O lançamento do Chevrolet Corvair no final de 1959 causou uma forte impressão em todos os engenheiros automobilísticos no seu tempo. Aqui estava o maior e mais poderoso conglomerado do mundo, a maior e mais lucrativa empresa do mundo (outros tempos, realmente) fazendo um carro totalmente diferente do que fazia até então.
Inspirada pelo sucesso da VW nos EUA, a Chevrolet de Ed Cole criava um carro avançado, com um seis cilindros contraposto refrigerado a ar na traseira, carroceria monobloco de estilo inovador (fugia da decoração excessiva e dos rabos de peixe então em voga), e suspensão independente nas quatro rodas.
A VW realmente se preocupou com isso. O Corvair seguia tão fielmente a fórmula VW conhecida, que aparecia em versões furgão, perua, cupê e sedã. Mas ia um pouco além: usava o poder de seu departamento de design, então o mais influente do mundo, para criar um desenho mais vendável, e também fazia um carro um pouco maior, ainda compacto mas mais em linha com as preferências do maior mercado mundial.
A VW então solicita para a Porsche (praticamente sua engenharia então) o desenho de um carro para combater a ameaça americana em seus próprios termos. Se os americanos achavam que eram capazes de fazer um VW melhor que a VW, estavam redondamente enganados!
O resultado, chamado de projeto EA 128, é o carro que vocês podem ver acima, exposto no museu da VW. Um sedã e perua grandes, maiores que o Corvair e o posterior VW 411, equipados com motor e suspensões do Porsche 911, então ainda em desenvolvimento. A Porsche, como sempre, não perdeu tempo em achar sinergias mutuamente benéficas entre a VW e seus próprios carros.
O motor contraposto de seis cilindros e dois litros, OHC, refrigerado a ar do 911 era aqui recalibrado para 90 cv e uma curva de torque mais plana, mas ainda assim parece difícil que estivesse mais ajustado a este gosto americano que o Corvair, que com mais deslocamento, tinha menos potência mas mais torque em baixa.
Mas duas coisas mataram o projeto, que estaria pronto para lançamento em 1965. O primeiro motivo foram vendas abaixo do esperado no Corvair, esfriando a necessidade de um concorrente. O segundo foi o fato de que o preço nos EUA seria o mesmo dos carros de tamanho maior, àquela época equipados com enormes V-8 que fariam o pequeno seis cilindros Porsche parecer anêmico.
Se o Corvair fosse um sucesso, será que seria lançado o EA 128? Talvez o fracasso fosse inevitável, se olharmos o que aconteceu com o VW Phaeton. Se bem que este carro está mais para ancestral do Porsche Panamera do que do Phaeton...
MAO
Tinha um design futurista, parece que já previam no futuro um facelift com parachoques de plástico encorpados.
ResponderExcluirImpressionante como o EA 128 lembra o Zé do Caixão.
ResponderExcluirO Corvair obteve relativo sucesso. Quem atrapalhou a carreira dele foi o sensacionalista do Ralph Nader, com o seu livro, e mais ainda as desastradas atitudes da GM em desacreditar o advogado.
Tem elementos nesse design que foram parar na Brasilia!
ResponderExcluirProvavelmente teriam lançado se o Corvair tivesse deslanchado.
ResponderExcluirQuem sabe até uma versão mais forte fosse lançada, aí sim seria o avo do Panamera.
Sou só eu ou o formato das colunas lembra um Mercedes W108?
Ah, então é com isso que a Variant se pareceria se fosse bem feita...
ResponderExcluirO Corvair é um carrinho altamente desejável. Dos posts de ontem e hoje, dá pra notar que nossos carros só ficaram todos iguais por conta de um executivo da VW Brasil, e de um advogado americado. Não são exatamente os exemplos de ser humano que eu apresentaria se quisesse impressionar um aliem...
Outra coisa que impressiona: Nessa época, um percentual não-desprezível do preço do carro deveria ser investido na pesquisa e desenvolvimento desses projetos. Agora em que essa verba é usada? Criar propagandas que falam que seu carro é melhor que o do outro (quando, numa última análise, ambos seguem o mesmo padrão) não deve sair tão caro assim!
Só eu que acho estranho essa frente sem grade?
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ResponderExcluirToda vez que vejo algo refereciado ao Corvair, olho para o livro que ocupa minha estante "Unsafe at any speed", do Ralph Nader.
ResponderExcluirAté que ponto será a história tão verdadeira assim?
E também me lembra muito do Hillman Imp.
Sempre achei o Corvair bonito, mas o EA 128 é esquisitão, diferente do EA 266, que ainda seria um carro "comprável".
ResponderExcluircara de Tatra esse EA 128...
ResponderExcluirLogo que olhei para o sedan EA128, me lembrou de cara o Brasília, em versão sedan (se tivesse existido...) Mas, depois de ler o comentário do Joel Gayeski, de fato a coluna traseira lembra os Mercedes W108.
ResponderExcluirMesmo se o Corvair tivesse feito sucesso, não creio que os EA128 teriam sido bem recebidos na terra do Tio Sam. Não sei, mas acredito que o desenho das carrocerias não iria agradar o gosto americano.
"Road Runner disse...
ResponderExcluirLogo que olhei para o sedan EA128, me lembrou de cara o Brasília, em versão sedan (se tivesse existido...) Mas, depois de ler o comentário do Joel Gayeski, de fato a coluna traseira lembra os Mercedes W108.
Mesmo se o Corvair tivesse feito sucesso, não creio que os EA128 teriam sido bem recebidos na terra do Tio Sam. Não sei, mas acredito que o desenho das carrocerias não iria agradar o gosto americano. "
Além do fato que americanos são nacionalistas, e o EA128 parece apenas ligeiramente superior ao Corvair. Sem falar que nessa época o marco alemão estava supervalorizado, o que tornava os custos de um VW muito altos em dólar, e para competir a VW teria de achatar suas margens de lucro.
A desgraça do Corvair foi a sorte da VW. Se esse carro tivesse sido lançado, provavelmente levaria a empresa à falência.
ResponderExcluirPara constar, seguem mais imagens do EA128:
ResponderExcluir1) Traseira do sedã (observem que o carro ainda era bem protótipo e com certeza essas lanternas dariam lugar a outras mais ajeitadas se fosse produzido em série):
http://farm4.static.flickr.com/3072/5864893024_a080b82412_o.jpg
2) Traseira da perua (obviamente que é feita em cima do Corvair, mas não deixa de parecer um Brasília anabolizado com um toque de Caravan na queda da coluna traseira. Notem a presença de um defletor no teto, provavelmente para não sujar o vidro com poeira):
http://images.thesamba.com/vw/gallery/pix/236754.jpg
O motor estrangulado do 911 (provavelmente, se o carro fosse para série teria uma ventoinha mais baixa, como a que parece ser usada na perua):
http://www.hobidas.com/blog/vw/vw04/_W5G7216.html
Interior do carro (o volante parece-me reaproveitado de algum 911. Notem também a alavanca de câmbio brotando do solo, ainda que me pareça que fosse parar na coluna ou no painel em produção seriada. E, sendo VW, é de se imaginar que conseguissem fazer uma alavanca na coluna que engatasse de maneira macia, justa e precisa todas as marchas. Afinal, para quem conseguia fazer um Fusca ser um primor de engate, isso seria o de menos. Notem também a previsão de seis ocupantes e o banco do motorista ser separado do resto):
http://www.hobidas.com/blog/vw/vw04/_W5G7024.html
De fato, do jeito que estava conturbada a VW entre a segunda metade dos anos 1960 e 1970, a enorme quantidade de projetos e protótipos jamais levados adiante mostram o quanto que ela estava desencontrada, enquanto a concorrência já fazia as coisas mais decididamente.
De minha parte, fico aqui pensando o quanto que o pessoal da Mercedes deve ter se arrependido de vender a Auto Union para a VW, pois se a mantivessem, teriam tido uma marca popular fortíssima nos dias de hoje, enquanto a VW teria de se virar com o que sobrou da NSU.
Em meados da década de 80, conheci um cara que tinha um Corvair vermelho como carro de fim de semana. O sujeito parava nos points e a moçada revirava aquela coisa esquisita. Ninguém entendia como podia existir um Chevrolet com alma de VW. Naquele tempo, o acesso a informação era precário. Não havia internet e nosso conceito sobre Chevrolet se resumia a Opala, Chevette e C-10. A GM nadou de braçada com suas "modernidades" por aqui.
ResponderExcluirMAO,
E se o “Corvair nacional”, o IBAP Democrata, tivesse vingado?
Isso é uma super variant! :D
ResponderExcluirComo já disse um anônimo, se o Tatra 613, de 1970, não viesse com um V8 DOHC, ficaria desconfiado que a Porsche teria trocado figurinhas por cima do muro. Além da aparência, ambos eram refrigerados a seco e tinham dimensões muito parecidas... O Tcheco fora desenhado pelo Alfredo Vignale. Por sua vez, o perfil do 613 coupé é muito parecido com o do Corcel II.
ResponderExcluirO problema dos Corvair eram os carburadores (2 ou 4!) Rochesters. A principal fornecedora de carbs para a GM não conseguiu reproduzir o funcionamento dos alemães, principalmente quanto à equalização e fluxo de ar. Se tivessem usado outros carbs, quem sabe...
ResponderExcluiranonimo das 11/12/11 19:59, valeu pelas imagens!
ResponderExcluirsuper-variant!
conta-girão com faixa vermelha em 6500, em 1965. dá-lhe porsche!
Os carros refrigerados a ar eram melhores em um mundo que na década de 1960 estava deixando de existir. Mais gente possuía garagens, as estradas estavam melhores (a maioria das cidades já era ligada por rodovias pavimentadas nos EUA), havia mais oficinas mecânicas, etc.
ResponderExcluirLogo, as pessoas não precisavam mais preferir a manutenção fácil ao desempenho, potência, economia e conforto dos motores refrigerados à água.
E ainda havia o problema que o pessoal não sabia dirigir o Corvair, que por ter o motor atrás das rodas traseiras é de dirigibilidade diferente de todos os outros carros que já existiram. Por isso Ralph Nader disse que ele era inseguro demais. Na verdade, ele era até razoavelmente seguro para alguém que o soubesse dirigir.
O interior do me impressionou. Obrigado pelas imagens, Anônimo de 11/12/11 (19:59).
ResponderExcluirMAO,
Esses "mundos alternativos" são instigantes e receiaveis.
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