"Líder por Natureza. Paris na hora do almoço. Carro pela Rover", enaltecendo o desempenho na propaganda |
Será que dá para imaginar um carro inglês com
motor V-8, que os próprios britânicos
dizem ser não confiável e totalmente impossível de não ter corrosão?
Esse é o Rover SD1 Vitesse, um hatchback grande com 4.698 mm de comprimento, entreeixos de 2.814 mm e 1.425 kg de massa, que se comporta dinamicamente como um carro menor, mostrando uma agilidade exemplar.
Tem uma história iniciada em 1976 e só durou
uma década com a interessante carroceria hatchback de quatro portas, tendo pouco mais de 303 mil unidades
fabricadas. Foi equipado com cinco
motores diferentes, de quatro e seis
cilindros em linha a gasolina, um diesel quatro-cilindros italiano da VM Motori
e o V-8 de alumínio da Rover.
Foto de press release da Rover |
A designação SD vem de Specialist Division, como as marcas Triumph e Rover estavam classificadas dentro do grande grupo que era a British Leyland. O número 1 significa apenas que era o primeiro produto a ser lançado dentro dessa organização. Foi vendido também no mercado americano a partir de 1980, batizado de Rover 3500. Foram poucas unidades, não mais que 1.500 carros nesse ano e no seguinte.
Mas o que interessa na verdade são os últimos mil carros
com motor V-8, produzidos entre 1985 e 1986, feitos para homologação visando
campeonatos de carros turismo da época. Antes
desses, os Vitesse de série tinham 198 cv.
Foram usados com bons resultados em provas em circuito
e até em alguns ralis. Pode parecer que o carro tem o tamanho errado para esse
tipo de uso, mas com apenas os 1.425 kg, é leve comparado a um carro atual de
mesmas dimensões.
Estas mil
unidades apelidadas de twin plenum são os mais desejados hoje por
colecionadores, já que o carro já se tornou raro depois de quase trinta anos. Esses
tem uma injeção eletrônica Lucas melhorada, com duas câmaras plenum em uma mesma carcaça de estabilização do ar de admissão. As duas borboletas de aceleração permitem a passagem de maior
volume de ar, que pode ser misturado com mais gasolina e gerar mais potência, resultando em 203 cv do motor
Rover de bloco e cabeçotes de alumínio e 3.532 cm³, o famoso motor projetado pela Buick e cujos
direitos de fabricação foram adquiridos pelos britânicos.
Nas duas fotos notam-se os dutos de ar para as câmaras plenum |
Se a potência parece modesta hoje, permitia
aceleração de 0 a 100 km/h em 7,6 segundos, retomada de 50 a 70 mph (80 a 112 km/h) em 5,2
segundos, com velocidade máxima de 210 km/h, bastante bom para um carro não tem
aparência esportiva, nem de grã-turismo. Esse motor é visto unanimemente como muito robusto, desde
que feitas as manutenções normais,
óbvio.
O SD1 Vitesse (velocidade) curiosamente tem nome francês, utilizado anteriormente em
versões esportivas dos Triumph e, ironicamente, tinha a qualidade de construção como ponto fraco. Dadas as rivalidades divertidas entre esses
dois povos, é no mínimo engraçada a situação.
Utilizado pela polícia até depois de 1989, mostrava
boa robustez e que os problemas eram mesmo devido a uma
fábrica ineficiente. Carros de uso oficial que passavam por cuidadosa
manutenção provavam isso.
Os entusiastas do modelo no Reino Unido dizem que
encontrar um desses imaculado e sem ferrugem é um milagre. Mais incrível ainda
se tiver todos os sistemas elétricos funcionando, como vidros, travas de portas,
espelhos externos, teto solar. Pintura e peças de acabamento, como frisos,
emblemas, molduras também não são eternas. E o trambulador mostra sua idade com
dificuldades de engates devido a folgas entre componentes. As
trocas de marchas no câmbio manual nunca foram muito secas e precisas, sendo um
ponto falhodo carro. Ao se negligenciar as trocas do lubrificante, ficavam
ainda bastante duras, somando imprecisão à dificuldade de engates.
É bastante coisa para dar problema. Carro grande,
mais peças, mais problemas, uma regra geral bastante tosca, porém válida na
maior parte dos casos.
Triste constatar que esse carro, nas especificações,
era mais interessante que um BMW 528 de mesmo ano, mas cuja qualidade é muito
diferente. Além disso, testes comparativos mostravam que o carro alemão era
muito pior de dirigir que o Rover. Um tributo a uma engenharia feita por
entusiastas, acostumados a dirigir em estradas estreitas e molhadas, que infelizmente, não sobreviveu a crises sem
fim.
O melhor dele é mesmo a condução, por todas as
avaliações que encontramos. De batente a batente, apenas 2,7 voltas, comparado
às 3,5 do BMW, dizem que é uma
delícia de dirigir em curvas, mais a tração traseira e a suspensão atrás de eixo rígido com molas helicoidais e
paralelogramo de Watt. Na frente, a
tradicional McPherson. Bastante dura e um pouco áspera, porém.
O interior é bastante interessante. Espaço amplo, brindado por um painel de
instrumentos com um desenho futurístico para o tempo.
Note a grade difusora de ar no meio da área à frente
do passageiro, e o quadro de instrumentos sobreposto à parte inferior do
painel. Essa estranha posição do difusor é explicada para ser possível que o
mesmo corpo do painel, a maior peça, fosse a mesma para carros com direção do
lado direito e do lado esquerdo, com a
coluna passando pela abertura onde está o difusor, conforme o lado da direção.
Muito inteligente, econômico e ecologicamente correto, pela grande quantidade
de matérias-primas salvas nos moldes e
ferramentais de fabricação, além de toda energia economizada na fabricação
destes. Mais ecológico do que dizer que carros elétricos são a solução para os
problemas do mundo.
Um só painel para volante à direita ou esquerda. |
Em junho de 1986 deixou de ser produzido, sendo
substituído pelo Rover 800. Hoje os Twin Plenum valem cerca de 3.500 libras esterlinas (pouco mais de 11 mil reais) no mercado inglês, bem mais que outros carros mais comuns.
JJ
Muito interessante o carro.
ResponderExcluirPor fora, parece um Monza hatch espichado. A Rover tinha ligação com a GM?
Não. Aparentemente, esse carro é derivado do <a href="http://www.aronline.co.uk/blogs/concepts/concepts-and-prototypes/carrozzeria-designs-pininfarina-1800/>protótipo BMC 1800</a>, que a Pininfarina fez para a British Motor Corporation em 1967. Como a BMC (dona da Austin e da Morris) uniu-se à Leyland em maio do ano seguinte - dando origem à British Leyland, que viria a ser dona da Rover -, é bem provável que o desenho do protótipo tenha inspirado o carro maior.
ExcluirMineirim,
ExcluirPor falha de digitação, o endereço para as fotos do BMC 1800 não saiu corretamente formatado na minha resposta.
Agora, é só clicar aqui que vai dar certo.
Ara,essa!
Excluirisso aí é, 'ipsis literis,' um Citroen CX!
Credo...
ResponderExcluirMuito interessante e bonito esse carro. E tende a ser cada vez maios raro, pois mesmo no reino unido sõ carros de baixo valor devido aos muitos problemas que tem, e por isso sucateados sem dó.
ResponderExcluirMuito inteligente a ideia do painel.
ResponderExcluirNunca tinha ouvido falar desse carro!
Tem um desses em Curitiba, já tive a oportunidade de fazer um test-drive. É muito interessante.
ResponderExcluirLembrou-me um Saab também,abraço .
ResponderExcluirOff: http://www.autoblog.com/2013/01/21/toyota-settles-first-wrongful-death-suit-related-to-unintended-a/
ResponderExcluiré feio pra chuchu.... mas, conforme já disseram, interenssantíssimo, com uma configuração no mínimo curiosa...
ResponderExcluirimagino que, em versão duas portas talvez tivesse tido melhor resultado estético... aliás, qualquer carro duas portas é mais bonito do que um quatro portas...
Romeo
O Rover é chamado na Grã-Bretanha de Rolls-Royce de pobre. É uma marca muito prestigiada por lá, faz parte da JLR, cujo capital é de uns sheiks de Dubai ou Emirados Árabes.
ResponderExcluirAbraço
Coronel Anônimo
Coronel
ExcluirHoje,a marca Rover pertence legalmente à Ford,sendo que a chinesa SAIC , arrematou os equipamentos e a tecnologia quande a MG-Rover faliu e utiliza as marcas MG e 'Roewe'em seus produtos
A Land Rover passou pelas mãos da BMW e,em seguida da Ford,qdo. esta adquiriu tambem a Jaguar.Estas duas marcas foram depois vendidas à Tata Motors indiana,a qual projeta,desenvolve e fabrica produtos das duas marcas na Inglaterra mesmo.Esse pessoal do Oriente Médio tem participação é na Aston Martin(q.tambem foi da Ford)
Verdade,os carros da Rover eram mesmo reconhecidos pela sua robustez,confiabilidade e,mais recentemente,antes da absorção pela Leyland,pela tecnologia relativamente avançadao- o P6.Meu pai possuiu um Rover 60(P4) de 1954,o qual,para quem não estava com pressa,era tudo de bom... Os Rover mais recentes eram apenas Hondas requentados
Uma das aplicações mais interessantes desse motor V8 de aluminio foi no Morgan Plus 8, que meu irmão João Carlos teve na época e eu dirigi algumas vezes. A aceleração era impressionante, pelo pouco peso do conjunto. Uma caracteristica curiosa - se o motor esfriasse um pouco só pegava acionando-se o afogador. Levei uma surra a primeira vez - só pegou empurrando, pois eu não sabia desse detalhe e menos ainda onde ficava o botão do afogador, escondido sob o painel. Ele fazia ruidos muito caracteristicos, em função do chassis de madeira. Você deve ter conhecido ese carro, Bob.
ResponderExcluirZé
ExcluirQue coisa, não me lembro desse Morgan com João Carlos! Esse motor tem outro fato notável, foi base do Repco do F-1 do Jack Brabham, que foi campeão mundial em 1959 e 1960, com o Jack e o Hulme, respectivamente. Bloco e virabrequim eram de Oldsmobile F-85.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirJJ,
ResponderExcluirSensacionalíssimo esse carro, sempre achei. Pena que envelheceram tão mal...
MAO
"Verdade" nº1: Não existe motor V8 confiável e sem corrosão;
ResponderExcluir"Verdade" nº2: Não existe carro inglês confiável e sem corrosão;
Então, por que não um carro inglês com motor V8?
O estilo lembra uma mistura de Ferrari Daytona com o Opel/Vauxhall Ascona C hatch de 4 portas. Mas para 1976, têm um desenho muito avançado.
ResponderExcluirH
Não conhecia. Simpático. Realmente lembra o Monza Hatch SR, um dos meus eleitos nos '3 melhores'.
ResponderExcluirCreio que sou um dos poucos que acha esse carro bonito e com um bom potencial para as pistas. Apesar disso, ainda acho aquele difusor no painel uma baita de uma gambiarra.
ResponderExcluirAgora algo que achei interessante foi isso:
"Carros de uso oficial que passavam por cuidadosa manutenção..."
Na hora me lembrei de algumas Blazer de polícia que tem por aqui, principalmente as V6. Fico me perguntando como elas ainda andam...
Eu acho lindo esse carro também. Principalmente na versão policial. Quando moleque, lá pros anos 90, quando assistia filmes da década de 70 e início dos anos 80 que se passava na Inglaterra, eu ficava fascinado pelo carro com linhas tão modernas, mesmo pros anos 90.
ExcluirH
Achei interessante as linhas deste carro, 4 portas mas praticamente um fastback.
ResponderExcluirO esquema do painel é simples e funcional. Só achei bem estranho esse volante com os 2 raios tão baixos. Será que tem algum fundamento prático ou está mais para algo "estético"?
Daniel
ResponderExcluirSó há dois tipos de volante de direção: volante do estilista e volante do motorista. Há alguma dúvida de qual é o deste Rover?
Bob Sharp,
ExcluirRealmente tem partes dos carros que o time de design não pode ter a palavra final. Parece que neste volante, eles tiveram a chance.
Agradeço ao Gaboola pelo esclarecimento, aliás no Exército usamos a Gandola que é farda para exercicios, como arrastar-se pelo chão, entrar na água com barro, pular muros de 3 metros etc...
ResponderExcluirMais uma vez grato por me esclarecer.
Coronel Anônimo
Prezado Coronel
ExcluirV tem bem pouco pra me contar sobre a vida na tropa... Servi em Brasilia em um dos primeiros contingentes do BGP e dei baixa como Cabo de Armamento.
As coisas olhadas de baixo pra cima são bem mais interessantes e divertidas do q. as vistas de cima pra baixo - pode crer...
Fico contente de poder ser util
um abraço
Interessantíssimo o design frontal, lembra uma Ferrari Daytona, e as lanternas traseiras lembram as dos primeiros Escort. As rodas, lembram de longe as do primeiro Omega CD.
ResponderExcluirEsse carro me passa a impressão de ter manutenção cara, delicada e extremamente complicada...Acho que nesse quesito concorre fácil com um Citroën DS...
Não conhecia...
ResponderExcluirBeleza exuberante e excepcional!!!
Bob, desta vez pararam a Dutra.
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2013/01/protesto-bloqueia-dutra-nos-dois-sentidos-em-sao-jose-dos-campos.html
Anônimo 22/01/13 10:06
ExcluirE ainda há quem duvide que estejamos em guerra civil. Tem largar a borracha nesses bandidos!
rs,rs,rs.
ExcluirInteressante notar o rebaixo no capô para direcionar o ar para a captação de ar da cabine. Se funcionar efetivamente (gerando uma pressão positiva na captação) eu imagino que esse carro em alta velocidade deve necessitar o fechamento das saídas de A/C (ou ventilação na ausência de A/C)!
ResponderExcluirA direção muda de lugar, mas a alavanca do freio de mão privilegia quem dirige do lado esquerdo.
ResponderExcluirJoão Paulo
Caros escritores, estão nos devendo um teste da Kasinski prima 150 (scooter) Caso contrario invocarei as múmias flautulentas do deserto. Abraços e bom combate Magos da caneta.
ResponderExcluirGaboola é um prazer em ler o que escreve um irmão de armas, voce da Infantaria e eu da Cavalaria, servi em vários estados do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, em Santa Maria, na época o Sexto Regimento de Cavalaria Blindada, também em Minas, no Paraná e em Pirassununga interior de São Paulo no 17 Regimento de Cavalaria Blindada.
ResponderExcluirAbraço
Coronel Anônimo.
P.S. Não posso revelar meu nome pois pelo RDE é proibido a manifestação dos militares, em geral, a não ser em caso de assuntos militares.
Acho um carro muito interessante. E me traz boas lembranças da infância: brinquei muito com a versão "civil" dele... :-)
ResponderExcluirhttp://www.breithaupts.com/rvmbsd1.jpg
Quando eu li "injeção eletrônica Lucas" senti um frio na espinha... hehehehe
ResponderExcluirThe prince of Darkness...
Excluirhttp://www.mez.co.uk/lucas.html
Um carro que gosto muito. Com certeza hoje em dia é muito mais fácil "levantar" um SD1 e deixá-lo utilisável sem medo do Príncipe da Escuridão.
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