Toda vez que a vejo, algo acontece comigo. Mesmo objetivamente, como todo carro, há o que se admirar: aço, borracha, alumínio, vidro, plástico e couro habilmente transformados por incontáveis mãos e incontáveis máquinas em uma máquina de transporte extremamente eficiente. Mas, nesse caso, as mãos alemãs que a criaram o fizeram com cuidado extra; as cabeças que a pensaram o fizeram de forma exepcional.
Ela parece um ovni no meio de gigantes americanos. Pequena, baixa, leve. Senta-se bem no meio do carro, e o motor, um cacofônico e levíssimo dry-sumped flat-6 refrigerado a ar soa áspero, irascível, nervoso. Dois carburadores triplos aspiram vigorosamente. O couro de seus bancos está macio de uso, perfeito, e os bancos te aconchegam e te convidam a explorá-la. Pedais pivotados no assoalho, chave do lado errado, conta-giros na sua frente em um painel que de tão famoso parece familiar desde o primeiro dia. Rodas Fuchs, forjadas em alumínio. Dois bocais de abastecimento, um para gasolina, o outro de óleo, para o cárter seco. Lugar para meus filhos pequenos atrás ou razoavel bagagem.
Ao volante, tenho certeza que pude ouvir seus clamores. Vem, vem, liga, vamos andar, vamos, acelera, meu bem. Vamos, você nunca mais será o mesmo depois de andarmos de lado, vem, meu amor, me experimenta...
Vadia! É melhor ignorá-la, é melhor ir embora, é melhor acabar com o sofrimento.
Ela vive num mundo diferente do meu. Nosso amor é impossível. Ela é Julieta, eu sou Romeu.
Mas ela é mais que isso. Ela é mais que uma inerte máquina. Odeio este clichê, mas para mim ela tem contornos humanos.
E os contornos são de uma menina. Uma menina linda e simpática, daquelas que iluminam qualquer lugar; que apesar de não mais tão jovem, é bela na companhia de belas. E quando a vejo, parece que ela se ilumina, que se inquieta. Se inquieta porque, tristemente, a menina é sozinha. Não por falta de companhia; outras máquinas sempre estão por perto; mas por falta de calor humano. Sozinha em seu galpão ao meio de paquidermes, a bela repousa esperando o dia em que novamente possa gritar a plenos pulmões, sentir o vento, sentir o sol e a chuva, enquanto aconchega dentro de si seu amante. Você quer acabar com o sentimento de carência afetiva que emana dela, você quer tirá-la dali e levá-la a uma vida cheia de carinhos diários.
E ela quer ir às vias de fato. Quer desesperadamente. Não tem pudores nem reservas, não tem fidelidade a ninguém; permite que qualquer um que saiba fazê-lo se refastelar. Mas o atual amante não é tão permissivo. Enquanto ele não está por perto, ela se assanha para o meu lado, permite um pouco de contato físico, deixa passar a mão, mexer, fuçar, tudo menos o que interessa.
Alguns saciariam-se só em levá-la às vias de fato. Eu não, eu quero mais. Eu quero ela só para mim. Eu quero fazê-la feliz, quero fazer cafuné toda manhã, quero levar a família para passear.
A menina se chama Porsche 911 72, dourado. E ela me ama. Eu amo ela. Ela mora em um galpão em São Paulo, junto com várias outras raridades. É extremamente bem cuidada, na verdade, mas quando se tem uma família grande, é difícil se ter tempo sozinho com qualquer um dos membros dela. Minha família é pequena e tem vaga sobrando.
E os contornos são de uma menina. Uma menina linda e simpática, daquelas que iluminam qualquer lugar; que apesar de não mais tão jovem, é bela na companhia de belas. E quando a vejo, parece que ela se ilumina, que se inquieta. Se inquieta porque, tristemente, a menina é sozinha. Não por falta de companhia; outras máquinas sempre estão por perto; mas por falta de calor humano. Sozinha em seu galpão ao meio de paquidermes, a bela repousa esperando o dia em que novamente possa gritar a plenos pulmões, sentir o vento, sentir o sol e a chuva, enquanto aconchega dentro de si seu amante. Você quer acabar com o sentimento de carência afetiva que emana dela, você quer tirá-la dali e levá-la a uma vida cheia de carinhos diários.
E ela quer ir às vias de fato. Quer desesperadamente. Não tem pudores nem reservas, não tem fidelidade a ninguém; permite que qualquer um que saiba fazê-lo se refastelar. Mas o atual amante não é tão permissivo. Enquanto ele não está por perto, ela se assanha para o meu lado, permite um pouco de contato físico, deixa passar a mão, mexer, fuçar, tudo menos o que interessa.
Alguns saciariam-se só em levá-la às vias de fato. Eu não, eu quero mais. Eu quero ela só para mim. Eu quero fazê-la feliz, quero fazer cafuné toda manhã, quero levar a família para passear.
A menina se chama Porsche 911 72, dourado. E ela me ama. Eu amo ela. Ela mora em um galpão em São Paulo, junto com várias outras raridades. É extremamente bem cuidada, na verdade, mas quando se tem uma família grande, é difícil se ter tempo sozinho com qualquer um dos membros dela. Minha família é pequena e tem vaga sobrando.
Ela parece um ovni no meio de gigantes americanos. Pequena, baixa, leve. Senta-se bem no meio do carro, e o motor, um cacofônico e levíssimo dry-sumped flat-6 refrigerado a ar soa áspero, irascível, nervoso. Dois carburadores triplos aspiram vigorosamente. O couro de seus bancos está macio de uso, perfeito, e os bancos te aconchegam e te convidam a explorá-la. Pedais pivotados no assoalho, chave do lado errado, conta-giros na sua frente em um painel que de tão famoso parece familiar desde o primeiro dia. Rodas Fuchs, forjadas em alumínio. Dois bocais de abastecimento, um para gasolina, o outro de óleo, para o cárter seco. Lugar para meus filhos pequenos atrás ou razoavel bagagem.
Ao volante, tenho certeza que pude ouvir seus clamores. Vem, vem, liga, vamos andar, vamos, acelera, meu bem. Vamos, você nunca mais será o mesmo depois de andarmos de lado, vem, meu amor, me experimenta...
Vadia! É melhor ignorá-la, é melhor ir embora, é melhor acabar com o sofrimento.
Ela vive num mundo diferente do meu. Nosso amor é impossível. Ela é Julieta, eu sou Romeu.
Que texto, Marco Antônio, que texto! Fantástico!
ResponderExcluirObrigado, Bob!!!
ResponderExcluirQue carro, Bob, que carro!!!
MAO
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirporsche e tao fantastico que faz descobrirmo-nos poetas.hoje tenho mais uma prova do seu(ecletico) talento/conhecimento. parabens!
ResponderExcluirMulher de amigo meu prá mim é Zé.
ResponderExcluirDá se quizé.
Mas essa ai, vou falar, tá demais, vale uma loucura.
Ary,
ResponderExcluirObrigado! Essa 911 em particular tem algo de especial. Não sei explicar o que, mas tem.
MAO
Fantástico, MAO!
ResponderExcluirMas eu tenho que dizer (muito bem humorado, é claro) que o que ela precisa mesmo e da 'sem vergonhice' ahahahaha!
Abraço,
Rico
911, fantástico...
ResponderExcluirhahahaah
ResponderExcluirfantástico !!
o atual amante já leu?
cuidado, ciúmes pode levar a pessoa a cometer loucuras rsrs