google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 OUTRO ENCONTRO PROVIDENCIAL: ARNOLT-MG E BRISTOL - AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

OUTRO ENCONTRO PROVIDENCIAL: ARNOLT-MG E BRISTOL



Escrever sobre a história da situação precária da Intermeccanica no Salão de Frankfurt de 1969 me fez lembrar de uma situação parecida envolvendo outra empresa italiana e um milionário americano, no Salão de Turim em 1952. É outra história fantástica, que me dá a oportunidade de falar um pouco também da recém-falecida Bristol inglesa.

Stanley Harold “Wacky” Arnolt II (ao lado) é um estereótipo tão perfeito do milionário americano do pós-guerra que parece ter sido inventado. Ex-jogador de futebol americano no segundo grau, e portanto alto e corpulento, Wacky ficou rico muito rapidamente durante a Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra, como muitos americanos da classe mais alta, se apaixonou pelos carros esporte que invadiam aquele país. Em 1950, Arnolt monta em Chicago uma empresa, a SH Arnolt, Inc., para importar carros ingleses.


A lenda que conta como Arnolt começou a empresa, contada por Mike McCarthy na Classic and Sportscar inglesa de maio de 1990, é emblemática da personalidade de Wacky Arnolt:

Parece que nosso amigo um dia entrou em um banco de Chicago, de chapéu e botas de caubói. Como tinha mais de 1,8 metro de altura, parecia mesmo um milionário do petróleo texano. Pedia um empréstimo de um milhão de dólares. O gerente do banco, sem saber que a roupa era um engodo, ficou tão impressionado com Arnolt e com a sua confiança, que concedeu o empréstimo. Arnolt imediatamente transferiu o dinheiro para a Morris Motors em Oxford, na Inglaterra, para receber mil Morris Minors em troca. Foi o maior pedido único que a Morris recebeu em toda sua história.



Em 1952, Arnolt passeava então pelo salão de Turim quando viu um cupê e um conversível baseados no MG TD (abaixo), o carro esporte preferido dos americanos. Os carros, ao contrário dos MG originais, tinham vidros laterais que subiam e desciam por meio de manivelas, e portanto eram carros muito mais preparados para o uso no dia a dia, e Arnolt achou que poderia vendê-los com facilidade em sua terra natal. Pediu para falar com o chefe da empresa que os produzia.


A empresa que expunha os MGs era a famosa Bertone. Mas estava numa situação de penúria total ali, os dois MG eram os únicos carros que existiam, e foram uma última tentativa de fazer algum caixa, que na verdade fora limpo para comprar os chassis. A esperança era que pudessem vender pelo menos um deles, ou a empresa fecharia as portas ao fim do salão, efetivamente falida, sem caixa.

Quando Nuccio Bertone apertou a mão daquele enorme americano, esperava apenas isso: vender um carro. Quando ouviu que Arnolt pretendia comprar, “uh, talvez uns 200 carros, divididos em 100 cupês e 100 conversíveis”, ali mesmo e agora, suas mãos ficaram trêmulas e seus joelhos bambearam, e teria desmaiado se um funcionário não o segurasse! A Carrozzeria Bertone estava salva. O cupê ficou conhecido como Arnolt-MG. Wacky se tornaria vice-presidente da Bertone, tal o vulto de sua contribuição.



Um ano depois, no Salão de Nova York, Arnolt conhece James Watt, um dos executivos da Bristol inglesa. Arnolt dizia a ele que os Bristol eram carros muito bons, mas muito caros. O 404, o cupê esportivo da empresa, estava programado para ser vendido por algo ao redor de 7.000 dólares nos EUA, mas Wacky lhe disse que um carro esportivo de dois litros de cilindrada não poderia ser vendido por mais de 4.500 dólares, por mais sofisticado e interessante que fosse. Logo, Arnolt tem a ideia: e se usássemos só o chassi do 404 e a Bertone fizesse para ele uma carroceria espartana, leve e barata?



Assim nascia o Arnolt-Bristol (acima). Em cima do chassi do 404, e de uma versão de 130 cv do seis em linha Bristol de dois litros, a Bertone criou um roadster leve e espartano ao extremo, e de desenho inteligente. Isto porque o motor Bristol era muito alto, com os carburadores em cima do cabeçote (entre as válvulas, veja foto abaixo) e, portanto, muito difícil de se “cobrir” com o capô. Bertone criou uma linha alta no topo dos para-lamas dianteiros, dando ênfase a eles e escondendo efetivamente o alto motor. O tema seguia até a traseira, esta linha alta do topo dos para-lamas dando praticamente a volta em todo o carro.

Era realmente belo, um desenho memorável. E fazendo o 0-100 km/h em oito segundos e meio era extremamente veloz para um carro de dois litros em 1953. Era um carro esporte clássico, cru, entusiasmante, veloz e controlável. E extremamente barato para um Bristol: enquando um 404 custava 9.000 dólares, o Arnolt-Bristol custava menos de quatro mil.


fotos: www.justacargeek.com

Ainda assim, era caro em termos absolutos, e portanto Wacky teve problemas para vendê-los, o último deles vendido em 1963. Apenas 142 foram fabricados, seis deles na versão cupê (abaixo, um deles comprado novo pelo ator Lee Marvin), e doze foram destruídos em um incêndio antes de serem vendidos. Arnolt faleceu também em 1963, e com ele seu império e seus interessantes carros.



 
MAO





10 comentários :

  1. MAO, parabéns pelo delicioso texto. É sempre um prazer acessar o AE!

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  2. O carro lembra um pouco os Corvete C2, são muito bonitos, embora um tanto estranhos. Lembra um pouco o Denzel também.
    Eu resolvi que vou um dia fabricar miniaturas, já que fazer carros de verdade está muuuuito fora da minha realidade, hehe.

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  3. Faça miniaturas nacionais, e terá um otimo mercado...hehehe


    www.cartrust.com.br

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  4. MAO
    Quando adolescente e lia as revistas americanas eu era vidrado no Arnolt-Bristol, mesmo que tivesse motor de 2 litros. Que linhas! Legal, você ter publicado post a respeito.

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  5. Lembro de ter visto um dos coupés Arnolt-Bristol aqui no Brasil. Foi no Guarujá, lá por 1962, 1963, e a cor era o amarelo. Que fim terá levado esse carro?

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  6. Taí mais um carro que não conhecia.

    Incrível como algumas pessoas têm espírito para empreender grandes negócios. Conseguir um empréstimo de US$1 milhão hoje já é um grande feito. Nos anos 50 então, era algo assombroso!

    E ainda bem que apareceu o Mr. Arnolt para salvar a Bertone a tempo...

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  7. Mais uma aula de história pra variar.
    Interessante que o Arnolt-MG parece um Maserati 300S menor.

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  8. Roberto Dallabarba15/04/2011, 23:23

    MAO que história!!

    Deus parece gostar dos ousados. Talvez devêssemos ter mais fé no improvável.

    Também achei parecido com o Maserati. Lindo carro. Adoro o estilo e concepção dos carros ingleses. Sou fã dos Marcos quando puder conte também sobre eles.
    Abs, Roberto Dallabarba.

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  9. Roberto Dallabarba15/04/2011, 23:26

    Na foto branco e Preto parece muito com um ginetta. Que aliás é outro inglesinho fantástico.
    Roberto Dallabarba

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  10. MAO!

    não sei se você vai ler isso, mas olha mais um encontro casual envolvendo a Bristol, desta vez com a Frazer-Nash...

    http://www.bbc.co.uk/news/uk-england-bristol-13156326

    viva!

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