Fotos: Ford House/departamento de imprensa
Ford 1934 Model 40K Special Speedster, a obra-prima de Edsel e sua equipe |
O nome é grande: Ford 1934 Model 40 Special Speedster. A
velocidade máxima também, superava os 240 km/h, mas seu recorde – sem dúvida –
foi o tempo de construção, seis anos de dedicação e diversos profissionais
envolvidos para criar um belo e rápido automóvel único, um exercício de
trabalho em equipe por um objetivo único.
Foram seis anos de construção, mas há quem duvide que tenha valido a pena |
Edsel Ford, filho de Henry Ford, o fundador da Ford Motor
Company, estava em busca de um automóvel esportivo. Ao contrário do pai, que era
prático, o herdeiro da fábrica de veículos se interessava pelas formas. Assim
nasceu a vontade de criar um roadster de corrida, na época também conhecidos
como speedsters. Quando criança, sempre acompanhou o pai pelo chão de fábrica. Enquanto o adulto Henry estava munido de ferramentas, o “garoto Edsel” estava
com papel e caneta nos bolsos, seu objetivo era o desenho, quase sempre de
carros, os esportivos entre os preferidos.
Esse histórico é o evidente inicio da semente de Edsel pelas
formas e, conseqüentemente, a criação do departamento de estilo e carroceria da
Ford. Em 1932, com a chegada e a popularização do motor V-8 da Ford, Edsel começa a ver nos
carros da família a realização do Speedster com que tanto sonhava quando criança. Dois anos depois, em 1934, um chassi de um modelo conversível,
conhecido como modelo “40K” por conta do acabamento e carroceria que receberia, foi especialmente retirado da linha de montagem para se tornar um
automóvel artesanal e único.
Ford Modelo B roadster, equipado com a grande novidade, o motor V-8 |
Nesta época Edsel já havia conseguido dobrar seu pai a investir
alguns bons tostões no departamento de estilo da empresa, supervisionado por
Robert Gregorie. Então Edsel chegou ao amigo e mostrou o que planejava, caberia
a Gregorie tornar o croquis feito no papel em algo de metal e realizável.
Os
primeiros esboços não agradaram, mas a dupla arregaçou as mangas e transformou a idéia
em realidade.
A distância de entre eixos foi aumentada em uma polegada (25,4 mm), isso
deu ao projeto uma aparência de ser muito mais baixo do que qualquer outro
veículo de 1934, mas a altura era – ainda – a mesma.
Veio então a ideia de deslocar
o habitáculo para trás, permitindo que o conjunto mecânico ficasse 100% entre os
eixos do veículo. O próximo passo foi recriar o chassi, que ganhou um
arqueamento para provocar um rebaixamento proposital no carro. Pronto, agora sim,
estava bem mais baixo que um automóvel de série.
O visual baixo do automóvel é resultado de retrabalho na carroceria e no chassi |
O projeto ganhou um tamanho descomunal dentro da empresa,
transformando-se num divertido quebra-cabeças que ocupava o tempo entre uma e
outra obrigação diária. Robert Robinson, que era o responsável pelo
departamento de construção das aeronaves Ford, foi incumbido de criar uma carroceira aerodinâmica para o Speedster.
Assim, o carro ganhou uma traseira em cunha, o suficiente para evitar a turbulência do ar – que provocaria arrasto aerodinâmico – e em vez
de chapas de aço o alumínio chegou para dar forma ao veículo. As soldas foram
tão alisadas que davam a impressão de a carroceria ser uma peça única.
Avião Trimotor Ford, construção de Robert Robinson |
O Speedster foi pintado em um tom de
grafite chamado de “Essência de Pérola Negra
” e o interior recebeu couro cinza, conferindo um visual monocromático que misturava a ousadia com um toque de luxo.
O painel de instrumentos recebeu mostradores adotados na linha Lincoln, assim
como o motor, que também veio da marca de luxo do grupo Ford. Eram apenas 75 cv,
muito velozes para aqueles tempos.
Tons da carroceria e interior formando um efeito monocromático em cinza |
O Ford 1934 Model 40 Special Speedster já
estava batizado, mas ainda era um projeto em andamento dentro das instalações
da fábrica que até então haviam sido consumido quatro longos anos de horas de folga. O carro havia recebido uma grade dianteira inteiriça e pára-brisa,
mas isso ainda mudaria. Os novos estudos de aerodinâmica mostravam que automóveis não cortavam o vento como se queria e nem seriam tão velozes quando
deveria. Mas era muito tempo investido para voltar atrás.
Special Speedster em sua primeira concepção |
Entre 1939 e 1940, o forte inverno congelou
a água dentro do motor e rachou o bloco V-8 flathead. Seria motivo de tristeza
para qualquer um de nós, mas para Edsel e sua “galera” era a desculpa perfeita
para que o carro ganhasse o novíssimo motor V-8 do Mercury, o mais veloz entre
todos que a marca possuía, o flathead de 100 cv permitia que, enfim, o “esportivo”
chegasse ao objetivo de ser veloz. Mas seu desenho não era mais atual, era um
novo carro velho.
Em 1939, Gregorie já havia projetado uma
nova dianteira para o Lincoln Zephyr e não titubeou ao oferecer a instalação da
nova dianteira no Special Speedster, tudo casou harmoniosamente bem. Os
resultados foram melhores que o esperado, o automóvel ficou tão veloz que foram
necessários novos instrumentos, já que agora a velocidade máxima era de 160
milhas por hora (240 km/h).
A nova e definitiva dianteira que deixou o automóvel mais bonito e "moderno" |
O automóvel finalmente ficou pronto no
verão de 1940 (em junho), três anos antes do precoce falecimento de Edsel Ford. Ele passou mais tempo construindo do que dirigindo o
seu Ford 1934 Model 40 Special Speedster, mas, tudo bem, sua meta sempre foi
construir carros e manter o legado iniciado por seu pai, que voltou para
dirigir a empresa com a partida de Edsel.
Mas quem testemunhou a volta do velho
Henry à direção da companhia registrou que o pai estava triste com a partida do
filho, mas feliz em ver que “o garoto” construiu carros tão bons e mais bonitos
que os seus.
Um dos poucos pontos pontos inalterados do carro, a traseira em estilo boat tail |
PT
Belíssimo Ford! Como era ousado. As formas saíram direto dos carros de corrida da época.
ResponderExcluirInteressante a abordagem do Portuga, contrastando o pragmatismo do Ford pai com a ousadia do filho Edsel.
Questão de ordem: as fotos estão aparecendo individualmente ao clicar. O sistema de slides foi desativado? Ou será algum problema com meu navegador?
Obrigado Mineirim, mas fica fácil fazer um texto aceitável quando o carro é belíssimo e a história é grandiosa. Agradeço as suas palavras e sua atenção.
ExcluirMineirim
ResponderExcluirPelo jeito, o blogger (Google) desativou os slides, mesmo no posts anteriores. Isso é algo sobre o qual não temos controle, infelizmente. Tanto no Firefox (que uso normalmente) quanto no Chrome está assim agora.
Em todos os blogs que frequento ocorreu essa mudança. Agora só abre slide do picasa.
ExcluirSrs. Bob e Portuga, lá no quinto paragrafo, creio que o chassis foi aumentado no entreeixos em "10 polegadas" , 254 mm mesmo. Se compararmos com a foto logo acima, de um ford comum, percebe esse palmo e pouco a mais no entreeixos.
Luiz CJ.
Luiz CJ
ExcluirO aumento do entreeixos foi só de 1 polegada mesmo, de 112 para 113 polegadas, ou seja, mais 25,4 mm, e não 254 mm. Já está corrigido no texto.
Experimenta fazer uma série destes (com a mesmíssima aparência, e + 70 anos de avanço tecnológico em tudo que se refere à mecânica de um carro) para ver se não vende rapidinho. Em aparência, a única coisa que eu acrescentaria seria a oferta de interior e carroceria em outras cores além das originais.
ResponderExcluirMr. Car, em tempos de economia e todos os carros parecendo uns com os outros os veículos tem perdido personalidade, mesmo nos casos de "carros dos sonhos", também torço para que projetos com personalidade própria venham a existir em maior quantidade.
ExcluirMuito bonito! Onde esse carro se encontra, hoje?
ResponderExcluirOlá Marcelo, hoje o carro está na fundação Fordhouse.
ExcluirNão existe lugar melhor para guardar este carro.
ExcluirAposto que qualquer pai no lugar do Henry faria o mesmo.
Minha nossa: um carro com velocidade espantosa dessas e pneus tão finos? Imagino o comportamento desse carro em altas velocidades e em curvas...
ResponderExcluir240 km/h é algo que nos dias de hoje ainda soa como "insano".
Imagine então o que era pilotar os "Flecha de Prata" de 550 cv da Auto-Union no pré-guerra.
ExcluirNa época em que os pilotos tinham mais massa que os pneus era necessário uma dosagem de insanidade e bastante coragem para ser piloto, acredito que por isso tantos homens "malucos ao volante" foram tão admirados, um dos poucos casos que me faz querer ter nascido antes.
ExcluirTaí um carro que merecia uma réplica, talvez até da própria Ford - uma espécie de Prowler.
ResponderExcluirO carro ainda existe, o Edsel II (neto de Edsel e bisneto de Henry) vendeu o veículo, que mudou de diversos donos, mudou de cor, mudou de detalhes e foi comprado e restaurado por uma empresa de leilões, quem arrematou foi Bill Ford e hoje está na fundação/museu Fordhouse.
ExcluirFabulosa estoria! Obrigado por compartilhar...
ResponderExcluirQuem desejar pde pesquisar diretamente no sítio do veículo, onde encontrará, inclusive, fotos de etapas da restauração: http://www.fordhouse.org/speedster/index.html
ResponderExcluirRenato
Isso mesmo, o site é maravilhoso, vale a pena visitar, o assunto lá ultrapassa os limites automotivos e chega em outras facetas, gostos pelas artes e realizações de Edsel e Eleanora.
ExcluirSempre achei esse carro lindo, mesmo antes de saber sua história e através de fotos onde está pintado de vermelho em algum lugar do passado. Há uma pureza e simplicidade nas linhas que não é muito comum aos carros da época, ao mesmo tempo que parece saído de algum filme de ficção científica dos anos 30/40.
ResponderExcluirE não sei se sou apenas eu, mas na maioria das fotos de estúdio ele parece verde, enquanto que ao ar livre é claramente cinza.
Pois é Marcos, esse efeito era chamado na linha Ford dos anos 30 como "Grunmetal" da cor faz com que seja uma pintura "camaleão de época". Hoje mesmo estava estudando um catalogo dos Fords 35 e 36 e achamos alguns matizes dessa cor como original de fábrica. (estou ajudando um amigo a restaurar um Ford 1935 5-window coupé).
ExcluirBom...Talento é sempre uma coisa indiscutível que o tempo teima em mostrar e corrigir malversações. Não conhecia a história deste carro, mas é indiscutivel o capricho das linhas criadas seja lá a quantas mãos foram, mas com certeza todas muito talentosas.
ResponderExcluirAcredito que um bom trabalho nunca e feito solitariamente, mesmo que uma pessoa realize sozinho, alguém influenciou, ensinou e acabou - mesmo sem querer - incentivando.
ExcluirO Ford modelo "B" é o 4 cilindros flathead. O V8 de 1932 é o Model 18 (First Eight). O Modelo 40 é o Ford 1933 e 1934, corretamente dito pelo texto.
ResponderExcluirOff-topic: um incrível passeio de carro com uma família japonesa pela São Paulo de 16/10/1988:
ResponderExcluirhttp://blogs.estadao.com.br/edison-veiga/2013/03/28/um-passeio-de-carro-pela-sp-de-16-de-outubro-de-1988/?doing_wp_cron=1364503977.8137340545654296875000
O 1º motor desse carro foi um "flathead" V8 do próprio Ford modelo 40 (1932), com 221 polegadas cúbicas e 75 HP. Na época o Lincoln usava um motor V12 com 414 polegadas cúbicas, muito pesado para o Speedster. A velocidade de 160 milhas só existiu no velocímetro. A cor era "Gunmetal Dark", algo como aço de canhão escuro; recebia um aditivo com aspecto perolizado, daí a expressão "Pearl Essence". Embora elegante, o estilo do auto era pouco original: havia muitos exemplares do tipo "boat-tail" nos anos 20 e 30. E os europeus já estavam aderindo ao formato aerodinâmico que representava o futuro. AGB
ResponderExcluirExcelente texto acerca de um interessantíssimo veículo, o qual ainda não conhecia!
ResponderExcluirSó uma correção: a velocidade de 240 km/h equivale a 150 mph, não 160. 160 mph são 257 km/h.
Por que será que não usaram o V 12 dos Lincoln Zephyr?
ResponderExcluirAAM
Porque o Lincoln Zephyr só apareceu em 1936. AGB
ResponderExcluirAlguém se habilita a fazer uma réplica? Ia ser divertido se tivessem um bloquinho Shelby para por no cofre...
ResponderExcluir