Foi o oitavo Blue Cloud. Uma ideia do jornalista, blogueiro, autoentusiasta e, principalmente, apreciador de DKW & derivados Flávio Gomes, e de Paulo Renato Arantes, que organizaram o primeiro em 2003, em Caxambu, a conhecida estância hidromineral no sul do Estado de Minas Gerais.
Este ano, como todos os Blue Cloud, o encontro também foi em Minas Gerais, na aprazível Poços de Caldas. O palco escolhido pelos organizadores - o Flávio, o médico niteroiense Hélio Marques e o apaixonado pela marca Ayrton Amaral Jr. - foi o clássico Palace Hotel, inaugurado em 1929 e recentemente restaurado pelo grupo Carlton Plaza.
Os carros, num total de 63, um recorde, ocuparam a área de estacionamento na parte de trás do majestoso hotel, onde a foto acima foi tirada.
Desse total, havia um Passat. Explica-se. Há três anos abriu-se espaço para a continuidade do DKW-Vemag, os Puma VW e a herança da Auto Union/DKW, os Passat, originados do Audi 80, mas neste Blue Cloud houve uma espécie de seleção natural e só havia um carro não DKW.
Havia também dois Wartburg, o DKW fabricado na então Alemanha Oriental pela IFA, sigla de Industrieverband Fahrzeugbau der DDR, fabricante de veículos controlada pelo governo. da República Democrática Alemã. Um era o modelo 311 perua, já descarecterizado por estar com mecânica DKW mas mesmo assim valendo a pena vê-lo; outro, um 353 W ano 1988 do Flávio Gomes.
Flávio Gomes e seu Wartburg 353 W |
A IFA era uma das fábricas da Auto Union que ficou em Eisenach, no lado oriental, da Alemanha após a divisão do país pelas forças aliadas vencedoras da Segunda Guerra Mundial. Essa parte país ficou sob controle da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Por isso, também são de motores a dois tempos de três cilindros, a exemplo do DKW-Vemag que tivemos fabricados aqui de 1956 a 1967.
Esse último Wartburg exibe notável grau de evolução sobre o DKW que conhecemos (embora na Alemanha tenham existido modelos notáveis também, como os DKW F-11, F-12, Junior e F-102, este o que deu origem ao Audi 60 em 1965).
A suspensão dianteira é independente por triângulos superpostos com molas helicoidais e a traseira, independente também, com braço arrastado. A distância entre eixos é exatamente a mesma do nosso DKW-Vemag, 2.450 mm. O motor traz um carburador duplo progressivo com bomba de aceleração, o radiador fica na dianteira (não mais atrás do motor) e o seu ventilador já é elétrico.
O motor é de 1 litro/50 cv, mas com mais curso que o DKW (78 contra 76 mm), o que lhe deu mais torque (10 mkgf contra 8,5 mkgf do DKW) e consequentemente mais elasticidade. E conta com bomba d'água e ignição transistorizada de só um platinado. Há detalhes internos exclusivos, como os três cilindros orientados iguais (dois num e um noutro, no DKW) e a vela de ignição um pouco deslocada do centro. Tudo a ver com a dinâmica de queima, claro. Enfim, um belo carro.
Não tem dosificador de óleo, como o Lubrimat dos nossos DKW a partir de 1964, em compensação a mistura gasolina-óleo é 50:1 (40:1 no DKW).
A versão do carro do Flávio é a topo de linha e tem alavanca de câmbio no assoalho, de "H" de quatro marchas universal. Ele me ofereceu para dirigi-lo e achei o carro simplemente sensacional. Silencioso e suave, com uma primeira bem longa, com eu gosto. O estado do carro, painel, instrumentos, revestimento dos bancos, é ótimo. Dá gosto. O Flávio fez mesmo a compra da vida dele.
Bate-papo o tempo todo
Nos Blue Cloud (nuvem azul, nome alusivo à fumaça azulada que sai do escapamento quando o motor dois-tempos está frio) é bate-papo o tempo todo. Hora de falar sobre os carros, aventuras, problemas, soluções, num ambiente de enorme camaradagem Acho que o carro ajuda, pois o DKW um quê de especial explicável talvez pela herança genética (os Auto Union de Grand Prix da década de 1930, que chegaram a correr aqui, ou mesmo a singularidade do motor a dois tempos).
Foram produzidos ao todo 100.000 DKW, entre sedã, perua e utilitário todo-terreno. Estima-se que ainda rodem 10 mil Brasil afora.
O Blue Cloud é o momento de rever amigos, como o Edmar Fabri, que conheci nos anos 1990 quando ele era assessor técnico da Volvo Cars, pessoa de capacidade técnica ímpar. Ele viajou desde Curitiba, onde reside, com sua Vemaguet. Outros DKWzeiros como o amigo Flávio "Coral" Godoy Moreira, apelido devido à cor do DKW sedã 59 que possui; o Carlos Zavataro, amigo dos temps de juventude e que tem um dos mais belos Malzonis que conheço; o José de Mattos Souza, que costuma assinar Ma2Tos só por causa do motor 2T, que sempre viaja de Brasília até os encontros ao volante da sua Vemaguet 1967, uma das últimas produzidas e que tem embreagem automática Saxomat.
A lista de amigos é grande: o carioca Roberto Fróes e seu DKW 1961; o paulista no Celso Santoro e seu Candango 4 impecável; e muitos outros. O papo este ano foi animado por um conjunto que produziu um fundo musical apropriado, evocando os anos 60 e 70.
Tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o famoso gaúcho de São Leopoldo, o Fernando Jaeger, que tem dedicado especial atenção à produção e comercialização das mais diversas peças para DKW. Seu empenho nessa atividade é ímpar e exemplar.
Tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o famoso gaúcho de São Leopoldo, o Fernando Jaeger, que tem dedicado especial atenção à produção e comercialização das mais diversas peças para DKW. Seu empenho nessa atividade é ímpar e exemplar.
Música ao vivo para alegrar ainda mais o ambiente |
Os carros estacionados vistos de outro ângulo |
Uma surpresa: na saída, quando caminhava para chegar até o carro com o qual fiz o bate e volta a Poços de Caldas neste sábado, um New Beetle, me deparei com um carro que fotografei só para compartilhar com o leitor, tão bonito e bem feito que achei. Muitos o apreciarão, especialmente o MAO:
É ou não coisa de Salão da Sema (Specialty Equipament Marketing Association), de Los Angeles, este Chevette? Não é meu estilo, mas que é uma beleza, sem a menor dúvida. Parabéns ao executor.
Faróis de neblina à toa
Na viagem, para variar, os que fazem questão de acender os farois de neblina, mesmo sem haver o fenômeno meteorológico no momento, ainda por cima sendo de dia, só para o carro ficar "lindão" (essa, juro que morro sem entender...). As fotos foram feitas durante a viagem de volta focando o retrovisor interno e por isso estão muito longe de perfeitas. A de faróis mais fortes (esquerda) é de um carro que tinha dois de xenônio principais e dois auxiliares. O cara devia estar se sentindo o máximo!
Um vídeo para quem nunca escutou um DKW funcionando ter ideia de como era. Para quem já, serve para matar a saudade:
BS
(Atualizado em 1/11 às 9h40)
Bob, à medida em que eu ia lendo esse post pensava que o único detalhe que ele ainda poderia ter para ficar perfeito era um pouquinho da trilha sonora do motor do DKW. E chegando ao final, lá estava ela. Sensacional!
ResponderExcluirBacana, Bob. O chevettinho parece que ficou bem feito, se bobear deve ter uma mecanica interessante. Mas achei o estilo meio exagerado, a frente ficou parecendo a do HHR.
ResponderExcluirE o Beatle, presta?
abraço
Lucas
Lucas,
ResponderExcluirO Beetle é um Golf, portanto presta, está tudo certo mecanicamente. O que é ruim é o para-brisa muito distante e o banco traseiro em que quem senta ali fica sob o vidro traseiro. A VW já prepara um novo Beetle, corrigindo esses pontos, veja em http://www.autonews.com/apps/pbcs.dll/article?AID=/20101018/COPY/310189960/1294
Paulo Levi,
ResponderExcluirTinha que ter mesmo...
Uai, Bob, o próximo New Beatle ficou mais parecido com o legítimo Fusca!
ResponderExcluirAbraço
Lucas crf
Bob
ResponderExcluirAntes de mais nada, diga que o que tu escreveste sobre o Chevette é ironia, pelamordedeus!
No mais, um belo evento.
Joel Gayeski
ResponderExcluirEscrevi: "Não é meu estilo, mas que é uma beleza, sem a menor dúvida. Parabéns ao executor." Foi o que achei ao ver o carro e quis dividir com vocês. Apenas isso.
Bob, faltou mais um veículo dois tempos, não é um DKW, mas vale a citar o caminhão D-60 com motor Detroit Diesel 1453, claro sem fumaça azul mas era um outro motor 2t que rodou aqui no Brasil.
ResponderExcluirTenho um carinho especial por essa marca. Meu pai teve um Belcar 1000 ano 63, pintura saia e blusa (teto branco, restante verde-musgo).
ResponderExcluirGrande Bob, essa fumaça vc. nunca vai largar. Abração.
ResponderExcluirDú Cardim.
Felipe,
ResponderExcluirCertamente, os GM/Detroit Diesel são inesquecíveis. Quando viajava ontem rumo a Poços de Caldas, vi um cavalo-mecânico imaculado passeando na estrada. Uma visão fantástica!
Francisco V.G.
ResponderExcluirEssa combinação de cores era mesmo linda! Lembro dela como se fosse hoje!
Lucas,
ResponderExcluirFicou mesmo, e muito bom, não achou?
tem gente vendo no protótipo do próximo Beetle uma grande proximidade com o Porsche 356... a depender dos para-choques definitivos e da queda da traseira, pode ser mesmo.
ResponderExcluirOlhei a ficha técnica deste 2 litros da VW e é de dar arrepios como está defasado em torque potência. E o 1,6 da VW também está na mesmo padrão perante os concorrentes. Inacreditável!
ResponderExcluirFui o ano passado, queria ir este ano com o Puma. Mas por falta de receber algum email falando sobre evento acabei faltando.
ResponderExcluirFica para 2011 !!
Acho que a fumaça azul deixou o senso critico do Bob meio abalado para elogiar o "Laranja Mecânica" hahahah.
ResponderExcluirAnônimo da 1/11, 09:23
ResponderExcluirJá disse, não aprecio o gênero, mas trata-se de algo muito bem feito, daí o elogio.
Eu era criança e via muitos DKW na rua onde eu morava, mas hoje é mais fácil encontrar o corpo do Jimmy Hoffa. Uma pena, sempre achei o máximo aquele "Fusca com a porta ao contrário"
ResponderExcluirEsse Chevette apareceu tem um tempo no Bizarrices Automotivas, e independente do gosto de cada um, é inegável que está bem feito. Não sou muito fã de tunning, e esse tá mesmo muito exagerado, mas a dianteira igual ao SSR é aposta certa =). Perto de certas penteadeiras de p%#$ que vemos por aí (inclusive de fábrica), o carro até que tá muito bom.
Quanto ao New Beetle, queira Deus que aqueles parachoques mudem até a versão final. Fora isso e o formato das tampas do motor e da mala, o carro tá ficando muito bom. Lembro entretanto de ter ouvido em algum canto que essa geração seria uma ponte para uma terceira geração mais retro ainda, com motores boxer traseiros feitos em parceria com a Porsche. Bem, sonhar não custa...
Em tempo: será que com a nova geração acaba essa frescura e o carro volta a se chamar Beetle/Fusca/Whatever mesmo? New New Beetle não me parece um nome dos melhores...
ResponderExcluirTive que voltar ao ínicio do post e verificar o nome do Bob novamente após o comentário sobre o Chevette.
ResponderExcluir"mas que pequena picardia" devo ter pensando, lembrando do estilo preciso e sério do autor...
Gosto do Flavio Gomes, porém me incomoda muito que ele seja um admirador incondicional de Fidel Castro e do regime autoritário cubano. Trata-se de uma completa e total incoerência para alguém quem ganha a vida escrevendo sobre Fórmula 1, o mais burguês e elitista dos esportes. Pra não chamar de hipocrisia, claro. Vendo esse Wartburg, penso se ele também não nutre simpatias por aquela excrescência chamada Alemanha Oriental.
ResponderExcluirExcelente evento...
ResponderExcluirBelos carros..
Grupo fantastico...
E que em 2011 Poços seja agraciada por mais um Blue Cloud..
Afinal Poços de Caldas é uma linda cidade...
Abs
Juliano Dalla Rosa
Vice Presidente
Clube do Fusca de Poços de Caldas - MG
PS - o Chevette Laranja é de Alexei Canedo. Um belo carro feito em LATA e nao massa como muitos por ai...
Infelizmente muitos nao gostam.. mas e um belo trabalho..
Prezado Bob.
ResponderExcluirEstive lá com uma Vemaguet 64 1001 bege, de Brasília. O Flávio Gomes vai falar sobre ela no Limite de hoje, 02/11. Já conversei com você em outros Blue Clouds. Lá em Poços, naquele movimento todo, acabei não o vendo e não pude cumprimentá-lo.
Interessante é o motivo pelo qual o Wartburg 353 do Flávio Gomes não tem o dosificador de óleo, a exemplo do Lubrimat dos nossos DKWs: é que na Alemanha Oriental podia-se comprar a gasolina já misturada ao óleo, na bomba.
Abraços
Legal o Blue Cloud em Poços de Caldas. Bom para a cidade e ótimo para os antigomobilistas da cidade que tiveram a chance de ver excelentes representantes dos motores 2 tempos dos DKWs.
ResponderExcluirIderaldo Cruz
Presidente do Clube do Fusca de Poços de Caldas
Augusto,
ResponderExcluirExato, o Flávio me contou sobre a gasolina já misturada com óleo, esqueci de comentar. No Rio, nos anos 50, a Esso também vendia gasolina assim para as Lambrettas e Vespas.
Mister Formula Finesse
ResponderExcluirO carro é muito bem feito, algo totalmente fora do padrão se vê por aí, daí minha admiração. Apenas isso. Considere a arte, não o princípio.
Boa Noite. Bob.
ResponderExcluirBela reportagem do evento. A curiosidade deste evento é que tinha duas DKW com o sistema saxomat (como vc. deu uma aula sobre o tema saxomat), pelas palavras do nosso amigo de Brasilia tem quatro veiculos com este sistema de saxomat no Brasil rodando, sendo duas estava no evento.
Portugal - Rib. Preto - Belcar 67 - Saxomat.
Portugal,
ResponderExcluirBoa noite. Eu imaginava que houvesse mais DKWs com Saxomat.
Bob
ResponderExcluirObrigado por ter comparecido ao BC 2010.Vc nos honrou com sua presença e
esperamos vê-lo novamente no próximo.
um grande abç
ayrton
Ayrton,
ResponderExcluirEsteja certo de que estarei no próximo e em todos. Saiba que tenho um enorme prazer em ver vocês todos e tantos carros que fazem parte de minha história de vida. Agradeço a atenção que me dispensam.
Um abraço!