Fotos: autor
Um esporivo apaixonante |
Assim que o vi, gamei.
Achei que aquele Alfa Romeo da Bertone, vermelhinho, tinha alguma coisa a ver
com o Disco Volante (Disco Voador, por suas formas parecidas), modelo desenhado
e construído pela Carrozzeria Touring em 1952. Que ele tinha um parentesco, tinha; principalmente
seu ar de leveza, o perfil aerodinâmico, a traseira que suavemente vai se
afunilando, o capô baixo e largo, e o pára-brisa estreito envolvendo uma cabine
estreitinha.
Era um Giulia SS 1600, de
1961; SS de Sprint Speciale. Uma graça.
Alfa Romeo C52, o apelido de Disco Volante (disco voador) acabou virando nome oficial |
Olho a placa no tripé e
leio que o Alfa pertence a um conhecido meu, o Dr. Otávio de Carvalho,
presidente do Veteran Car Club de Minas Gerais e organizador do evento.
Estávamos no XX Encontro Nacional de Automóveis Antigos, em Araxá, MG. O
procuro e marcamos de conversar sobre esta máquina de conquistar corações.
Eu o achei parecido com o
Disco Volante especialmente feito para o Fangio correr a Mille Miglia de 1953.
O Alfa que o Fangio pilotou nessa Mille Miglia era um 6C 3000 CM – 6C de 6
cilindros, 3000 da cilindrada do motor, e CM, que significa cilindrata
maggioratta, que no caso tinha sido aumentada para 3,6 litros – e também era
chamado de Disco Volante.
Fangio e Salla na Mille Miglia de 1953. Note o defletor de acrílico à frente do pára-brisa |
Hoje busquei na prateleira
o livro escrito pelo Fangio com a colaboração de Roberto Carozzo, "Quando
el Hombre es Más que el Mito" (título tirado de uma frase de Stirling Moss
– rival, amigo, companheiro de equipe e admirador de Fangio – falando sobre o
caráter do pentacampeão), um de meus livros preferidos, e reli o que se passou
nessa famosa prova de velocidade de 1.600 quilômetros em estrada fechada ao tráfego que saía de Brescia, seguia pela costa do Mar Tirreno até Roma e voltava a Brescia pela costa adriática. Isso num dia só.
Fangio nunca venceu uma
Mille Miglia, o que ele lamentava, afirmando que trocaria um de seus títulos
por uma vitória na MM. Nessa prova de 1953, quando ele liderava com dois
minutos de vantagem para Marzotto, que ia em segundo em um Ferrari V-12, ele teve
um problema numa das barras de direção – história fascinante que ainda preciso checar
para contá-la corretamente num próximo post – que o deixou em 2o
lugar ao final.
Bom, mas este Giulia SS é
único no Brasil. Há dois anos foi achado em Lima, Peru – internet, telefonemas,
avião para lá...o Giulia SS estava íntegro... e ele ganhou o Otávio como seu
segundo dono. Isso mesmo, só segundo dono.
Aqui chegando foi
totalmente restaurado e ficou lindo como está. Capô e tampa do porta-malas de alumínio. Rodas Borrani,
também de alumínio. Freios traseiros, a tambor, de alumínio. Na frente, discos.
Carro leve: 900 kg, segundo o Dr Otávio, mas acho que pesa ainda menos. Motor
4-cilindros, 1,6-litro, duplo comando, bloco de alumínio, dois carburadores Weber horizontais duplos DCOE 40. Ele é originalmente mais forte que o Giulia da época, tem 125 cv, o que
dá uma ótima relação peso-potência. Além disso, com o bom Cx que certamente tem
e pequeníssima área frontal, é um esportivo dos mais fascinantes.
Guiar, não deu para guiar, já que o Otávio estava assoberbado com a organização do evento e não seria eu a incomodá-lo, mas de outro dia, oportunamente, o Giulia SS não escapa.
A bolsa de ferramentas, original, veio com o carro. O escapamento, da Abarth, foi achado na Itália, assim como todos os emblemas originais. O Alfa está como nasceu.
Sentado ao volante, dou um
toque na partida e o ronco vem grosso, bem Alfa, bem gostoso. Aquela cabine
apertadinha, aquele pára-brisa abaulado, aquela posição perfeita de guiada,
aquela simplicidade dos autênticos esportvos, aquelas coisas feitas à mão e não por
robôs, aquele zelo pessoal. Um esportivo encantador.
Olhando-se o motor, nem é preciso adivinhar a marca: só pode ser Alfa Romeo |
Onde mais poderia estar o conta-giros num esportivo autêntico? |
Até a bolsa de ferramentas é original! |
O modelo nasceu como
Giulietta SS em 1959 – desenho de Franco Scaglione, quando este trabalhava para a
Bertone – porém, quando o Giulietta deu lugar ao Giulia, ele adotou o nome
Giulia SS. Ficou em produção, pequena, até 1964.
O defletor de acrílico no capô logo à frente do pára-brisa – um recurso muito usado em carros que costumavam
rodar em altas velocidades, muito visto em provas de estrada – tem duas
funções: uma, desviar os insetos para que não se esborrachem no pára-brisa,
outra, evitar que os limpadores flutuem quando em alta velocidade, sem varrer a
água.
Mas isso foi no tempo em
que carro esporte era para esportistas. Hoje carro esporte tem que ter
ar-condicionado, câmbio automático, banco elétrico e massageador dos fundilhos.
Parabéns, Dr. Otávio! Valeu a
trabalheira que teve. Esse seu carro ensina a muitos o que é um esportivo de
bom gosto e de verdade. Carros assim são essenciais para inspirar os mais
jovens.
AK
(Atualizado em 18/6 às 16h00)
Uma pergunta de leigo:
ResponderExcluirVc acha melhor guiar e fazer punta-tacco nesses carros que tem pedal de freio que pivotam do assoalho?
Não fica menos preciso frear sem o calcanhar apoiado no assoalho?
José Augusto,
Excluirtanto faz onde pivotam, desde que estejam no lugar certo. Não tem problema nenhum frear sem apoiar o calcanhar. O mais importante é a sensibilidade do freio, principalmente não ser daquele tipo rala-estanca. Tem que ser progressivo para podermos dosar direito.
AK, esse carro é o mesmo restaurado na oficina do meu amigo. Conheço o Otávio de algumas vezes que o vi na oficina, mas mal conversamos. Ele certamente não sabe quem eu sou. Sempre dou uma passadinha na oficina pra ver algum clássico em detalhes.
ResponderExcluirEle tem muitos carros interessantes, e a restauração desse Alfa Romeo tomou algum tempo, muita pesquisa, e peças importadas. O carro veio, salvo engano, do Chile e tinha muitas gambiarras e restaurações mal feitas.
Retorná-lo ao padrão original, tenho certeza, é uma vitória pra ele.
Não gostei. Tem pouco espaço para um kit GNV!!
ResponderExcluirBOX666
ExcluirClaro que tem espaço para kit GNV. É só mandar fazer um cilindro de 6 m³.
O que mata o motor é ser Flex. Qualquer monocombustível vai trabalhar bem.
ExcluirMono, sempre... esse negócio de Bi nunca deu certo... ;)
Box
ExcluirRealmente o porta malas e pequeno
Mas no banco de trás há espaço para um butijao de gas(aqueles de cozinha).
Quando vc comprar a sua Alfa eu te dou de presente o butijao e faco a instalação de graça para você meu amigo
Acho que os leitores do blog não hesitarão em presentear você com isqueiros e varias caixas de fósforo
Estamos anciosos em ver você nas alturas!
Jorjao
ACHEI Q O BOB IA ME XINGAR!! HAHAHA
ExcluirQue carro bonito! Apesar da mecânica simples a manutenção não parece ser nada fácil em um compartimento de motor tão apertado.
ResponderExcluirLedo engano. Esse motor é de uma simplicidade incrível, tipo o do Chevette. Na min ha GTV 1750 eu tirava e recolocava sozinho na minha garagem com uma talha de corrente.
ExcluirAK,
ResponderExcluirMe surpreendi ao saber dessa "Giulia SS" e da "1900" em Araxa.
Que bom que temos um exemplar desses rarissimos modelos por aqui. A SS é um carro pouco conhecido , mesmo pelos alfistas. A conhecia somente por livros e nao esperava saber de uma no Brasil!
O acervo dos mineiros está cada vez melhor! Em BH ha até uma moderna 8C Spider.
Se puder publicar alguma materia sobre a 1900 , seria muito legal. Para mim uma das Alfas mais bonitas de sempre.
Abracos
Bella macchina! E o AK é mesmo apaixonado por Alfa, né?
ResponderExcluirSou um alfista, digamos, mais vulgar...depois de intensa convivência com dois 164 (automático e mecânico)há vários anos atrás, posso declarar que uma alfa sempre deixa suas marcas no automobilista dedicado; marcas e lembranças boas antes que apareça alguma ironia mais cítrica.
ResponderExcluirEm virtude disso, eu brindo a esse belo post do amigo Arnaldo; é algo a mais para sublinhar seu bom gosto entusiasta.
MFF
MFF
ExcluirParabens pelas Alfas que teve.
Acho que nao existe um alfista vulgar. Quem ja teve Alfa realmetne nao esquece.
Acho vulgar a forma com que a marca foi tratada pela Fiat nos anos 90 aqui no Brasil.
Infelizmente nao tiveram a minima competencia para trabalhar com bons produtos e uma marca de grande tradicao.
A Fiat não tem respeito pela tradição...Parou de trazer os Alfas e nos enfia goela abaixo esses Lineas que não passa de um Punto com traseira e mais enfeitado...
ExcluirAk
ResponderExcluir'Parece' q.V gostou mesmo,né?Essas pequenas jóias-as Alfa SS e SZ, a Lancia Fulxia Zagato têm,alem de tudo o mais, um certo feitiço dificil de resistir.
Apenas um reparo: o desenhista da SS foi o Franco Scaglione,que era quem dava as cartas no estudio Bertone,antes de ser (muito bem) sucedido por Giorgietto Giugiaro.
Sergio Scaglietti tinha sua própria 'carrozzeria' e trabalhava quase q. exclusivamente para Ferrari,tanto no desenho,como na construção de desenhos seus e de outros estilistas,como Pininfarina
BABA,BABY...
Gaboola, vc tem toda a razão. O designer é o Scaglione. Foi um lapso, me desculpe.
ExcluirObrigado, vamos corrigir.
Nunca havia reparado em defletores de acrílico em carros esporte. Aprendi mais uma. Na foto do motor dá para ver ele com mais clareza.
ResponderExcluirPecado mortal ter tratado as Alfa e Lancia, como carros medianos e sem o cuore sportivo.
ResponderExcluirUna grossa pernacchia per te, Fiat!!!
Eu tive Alfa: 2300, mas tive, he, he, he! Mesmo sendo 77 (verdade que estava inteiríssima, de chamar atenção) e comprada por mim em 92, todos os meus amigos babavam e adoravam aquele volante em alumínio e madeira. Fiquei com ela por 5 anos, viajei bastante, nunca me deu uma dor de cabeça. Até hoje tenho vontade de ter outra, desta vez da derrradeira, a 2300 Ti-4 86. Quem sabe. Também sou doido pela 164, mas comprar é uma coisa ($), manter é outra ($$$$).
ResponderExcluiroff topic: Mr. Car, tempos atrás vi que tinha interesse num Polara. Veja esse: http://dodgepolara1800.blogspot.com.ar/#!/2012/06/dodge-polara-venda.html
ExcluirOlá, Rafael. Já conhecia, pois estou sempre de olho neste blog. Este ainda não está do jeito que quero, he, he! Mas agradeço seu interesse em me ajudar.
ExcluirAbraço!
Apesar dos alfistas de plantão torcerem o nariz para o 2300, sempre gostei desse carro. Lembro-me que, quando criança, vi pela primeira vez o motor de um modelo Ti-4. Até hoje a imagem nítida dos dois carburadores horizontais duplos está gravada em minha memória...
ExcluirEu não só não torço o nariz, como aponto o 2300 Ti-4 como um dos trêm melhores carros feitos no Brasil em todos os tempos, he, he!
ExcluirLeia-se "três" melhores em minha mensagem acima.
ExcluirMr.car
ExcluirBela Alfa voce teve. Eu gosto das 2300 principalmente das primeiras series com o maravilhoso volante em madeira.
Nao concordo em as Alfas serem caras de se manter. Sao muito robustas qdo tratadas adequadamente. Mas precisa achar uma em bom estado e de pessoa que gosta , para nao haver surpressas.
É graças a um 2300 que gosto de carros hoje,não esqueço o volante de alumínio e madeira e o painel com mostradores Jaeger..Meu pai teve uma das primeiras,ano 74... Como dizia a propaganda era o carro importado feito no Brasil..Quem era Dodge,Opala ou Landau pra chegar perto...
ExcluirOlhando de frente, este carro parece o Mercedes "asa de gaivota". Lindo mesmo.
ResponderExcluirSempre fui fã dos Alfa Romeo antigos. Verdadeiros carros de entusiastas.
ResponderExcluirSempre fui fã dos Alfa Romeo antigos. Verdadeiros carros de entusiastas 2X
ExcluirRoad Runner,
ExcluirVoce sabe das coisas....
To com voce e com o anonimo de cima.
Jorjao
Arnaldo, como sempre um texto muito bacana. Parabéns ao bom gosto do Dr.Otavio, surpreendente ver uma Giulia SS frente a frente.
ResponderExcluirThis is a classical car and my father like classical car. i think i should see that car for my father good
ResponderExcluirEu fui e gostei de ver o Giulia, mas meu coração disparou quando os donos abriram o capô do Alfa prateado que estava ao lado do vermelho... o motor preto fosco num habitáculo também preto fosco.... eu quase chorei. rsrsr
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