google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
Tivemos um belo campeonato de Fórmula 1, encerrado ontem. Motores BMW, Ferrari, Honda, Mercedes, Renault e Toyota brigando entre si. Imagine-se o que será a F-1 se a idéia de um motor igual para todas as equipes vingar!

Embora haja certa semelhança entre corridas de cavalos e corridas de automóveis - um jóquei monta e um piloto se senta - cavalos têm de ser necessariamente da mesma marca e modelo, mas carros, não. Tem de haver diversidade mecânica, ou não tem graça.

Se a monomarca de motor vier, eu sou um que fora. Prefiro corrida de cavalo - pelo menos há a emoção da aposta.

Sábado passado acordei de um modo que não acordava há tempos num sábado: sem programação nenhuma. Sem ter que comprar peças da Vespa, sem ter que levar a Alfa em algum lugar, sem ter que ir ver algum carro em algum bairro distante, nem nada disso. Sol forte, cabeça ainda centrada no passado, achei melhor dar uma volta. E what better way to do it do que num conversível, para limpar a mente?

Apelei à garagem de Egan Sr., onde ele guarda sua Alfa Spider 73. Capota aberta, tanque quase cheio, óleo de motor e circuitos hidráulicos (you never can tell, diria Chuck Berry) checados, saí pelas ruas da cidade, debaixo do sol forte. Pouco trânsito (fato cada vez mais incomum em São Paulo durante os sábados) pelas avenidas, atravessei a cidade, curtindo o passeio. Relembrei a primeira vez em que dirigi uma Spider como aquela, muito anos atrás, quando Egan Sr. tinha um carro idêntico. Eu tinha 10 anos de idade à época e, como presente de aniversário atrasado, meu pai dirigiu o carro até a Cidade Universitária e me deixou guiá-lo à vontade, "no lugar onde um dia eu estudaria". Pensando no assunto, me dei conta de que estava chegando à Cidade Universitária, então resolvi fazer ali meu passeio a esmo.

Rodei bastante pelas ruas da USP, ora me imaginando num fictício "Grande Prêmio da Cidade Universitária" (thinking about it, dá pra fazer um belo circuito lá dentro), ora pensando em inúmeras memórias que surgiam à cabeça conforme os prédios iam passando, e a Alfa roncando. Lembrei daquele dia, com meu pai ali, quando coloquei pela primeira vez a terceira marcha num carro. Lembrei de quando estudei lá, por seis meses, até abandonar o curso de medicina. Lembrei dos amigos que ficaram lá e se formaram, e hoje levam uma vida completamente distinta da minha. Lembrei do que fiz e do que fazia quando saí de lá. Lembrei de dias e fatos, de aprendizados, de pessoas.

Dirigir algo que gostamos, em um belo lugar, é algo realmente excepcional. O prazer de dirigir se mistura ao prazer de estar lá, e a mente viaja no ritmo do ronco do 4-cilindros. É algo realmente especial, recomendado e sem contra-indicações.

Dirigi sem rumo por três horas, sob o sol forte. Hoje exibo um bronzeado avermelhado, F1-bleachers-style e os braços dóem das queimaduras. Mas, a cabeça, apesar de queimada e com a marca dos óculos de sol, está mais tranquila.

Vale notar que no passeio vi meu próximo brinquedo, parado na rua, à espera de um novo dono. Um belo e simpático Citroën AX GTi, verde escuro. Pintura original, bem faded, quase todos os detalhes de acabamento lá (faltava uma moldura no pára-lamas dianteiro esquerdo), interior novo, o que já vale o carro. Conversei com o dono, que disse que pretendia vendê-lo, sim. Mas que droga. Limpei minha cabeça de um lado e enchi de outro. Não vendo mais a GTV, mas acho que a restauração dele vai demorar um pouquinho mais pra sair...

Fui ao Salão Internacional do Automóvel de São Paulo na quinta-feira passada.

Sempre compareci religiosamente ao evento bienal, desde 1984, mas no ano de 2002 passei a ignorá-lo por motivos óbvios, alguns dos quais mencionados pelo Bob neste espaço: muita gente, muito calor, alguns carros inacessíveis.

Este ano, persuadido por alguns colegas aqui do blog (o Egan foi o principal culpado), consegui vencer minha rabugice e resolvi visitá-lo novamente. Aqui seguem, em nenhuma ordem particular, minhas impressões:

Continua quente demais, e cheio demais. Os organizadores deveriam tentar tomar alguma atitude a respeito disso. Sobre o calor, não há muito que fazer sem uma reforma enorme no Anhembi: o prédio não foi criado com ar-condicionado em mente. Mas um dia este problema terá que ser resolvido de alguma forma.

Já a multidão é mais fácil de acomodar. Basta começar a exposição mais cedo e aumentar o número de dias. Como no Salão de Paris, aberto ao público durante 16 dias, contra 11 do nosso.

Mas na verdade o que precisamos mesmo é de um prédio maior, erguido no mesmo lugar. Algo moderno, maior, mais lógico e capaz de manter uma temperatura ambiente razoável.

Tirando isso, devo dizer que pouca coisa mexeu comigo lá dentro. Ao lado do estande da Ferrari, onde os carros eram mantidos inacessíveis ao público (supostamente mantendo nós, os indígenas, indignos da viatura sagrada, a uma distância segura) podia-se ver a única coisa que realmente chegou perto de me abalar: o Nissan GT-R. Não é bonito, mas sabendo o que pode fazer, sua aparência ameaçadora era quase palpável. Pude sentir o poder de Godzilla em latência, transpirando pela grade e por todas as outras incontáveis aberturas de admissão e exaustão em seu corpo.

Sem nenhum Corvette no pavilhão para lhe fazer frente, Godzilla reinou como mais sério veículo presente, pronto para atacar e destruir qualquer coisa que chegasse perto, e portanto foi bom que os extravagantes mas frívolos e alegrinhos carros vermelhos no estande em frente a ele estavam protegidos por uma cerca e por uma multidão de curiosos....Se não fosse isso, Godzilla ia devorá-los sem piedade, como se fosse uma rosquinha no café da manhã de Wilza Carla. Como todos sabem, o que ele adora é comida alemã, mas pude sentir que estava pronto para abrir uma exceção para a culinária italiana e todos os seus incautos discípulos que se encontravam atarracados à tal cerquinha. Posso até jurar que senti o monstro bufar de impaciência.

No mais, eu que sou fã dos Ford Focus (tenho um 2005), fiquei decepcionado com o novo. Quero o velho de volta. E a Citroën continua impressionando com a criatividade, modernidade e originalidade de seus carros. O C5 para mim é a estrela do salão, e o C4 Picasso, em sua segunda aparição no Anhembi, foi novamente o carro mais original do pavilhão.

Outra coisa que notei: a qualidade dos carros coreanos (sul-coreanos) aumenta a olhos vistos. Estarão os chineses, hoje motivo de piada, muito atrás?

Os brasileiros adoram fazer piada sobre carros chineses (como faziam dos coreanos um tempo atrás), mas pelo menos eles tem uma indústria local real, não apenas filiais de empresas estrangeiras. E os coreanos e chineses têm um hábito desconhecido dos brasileiros: seus produtos evoluem.

Passei em frente ao estande da BMW, mas vendo que a empresa colocou o X6 num pedestal bem no meio de seu espaço, como que sendo o ápice do que tinha para mostrar ali, declinei de visitá-lo.

Como vocês devem ter percebido, o mundo de hoje continua a me deprimir um pouco mais a cada dia. O progresso é visível, a perfeição de execução, nas especificações e na qualidade geral dos carros é irrefutável, mas não posso deixar de achar, como já disse aqui, que perdemos algo mágico em troca. E talvez o exemplo mais ilustrativo disso esteja em algo que percebi não nos veículos, mas visível pelos generosos decotes das meninas que decoravam os estandes. Todos perfeitos, fartos na medida correta, mas infelizmente todos da mesma forma, como se todos tivessem saído da mesma fôrma, o que sabemos não estar longe da realidade. Não me entendam mal, tudo belíssimo, mas depois de um tempo, enfadonho em sua repetição. Viu-se um, viu-se todos.

Como nos carros, trocamos a diversidade e variedade, a beleza simples da imperfeição, pela estéril perfeição repetida mil vezes infalivelmente. Não é à toa que a Toyota está fadada a dominar o mundo.

MAO
Terça passada levamos o Mini ao Sambódromo, onde haveria um desfile de carros pequenos. Vão aqui algumas fotinhas.
Sim, um Renault 4CV. E com o Ventoux original ali atrás, não um motor de Gordini, ou pior, Corcel.
Rovin, acho que 1957; o carro atrás (e que parece grande) é um Nash Metropolitan, para um efeito de escala. O motorista é um humano de tamanho normal.


Ah, o meu favorito. Um NSU Prinz 1000, e está à venda. Dirigi o carro e me apaixonei. Pena que desisti de vender a Alfa...