Faz parte da minha atividade normal e acabei de passar uns dias um Sandero Stepway. Eu já o havia dirigido no lançamento, em setembro, mas não é a mesma coisa que usar o veículo nos nossos trajetos habituais, onde temos todas as referências, de aceleração a rumorosidade de suspensão.
O romeno-brasileiro Stepway foi feito para o público jovem que, não sei o motivo, é identificado pelos departamentos de marketing das fábricas como "aventureiro". Assim, o Stepway é decorado como tal, tem suspensão elevada em 40 mm combinada com pneus 10 mm maiores em diâmetro e até um adesivo na coluna traseira esquerda, que o proprietário escolhe no ato da compra para ser aplicado na concessionária. Pode-se escolher entre seis temas. Seria uma espécie de tatuagem?
Seja como for, o fato é que o Renault Sandero é definitivamente um hatchback muito agradável. Claro, como não sou "aventureiro" compraria o "pacato" – que é melhor de curva – mas teria que ser o de mesma motorização do Stepway, que é o exuberante 1,6-litro de 16 válvulas, só disponível na versão-topo Privilège que, completa, tem preço público sugerido de R$ 53.700, embora estejam incluídos aí freios ABS e bolsas infláveis frontais, mais volante e bancos revestidos de couro. O preço básico é R$ 44.000, de modo que a diferença de 22% entre o básico e o topo está dentro do aceitável pelo mercado.
Já falei isso antes: hoje estou mais para hatch do que sedã, apesar dos "idosos" (já fiz 66 anos) serem mais identificados com carros que têm porta-malas saliente. Fora a questão da praticidade do "portão" traseiro, hatches são mais aptos a curvas do que sedãs. Tem a ver, é claro, com o menor momento polar de inércia na traseira. Quanto maior for esse momento, mais resistência tem o carro a fazer curva. É por isso que os equilibristas conseguem andar num fio estendido entre um prédio e outro: levam junto aquela comprida vara, de elevado momento polar de inércia.
Há muitos anos minha preferência por sedãs era devida principalmente à rigidez torcional da carroceria, em que os hatches eram piores nesse aspecto. Mas hoje a engenharia consegue fazer esse tipo de carroceria bem rígida torcionalmente, tendo desaparecido a vantagem dos sedãs sobre eles.
No tempo do Passat, quando eu era sócio de uma concessionária Volkswagen no Rio, eu sempre exemplificava por que o Passat normal (L/LS/TS) era preferível ao GH hatchback: pegava o maço de Marlboro Flip-Top (de caixinha) e efetuava uma torção no maço, primeiro com a tampa aberta e depois com ela fechada. A diferença de rigidez era gritante, incomparavelmente maior com a tampa fechada, simulando um sedã.
Com uma boa estrutura, o Sandero e esta versão Stepway agrada ao primeiro contato e seu comprimento de apenas 4.091 mm o torna adequado ao tráfego urbano denso. O motor flexível em combustível é uma obra de arte, com bastante potência mesmo em baixas rotações, desmistificando por completo o conceito de que "16 válvulas não tem torque em baixa". Seria um bom tema para a série televisiva "Caçadores de Mitos".
Belo hatchback, este romeno-brasileiro.
Concorrentes: linha Fiat Adventure e VW CrossFox.
BS
Legal a análise, Bob. E a comparação da torção do hatch com o maço de 'borão' flip top foi genial.
ResponderExcluirBob,
ResponderExcluirBelas analogias da caixa de cigarro e do equilibrista. Entendimento mais simples, impossível.
VR
Hoje em dia os sedans ainda tem a vantagem de ter cx melhor, mas são mais pesados também.
ResponderExcluirSimpatizo com o Sandero e Logan, são carros honestos em suas propostas. Hoje, no site da QR, tinha uma notícia com um título chamativo e sensacionalista, na verdade a tal notícia era sobre a reprovação de alguns modelos no crash-test na Europa. Porém, o título e a foto ilustrativa só abordavam o Sandero, sendo que vários outros carros não haviam se saído bem no citado teste. Sei lá, mas acho que pode ter havido uma intenção “implícita” de depreciar a imagem do carro...
ResponderExcluirAs May would say, "Let me tell you 'bout the new SAN-DERO!"
ResponderExcluirMAO
Estou atualmente com um desses, 1.6 16V. Excelente. Só um reparo: deveria ser mais silencioso. Em alta, berra demais. De resto, trata-se de um 'aventureiro' bem simpático.
ResponderExcluirConcordo com o João. Eu tenho também um aventureiro e realmente é um tanto ruidoso. Mas os pontos positivos do Sandero encobrem isso.
ExcluirInteressante. Estou colhendo informações sobre o stepway (antigos e viciosos probremas) antes de fazer o Test Drive. Uma coisa me chamou atenção. O preço da versão básica, há 5 anos, é, basicamente, o mesmo de hoje R$ 44.000.
ResponderExcluirGosto do estilo. Ainda vale a pena?