Mas ela é mais que isso. Ela é mais que uma inerte máquina. Odeio este clichê, mas para mim ela tem contornos humanos.
E os contornos são de uma menina. Uma menina linda e simpática, daquelas que iluminam qualquer lugar; que apesar de não mais tão jovem, é bela na companhia de belas. E quando a vejo, parece que ela se ilumina, que se inquieta. Se inquieta porque, tristemente, a menina é sozinha. Não por falta de companhia; outras máquinas sempre estão por perto; mas por falta de calor humano. Sozinha em seu galpão ao meio de paquidermes, a bela repousa esperando o dia em que novamente possa gritar a plenos pulmões, sentir o vento, sentir o sol e a chuva, enquanto aconchega dentro de si seu amante. Você quer acabar com o sentimento de carência afetiva que emana dela, você quer tirá-la dali e levá-la a uma vida cheia de carinhos diários.
E ela quer ir às vias de fato. Quer desesperadamente. Não tem pudores nem reservas, não tem fidelidade a ninguém; permite que qualquer um que saiba fazê-lo se refastelar. Mas o atual amante não é tão permissivo. Enquanto ele não está por perto, ela se assanha para o meu lado, permite um pouco de contato físico, deixa passar a mão, mexer, fuçar, tudo menos o que interessa.
Alguns saciariam-se só em levá-la às vias de fato. Eu não, eu quero mais. Eu quero ela só para mim. Eu quero fazê-la feliz, quero fazer cafuné toda manhã, quero levar a família para passear.
A menina se chama Porsche 911 72, dourado. E ela me ama. Eu amo ela. Ela mora em um galpão em São Paulo, junto com várias outras raridades. É extremamente bem cuidada, na verdade, mas quando se tem uma família grande, é difícil se ter tempo sozinho com qualquer um dos membros dela. Minha família é pequena e tem vaga sobrando.
E os contornos são de uma menina. Uma menina linda e simpática, daquelas que iluminam qualquer lugar; que apesar de não mais tão jovem, é bela na companhia de belas. E quando a vejo, parece que ela se ilumina, que se inquieta. Se inquieta porque, tristemente, a menina é sozinha. Não por falta de companhia; outras máquinas sempre estão por perto; mas por falta de calor humano. Sozinha em seu galpão ao meio de paquidermes, a bela repousa esperando o dia em que novamente possa gritar a plenos pulmões, sentir o vento, sentir o sol e a chuva, enquanto aconchega dentro de si seu amante. Você quer acabar com o sentimento de carência afetiva que emana dela, você quer tirá-la dali e levá-la a uma vida cheia de carinhos diários.
E ela quer ir às vias de fato. Quer desesperadamente. Não tem pudores nem reservas, não tem fidelidade a ninguém; permite que qualquer um que saiba fazê-lo se refastelar. Mas o atual amante não é tão permissivo. Enquanto ele não está por perto, ela se assanha para o meu lado, permite um pouco de contato físico, deixa passar a mão, mexer, fuçar, tudo menos o que interessa.
Alguns saciariam-se só em levá-la às vias de fato. Eu não, eu quero mais. Eu quero ela só para mim. Eu quero fazê-la feliz, quero fazer cafuné toda manhã, quero levar a família para passear.
A menina se chama Porsche 911 72, dourado. E ela me ama. Eu amo ela. Ela mora em um galpão em São Paulo, junto com várias outras raridades. É extremamente bem cuidada, na verdade, mas quando se tem uma família grande, é difícil se ter tempo sozinho com qualquer um dos membros dela. Minha família é pequena e tem vaga sobrando.
Ela parece um ovni no meio de gigantes americanos. Pequena, baixa, leve. Senta-se bem no meio do carro, e o motor, um cacofônico e levíssimo dry-sumped flat-6 refrigerado a ar soa áspero, irascível, nervoso. Dois carburadores triplos aspiram vigorosamente. O couro de seus bancos está macio de uso, perfeito, e os bancos te aconchegam e te convidam a explorá-la. Pedais pivotados no assoalho, chave do lado errado, conta-giros na sua frente em um painel que de tão famoso parece familiar desde o primeiro dia. Rodas Fuchs, forjadas em alumínio. Dois bocais de abastecimento, um para gasolina, o outro de óleo, para o cárter seco. Lugar para meus filhos pequenos atrás ou razoavel bagagem.
Ao volante, tenho certeza que pude ouvir seus clamores. Vem, vem, liga, vamos andar, vamos, acelera, meu bem. Vamos, você nunca mais será o mesmo depois de andarmos de lado, vem, meu amor, me experimenta...
Vadia! É melhor ignorá-la, é melhor ir embora, é melhor acabar com o sofrimento.
Ela vive num mundo diferente do meu. Nosso amor é impossível. Ela é Julieta, eu sou Romeu.
Tivemos um belo campeonato de Fórmula 1, encerrado ontem. Motores BMW, Ferrari, Honda, Mercedes, Renault e Toyota brigando entre si. Imagine-se o que será a F-1 se a idéia de um motor igual para todas as equipes vingar!
Embora haja certa semelhança entre corridas de cavalos e corridas de automóveis - um jóquei monta e um piloto se senta - cavalos têm de ser necessariamente da mesma marca e modelo, mas carros, não. Tem de haver diversidade mecânica, ou não tem graça.
Se a monomarca de motor vier, eu sou um que tô fora. Prefiro corrida de cavalo - pelo menos há a emoção da aposta.
Embora haja certa semelhança entre corridas de cavalos e corridas de automóveis - um jóquei monta e um piloto se senta - cavalos têm de ser necessariamente da mesma marca e modelo, mas carros, não. Tem de haver diversidade mecânica, ou não tem graça.
Se a monomarca de motor vier, eu sou um que tô fora. Prefiro corrida de cavalo - pelo menos há a emoção da aposta.
novembro 03, 2008

Sábado passado acordei de um modo que não acordava há tempos num sábado: sem programação nenhuma. Sem ter que comprar peças da Vespa, sem ter que levar a Alfa em algum lugar, sem ter que ir ver algum carro em algum bairro distante, nem nada disso. Sol forte, cabeça ainda centrada no passado, achei melhor dar uma volta. E what better way to do it do que num conversível, para limpar a mente?
Apelei à garagem de Egan Sr., onde ele guarda sua Alfa Spider 73. Capota aberta, tanque quase cheio, óleo de motor e circuitos hidráulicos (you never can tell, diria Chuck Berry) checados, saí pelas ruas da cidade, debaixo do sol forte. Pouco trânsito (fato cada vez mais incomum em São Paulo durante os sábados) pelas avenidas, atravessei a cidade, curtindo o passeio. Relembrei a primeira vez em que dirigi uma Spider como aquela, muito anos atrás, quando Egan Sr. tinha um carro idêntico. Eu tinha 10 anos de idade à época e, como presente de aniversário atrasado, meu pai dirigiu o carro até a Cidade Universitária e me deixou guiá-lo à vontade, "no lugar onde um dia eu estudaria". Pensando no assunto, me dei conta de que estava chegando à Cidade Universitária, então resolvi fazer ali meu passeio a esmo.
Rodei bastante pelas ruas da USP, ora me imaginando num fictício "Grande Prêmio da Cidade Universitária" (thinking about it, dá pra fazer um belo circuito lá dentro), ora pensando em inúmeras memórias que surgiam à cabeça conforme os prédios iam passando, e a Alfa roncando. Lembrei daquele dia, com meu pai ali, quando coloquei pela primeira vez a terceira marcha num carro. Lembrei de quando estudei lá, por seis meses, até abandonar o curso de medicina. Lembrei dos amigos que ficaram lá e se formaram, e hoje levam uma vida completamente distinta da minha. Lembrei do que fiz e do que fazia quando saí de lá. Lembrei de dias e fatos, de aprendizados, de pessoas.
Dirigir algo que gostamos, em um belo lugar, é algo realmente excepcional. O prazer de dirigir se mistura ao prazer de estar lá, e a mente viaja no ritmo do ronco do 4-cilindros. É algo realmente especial, recomendado e sem contra-indicações.
Dirigi sem rumo por três horas, sob o sol forte. Hoje exibo um bronzeado avermelhado, F1-bleachers-style e os braços dóem das queimaduras. Mas, a cabeça, apesar de queimada e com a marca dos óculos de sol, está mais tranquila.
Vale notar que no passeio vi meu próximo brinquedo, parado na rua, à espera de um novo dono. Um belo e simpático Citroën AX GTi, verde escuro. Pintura original, bem faded, quase todos os detalhes de acabamento lá (faltava uma moldura no pára-lamas dianteiro esquerdo), interior novo, o que já vale o carro. Conversei com o dono, que disse que pretendia vendê-lo, sim. Mas que droga. Limpei minha cabeça de um lado e enchi de outro. Não vendo mais a GTV, mas acho que a restauração dele vai demorar um pouquinho mais pra sair...
