Qual foi o primeiro carro moderno a usar sistema de tração nas quatro rodas permanente, de forma que o carro pudesse ser usado no asfalto? Para a maioria das pessoas o Audi Quattro de primeira geração é a primeira resposta que vem à cabeça, mas na verdade o primeiro é o carro que vocês podem ver nas fotos que ilustram este post: o AMC Eagle.
Lançado como modelo 1980 em agosto de 1979, o Eagle chegou quase um ano antes do carro alemão, que foi mostrado no Salão de Genebra de 1980, mas só começou a ser vendido no segundo semestre daquele ano.
Lançado como modelo 1980 em agosto de 1979, o Eagle chegou quase um ano antes do carro alemão, que foi mostrado no Salão de Genebra de 1980, mas só começou a ser vendido no segundo semestre daquele ano.
Os mais letrados na história do automóvel vão lembrar do Jensen FF de 1966, um esportivo inglês que foi pioneiro em freios anti-bloqueio também, um sistema mecânico Dunlop Maxaret. É uma boa lembrança, porque o sistema de tração integral permanente usado naquele carro é exatamente o mesmo do Eagle. FF significava Ferguson Formula, ou depois FF developments, inc, empresa de Coventry, na Inglaterra. A empresa patenteou e desenvolveu o sistema de diferencial central com acoplamento multidisco viscoso (usando fluido de silicone), e desde os anos 60 tentava vender o sistema sem muito sucesso (o Jensen teve producção limitadíssima). No final dos anos 70, a GKN detinha direito nas patentes deste sistema (havia comprado a FF) e desenvolveu o sistema para a AMC.
O Eagle foi uma tentativa da AMC de trazer o perene sucesso da sua linha Jeep para os automóveis, cujas vendas andavam em petição de miséria. O carro na verdade é uma modificação no AMC Concord, um carro convencional de tração traseira e motor dianteiro. Adicionar o sistema de tração total e sua suspensão diferente, mais três polegadas de altura do solo (76,2 mm) transformava o Concord num Eagle. O motor inicialmente era apenas o AMC de seis cilindros em linha e 4,2 litros, acoplado a uma caixa automática de três velocidades. A suspensão era independente na frente, com duplo "A" sobreposto, mas com grande distância entre os braços, pelo meio dos quais passavam as semi-árvores. Atrás, eixo rígido e feixes de mola s semi-elípticas.
Apesar de não deter o fim da AMC, e ser um trabalho aparentemente feito as pressas, o Eagle não deixa de ser um carro muitos anos à frente do seu tempo. Com monobloco e tração total permanente, efetivamente pré-datou o uso do 4x4 em carros no asfalto, o que o Audi Quattro logo em seguida levaria aos automóveis de alto desempenho, tendência que hoje nos deu o Nissan GT-R, o Audi R8, e o Bugatti Veyron, sem contar uma horda de Subarus e Mitsubishi EVO sensacionais. E a versão perua é ancestral direta deste monte de “crossovers” tão em moda hoje em dia.
Mas é um carro de seu tempo; oferecido nas versões cupê, sedã e perua, só a última tem alguma chance de não ser imediatamente identificada como algo americano do início dos anos 80. Isso se a perua não tiver lateral falsa de madeira e pneus faixa branca, como muitas tinham... Acho um carro interessantíssimo por ser moderno e ultrapassado, por mostrar o passado e o futuro, um ponto de inflexão bem no início dos anos 80.
Os americanos não entenderam muito bem o carro, e já em 82 um sistema 4x4 para fora de estrada, part-time, que podia ser selecionado entre 4x2 e 4x4, mas nunca 4x4 permanente (feito um Jeep), já era equipamento básico, e o sistema permanente, um caro e pouco solicitado opcional. Aparecia em 1984 o cupê fastback SX/4, com aparência esportiva para tentar cativar um público mais jovem. Era oferecido também um 4 em linha comprado da GM, na verdade o mesmo 2,5-litros que tínhamos aqui no Opala. Até um estranho conversível chegou a ser oferecido... realmente, o Eagle era tudo menos normal.
O carro sobreviveu até o fim da AMC em 1987, tendo sido finalmente descontinuado em 1988 pela Chrysler, que ficou com o espólio da empresa.
A frente do seu tempo, mas ao mesmo ultrapassado desde o lançamento por suas origens nos anos 70; assim é o Eagle.
MAO
Muito legais o SX/4 e a perua (com laterais de madeira, please). O sedã é, digamos, exótico, mas prefiro um desses a um Classic ou Voyage cinza ratazana.
ResponderExcluirUma correção a ser feita: o motor 2.5 de quatro cilindros e origem GM que equipou o Eagle e outros carros da AMC não era o 2.5 que conhecemos aqui no Opala (153 e, posteriormente, 151), mas sim o Iron Duke, motor de origem Pontiac e cabeçote de fluxo cruzado (http://en.wikipedia.org/wiki/GM_Iron_Duke_engine).
ResponderExcluirSe bem que mesmo nos EUA persiste uma confusão entre o Chevrolet de quatro cilindros (o do nosso Opala) e o tal Iron Duke. O motor de origem Pontiac em questão tem como diferença mais visível a admissão e o escape em lados opostos e é completamente diferente daquele que ficou conhecido aqui e era modular com o 230/250.
E já que falamos de motores interessantes, passo-lhes o link de um videozinho de motores experimentais da Oldsmobile. Teve V8 com duplo comando de válvulas e construção toda de alumínio, V8 todo de ferro com essas mesmas características e também um de câmara hemisférica, isso pra não falar de um biturbo que só foi usado na Can Am. Pena que nenhum desses foi adiante:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=jJMcpixWLO0
Bom, temos aí um 4x4 permanente por, numa pesquisa rápida, menos de U$7K o wagon em 1984. Por quanto será que os americanos fariam um desses hoje? Carro alto, pra estrada ruim, em Minas isso ia vender como pão de queijo.
ResponderExcluirOutro dia, MAO, você falou de sua indiferença pelo design. Vai então uma pergunta: você é capaz de pensar na experiência de se envolver com uma Porsche (é tão sexy que o verbo só pode ser esse) com indiferença pelo design? Hein? Ahá!
Sobre o design ultrapassado do Eagle, pensemos no limite do conceito de utilitário – o taxi. Na GB e nos USA, taxis têm a tradição de usar carrocerias ultrapassadas, ou mais que isso, carrocerias indiferentes, qualquer coisa. Existe algo mais qualquer coisa que um Checker Cab? Existe! Um carro russo dos anos 60, com o que, aliás, os Checkers se pareciam. Mas, voltando, eu sugiro que você contemple o design do Eagle (que eu não conhecia, valeu) com a sua alegada indiferença. Ali ela tem cabimento. Não importa o design, é um carro de batalha, de matuto, de hillbilly. É isso aí.
Os designers comentaristas vão querer me matar depois dessa. Sorry, é isso mesmo, o mundo que tem Checkers e Porsches é um mundo legal, enquanto que o mundo cheio de um design mediano, esse está cada vez mais tedioso. Se é pra ser medíocre, prefiro um Eagle, que ao menos é ingênuo. Ou então uma Porsche logo, mas aí não é design. Aí é alta-costura.
Vi uma perua Eagle há cerca de dois anos no interior do Uruguai. Era azul com interior da mesma cor e estava muito bem conservada, embora parecesse carro de uso diário, e não de coleção. Como havia pouco que eu tinha lido a respeito no Best Cars, me aproximei para olhar de perto. O carro é bem grande comparado ao padrão dos nossos carros e tem um visual bem interessante.
ResponderExcluirQuanto ao comentário do Roberto, o design do Checker Marathon é tão "qualquer coisa" e ao mesmo tempo tão emblemático que eu adoraria trazer um dos EUA, colocar placa preta (obviamente) e desfilar por aí com a tradicional pintura amarela e os para-choques iguais aos do projeto original (e não aqueles "guard rails" enxertados nele por exigência da legislação norte-americana). Ok, esse provavelmente é um devaneio acima das minhas possibilidades financeiras, mas há tempos o Checker me desperta um interesse especial.
Eu gostaria de ter um desse, principalmente se fosse a perua...
ResponderExcluirEssea SW é muito bonita. Uma frente mais limpa com faróis retangulares sem pisca inferior e um pára-choque mais integrado a deixariam perfeita.
ResponderExcluirpena que o interior de quase todos os carros dos EUA da década de 70 e 80 sejam tão escrotos.
Um carro desses faria sucesso em nosso solo lunar.
Engraçado citar esse carro. Sabia que já tinha o visto em mais algum lugar e curtido muito! Daí me lembrei que o carro apareceu no filme de volta para o futuro, era do pai da Jennifer:
ResponderExcluirhttp://www.javelinamx.com/carstars/bttf04.jpg
Me lembro na época de parar a fita vhs pra tentar descobrir que carro era...
Eu gosto do estilo dos carros americanos dessa época. A perua é bem legal.
ResponderExcluirMcQueen
O mais engraçado de tudo é a sequência que ficou da história toda, com a AMC sendo comprada pela Chrysler e, posteriormente, a Fiat salvar a Chrysler, Fiat essa que no Brasil lançou em 1998 produto com ligeira inspiração no AMC Eagle, usando um monobloco completo de carro de passeio comum, mas até hoje com resistência em incorporar a tração nas quatro rodas.
ResponderExcluirInspirada na AMC, a Subaru foi mais fiel à filosofia por apresentada pela marca extinta, lançando a Outback e, mais além, também o Legacy SUS (http://www.insideline.com/subaru/legacy/1999/full-test-1999-subaru-legacy-sport-utility-sedan.html), ambos igualmente usando monobloco completo de carro para asfalto, suspensão elevada e tração integral.
MAO, não seria o AMC Hornet o carro que deu origem ao Eagle?
ResponderExcluirQueria o fastback,parece um tanque,fiquei imaginando um todo preto fosco,uma máquina....
ResponderExcluirSempre admirei carros com design ultrapassado e mecânica moderna (a Hindustan na Índia faz um carro da década de 1950 com mecânica atual, o Ambassador). Pena que nossos carros hoje sejam exatamente o contrário disso: design atualizado para projetos da década de 1980.
ResponderExcluirEntre um Voyage e um Ambassador, fico com o Ambassador, mesmo que pareça um carro velho.