Por Rex Parker
Havia um, pelo menos, que queria sobreviver. É o nosso Parnelli Jones, hoje em dia vivo e saudável morando aqui perto de Los Angeles nos seus 75 anos, completando 76 em 12 de agosto que vem. Como e por quê? É que ele exigia correr só em carros nos quais tivesse confiança em sua resistência e segurança, embora isso não seja sugerir que as coisas sempre saíram bem. Na Indy de 1964 ele sofreu queimaduras fortes no rosto e nos braços quando o Watson Roadster dele incendiou-se no box. Fogo de metanol, invisível, mas fogo para valer de qualquer jeito.
Antes de correr com o Lotus, Agajanian e Jones mandaram o carro para Eddie Kuzma para redesenhá-lo e refazê-lo, usando apenas peças de durabilidade e resistência absolutamente comprovadas (especialmente da suspensão) e independente de considerações de peso e custo. E assim o carro participou da Indy de 1965, não tão rápido como o Lotus 38 vencedor do Clark, mas chegando sem problemas em segundo.
Mais um exemplo de cuidado. Depois de quase ganhar a Indy de 1967 com o STP turbina (“Silent Sam”), Parnelli era o candidato óbvio para correr com o novo e revolucionário Lotus 56 turbina na Indy do ano seguinte. Há até uma foto dele com Andy Granatelli, dono da STP, Colin Chapman e Jim Clark durante testes em Indianápolis em março de 1968, sugerindo-o como parte de um dream team com Jones e Clark. Mas o time de sonho não saiu com a morte de Clark em Hockenheim em abril de 1968 e o Parnelli, desistindo.
Desistindo? Por quê? O Parnelli era fascinado pelo conceito e desenho do Lotus 56, mas apesar disso ele não tinha confiança na durabilidade e na segurança do carro. Sábia decisão. A suspensão do carro do Mike Spence quebrou num treino antes da corrida, a roda dianteira soltou-se do carro e bateu em Spence, no capacete. Spence morreu na hora. E o Graham Hill, em outro Lotus 56, teve uma quebra de suspensão durante a corrida, não se machucando mas tendo de abandonar. O Parnelli acabou não correndo na Indy de 1968, e acabou que nunca mais correria lá. Talvez por isso ele ainda esteja conosco.
Interessante que o Parnelli não confiasse na construção do Lotus 56, mas o carro n°. 60 de Joe Leonard – que quase ganhou a aquela Indy – hoje faz parte da garagem dele. Quem sabe escrevo sobre esse carro num próximo artigo?
RP
Os experimentos do Sr. Chapman, geralmente geniais, nunca levaram muito em consideração a integridade do piloto, vide experimentos com as asas em 1968.
ResponderExcluirSeu conceito extremo de "que o carro devia se desmanchar ao cruzar a linha de chegada" gelou a espinha de muito piloto com as quebras graves e inesperadas.
Para quem conhece o Rex, sabe que a qualidade do artigo não poderia ser outra. Excelente !!!!
ResponderExcluirBy the way, eu tenho uma foto em que estou ao lado desse Lotus turbina no Hall da fama de Indianápolis.
que bom que hoje temos regras e normas no automobilismo que visam a integridade fisica e segurança do ser humano, o automobilismo aprendeu e evoluiu muito com os erros, apesar de que, na minha opinião, apesar de toda a evolução que temos hoje, já "quiseram" inventar algumas regras perigosas e desnecessárias na formula 1
ResponderExcluirCuriosidade com relação ao motor Ford que o Jim Clark usou para vencer em Indianápolis, em 1965.
ResponderExcluirEm 1967, Dan Gurney construiu o Eagle para a Indy 500 e fez duas versões de motorização para o mesmo projeto. Uma com motor Ford e outra com motor Offenhauser. Eu tenho ambos os modelos em escala 1:25.
vocês não acham esse modelo de Lotus Ford, mais bonito que os Formula 1 que temos hoje?
ResponderExcluirnão sei porque mas acho muito mais cativante esse design, podem não ser o primor em tecnologia e aerodinâmica, mas éram muito mais bonitos
Ótimo o texto.
ResponderExcluirAprendi bastante em poucas linhas e fotos
Rex Parker com a palavra é de uma intensidade de conteúdo fantástica
O que mais me fascina nas corridas antigas é justamente a falta de segurança da época e o arrojo dos pilotos. Mesmo a bordo de carros sem o mínimo de segurança, os pilotos andavam no limite volta após volta, num ritmo alucinante!
ResponderExcluirOs que conseguiram chegar à velhice de forma natural, podem ser considerados verdadeiros sobreviventes.
Eu lembro de ter lido um artigo do MAO no BCWS que o Colin teria dito: "É o trabalho do engenheiro construir pontes que agüentem somente o que foram projetadas para agüentar. Pontes que agüentam tudo, qualquer um pode fazer".
ResponderExcluirNão é algo que um piloto que arrisca sua vida numa corrida gostaria de ouvir, mas não deixa de ser interessante.
Sr. Parker, mais um ótimo texto!
ResponderExcluirÉ uma pena que somente após a perda de muita gente boa que foram "inventar" as normas de segurança no automobilismo.
Ao que parece, os carros de fórmula não “engordaram” muito após a evolução em termos de segurança, talvez pela adoção de materiais nobres, leves e resistentes. Não se pode dizer os mesmos dos automóveis de rua...
É Mr. Parker, sensacional esse seu texto! Se for possivel, algum dia manda alguma coisa sobre os motores Offy que o Waldemar Colucci comentou, por favor.
ResponderExcluirEu gostaria de saber de coisa mais recente, como o motor especial que a Penske tinha em 1993 e 1994 com o qual podia escolher dos 33, ou era Emerson ou era Al Unser Jr que chegaria na frente...
ResponderExcluirRoad Runner,
ResponderExcluirRecentemente, ao dar uma palestra na FEI, o ex-piloto Bird Clemente respondeu ao jornalista Flávio Gomes, que havia afirmado ser essencial segurança nas corridas: "Experimente tirar os chifres dos touros e veja o que acontece com as touradas". Foi aplaudido de pé.
Nossa,depois dessa o Bird fez o Gomes rodar com o meianove em plena reta.......
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