Falamos da comemoração dos vinte anos da vitória em Le Mans do lendário Mazda 787B aqui. Foi a primeira e única vitória de um motor rotativo e de um carro japonês na mais tradicional prova de endurance do mundo.
O principal papel da edição de 1991 foi mesmo do 787B, que sobressaiu frente aos poderosos V-8 e V-12 dos concorrentes. Um fato interessante e que até então não muito conhecido é a estrutura da equipe Mazda e a estratégia para a corrida.
Para contar um pouco melhor essa passagem, AUTOentusiastas convidou o piloto Maurizio Sala para nos contar um pouco sobre a experiência. Sala participou da 24 Horas em diversas oportunidades, guiando carros como o famoso Porsche 962C, Nissan e modelos da Mazda. Em 1992 ele obteve o quarto lugar na classificação geral com o Mazda MRX-01.
Na edição de 1991, Sala estava dividindo o 787B de número 18 com Stefan Johansson e Dave Kennedy, ainda havia o carro número 56, que terminou em oitavo na geral, e o vencedor número 55, totalizando três carros da equipe. O carro de Sala fechou a prova em sexto lugar.
"O carro que acabou ganhando Le Mans naquele ano, o Mazda verde e laranja (número 55), era o carro-coelho para puxar o ritmo da corrida e o meu era o 'Works Car', o carro da fábrica para ganhar, mas durante a noite quebrou uma junta homocinética e perdemos uma hora para trocar", nos conta Maurizio.
Explico: como a prova é muito longa, é interessante para as equipes manter seus carros agrupados e andando próximos um dos outros, assim controla-se o ritmo e os ataques dos adversários. O chamado carro-coelho vai liderando o grupo da equipe seguindo as intruções dos boxes para otimizar velocidade e consumo de combustível. Muitas vezes o coelho é um pouco mais rápido que os demais, mas está mais sujeito a quebras, enquanto que o carro 'para vitória' é um pouco mais conservador.
Naquele ano, a reta Mulsanne já estava com as duas chicanes para reduzir a velocidade dos carros. Sala nos conta que "os Mercedes passavam por mim a mais ou menos 400 km/h, eu estava a 370 km/h".
O som do R26B que equipou os 787B era notado de longe, claramente diferente dos demais carros com motor convencional. A rotação crescia a uma taxa incrível, com limites de rotação muito superiores aos demais. Quanto mais rápido giravam, mais queriam girar.
Perguntamos ao Sala o que ficou marcado na sua memória sobre aquela corrida. "O que mais me marcou foi no período noturno, ou melhor na madrugada, no final da reta Mulsanne quando tiravamos o pé a 370 km/h, o carro soltava duas labaredas de fogo que saiam uma de cada lado pelos escapamentos, pois ali estavam os rotores do motor rotativo, e o escape era pequeno."
Eram os tempos em que os heróis andavam sobre a Terra e pilotavam os monstros mais rápidos do mundo, ao longo do dia e noite, para tentar a conquista mais árdua do automobilismo.
Agradecemos a colaboração de Maurizio Sala, sempre bem-vindo ao AE.
MB
MB,
ResponderExcluirnão é fácil pensar que esses homens são mortais iguais a nós. É impressionante como esses caras tem culhões.
Minha prima Ana, de SP, me levou pra dar umas voltas no MX5 dela vários anos atrás. Lembrança inesquecível. Vendeu porque foi assaltada duas vezes em menos de um ano naquele carro super chamativo.
Como as mercedes eram aproximadamente 10% mais rápidas na reta e ainda assim os 787B tiveram um desempenho tão bom? Todos os veículos equipados com motor rotativo terminaram a prova? Sou entusiasta dos motores rotativos, merecia um post!
ResponderExcluirRealmente devemos prestar culto a esses monstros do automobilismo, que dominam essas feras e nos fazem apaixonados pelo esporte motor.
Acho que os 10% a mais de velocidade na reta eram perdidos nas paradas nos boxes. Do que sei, além de serem "giradores" (9000rpm, 4 cilindros), os motores R26B correram no "modo econômico", que nada mais era do que uma limitação na admissão pra consumir menos (e reduzir a chance de quebras). Em vez dos 900hp, eles correram com cerca de 700, compensando a perda de desempenho com menos paradas nos boxes.
ResponderExcluirMuito bom poder ler o depoimento do Sala aqui no AE. Só confirma o nível excelente desse espaço. Aliás, podem colocar o Sala pra falar pois ele tem mmuuuiiittaa história boa pra contar. Abs.
ResponderExcluirAqui um gráfico com a curva de torque do motor do Mazda, em modo normal (linha "cheia") e em modo de eficiência (linha tracejada): http://i39.photobucket.com/albums/e171/KJ_carstuff/r26bdyno.jpg
ResponderExcluirFANTÁSTICO
ResponderExcluirO sala merece um post inteiro no AE sobre sua carreira, o cara já correu de muita coisa, até na Truck européia ele já andou forte .
ResponderExcluirDesculpem, Sala com maiúscula.
ResponderExcluirParabéns ao AE pro trazer esse depoimento do Sala sobre esse carro tão incrível.
ResponderExcluirIsso sim que faz a gente ter vontade de entrar no AUTOentusiasntas!! Isso é entusiasmante!!
ResponderExcluirO pedestre que anda na rua ou o saquinho de lixo no cambio não são entusiasmantes, mas o Mazda de corrida, sem dúvidas que é!
Poxa, que contribuição! Tomara que venha mais outras!
ResponderExcluirLiteralmente Épico!
ResponderExcluirDaqui a 2 horas ou 20 anos, essa história continuará sendo contada com orgulho!
Guilherme Costa
Parabéns pelo excelente post.
ResponderExcluirExcelente post Sala e AE!!!
ResponderExcluirEssa história será contada atravéz de gerações. A lenda do Mazda de 4 rotores.
ResponderExcluirMeu sonho é um dia dirigir um 962 Evo II de pista ou rua, como Porschista que sou.
ResponderExcluirQue maravilha que deve ser o mundo a 360~380~400km/h na retina dos pilotos de verdade ! Isso que deve ser vida !
Belli, muito bom mesmo.
ResponderExcluirDá para falar e escrever muito sobre LeMans, rotativos e sobre o Maurizio Sala, sem dúvida. Carreira variada e longa.
Parabéns e continue explorando o tema, você é nosso especialista em Endurance.
Parabêns pelo artigo, é muito interessante.
ResponderExcluirMas fiquei com 2 dúvidas:
a. esta vitória sempre foi atribuída principalmente ao motor (foram até banidos(?) da competição), mas a julgar pela velocidade das Mercedes, este Mazda tinha que ter outras qualidades também.
b. Atulmente o Veyron se "vangloria" de connsumir pneus e freios rapidamente. Porque não usar os pneus e freios de 20 anos atrás utilizados nestas provas?
Só sei de uma coisa:lendo o relato do Sala,dá uma vontade desgraçada de estar lá dentro,definitivamente.Imediatamente me vem à lembrança duas passagens do filme "Le Mans":A hora em que o Steve McQueen fecha a vigia traseira do Porsche e a gente ouve as batidas do coração aumentando de ritmo segundos antes da largada,e perto do fim do filme,quando o Erich Stahler olha pelo retrovisor da Ferrari e vê os faróis do 917 se aproximando,antecipando a batalha épica que se seguiria. Simplesmente antológico!
ResponderExcluirMto interessante o relato e eu não sabia dessa estratégia do carro-coelho.
ResponderExcluirIsso me lembra o jogo de equipe usado no Tour de France q tbm é um esporte sobre rodas e de resistência.