Fotos:
Divulgação, Clássicos Caslini e arquivo pessoal
Grid de largada do Pé na Tábua, popularmente chamado de Corrida de Calhambeques |
Sabe aquela idéia de que carros de corrida têm centenas de cavalos no motor, pneus largos, volantes pequenos e é pilotado por jovens magrelos? Então, meu amigo leitor, esqueça quando o assunto for a Corrida de Calhambeques, um divertido evento de carros antigos que se realiza em Franca, no interior do estado de São Paulo.
No Pé na Tábua colecionadores se livram da idéia de manter os automóveis em cavaletes, ou deixá-los parados em cima de um gramado de alguma praça no interior para expô-los ao público. A filosofia do evento é outra, colecionadores transformam-se em pilotos, alguns levam diversos automóveis só pelo prazer de participar em mais de uma categoria.
Equipe Clássicos Caslini levou três automóveis, dois para a categoria Speed |
Nesse encontro são aceitas inscrições de veículos fabricados até 1936 e os automóveis vão até à terra dos calçados para que seus donos coloquem o pé na tábua, expressão que dá nome ao evento organizado pelo jornalista e estudioso do antigomobilismo Tiago Songa.
Juntar 58 automóveis pré-guerra é um ato de heroísmo tão grande quanto o fato de colecionadores levarem suas preciosidades para correr numa pista – tudo bem que alguns se limitam a passear, mas a grande maioria foi para correr mesmo.
Ford Roadster 1936, um dos mais "modernos" do evento |
É emocionante ver automóveis raros como o pequeno Dixi 1928, carro pai dos BMW. O pequeno motor de quatro cilindros é modesto, mas isso não diminui o modelo, que tem apenas seis unidades conhecidas com a carroceria barqueta. Mas pequenos não são só os números referentes ao modelo de fabricação e quantidade de peças com essa configuração, também é “nanico” nas medidas e no motor, um quatro-cilindros que tem o tamanho aproximado de uma bateria de carro – das pequenas, é bom ressaltar.
O gigantismo do exemplar fica certo quando ele é quem rouba olhares de colecionadores que param para admirar e elogiar o precursor dos BMW, não à toa, que hoje faz parte de uma das maiores e mais importantes coleções do país.
Dixi: para ele o termo "pequena grande raridade" não é figura de linguagem |
E que tal um belo Buick 1933 com apenas 90 unidades produzidas? O veículo pertence à família Storani, colecionadora dos primórdios do movimento antigomobilista brasileiro. Em sua coleção, belos conversíveis dos anos 1920, 1930 e 1940 conviviam lado a lado e serviram de modelo para sua criação, o Concorde, um belo fora-de-série nacional que usava o Ford Galaxie como base e tinha a carroceria em plástico reforçado com fibra de vidro inspirada em modelos da coleção.
A traseira foi inspirada no Buick, que permanece na coleção até hoje e ficou 30 anos aguardando o momento de voltar a andar. Era tamanha vontade do carro e seus donos em circular que ele liderou sua categoria ponta a ponta, fazendo justiça à fama de bons giros que o enorme motor de oito cilindros em linha tem até hoje.
Buick 1933, largou na pole de sua categoria e conquistou o lugar mais alto do pódio |
A traseira do Buick inspirou João Storani e sua criação, o Concorde |
A velocidade média dos veículos oscilava entre os 80 e 100 km/h. Parece pouco nos padrões atuais, mas imagine que inevitavelmente você está nessa velocidade com um carro sem qualquer assistência eletrônica, com folgas na direção e em muitos casos freios a varão – aquele sem ajuda da hidráulica, que depende única e exclusivamente da força que o motorista (neste caso, piloto) põe na perna.
A prova mais aguardada era a categoria Speedster, com a participação de carros com carroceria de corrida da época e preparação de motor, Nélson Piquet participou com seu Lincoln 1927 equipado com um belo motor V-8 flathead, o veículo participou de provas no Uruguai e no Brasil, incluindo o Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, no Circuito da Gávea.
Lincoln 1927 de Nélson Piquet, carro e piloto são íntimos das pistas há décadas |
No evento Nelson Piquet correu sem o tradicional capacete branco e vermelho |
O tricampeão de Fórmula-1 foi seguido de perto por dois modelos A Speedsters, que tiveram seus motores especialmente preparados para a corrida. O motor original de 40 hp (40,6 cv) dos Fordinhos ganhou um kit americano especial para Ford modelo A, bomba de óleo auxiliar e radiadores maiores, além de upgrade na carburação, coletores e novas rodas, feitas em discos maciços de alumínio. Essa última precaução foi um aprendizado da corrida do ano passado, quando o Speedster vermelho teve uma de suas rodas originais – raiada – quebrada durante uma curva.
Piquet seguido de perto por um Modelo A 1929 Speedster |
Como se já não fosse curioso suficiente acompanhar de perto o maior evento de automóveis pré-Segunda Guerra Mundial do país, segundo Tiago Songa um grid especial não estava preocupado com a velocidade e sim com o espetáculo, automóveis curiosos mostrando que o automóvel é peça de coleção sim, relembra uma época também, mas se andar fica ainda mais atraente.
Imagine um carro com exatos 100 anos de idade, pois é... o Ford modelo T de 1913, o centenário automóvel passeou pela pista dividindo atenção com um Chevrolet 1936 equipado com um sistema que o tornava bicombustível na época, os anos da Segunda Guerra Mundial: o gasogênio, neste caso abastecido com carvão. Entre os carros, um caminhão histórico roubava a cena: era o Anastácio, caminhão usado por Mazzaropi em seu primeiro filme, "Sai da Frente" (1952).
Anastácio: o Chevrolet 1930 que co estrelou o primeiro filme de Mazzaropi |
Chevrolet 1936 Sedan, equipado com gasogênio |
Ford T 1913, um século em pleno funcionamento |
Se observar esses veteranos em pleno movimento numa pista é bom, notar que originais, preparados, hot rods e customizados convivem num mesmo lugar em plena harmonia é melhor ainda. Talvez esse seja o único, ou um dos raros, eventos onde a beleza não é o mais importante e sim a possibilidade de acelerar sua máquina e por um momento ser tão competitivo quanto o dono daquela outra em perfeito estado de conservação e originalidade que papa os prêmios em “concursos de elegância”.
Afinal de contas, carro foi feito para andar... Melhor ainda se puder correr!
Afinal de contas, carro foi feito para andar... Melhor ainda se puder correr!
PT
Também gosto de carro "no uso", sem frescuras porém com cuidado.
ResponderExcluirÉ isso aí! O evento deve ter sido bacana!
Lamentável o fato de deixarem de lado a participação do PACKARD EIGHT tipo 903 de carroceria Dietrich Coupe Cabriolet, ano 1932, que pertenceu ao ILMO SR. ROBERTO LEE (em memória). Após 40 anos de abandono, o veículo não só voltara a andar, mas também participou de uma corrida de calhambeques.
ResponderExcluirEssas que não dão para se entenderem...
Caro "j", tudo bom?
ExcluirRealmente o Packard por você citado é maravilhoso e o fato dele ter voltado a ativa, graças ao meu amigo Marcelo Bellato é um feito digno de muito mais do que uma citação em um texto, de qualquer forma, há alguns dias enviei uma matéria sobre a mesma corrida para o jornal O Pistão, onde há uma citação do automovel que foi do Roberto Lee.
Para fazer uma matéria é preciso escolher os elementos, seria maravilhoso falar de todos os carros, cada ultrapassagem, cada elemento que houve, mas - com certeza - não seria uma matéria e sim um livro.
Obrigado por sua critica e espero que entenda e compreenda que sou tão fã do Lee e seu Museu Paulista de Antiguidades Mecânicas quanto você. Na medida do possível tenho divulgado, como posso e conforme há possibilidade.
Portuga, tambésm sou fã do Lee e talvez um dos últimos a visitar seu museu particular em Caçapava enquanto ainda estava imaculado, fechado e parado no tempo como o grande Sr. Roberto deixou. Tenho fotos (ainda em negativo) dessa pérola do meu passado, sentado no volante do Alfa Romeo de corrida e do Tucker Torpedo que lá existiam, entre muitas outras preciosidades. Esta história da visita e as fotos estão à sua disposição se quiser, um abraço e ótimo post.
ExcluirOlá Elio Filho, gostaria muito de ter acesso a este material, obrigado pelo oferecimento. Graças ao meu amigo Marcelo Bellato, que é um herói, também tive a oportunidade de conhecer de perto os carros que você cita.
ExcluirTraduziu muito bem o evento que foi um show de história em movimento!
ResponderExcluirParabéns aos herois que mantém a história do automobilismo e do mundo automotivo vivas. Eventos como este deveriam ter ampla divulgação, não somente em sites de entusiastas.
ResponderExcluirE digo mais: precisamos de mais cultura automotiva e de engenharia em nossas escolas. Deveriam ensinar aos nossos jovens a evolução das máquinas e motores, pois talvez isso ajudaria a suprir uma grande carência em nosso país: a formação de engenheiros.
Divertido demais! Inda mais ver Piquet ao volante de um deles.
ResponderExcluirA melhor parte é exatemente saber que esses carros não estão servindo para acumular poeira em algum galpão, esperando a especulação de antigos os valorizar ainda mais. Carro é feito para andar e melhor ainda se puder andar rápido em um circuito, deixando muita gente feliz em apenas vê-los funcionando.
ResponderExcluirJá vi esse Lincoln do Piquet aqui em Brasília. Por fotos não parece, mas o carro é bem grande.
E o Modelo T com rodas maciças está parecendo um Hot Rod pré-guerra, muito bonito.
Quanto ao caminhão do Mazzaropi, com certeza emocionou muita gente, principalmente aqueles que assistiam as chanchadas nos cinemas da época.
Senhores autoentusiastas,
ResponderExcluirBasta uma simples assistida ao "Sai da frente" que perceberemos que o caminhão em questão não é o mesmo - o original é um Chevrolet Capitol Modelo AA 1/2 ton de 4cil ano 1928, enquanto este é um Chevrolet Modelo LQ 1 ton de 6cil ano 1930. O que mais vale é a impecável e autêntica recriação em questão.
Caro Anonimo,
ExcluirSe este é um dos caminhões usados no filme, ou não, só mesmo pegando cena a cena. Segundo informações de fonte digna e respeitável, Mazzaropi usou mais de um caminhão Chevrolet para os seus dois primeiros Filmes "Sai da Frente" e "Nadando em Dinheiro", para dar personalidade ao Anastácio, dizem os antigos da Vera Cruz que foram usados três veículos, que eram antigos carregadores de tralha. Um deles, dois 1930 e um 1931. Um deles - o da foto - teria sido dado como pagamento ao Martinelli, adestrador de animais que trabalhava para a indústria cinematográfica da época e era o dono do cachorro do filme (o "coroné"), bom, mas isso é texto para um futuro post, ainda estou na fase da pesquisa...
Eu estava estes dias me perguntando sobre os carros com o "kit" de gasogênio, se alguém tinha notícia de algum em plena forma. Este que participou do evento já mostrou que sim.
ResponderExcluirConheço dois veículos que estão com o gasogênio na ativa. Quem sabe um próximo post só sobre esse "bicombustível" de época.
ExcluirPortuga,
ResponderExcluirmuito legal esse tipo de movimentação de carros tão antigos. Avise antes da próxima, por favor.
Muito legal o texto. O Pé na Tábua é um evento feito para que o antigomobilista viva o antigomobilismo. Para 2014 o PNT promete ser ainda melhor... obrigado. www.penatabua.com
ResponderExcluirGrande Songa!
ExcluirPortuga ou bob...
ResponderExcluirOutro dia o bob me deu uma dica para desentupir as esferas
da rapida do meu fusca...
E se eu passar a abastecer aditivada?
Oq acham?
Obrigado e abraco.
Ps fantastico esse evento. Tb sou fa do piquet...
Olá curioso, tudo bom?
ExcluirParticularmente eu não gosto de usar a gasolina aditivada, já que ela é uma gasolina comum e no posto de combustível misturam um aditivo detergente que em teoria promove a limpeza pelos lugares onde a gasolina passa. Isso num carro novo e andando na estrada, ok, mas em um automóvel antigo é algo que não gosto, pelo menos nos meus não tive bons resultados.
Os carros que uso mais eu abasteço com gasolina comum e tenho o costume de liga-los toda a semana e dar uma voltinha, nem que seja dentro do galpão mesmo.
Já nos carros que ficam mais temo parados eu coloco gasolina de alta octanagem (as tais gasolina premium que algumas bandeiras tem), fico com a impressão de que ela "decanta" menos no tanque.
Se eu for digno de dar algum conselho, o que te diria é procurar um posto de altíssima confiança e só abastecer neste posto. Moro em São Paulo e uso três postos de combustível como referência para meus abastecimentos com os carros antigos (um deles também é usado pelo Bob).
Parabéns pelo Fusca.
Maravilhosos carros que duravam uma vida, parabéns a pessoal de Franca.
ResponderExcluirCoronel Anônimo