Um texto de Bird Clemente, especial para o AE
Minha memória das fases da minha carreira: 1ª- Obsessão para ser um corredor de automóvel; 2ª - Me achar imortal e arriscar até o último fio de cabelo; 3ª - Ter que matar um leão por dia; e 4ª - Finalmente confesso que foi natural para mim, e deve ser para outros, o cansaço de se arriscar tanto.
Quando eu pensei que já havia parado, fui incentivado e acompanhado pelo meu irmão Nilson na aspiração de participar da 24 Horas de Interlagos de 1970, no 16 de maio, o que topei, mas cobrei de mim mesmo, com anuência do meu irmão, que dispuséssemos do melhor carro, que não me envolvesse naquele sacrifício do cotidiano da minha vida, no reflexo da história Davi contra Golias.
E que também, para sair da rotina, queria trocar de macacão, tomar um banho e jantar bem, como nunca, no meio da corrida.
Era uma prova importante, pois marcava a reabertura de Interlagos para provas de longa duração após a longa reforma iniciada no final de 1967 e que deixou a pista realmente em condições. Até então era basicamente a mesma pista da inauguração em maio de 1940, já bastante deteriorada e que nem boxes apropriados tinha. Foi quando os boxes saíram do local original, próximo à Curva do Cafe, e foram para onde estão até hoje.
Para tanto, preparamos com todos os recursos disponíveis um fantástico Opala que levava o número 80 no teto, bem ao estilo Long Beach, nos primórdios da Nascar, que foi sem dúvida, disparado, o melhor carro da prova. Conseguimos a primeira vitória do Opala numa prova de longa duração, liderando do começo ao fim. A melhor volta também foi nossa, com 3min49,4s
O segundo desejo foi o mais fácil. Meu irmão bolou dois macacões brancos bem decorados e uma ducha estava disponível. Quanto ao fantástico jantar, para nós também foi fácil, pois nosso dileto amigo Gomes, famoso mestre cuca deste país, dono do “Alfama dos Marinheiros”, importante restaurante paulista na Rua Pamplona, 1.285, nos serviu naquela madrugada um jantar que tornou inesquecível um dos dias mais fantásticos de minha vida.
No para-lama traseiro direito do Opala, para ser visível pelo público na arquibancada, mandei pintar um grande "Alfama dos Marinheiros Restaurante", orgulhosamente ostentado.
O nosso desejo, a vitória nessas 24 Horas de Interlagos, se materializou e o amigo Gomes manteve em seu cardápio por muito tempo o prato inspirado e criado naquele dia: “Camarão à 80, primeiro do começo ao fim”
Deseja realizado, missão cumprida, o carro era um foguete, tomei meu banho, troquei de roupa e jantei como um rei, e para completar desfrutei da parceria do meu irmão Nilson, bom de braço.
Deseja realizado, missão cumprida, o carro era um foguete, tomei meu banho, troquei de roupa e jantei como um rei, e para completar desfrutei da parceria do meu irmão Nilson, bom de braço.
Foi perfeito... inesquecível... que saudade!
BC
(Atualizado em 19/4/11 às 10h00)
(Atualizado em 19/4/11 às 10h00)
Alguém lá em cima gosta muito da gente! Bem vindo, abraços, Fred.
ResponderExcluirQue barato!!
ResponderExcluirGrandes Homens, grandes Histórias pra contar!!
Grande mestre! Vejo hoje as corridas de F-1,com asa traseira móvel,Kers,difusores,etc,e lembro-me de um comentário do Bird,afirmando ser favorável à retirada das asas,afinal,quem tem de usar asa é avião. Vendo os F-1 se transformarem em autoramas gigantes não posso deixar de concordar com ele.
ResponderExcluirTambém não esqueço quando o chegou a hora do Bird falar, durante uma palestra onde um repórter chatinho e falante ficava só defendendo um monte de medidas de segurança nas pistas -- e o Bird, numa cortada de mestre disse: "Poxa! Se tirarem os chifres do touro como é que fica a tourada?"
ResponderExcluirTodo mundo caiu na gargalhada e o repórter chatinho amuou quieto lá, finalmente. E aí pudemos ouvir as deliciosas e raçudas histórias que o Bird foi tirando de sua inesgotável memória.
Êta sujeito simpático e interessante!
É um privilégio tê-lo aqui.
Bird,
ResponderExcluirMuito obrigado por ser a pessoa formidável que tu és, e por nos dar esses teus sensacionais relatos de vida...
Eu tinha apenas um ano de idade quando você e teu irmão sentaram naquele Opala numeral 80 e desceram a bota na viatura até o final...
Uma honra poder ler esse material delicioso que você, o Bob e todos do staff do blog nos colocam diariamente...
Seja muito benvindo, e por favor continue a nos dar esse prazer maravilhoso que é poder ouvi-lo, SEMPRE !!
Grande abraço da Turma do Sul !!
A genialidade de mestres como Bird Clemente e Bob Sharp, não se limita aos espaços de suas carreiras, mas na forma que conduzem sua vida e na simplicidade com que resolvem as grandes questões.
ResponderExcluirVirtudes que alinhadas à disposição e visível satisfação em repassar suas experiências, só podiam produzir grandes ensinamentos em deleitosas e envolventes narrações. Que presente!
Como Auto Entusiastas só consigo dizer; Muito Obrigado aos que fazem este inigualável Blog, com B maiúsculo.
Belo post.... Triste eh saber q "entendidos" querendo "igualar a pista" com os demais circuitos do mundo, resolveram acabar com interlagos.... Essas "geniais" ideias, devem ser executadas no "troninho"(vaso), em casa...
ResponderExcluirCada circuito tem la suas caracteristicas e pilotos e equipes q se desdobrem para vence-la... ora... Não deviam ter feito isso com a pista! Ou Alguem acha q os alpinistas desejam "rebaixar" o Everest?
Voltando as corridas..... Bela foto do Opala, nota-se o quanto o carro era "original" a epoca: os limpadores de parabrisa, macanetas, banco traseiro, etc andia no lugar...
Eu quero a "marca e pilotos" de volta!!!! (mas como eram na decada de 80...)
Francamente, antigamente os HOMENS eram concebidos em uma fôrma diferente! única, de propriedades mágicas, com aquela gota divína que os tornavam diferentes dos demais... homens
ResponderExcluirPor isso, vida longa a estes HOMENS!
Henrique
Depois de todas essas palavras sobre o Bird (com as quais concordo), só me resta dizer que ele é um grande condor andino dos pilotos e autoentusiastas (não esquecendo do Bob).
ResponderExcluirBird, assisti à pouco tempo uma entrevista que voce concedeu à TV Primeira daqui de São Vicente, S.P. e gostei muito das histórias contadas, e pena que o tempo foi curto mas aqui neste espaço não tem limite e esperamos mais narrativas suas e não tenha receio de cansar o leitor, ok? Obrigado
ResponderExcluirBird Clemente
ResponderExcluirSeja bem vindo e muito obrigado por dividir conosco suas histórias. E que venham outras.
Que maravilha, só essa prova daria um livro.
ResponderExcluirBird, como era a preparação desse Opala? Foi esse que o Pedrinho Pereira comprou depois?
abraço
McQueen
Sensacional ! Parabéns, muito obrigado, e bem vindo Bird !
ResponderExcluirÉ.... Correr um prova de longa duração, tomar banho, jantar como um rei e liderar do inicio ao fim. Acho que isso separa os homens dos meninos viu....
ResponderExcluirAlguem me explica uma coisa, por favor!
Porque antigamente as provas, os pilotos, as equipes eram mais "soltos" mais "libertos" e hoje parece que tudo é trancado, fechado. O que está acontecendo?
Henrique, que loucura o seu depoimento...
ResponderExcluirDesculpe, mas não resisti...he he he
Bird,
ResponderExcluirTive a honra de poder assistir a sua palestra e a do Bob Sharp no ABC Old Car este ano no Campus da Maua.
Com os dois postando neste blog nao posso esperar nada menos do que elevar ao quadrado a qualidade deste site fantastico
Isso sim é que era automobilismo de verdade! Preparar um carro especificamente para a prova, dar o melhor de si, tendo como tema o antigo traçado de Interlagos...
ResponderExcluirE, para completar, uma pausa para um bom banho e excelente refeição! Isso, além de bastante prazeroso, deve ter dado ânimo extra para voltar à pista.
Grande mestre Bird, obrigado por compartilhar momentos únicos como esse conosco. Agradeço também ao AutoEntusiastas, por tornar possível esse "encontro".
Bird,
ResponderExcluirBoas vindas! Vc deve ter muitas historias interesantes para dividir conosco . Mais uma vez, nos leitores do AE, saimos ganhando !
E a dica do Camarao a 80 e de dar agua na boca!
Bon Appetit!
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ResponderExcluirAK, eu estava nessa palestra. Repórter "chatinho" é elogio, ele é um mala sem tamanho, arrogante a ponto de querer impor sua opinião ao Bird. Ri muito com a resposta do Bird nesse dia. O repórter queria porque queria convencer a todos que pilotar antigamente era fácil, nas palavras dele "o piloto SÓ tinha que operar os pedais, o volante e o câmbio", e que hoje é muito mais difícil pois ele tem que operar outros ajustes, mesmo com os auxílios eletrônicos e toda a segurança, inexistente na época. Como se ele fosse um grande piloto pra poder sequer opinar.
ResponderExcluirParabéns Bird, e escreva sempre no AE.
Abs
Meu Nobre, e a preparação do bólido? A Casa do Opala agradece!
ResponderExcluirPrivilégio nosso, fazer parte deste espaço bloguístico (existe isso?), lendo diariamente maravilhas sobre nosso assunto preferido.
ResponderExcluirSeja bem-vindo Bird.
ps. Bob, dá uma reforçada no convite ao José Luiz Vieira, isso aqui ficaria uma loucura.
Me lembro do Bird fazendo as curvas de lado numa Berlineta Intelagos!
ResponderExcluirTocava - e ainda deve - demais!!!
Jesiel,
ResponderExcluirO José Luiz Vieira já escreveu para AE em dois posts:
http://autoentusiastas.blogspot.com/2009/08/convidado-jose-luiz-vieira.html
http://autoentusiastas.blogspot.com/2010/03/so-na-italia.html
Mas, estou te indicando só como referência, caso ainda não tenha lido.
Pela caridade não me entendam mal. Não estou botando terra no pedido pelo convite ao Bob Sharp!
Que fique claro, pois o risco de que eu seja mal entendido é alto. Acho que chegaria ao linchamento virtual.
Abraço
Fantástico, Bird, fantástico! Muito obrigado!
ResponderExcluiresse é o tipo da história que me deixa feliz e me achando no lugar certo quando acesso esse blog... obrigado, Bird!
ResponderExcluirPessoal, senta que lá vem história!
ResponderExcluirO Bird já abriu o baú de "causos", agora ninguem segura.
Vou esperar com ansiedade as histórias dos tempos da Vemag.
Seja muito benvindo a este espaço, meu amigo Bird.
Romeu.
Caro Bird,
ResponderExcluirobrigado por escrever aqui em nosso blog, fico muito feliz.
Volte sempre, pois precisamos de histórias de quem faz história.
Confesso-me desinformado, pois pouco o quase nada havia lido ou conhecido de Bird Clemente. Mas depois de ler esse relato, e as rasgações de seda sou obrigado a comprar uma camisa desse material para estender para passar.
ResponderExcluirAliás, passou "voando" pelos concorrentes, lambeu os dedos, e nos deixou com água na boca em todos os sentidos.
Interessante como Interlagos era progressiva em velocidade e desafio com curvas para todos os gostos.
Abs Roberto Dallabarba
Que maravilha esse blog Hein?
ResponderExcluirAndamos de maverick em Interlagos e hoje um Opalão de sobremesa... ou melhor esses devem ser o prato principal.
O que tem pra sobremesa?
aguardo faminto.
Roberto Dallabarba
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ResponderExcluirUau, mais um escriba de altíssimo nível! Bem-vindo, Bird!
ResponderExcluirConcordo com quem falou que só falta o JLV para o blog ficar ainda mais perfeito. Adoraria ver também aqui o Mahar e o Nasser... E, por sinal, alguém sabe do Paulo Celso Facin, grande colaborador do JLV na M3?
Que historia maravilhosa heim ?
ResponderExcluirParabéns aos autores !
Tenho a felicidade de conhecer Bird e vc, Bob, e poder ter ouvido histórias e assistido palestras, inclusive dos dois no mesmo dia (Bird falou sobre os carros que são criados a partir dos pneus e vc sobre abs e gasolina). As histórias desses pilotos maravilhosos nunca cansam de ser lidas e ouvidas; são maravilhosas.
ResponderExcluirRoberto Dellabarba,
ResponderExcluirO Dellabarba preparador dos Fuscas 1600 que correm em Interlagos é seu parente?
Esse é fera. Cada motor que esse sujeito prepara!! sabe tudo.
Arnaldo, perguntar não ofende: o jornalista chatinho e arrogante, que acumula as funções de mala, por acaso tem um blog?
ResponderExcluirGostar de carro antigo é legal. Gostar de DKW, Puma e Opala, mais ainda. Conhecer o Bird lá no Blue Cloud no Serraverde, então, foi demais !!! pra mim, ainda moleque, aquele piloto que eu via esmerilhando os DKWs e andando de lado ( ele inventou o drift...) não existia, era um robô ! Que nada, era o Bird, essa doce figura que nos alegra com suas histórias e seu bom humor. Quem não conhece ainda, precisa devorar o livro do Bird, Entre Ases e Reis de Interlagos. Continue a nos deleitar com sua prosa, meu amigo Bird Clemente.
ResponderExcluirConheço o Alfama dos Marinheiros praticamente desde a sua inauguração, até porque eu morava no mesmo bairro. Mas só agora, lendo esse saboroso "causo" do Bird, é que entendi o que o nome dele estava fazendo pintado na lateral do Opalão ganhador da 24 Horas de 1970. Vivendo e aprendendo...
ResponderExcluirReparem no banco traseiro ainda no carro... e cadê a gaiola?? Cada vez mais chego a conclusão que atualmente nos tornamos uns frangos assustados...
ResponderExcluirLeonardo Pastori
Arnaldo Keller
ResponderExcluirBem que eu gostaria de conhecer esse meu xará, mas talvez você esteja confundindo os sobrenomes que são muito parecidos. Mas aproveitando o ensejo, quero saber se você tem algum livro de fotos publicado.
Abs, Roberto Dallabarba
A cada dia que passa, o AE fica mais interessante!
ResponderExcluirValeu Bird!