Fui ao Salão Internacional do Automóvel de São Paulo na quinta-feira passada.
Sempre compareci religiosamente ao evento bienal, desde 1984, mas no ano de 2002 passei a ignorá-lo por motivos óbvios, alguns dos quais mencionados pelo Bob neste espaço: muita gente, muito calor, alguns carros inacessíveis.
Este ano, persuadido por alguns colegas aqui do blog (o Egan foi o principal culpado), consegui vencer minha rabugice e resolvi visitá-lo novamente. Aqui seguem, em nenhuma ordem particular, minhas impressões:
Continua quente demais, e cheio demais. Os organizadores deveriam tentar tomar alguma atitude a respeito disso. Sobre o calor, não há muito que fazer sem uma reforma enorme no Anhembi: o prédio não foi criado com ar-condicionado em mente. Mas um dia este problema terá que ser resolvido de alguma forma.
Já a multidão é mais fácil de acomodar. Basta começar a exposição mais cedo e aumentar o número de dias. Como no Salão de Paris, aberto ao público durante 16 dias, contra 11 do nosso.
Mas na verdade o que precisamos mesmo é de um prédio maior, erguido no mesmo lugar. Algo moderno, maior, mais lógico e capaz de manter uma temperatura ambiente razoável.
Tirando isso, devo dizer que pouca coisa mexeu comigo lá dentro. Ao lado do estande da Ferrari, onde os carros eram mantidos inacessíveis ao público (supostamente mantendo nós, os indígenas, indignos da viatura sagrada, a uma distância segura) podia-se ver a única coisa que realmente chegou perto de me abalar: o Nissan GT-R. Não é bonito, mas sabendo o que pode fazer, sua aparência ameaçadora era quase palpável. Pude sentir o poder de Godzilla em latência, transpirando pela grade e por todas as outras incontáveis aberturas de admissão e exaustão em seu corpo.
Sem nenhum Corvette no pavilhão para lhe fazer frente, Godzilla reinou como mais sério veículo presente, pronto para atacar e destruir qualquer coisa que chegasse perto, e portanto foi bom que os extravagantes mas frívolos e alegrinhos carros vermelhos no estande em frente a ele estavam protegidos por uma cerca e por uma multidão de curiosos....Se não fosse isso, Godzilla ia devorá-los sem piedade, como se fosse uma rosquinha no café da manhã de Wilza Carla. Como todos sabem, o que ele adora é comida alemã, mas pude sentir que estava pronto para abrir uma exceção para a culinária italiana e todos os seus incautos discípulos que se encontravam atarracados à tal cerquinha. Posso até jurar que senti o monstro bufar de impaciência.
No mais, eu que sou fã dos Ford Focus (tenho um 2005), fiquei decepcionado com o novo. Quero o velho de volta. E a Citroën continua impressionando com a criatividade, modernidade e originalidade de seus carros. O C5 para mim é a estrela do salão, e o C4 Picasso, em sua segunda aparição no Anhembi, foi novamente o carro mais original do pavilhão.
Outra coisa que notei: a qualidade dos carros coreanos (sul-coreanos) aumenta a olhos vistos. Estarão os chineses, hoje motivo de piada, muito atrás?
Os brasileiros adoram fazer piada sobre carros chineses (como faziam dos coreanos um tempo atrás), mas pelo menos eles tem uma indústria local real, não apenas filiais de empresas estrangeiras. E os coreanos e chineses têm um hábito desconhecido dos brasileiros: seus produtos evoluem.
Passei em frente ao estande da BMW, mas vendo que a empresa colocou o X6 num pedestal bem no meio de seu espaço, como que sendo o ápice do que tinha para mostrar ali, declinei de visitá-lo.
Como vocês devem ter percebido, o mundo de hoje continua a me deprimir um pouco mais a cada dia. O progresso é visível, a perfeição de execução, nas especificações e na qualidade geral dos carros é irrefutável, mas não posso deixar de achar, como já disse aqui, que perdemos algo mágico em troca. E talvez o exemplo mais ilustrativo disso esteja em algo que percebi não nos veículos, mas visível pelos generosos decotes das meninas que decoravam os estandes. Todos perfeitos, fartos na medida correta, mas infelizmente todos da mesma forma, como se todos tivessem saído da mesma fôrma, o que sabemos não estar longe da realidade. Não me entendam mal, tudo belíssimo, mas depois de um tempo, enfadonho em sua repetição. Viu-se um, viu-se todos.
Como nos carros, trocamos a diversidade e variedade, a beleza simples da imperfeição, pela estéril perfeição repetida mil vezes infalivelmente. Não é à toa que a Toyota está fadada a dominar o mundo.
MAO
hey, not my fault.
ResponderExcluirEu só falei que haveria moças bonitas, e talvez um ou outro carro interessante. Pelo menos acertei na primeira parte, e depois comemos muito bem. Não fique chorando não, amigo Marco
Apesar de não ter ido ao Salão do Automóvel considero, ao lado do GT-R, o Porsche GT2 e o Mustang Shelby GT 500KR os carros mais interessantes da mostra, com ênfase para os dois últimos, por mero gosto... Sobre a “perfeição” que assola o mundo moderno e chega aos automóveis acho que, infelizmente, não está distante de entrarmos num carro e “mandarmos” ele ir até certo lugar. O ato de dirigir vem, a cada ano, se tornando mais passivo, como se pode notar pelos modelos com os vários “anjos da guarda” eletrônicos e dispositivos para isso ou aquilo. Sobre a Ferrari, apesar de ser uma excelente marca, considero, exceto as lendas 250 GTO e F40, carros para “novos-ricos” como jogadores de futebol, pagodeiros, rappers e alguns ganhadores da Mega-Sena (nada contra as classes citadas). É de lei: uma pessoa enriquece rápido por algum motivo, o primeiro carro que vem a mente dela é uma Ferrari. Em uma escala menor de condição financeira, um dito playboy sempre tem em mente um Audi A3 ou um Golf, este último sempre presente nas conversas entre jovens e, aqui no RJ, sob o alvo dos amigos do alheio.
ResponderExcluirMAO, parabéns pelo texto e obrigado por dizê-lo por mim: viu-se um, todos vistos!!! Meu primeiro salão foi em 68, e havia novidades (!!) naquele ano. Há hoje?
ResponderExcluirE concordo também com o Marlos, aqui acima, quanto aos Audi e Golf... e óculos de grife na cabeça, e roupas de marca iguais, etc., etc...tudo o mesmo!!!!
Marco leu meus pensamentos. Com a diferença que ele está em SP, e eu a mais de 400 km. Cogitei ir ao salão, e como só rola de 2 em 2 anos, a gente esquece como foi o último. Fiz um esforcinho pra lembrar e pensei: Morrer em 400 pratas para ver (cansado) carros parecidos e peitos idem (bem observado pelo amigo) me fez recapitular na hora. Melhor encher o tanque do carro e ir dar uma voltinha rápida ali na BR-040...
ResponderExcluirEgan,
ResponderExcluirEu sei, foi um passeio bom. Sempre é bom passear com amigos! E grande janta, ótimo chope.
Marlos,
GT-R era o mais sério, apenas...O Mustang é muito legal, mas não tão sério quanto o Nissan. No mais, concordíssimo!
Wilson,
O de 68 gostaria de ter ido...mas ainda faltava um ano para que MAO viesse ao mundo...
Cruvi,
Vc podia ter vindo para encontrar os amigos...O salão é apenas pretexto! Venha, old buddy, ainda há tempo!
MAO
Acho que está na hora mesmo de derrubar este pavilhão e construir algo do nivel que SP merece.
ResponderExcluirAgora como não fazer piada de um carro chamado Chana?
Gustavo,
ResponderExcluirBom, esse não tem jeito mesmo...impossível não zoar!
MAO