande número de sucessos,
foi um dos principais responsáveis por uma das mais importantes vitórias da
história das corridas, pilotando um dos carros de maior adoração no meio
entusiasta, de uma das marcas mais dedicadas ao esporte a motor.
Começou a correr em 1960 com um Triumph TR3. Sabendo
que um futuro mais sólido se fazia em carros de fórmula (ao menos era isso o que ele acreditava), em 1961 passou para a
categoria Junior, uma das escolas mais importantes na época. Pilotou por uma
equipe que investiu sério e resolveu ir além do solo do Reino Unido, a Midlands Racing Partnership.
Um Lola Mk5A como o que Attwood pilotou |
Com suas ótimas corridas nesse ano, ganhou o Grovewood Award, prêmio instituído pelos
repórteres e jornalistas de corridas, o Guild of Motoring Writers.
Daí foi só progresso, com a equipe passando a
competir na Fórmula 2, e Attwood vencendo na Áustria e conseguindo três segundos
lugares. Era um tempo em que os pilotos de Fórmula 1 competiam esporadicamente
na Fórmula 2, tanto por contratos de equipes associadas, quanto apenas por
vontade, já que haviam menos corridas por ano do que hoje. Era preciso manter as
habilidades e cobrir distâncias de corrida da forma mais real possível, e
correr contra jovens e famintos pilotos colocava sempre todos à prova. Na pista
de Pau, na França, Attwood chegou em segundo, atrás apenas de Jim Clark, que corria para a equipe de
fábrica da Lotus.
A habilidade de Attwood ao volante e seu conhecimento prático em automóveis de pista chamaram a atenção de todos, e a BRM o contratou para a Fórmula 1, ficando em quarto lugar na primeira prova em que participou com o P57, atrás apenas dos carros de fábrica da Lotus, e o único não-Lotus na mesma volta do líder. O estreante correspondera totalmente.
A corrida seguinte seria com o P67, carro experimental com tração nas
quatro rodas, justamente no GP da Grã-Bretanha. O carro era pesado, e Attwood
conseguiu classificá-lo para a prova,
mas em último lugar. A BRM decidiu não correr, pois era apenas uma experiência
que tinha tudo para dar errado. Um erro histórico, e que deixou Richard muito
contrariado.
BRM P67 com Richard Attwood ao comando |
Talvez por essa decepção somada a outros fatores, em
1965, Atwood foi trabalhar para Tim Parnell, em sua equipe particular, dirigindo
um Lotus 25, que já era antiquado. Um motor BRM nesse carro, somado à idade do
chassis, o fez totalmente não competitivo e apenas dois sextos lugares foram
conseguidos no campeonato.
Nos dois anos seguintes, o trabalho foi na Austrália e Nova Zelândia, na Tasman
Series, onde ganhou uma corrida, fez uma prova na Fórmula 1 e algumas na Fórmula 2.
Decidido a buscar boas oportunidades de outra forma, passou dos fórmulas às corridas de carros esporte, onde ele despontou de
verdade, com seu nome passaria aos livros. Participou das 24 Horas de Le Mans desde 1963, ano em que estreou com um Lola Mk6 modificado, dividindo a pilotagem com David Hobbs. Se a colocação não foi digna de nota, nesse tipo de prova chegar ao final na estréia já pode ser considerado algo memorável. Estava claro que sua maior habilidade não era a velocidade pura, mas a capacidade de fazer um carro funcionar bem por muito tempo.
Pequeno e leve, mas apenas o 22º lugar em Le Mans |
Ainda em 1964 Atwood já se envolvera com a Ford, que trabalhava fortemente o
GT40. Nesse mesmo ano, em parceria com Jo Schlesser, correu a 24 Horas de LeMans,
mas o carro se incendiou. Nesse ano, sua única vitória foi na 9 Horas Rand,
na África do Sul, com o Ferrari P2 de David Piper. E aí começou a mais
duradoura parceria.
Com os Ferrari verdes da equipe de Piper, o 250 LM e o 330P3/4, obteve boas colocações no campeonato mundial de carros
esporte, mas sem vencer corridas. Foram um terceiro lugar na 1000 km de Spa e
um segundo na 500 km de Zeltweg, uma das mais espetaculares pistas do mundo,
na Áustria, em 1967. Aliás, esse é um circuito que nunca deveria ter saído do calendário da Fórmula 1.
Ferrari 250LM de Piper e Attwood |
Ford P68 na 1000 km de Nürburgring de 1968 |
Em 1969, Atwood foi correr para a equipe de fábrica da Porsche, quase
sempre dividindo banco com o britânico Vic Elford, e conseguiram dois
segundos lugares com o 908.
O mundo das corridas viria a conhecer o poder da Porsche com
a ajuda de Attwood, pois ele foi um dos
responsáveis pelo desenvolvimento de um dos carros esporte de maior sucesso, o
917. A dupla fez 327 voltas em Le Mans na estréia do carro, que abandonou devido
a um câmbio quebrado, faltando apenas duas horas para terminar, após liderar boa
parte do tempo.
O aprendizado foi enorme, e no ano seguinte, 1970, colocou na história a marca Porsche na lista sagrada dos vencedores do circuito de La Sarthe. Venceu com o 917K, com o parceiro Hans Herrmann. Primeira das 16 (dezesseis) vitórias da Porsche na prova mais difícil do automobilismo de competição de longa distância.
Conseguiram também o segundo lugar em Nürburgring nesse mesmo ano, com o mais antigo 908.
A maior vitória, e a primeira da Porsche em Le Mans |
Algumas semanas depois da vitória na lendária pista francesa,
começou sua participação no filme de mesmo nome, "Le Mans", onde atuou como piloto em
várias cenas e na consultoria, tendo convivido com o ator Steve McQueen, um verdadeiro
entusiasta de corridas. O parceiro e grande amigo de tantos anos, David Piper, também
participou do filme que foi feito de forma tão realista que até mesmo acidentes graves aconteceram. Num deles Piper bateu e perdeu parte da perna
direita.
Le Mans 1971 foi de sucesso também, embora em
segundo lugar, num 917 da equipe de John Wyer, com quem havia trabalhado anteriormente no programa de desenvolvimento do GT40, além de vencer a 1000 km de
Zeltweg, sua última corrida como profissional, com apenas 31 anos de idade.
Sem dúvida alguma, seu casamento foi um ponto de decisão que o levou para longe das competições como piloto, já que sua esposa declarou certa vez que nos primeiros anos de vida conjugal fora a mais velórios do que casamentos.
O vitorioso, conservado, em foto de 2010 em Goodwood |
Em 1984, porém, voltou à ativa brevemente, como um dos participantes do programa Nimrod da
Aston Martin, carro que nunca teve resultados encorajadores.
Continuou porém figura freqüente em provas de carros de corrida antigos, onde Atwood
usava o 917 de sua propriedade, o mesmo carro utilizado por Steve McQueen no
filme "Le Mans", mas agora com a mesma decoração do seu carro vitorioso em 1970.
Numa grande prova do desapego que todos devemos ter pelas coisas materiais,
Richard sempre se referiu a esse carro como “minha aposentadoria”, e de fato, o
vendeu em leilão no ano 2000, arrecadando um milhão de libras esterlinas de um negociante americano, que posteriormente o
vendeu a ninguém menos que o ator comediante Jerry Seinfeld, um “Porschófilo”
de carteirinha.
Attwood mostrara de forma simples que mesmo tendo sucesso devido às
corridas, o símbolo de seu maior sucesso não precisava ficar guardado
como um troféu, com uso esporádico. Considerou mais importante o conforto de
sua família, que pôde ser garantido pela venda. Uma grande lição para quem considera
automóveis a coisa mais importante da vida, quando na verdade deveria ser apenas um motivador para coisas maiores.
Outro comportamento interessante
é que ele nunca teve adoração por carros de rua, sempre sendo notoriamente econômico
em suas compras. Teve por muitos anos uma perua Peugeot 405, que passou de meio
milhão de quilômetros em suas mãos, e um Audi A8 que tinha mais de 250.000 km na última informação obtida, com mais de um ano. Ambos comprados usados.
Tem hoje 73 anos e continua ativo
nos eventos do esporte, como Goodwood, por exemplo, e nas corridas de
históricos em Silvertone, cidade em que reside.
No vídeo abaixo, Richard
Attwood fala um pouco sobre o 917K:
JJ
Caramba, JJ. Muito interessante essa biografia. Entendo o despojamento dele, é do signo. Enjoou, passe adiante e realize o próximo sonho. Pra que fazer coleção de sonhos dos outros? Vida longa a ele. Tenho o filme e vez enquando assisto.
ResponderExcluirPenso porque a porsche e também a yamaha, duas marcas que venero, não voltam à formula 1. Seria muito bom torcer por marcas de histórico tão rico.
Acho que o último carro com motor porsche na formula 1 foram os mclaren MP4/3 de 1987 e os yamaha foram em 1997. Parece que a ford e a volvo usam motores v8 da yamaha atualmente.
Luiz CJ.
Luiz CJ,
Excluirao menos teremos a Porsche de volta a LeMans em 2014.
Nossa! Já tinha me esquecido das tardes lendo as antigas Quatro Rodas dos anos 60 e inicio dos anos 70, quando definitivamente me apaixonei por automóveis e alguns tipos de corrida. Entre elas, Le Mans. Realmente uma homenagem a alguém que,agora descobri, sem nunca ter me chamado a atenção, foi um dos que me inspiraram e mantém a paixão viva até hoje!
ResponderExcluirUm salve aos verdadeiramente autoentusiastas: Aqueles que amam o que realmente conhecem sem se preocupar com a fama...
Grande lição de vida...
ResponderExcluirPrimeiro desiste da vida de piloto em prol de sua esposa e depois desiste do carro que lhe deu maior glória, em prol do conforto familiar.
Parabéns!
Caramba, esse Ford P68 parece um protótipo do começo dos anos 90! Merece um artigo!
ResponderExcluirLorenzo Frigério,
Excluirnem me diga, esse carro é uma das coisas com quatro rodas mais lindas que já vi.
Sugestão anotada mesmo antes de você pedir !
Juvenal, mandei um e-mail dias atrás ao endereço do blog, sugerindo um artigo sobre o Iso Grifo/Bizarrini 5300 GT, espero que vocês tenham recebido. O Iso Rivolta Lele, que parece uma experiência anterior do design aplicado ao Passat B1 também vale a abordagem; só descobri que ele existiu ao pesquisar o Grifo.
ExcluirSr Feigerio
ResponderExcluirEsse carro e bonito mas nunca foi um bom carro
Cheio de problemas de estabilidade em alta velocidade panes elétricas e mecânicas
Nunca terminou uma corrida sequer
Outro exemplo de carro bonito mas ruim de pista e o notório Copersucar F06 que foi muito mal sempre
Pois e te joguei um balde de água fria nao acha? Mas e a verdade
Boa noite e Durma bem
JJ; Ótima reportagem. Vc, como sempre, tem bom gosto. De vez em quando coloca uma destas. te garanto que todo mundo vai gostar. Abs. MAC
ResponderExcluirEsse motor BRM com chassi antiquado não era o motor Coventry Climax,ou estou enganado? Pois este era um motor bem fraco,apesar do ronco apaixonannte.
ResponderExcluirUma vez passou um documentário no Discovery afirmando que o 917 era perigoso de pilotar,a ponto de muitos pilotos o temerem,mas mesmo assim a sensação de andar nele na reta Mulsanne era uma das coisas sem comparação na vida. Junto com o Auto Union P-Wagen ele forma a dupla dos meus sonhos de consumo. Sonho quase impossível,mas mesmo assim um sonho!
Os carros de uso pessoal de Attwood nos passam uma lição:Não dar a mínima para o último modelo lançado e sair correndo para comprá-lo só para impressionar o vizinho. Saber exatamente o passo que se pode dar e ser feliz com isso.Sinais de responsabilidade e maturidade. Um viva para ele!