Fotos: autor e divulgação
Não é nada agradável ver um destes pelo retrovisor nos EUA |
Carros são feitos para transportar
pessoas. Pelo menos para quem não mora em São Paulo, onde o prefeito acha que basta uma
lata de tinta para criar espaços do nada. Tanto que hoje São Paulo já não tem
problemas de trânsito, simplesmente porque não existe trânsito. A cada dia se
pára mais e se anda menos.
Mas, os automóveis também servem
para diversão e alguns têm a mágica qualidade de transformar senhores já de
certa idade em
adolescentes. Nesta categoria certamente estão os
conversíveis (bugues incluídos), esportivos, muscle cars e alguns outros
poucos.
Um tempinho atrás, estive no Campo de Provas de Chelsea, da Chrysler, no
Michigan (EUA), onde rodei com vários carros, inclusive o Fiat 500 elétrico.
Entre os outros cerca de 40
modelos, havia um Dodge Charger Pursuit, um carro policial feito sob encomenda.
Um carro especial feito no rastro do final de produção do já saudoso Ford Crown
Victoria, cujo último exemplar saiu da linha em setembro de 2011.
Em seguida a
Chrysler já mostrou seu Pursuit, um carrão grande, com mais de 5 metros de
comprimento (5.077 mm), para ocupar o espaço do Vic (para os íntimos), uma
deliciosa banheira que era usada por todos os policiais americanos e que já
vimos ser destruídos as dezenas em filmes hollywoodianos de perseguição.
Muscle car de trabalho, com interior completo para a policia |
Pois bem, ao contrário de impor
respeito com sua cara de Bad Boy policial, o Charger Pursuit (literalmente perseguição) fazia todo mundo virar adolescente quando se abundava no Dojão. Antes
de ligar o motor, jornalistas de todo o mundo já conseguiam funcionar o sistema
de som, fazendo a sirene berrar e urrando frases como “mão na cabeça”, “de
joelhos”... em várias línguas. Claro que se ouviu muito português, já que
havia meia-dúzia de brasileiros no campo de provas.
Me lembrei de uma época que avaliei
uma Harley-Davidson policial aqui no Brasil. Até me esqueci da avaliação,
preferindo andar como um babaca pelas ruas com a sirene a toda, abrindo caminho
pelas ruas.
Com o Pursuit foi a mesma coisa: se
ouvia a sirene ligada em todas as pistas do campo de provas, enquanto o sistema
de alto-falantes mandava todo mundo ir para o acostamento. Pelo menos os carros
mais lentos.
Ricardo Dilser (Fiat) "prende" João Veloso (Chrysler) |
Brincadeiras à parte, o Pursuit é
um Charger com todos os paramentos de um carro policial, inclusive o pára-choque
dianteiro feito para dar batidas e tirar bandidos das estradas, além de empurrar carros enguiçados para o acostamento. Talvez o mais
curioso e revelador seja a forração interna do assoalho, de borracha em lugar
de carpete. Realmente um carro de trabalho.
Um trabalho gostoso, já que patrulhar
com um VOitão Hemi 5,7 (um 345-polegadas cúbicas) de 370 cv a 5.250 rpm é
realmente divertido. Bem melhor que rodar de Celta ou Uno, como no Brasil.
Ainda mais com a gasolina paga pelos contribuintes americanos.
Motor: um VOitão Hemi 5.7 de 370 cv e 54,6 m·kgf |
Mas o melhor do Pursuit, ou
qualquer outro Charger, não está na potência, mas no torque: são brutais 54,6
m·kgf que tiram o Bad Boy do acostamento e o levam aos 96,5 km/h (60 milhas por hora) em
menos de seis segundos, de acordo com a Chrysler.
Como se trata de um carro sob
encomenda e para frotas policiais, as especificações são variáveis e o preço,
negociável de acordo com a quantidade de carros. Há opção de motor V-6 ou V-8,
incluindo tração nas quatro rodas no completão. O câmbio é sempre
automático de cinco marchas, com Auto Stick, que permite trocas manuais. Na
configuração mais tradicional, o melhor é o motor V8Hemi (o lendário Dodge com
câmaras de combustão hemisféricas) apenas com tração traseira.
Seu peso beira
as duas toneladas (1.933 kg),
com toda a parafernália policial. São tantos recursos eletro/eletrônicos/policiais
que o alternador carrega até 220 ampères·hora.
Mesmo com tanto peso e o VOitão na
dianteira, a distribuição de peso é bem razoável, de 53-47%, apenas 6% a mais na
frente.
Não resisti. Um carrão para se ter uma foto de recuerdo |
Rodando, faz jus ao nome Charger
dos anos 1960/70: um muscle car de primeira qualidade graças ao torque
estúpido. E a Chrysler adota um sistema eletrônico de estabilidade e tração
bastante honesto: se você desliga, ele fica desligado, não importa quanta
besteira se faça ao volante. Ao contrário dos europeus, nos quais a eletrônica
teima em entrar quando acha que o carro está em “perigo”: basta você destracionar
10 cm
numa curva que o computador começa a frear rodas, cortar motor... bem na hora
que se está corrigindo a trajetória. No Charger, desligou, está desligado.
Duas toneladas que chegam às 60 mph em menos de 6 s |
E aí
haja pneu: se pode borrachar a vontade, colocando as duas toneladas de lado em
qualquer curva. Basta acelerar.
Claro, é um pouco mais lento e
menos obediente que outros Charger, por conta do peso dos acessórios policiais
e dos pneus. Apesar do aro 18, são série 60, o que num pneu 225 dá um enorme
“ombro” lateral. E ainda, rodas de aço.
Mesmo assim, foi uma delícia brincar de polícia com o Pursuit.
Mesmo tendo o perfil tradicional de
um V-8 americano (comando no bloco, duas válvulas por cilindro), a Chrysler
garante economia de combustível por conta de sistema que desliga quatro dos
oito cilindros quando se está cruzando em rodovias. Segundo
a fábrica, este Charger faz média de 9,8 km/l na estrada.
Enfim, entre os sonhos de consumo
com milhares de bugigangas das mega stores americanas, não custa colocar um
Dodge policial na lista. Só para andar por ruas escuras berrando “mãos na
cabeça”, “de frente para o muro”...
JS
Adorei a foto dois marmanjos brincando de polícia e bandido, he, he! Que poder destas máquinas sobre quatro rodas, em transformar homens em meninos! Ainda mais caracterizada de viatura policial, daquelas que faziam nossa alegria nas perseguições dos filmes. Do carro especificamente, nem vou falar: meu coração não é corintiano, mas é dodgeiro desde criancinha.
ResponderExcluirBonito carro, mas não é páreo para o Ford Interceptor...
ResponderExcluirNão dá nem para comparar com o que temos aqui...
ResponderExcluirSó de imaginar este bichão na estrada, pé embaixo, sirene e luzes ligadas, e danem-se os radares, dá água na boca.
ResponderExcluirComigo no volante, claro!
É isso aí, BlueGopher. A diversão foi exatamente essa, pé embaixo e mandando o pessoal ir para o acostamento. E felizmente Campo de Provas só tem radar para aferir a velocidade, não para multar.
ResponderExcluirJosias,
ResponderExcluirdeve ser demais de bacana um Charger nessa configuração. Fiquei morrendo de inveja aqui, pois lembrei do que usei há um tempo.
Veja aqui se você não se lembra: http://autoentusiastas.blogspot.com.br/2009/11/dodge-charger-melhor-do-que-o-esperado.html
Juvenal. Não morra de inveja, vc tbém andou em muita coisa bacana, inclusive o Charger original. Abraço
ResponderExcluirkkkk, Mto bom... bolei de rir aqui....... mais um belo texto...
ResponderExcluirE pensar que no final de uma licitação nossos Unos da polícia custam tanto quanto um tanque de guerra como esse.
ResponderExcluirPois é... Durante a leitura fiquei mesmo pensando em como q é o processo de compra desses produtos pelos americanos?? Alguém saberia dizer como q é por lá (e em outros lugares tbm)?? Eles tem um processo licitatório como o nosso aqui (certamente não tão burocrático e demorado.....)??
ExcluirAnonimo.
ExcluirNão sei exatamente como é feito o processo licitatório nos EUA, mas deve um pouco semelhante ao nosso. O que posso informar é que praticamente todos fabricantes tem um departamento de vendas para frotistas e geralmente se trata de uma venda direta, o que inclui orgãos governamentais. O Charger Pursuit estava em meio a todos os modelos da linha Fiat/Chrysler, como uma curiosidade. Acho que nem eles esperavam o sucesso que fez no Campo de Provas, exatamente pelo nosso lado adolescente, que ainda gosta de brincar com um carro sério destes.
Josias,
ResponderExcluirprimeiro, perdoe por não lhe chamar de senhor, já que tenho a idade aproximada do Bob (digo isso pelo tempo que o conheço (desde a Cota)), dai imaginar que vc não deve ser muito mais "rodado" do que eu.
Segundo, desculpe a mistura de alhos com bugalhos, mas tentei lhe escrever pelo e-mail que consta no Sorvete de Graxa, mas não foi aceito.
Então, mando por aqui os comentários relativos ao livro:
- Estou esperando o segundo volume do referido Sorvete de Graxa (que é sensacional !!).
- Comigo ocorreu o mesmo com relação ao "you are welcome", mas como insisti em mostrar que brasileiro não era bicho do mato, agradeci umas dez vezes por cada dica que recebia (e o correspondente "welcome" vinha junto).
- Se o seu espanhol ajudar, me diga por que ao tentar abrir uma porta dupla de vidro, em Porto Rico, o gerente da subsidiária local me disse "esta es una puerta para surdos".
Abraços
Oi Claudio.
ExcluirObrigado pelos elogios ao meu livro Sorvete de Graxa. Quanto a porta para "surdos", o gerente deve ter dito "zurdos", que tem quase o mesmo som. Só que zurdo significa canhoto. Acho que é por aí o mistério. Isto acontece muito com linguas latinas, com as palavras chamadas de "amigos falsos": tem o mesmo som, mas significado bem diferente.
Demorei um pouco, mas também descobri que eu não era surdo, apesar de canhoto.
ExcluirE aqui no Brasil temos, na melhor das hipóteses, hatches e sedãs compactos 1,6.
ResponderExcluirSó nas Polícias Federais que há sedãs médios 2,0...
Muito bonito esse carro! Prefiro-o muito mais ao Ford Interceptor.
Acho linda essas rodas de ferro com offset jogando para fora (estilo rodas de caminhonete)...
ResponderExcluirAi, que banheira maravilhosa.... Boa matéria!
ResponderExcluirOnde é fixado esse "parachoque", de maneira que não danifique a estrutura do carro? Alguém sabe?
ResponderExcluirMarcelo.
ExcluirNão consegui deitar embaixo do Pursuit por um motivo simples: ele não parava, todo mundo queria rodar com o Charger policial. Mas, inclusive pelo peso do carro, ele é todo reforçado estruturalmente e este para-choque deve ter reforços que avançam pelas longarinas dianteiras. É feito para aguentar pancadas. Não é um enfeite como se vê em algumas picapes ou SUVs.
Acho que o carro que mais se aproximaria aqui no Brasil seria o antigo Omega: motorzão, tração traseira, sedã grande. Mas se virasse viatura, talvez o carro iria perder o status para os consumidores.
ResponderExcluirMas por aqui a polícia prefere as picapes e suvs, ou populares compactos mesmo. Quem sabe a Gm não emplaca o Cobalt como viatura...
O problema não é o que a Polícia prefere, e sim o que os políticos compram para equipá-la.
ExcluirServe para preencher o vazio deixado pelo Ford Crown Victoria e Chevrolet Caprice(antigo)
ResponderExcluirDodge Charger Pursuit: alma de bandido com cara de polícia.
ResponderExcluirEnquanto isso no Brasil... a maioria das viaturas são adaptações mal feitas de carros comuns. A maioria das Policias usa veículos com pouquissimas alterações. Muitas viaturas apenas colocam o rotativo/sirene, xadrez e rádio. A maior adaptadora do mercado nacional é a ROTAN, mas cobra caro pelo serviço e o mesmo nem chega aos pés dessa preparação norte americana.
ResponderExcluirPara se ter a ideia, onde eu trabalho já entregaram viaturas novas sem capas para bancos (courvim) e sem tapetes de borracha, e em poucos meses os bancos estavam rasgados devido ao atrito com coldres e coletes, e o carpete estava furado na parte onde se apoio o calcanhar. Na minha companhia tentei resolver isso colocando papelão para que o carpete durasse mais.
Já comentei aqui algumas vezes sobre esse assunto de viaturas, mas no BR tudo é adaptado e sem qualidade. Suspensões não são adaptadas para receber mais esforço, o motor não tem nenhuma modificação para aguentar o aumento de horas trabalhadas initerruptamente, o sistema eletrico é o mesmo de um carro comum, apesar de ter rotativos e rádios que sobrecarregam o alternador. Enfim, no BR o que o que impera é oferecer pouco e cobrar muito. Acredito que as melhores adaptações de veículos nacionais estão sendo feitas nas viaturas da Força Nacional e nas da PRF, mas isso não significa dizer que são perfeitas, apenas se sobressaem no mar de más adaptações para o serviço policial no BR, e ainda assim, as viaturas da PRF e FN ficam devendo muito, mas muito mesmo, para serem comparadas com essa belissima viatura norte americana.
Saindo um pouco do assunto, hoje a FIAT reina praticamente sozinha nas vendas de peruas para forças policiais, pois com a saída de linha da veterana Parati, ficaram apenas no mercado a weekend e a space fox, sendo que a FIAT vende mais por ser mais barata. Uma pena que as outras fabricas abandonaram o mercado de SW para investir em jipes compactos urbanos. Nem sequer a FIAT teve interesse de promover a weekend para a nova familia Palio, que lhe daria mais espaço e conforto e uma margem muito segura de mercado.
Se colocasse viaturas assim na mãos dos meganhas brasileiros, em um mês brotaria um pátio gigante de sucatas em cada município... Junto com o Hemi vem vários cursos de pilotagem para os policiais americanos, e o senso de cuidado com o dinheiro do contribuinte. Vamos de Prisma e Gol mesmo, que os bandidos brasileiros também não sabem dirigir... Mas qual a vida útil esperada de uma viatura destas? Já li em algum lugar que os valores podem chegar a U$ 100.000 por unidade.
ResponderExcluirMauro
Enquanto isso os PMs daqui ainda lamentam a saída de linha das Blazer V6...
ResponderExcluirAliás, do jeito que a Blazer reinou absoluta como viatura policial durante anos, assim com a Veraneio, bem que a GM poderia ter caprichado um pouco mais nos modelos policiais. Pelo menos uma suspensão reforçada, sistema de arrefecimento maior e sistema elétrico mais forte já teriam ajudado muito, principalmente se viessem em um pacote com o Vortec.
http://www.youtube.com/watch?v=Sd1qAQGRhzQ#at=604
ResponderExcluirSeria legal que, ao invés daquele Nissan Leaf que vai matar bandido de tanto rir, colocassem uma (mesmo que apenas uma unidade, para demonstração) viatura dessas aí em serviço no Brasil. Essa sim bandido respeita!
ResponderExcluirBandido respeita é ?? Acho mais provável que a roubassem p/ dar um "rolê" e tirar onda de vê-oitão......
ExcluirJosias, esse sistema de som do Charger é semelhante ao usado em carros blindados, onde os ocupantes usam um alto-falante externo pra se comunicar devido aos vidros fixos?
ResponderExcluirSempre quis ter um sistema desses no meu carro.