O futuro de Massa na F-1 e
o esporte no Brasil
Enquanto
Felipe Massa negocia seu futuro no mundo dos Grandes Prêmios, o Brasil se
prepara para discutir como sobreviver frente a dois grandes eventos
Felipe Massa procura novo endereço (foto Ferrari Media) |
Quando vitórias valem mais que dinheiro, mas nem tanto assim
Recentemente
Felipe Massa declarou que quando saísse da Ferrari não aceitaria continuar na
F-1 correndo por uma equipe pequena. A interpretação do termo “pequena”
certamente será tão elástica quanto encolherem as opções disponíveis para
abrigar o brasileiro na temporada de 2014 e com isso saciar interesses
econômicos e promocionais dos maiores interessados na categoria. Desde que a
Scuderia de Maranello confirmou o que muitos esperavam, e alguns poucos freqüentadores
do circo próximo do piloto julgavam impossível de acontecer, três ou quatro
endereços pipocaram como futuro CEP de Felipe para a temporada do ano que vem:
Lotus, McLaren, Sauber e Williams. Ironicamente esta ordem alfabética reflete
também a importância de cada possível cenário na classificação atual do
Campeonato de Construtores, em última análise, uma boa medida para definir se a
equipe é grande ou não.
Partindo
do princípio que Massa é um nome cujo valor no mercado de pilotos é maior que a
percepção de seus críticos brasileiros, as possibilidades de assinar contrato com
cada uma delas serão decorrência de uma combinação de fatores que envolve muitas
partes. Da saúde financeira de cada equipe, passando pelo potencial de construir
um grande carro e a convergência dos interesses de piloto, equipe, promotores e
TV Globo são alguns dos elementos mais caros nessa composição.
McLaren: melhores recursos (foto McLaren Media) |
Saúde
financeira é o grande destaque da McLaren, que conta com o apoio do mexicano
Carlos Slim — investidor na carreira do seu conterrâneo Sergio Perez — e onde
Jenson Button ainda não foi confirmado para 2014. Em que pese a sombra de novamente
dividir uma equipe com o queridinho da casa (situação que incomoda Button), o
cenário é mais atraente que aqueles da Lotus e Sauber — ambas com saúde
financeira debilitada —-, e Williams, que pode perder o apoio da PDVSA, congênere
venezuelana da Petrobrás, para a Lotus. Se isto acontecer, a chegada de Pastor Maldonado
ao time de Enstone fecha ao brasileiro a porta desta equipe inglesa.
Williams: petroleiras influenciam (foto PPG Media) |
O
potencial de fazer um carro vencedor existe potencialmente em todas elas.
Obviamente, a McLaren é a que dispõe de maiores e melhores recursos, mas isto
não é garantia de sucesso: basta ver o fiasco da equipe na atual temporada. Se
uma equipe coesa e estável erra, certamente são maiores as chances de acontecer
pior que isso em um ambiente onde nota-se uma debandada de técnicos: este ano a
Lotus perdeu seu diretor técnico James Alisson e seu aerodinamicista principal
Kirk de Beer para a Ferrari, além de Kimi Raikkonen, é claro. Como a Sauber
também passa por um momento de reestruturação interna, o cenário menos ruim
deste quesito é a Williams, comanda agora pelo competente Pat Symmonds. Formado
na primeira turma da equipe Toleman, Symmonds sabe como é trabalhar em grandes
e pequenos feudos, o que seria um chamariz para Massa, especialmente quando
circulam rumores que Rob Smedley — engenheiro que o acompanha há várias
temporadas — quer voltar a viver no Reino Unido e a Williams teria uma vaga
para ele.
Fazer
com que os interesses de todos envolvidos tenham um denominador comum é a parte
mais delicada, complicada e outros adas desta equação. A Lotus não tem como
pagar um grande salário a Massa, mas pode se valer dos interesses da Renault no
mercado brasileiro para compor um acordo entre estas partes. Ajuda aqui o fato
de que a Renault é há anos uma das cotistas de publicidade das transmissões de F-1
da TV Globo e luta para ampliar sua participação no mercado brasileiro.
Lotus: Renault pode ajudar (foto LAT Photo) |
Passando
pela publicidade, a Petrobrás já foi fornecedor técnico da Williams, explora o
esporte como ferramenta promocional com certa freqüência e sabe como tratar o
assunto com a emissora de TV. Levando-se em conta que esta equipe usará motores
Mercedes no ano que vem e que a marca alemã está prestes a anunciar o local de
uma fábrica de automóveis no Brasil, a combinação conspira a favor de Massa. Na
McLaren, que segue mais uma temporada com o motor Mercedes — antes de voltar a
equipar seus carros com motores Honda em 2015 —, estes fatores não contam
muito.
Sauber: dívida da Ferrari entra na equação (foto Sauber Media) |
Peter
Sauber e sua principal executiva Monisha Kaltenborn vivem uma situação bastante
diversa: com sérios problemas de caixa, o apoio de investidores soviéticos criou
uma situação crítica. A presença rublo-justificada de Sergey Sirotkin como
piloto da equipe de Hinwill em 2014 demanda um piloto experiente e que contribua
tecnicamente para o desenvolvimento do carro em um ano onde os novos motores
demandarão projetos inteiramente novos. A histórica ligação de Sauber com a
Ferrari e a dívida pendente da primeira com a segunda poderia ser negociada
como o aviso prévio na dispensa de Massa.
Somados
todos estes fatores, eu diria que Sauber e Williams são as equipes com maiores
chances de chegar a um acordo com Felipe Massa para 2014, seguidos por Lotus e
McLaren em ordem decrescente de possibilidade. Certamente algo que não se
encaixa exatamente na descrição do que o piloto declarou buscar. Todavia, a cada
temporada e meia a F-1 surpreende com negociações secretas ou pouco críveis e
quando isto acontece as análises de mercado provam-se exercícios de futurologia
digno dos melhores economistas...
Congresso da SAE BRASIL debate futuro do automobilismo
Há
alguns anos o congresso anual da SAE Brasil reserva um espaço em sua ampla e
variada lista de painéis e debates para o cenário do automobilismo brasileiro.
Para o evento que este ano realiza-se novamente no Expo Center Norte de São
Paulo, de 7 a 9 de outubro, o Painel Motorsport pega carona no enfoque
principal do congresso — o programa Inovar-Auto —, e analisará possíveis soluções para
que a crise que envolve o esporte atualmente supere as dificuldades que se apresentam
com a realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016. Esporte
consolidado com a participação e apoio das indústrias automobilística e de
autopeças durante sua implantação no País, estes setores são os maiores
beneficiados pelas possibilidades de inovação em tecnologia e vendas que o
esporte a motor oferece.
O Painel
Motorsport será no dia 7 de outubro, às 15h30, e a participação gratuita pode
ser garantida com inscrição que pode ser feita
clicando aqui. Para debater o tema
estão confirmadas as presenças de Alexandre Nascimento (presidente da
Associação de Pilotos e equipes do Campeonato Paulista de Marcas), Cláudio
Fontoura (promotor da Fórmula 1,6 RS), Dito Gianetti (presidente do Esporte Clube
Piracicabano de Automobilismo), Ingo Hoffmann (instrutor da Mitsubishi e
ex-piloto), Rubens Gatti (presidente da Comissão Nacional de Kart e da
Federação Paranaense de Automobilismo) e Sérgio Jimenez (piloto e presidente do
Super Kart Brasil). A mediação do Painel Motorsport estará a cargo deste
colunista.
WG
A coluna "Conversa de Pistas" é de inteira responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.
Muito interessante sua análise !
ResponderExcluirEnquanto todos que torcem para o Massa o preferem na Lotus ou na McLaren, você colocou outros fatores na equação que estavam passando despercebidos.
Obrigado !
Caro Anônimo,
ExcluirObrigado pelo prestígio de sua leitura e do seu comentário.
O lado empresarial nas negociações da F1 tem a mesma estrutura lógica do acerto de um carro: se você coloca muita asa dianteira, a traseira fica perdida, e os pneus acabam patinando por falta de tração e...isso e aquilo: tudo está interligado.
Assim, mais uma vez, o tempo vai mostrar que é o Mestre dos Mestres: nada como aguardar e viver a vida.
Abraços,
Wagner
Desejo sucesso ao Massa.
ResponderExcluirAcho que ele precisava mudar de ares ha muito tempo. Embora nao adimitisse, sempre foi o 2# piloto na Ferrari, tendo que por contrato ceder passagem qdo necessario e baixar a cabeca para as trapalhadas da equipe de Maranello. Mas se por um lado ele se tornou um esportista milionario , por outro prejudicou sua trajetoria profissional.
Nao o vejo com um campeao mundial , mas um otimo piloto que ainda pode conquistar vitorias e alegrias para o Brasil.
Porem nao mudo meu ponto de vista em relacao a F1. Uma categoria de onde o que vale e o bussiness e nao o esporte. Nao , ha muito tempo nao assisto mais suas corridas.
Anônimo,
ExcluirMudanças são sempre necessárias, em menor ou maior grau, como parece ser o caso do Felipe Massa.
Vamos torcer para que ele possa nos dar mais algumas alegrias antes de passar o bastão ao seu sucessor na F1.
Continue nos prestigiando com seus comentários.
Abraços,
Wagner
Brasileiro é tudo falastrão, reclama do Massa, reclama do Rubinho e não sabe nem fazer punta tacco ou mesmo controlar corretamente um carro com câmbio automático (vide acidentes do tipo "errei o pedal").
ResponderExcluirEu estou torcendo para o Massa ir para a Lotus, não por lógica mas sim por paixão rs...
Hugo,
ResponderExcluirVamos ver se novamente teremos a badneira brasileira à bordo de um carro preto e dourado.
Abraço,
Wagner
Por sinal, a Lotus acertou em cheio voltar com o padrão de pintura "John Player Special", clássico demais. O que poderíamos ver era a McLaren voltando ao estilo Marlboro, já pensou? São pequenos detalhes mas seria demais.
ExcluirSim, seria demais se a McLaren voltasse ao padrão de pintura da época da Malboro. O motor Honda já tem data pra voltar. Só faltava um brasileiro competitivo lá, aí a alegria seria completa.
ExcluirPrezado Mestre WG, estou tentando me inscrever no congresso, mas está dando página não pode ser exibida, meu e-mail é ailton_cezar@hotmail.com e estou interessado no tema. desde já agradeço.
ResponderExcluirOi Wagner.
ResponderExcluirPoderia delinear esta questão da TV Globo? Ela coloca alguma quantia relevante em dinheiro para ter um brasileiro no grid e garantir melhor audiência, ou é apenas "pressão financeira" sobre a questão das renovações nos contratos de transmissão?
Boa sorte no Painel Motorsport. Precisamos de medidas urgentes para renovação do nosso celeiro de "artistas da roda".
Que as grandes estruturas estejam cada vez mais financeiramente disponíveis para os que desejam participar, sejam em campeonatos, como também em eventos de final de semana. O mercado de autos cresce, e alguns entusiastas querem algo mais do que ter o carro polido para aquela voltinha no final de semana, querem explorar a dinâmica do veículo, e nada mais racional do que a indústria e o estado dar apoio para que isto seja feito em lugar apropriado. O momento parece oportuno, pois temos uma melhoria na presença dos fabricantes de automóveis e autopeças - investimento na produção local.
Talvez seja boa hora para alguns mostrarem do que seus produtos são capazes, antes que o mercado faça a sua própria imagem, muitas vezes injusta. Nomes desconhecidos no nosso mercado poderão ter a chance de melhor visualização de sua marca. E nada melhor do que quando estão atreladas à performance e confiabilidade.
Caro Allan,
ExcluirDesculpe a demora em responder suas questões.
A importância da TV Globo nesta negociação - como em outras que envolvem eventos esportivos ou culturais e patrocínios -, é algo complicado de explicar. Não basta o evento a ser transmitido ter apelo público se alguém não paga a conta da produção, compra de direitos de transmissão e todas as despesas inerentes à cobertura. Um evento de abrangência mundial como a F1 exige um investimento alto: passagens de primeira classe para seu locutor principal é apenas a ponta do iceberg. Embora o caminho entre patrocinador, piloto e os interesses da TV e da própria FOM (a empresa que detém os direitos do Mundial de F1) seja de mão dupla entre todos os esses pontos, há sempre um nó viário aqui e ali para ser desatado: os motivos que levam o patrocinador a comprar a cota publicitária, a exposição que o piloto terá nas entrevistas à TV (lembre-se do corte acima dos olhos para não mostrar o logotipo no boné...), e a exposição que a TV dá à categoria no mercado mais importante da América do Sul devem ser satisfeitos de maneira interessante para todos. Pode parecer surreal, mas sei que os direitos para a TV na Argentina já foram comercializados de maneira, digamos, mais amistosa como investimento para fazer a categoria voltar a crescer no país vizinho. Enfim: a Globo não coloca exatamente uma quantia relevante em dinheiro, mas cria um pacote publicitário mais interessante ao patrocinador que apoiar ao piloto e sabe que não é interessante negociar muito duro com Bernie Ecclestone. Complicado? Sim, mas espero que tenha ajudado a esclarecer parte das suas dúvidas.
Com relação ao automobilismo nacional está mais do que na hora de explorar esse potencial. Afinal, se você considerar que 5% da massa social que ascendeu de classe gosta de automobilismo já é um segmento interessante. A solução para capitalizar esse investimento é oferecer um produto que seja acessível a esse mercado e não tentar vender uma conta fora de suas possibilidades.
Continue nos prestigiando com sua leitura e seus comentários.
Um abraço,
Wagner
Ótima matéria! Vou cravar aqui que o Massa vai pra McLaren. Eu, no lugar dele, assim o faria.
ResponderExcluirJoão Guilherme,
ExcluirProblemas técnicos com internet e computadores atrasaram minha resposta, desculpas.
Soluções econômicas e acertos internos garantiram a permanência de Jenson Button na McLaren, como foi anunciado hoje.
Abraços.
Wagner
Sinceramente. Massa, vai pra casa vai. Independente da sua nacionalidade, dá nojo de ver o seu comportamento dentro das pistas.
ResponderExcluirAndré,
ExcluirPor mais que Massa não o agrade ele ainda tem o respeito de muitas equipes e dirigentes da F1 pois sabe defender os interesses de quem o emprega.
Você pode não concordar, mas é assim que as coisas funcionam, pelo menos na F1.
Abraços,
Wagner
Wagner, seu comentário está correto, só que o que o Massa pratica chama-se anti-esporte. Quem quer ser um vencedor e não apenas olhar para o salário no "fim do mês", precisa fazer exatamente o contrário que o Massa faz. Acho que o Massa tenha vaga na F1 exatamente pelo que você disse, porém minha torcida é para que ele suma do mapa. O esporte não precisa de "esportistas" como ele.
ExcluirAbraço,
André.
Prezado Wagner, lendo hoje, 22/04/2014 essa matéria, deu para perceber o quanto ela foi sensata, coerente e vc praticamente acertou na mosca.
ResponderExcluirParabéns pela lucidez