Este ano, persuadido por alguns colegas aqui do blog (o Egan foi o principal culpado), consegui vencer minha rabugice e resolvi visitá-lo novamente. Aqui seguem, em nenhuma ordem particular, minhas impressões:
Continua quente demais, e cheio demais. Os organizadores deveriam tentar tomar alguma atitude a respeito disso. Sobre o calor, não há muito que fazer sem uma reforma enorme no Anhembi: o prédio não foi criado com ar-condicionado em mente. Mas um dia este problema terá que ser resolvido de alguma forma.
Já a multidão é mais fácil de acomodar. Basta começar a exposição mais cedo e aumentar o número de dias. Como no Salão de Paris, aberto ao público durante 16 dias, contra 11 do nosso.
Mas na verdade o que precisamos mesmo é de um prédio maior, erguido no mesmo lugar. Algo moderno, maior, mais lógico e capaz de manter uma temperatura ambiente razoável.
Tirando isso, devo dizer que pouca coisa mexeu comigo lá dentro. Ao lado do estande da Ferrari, onde os carros eram mantidos inacessíveis ao público (supostamente mantendo nós, os indígenas, indignos da viatura sagrada, a uma distância segura) podia-se ver a única coisa que realmente chegou perto de me abalar: o Nissan GT-R. Não é bonito, mas sabendo o que pode fazer, sua aparência ameaçadora era quase palpável. Pude sentir o poder de Godzilla em latência, transpirando pela grade e por todas as outras incontáveis aberturas de admissão e exaustão em seu corpo.
Sem nenhum Corvette no pavilhão para lhe fazer frente, Godzilla reinou como mais sério veículo presente, pronto para atacar e destruir qualquer coisa que chegasse perto, e portanto foi bom que os extravagantes mas frívolos e alegrinhos carros vermelhos no estande em frente a ele estavam protegidos por uma cerca e por uma multidão de curiosos....Se não fosse isso, Godzilla ia devorá-los sem piedade, como se fosse uma rosquinha no café da manhã de Wilza Carla. Como todos sabem, o que ele adora é comida alemã, mas pude sentir que estava pronto para abrir uma exceção para a culinária italiana e todos os seus incautos discípulos que se encontravam atarracados à tal cerquinha. Posso até jurar que senti o monstro bufar de impaciência.
No mais, eu que sou fã dos Ford Focus (tenho um 2005), fiquei decepcionado com o novo. Quero o velho de volta. E a Citroën continua impressionando com a criatividade, modernidade e originalidade de seus carros. O C5 para mim é a estrela do salão, e o C4 Picasso, em sua segunda aparição no Anhembi, foi novamente o carro mais original do pavilhão.
Outra coisa que notei: a qualidade dos carros coreanos (sul-coreanos) aumenta a olhos vistos. Estarão os chineses, hoje motivo de piada, muito atrás?
Os brasileiros adoram fazer piada sobre carros chineses (como faziam dos coreanos um tempo atrás), mas pelo menos eles tem uma indústria local real, não apenas filiais de empresas estrangeiras. E os coreanos e chineses têm um hábito desconhecido dos brasileiros: seus produtos evoluem.
Passei em frente ao estande da BMW, mas vendo que a empresa colocou o X6 num pedestal bem no meio de seu espaço, como que sendo o ápice do que tinha para mostrar ali, declinei de visitá-lo.
Como vocês devem ter percebido, o mundo de hoje continua a me deprimir um pouco mais a cada dia. O progresso é visível, a perfeição de execução, nas especificações e na qualidade geral dos carros é irrefutável, mas não posso deixar de achar, como já disse
aqui, que perdemos algo mágico em troca. E talvez o exemplo mais ilustrativo disso esteja em algo que percebi não nos veículos, mas visível pelos generosos decotes das meninas que decoravam os estandes. Todos perfeitos, fartos na medida correta, mas infelizmente todos da mesma forma, como se todos tivessem saído da mesma fôrma, o que sabemos não estar longe da realidade. Não me entendam mal, tudo belíssimo, mas depois de um tempo, enfadonho em sua repetição. Viu-se um, viu-se todos.
Como nos carros, trocamos a diversidade e variedade, a beleza simples da imperfeição, pela estéril perfeição repetida mil vezes infalivelmente. Não é à toa que a Toyota está fadada a dominar o mundo.
MAO