Fotos: autor
O MINI Countryman
é o maior da família, com carroceria de quatro portas, alta, grande. Um MINI...
maxi! Parece um carro perfeito para capturar o admirador da marca em busca de
melhor habitabilidade e um porta-malas com alguma capacidade, mas não só.
A moda do carro
altinho, seja ele um aventureiro, utilitário esporte, crossover, jipinho ou jipão – não
importa o rótulo – ainda está em alta, especialmente no Brasil. Este fascínio
por ver o trânsito de cima, estar em algo que aparente maior capacidade de
superaração de obstáculos, robustez e pseudosegurança é grande alavanca de
vendas.
Entre todos os
MINI é esse Countryman o que incorpora este perfil. É um utilitário? Um crossover?
Pode ser. Não à toa, é essa carroceria que se presta ao uso "de
briga" da marca de origem inglesa e hoje de propriedade da alemã BMW:
Stéphane Petehansel venceu as duas útlimas edições do Rali Dakar em um
preparadíssimo MINI Countryman, e em 2011 e 2012 a marca tentou a aventura no
Mundial de rali, o WRC, tendo no espanhol Dani Sordo seu piloto nº 1 sem,
todavia, obter o mesmo sucesso que Peterhansel nos ralis-reide.
Quatro portas sempre facilitam |
É mesmo para atrair olhares |
Naquele meio de
tarde não havia caos, apenas o intenso movimento de sempre, todo mundo rodando
bovinamente no limite de 90 km/h da marginal. Nesta situação a boa ergonomia me
cativou. Pedais no lugar certo, volante de boa pega (com comandos do sistema de
som e controlador de velocidade), ajustável, que trouxe o mais próximo possível
de meu peito. Banco regulável por meios mecânicos de excelente conformação,
durinhos, com importante apoio lateral, revestidos de couro preto.
No centro do
painel, o característico velocímetro circular de todos os MINI, onde no miolo
vive uma tela multifunção, com navegador, acesso às funções do áudio,
configurações variadas, conectividade e outros nhenhenhéns. No console central,
além da alavanca do câmbio automático de seis marchas, botõezinhos comandam a
troca da telona, e o menu variado nela, que parece cardápio de restaurante
caro, de tão cheio de opções.
Tradição é tradição, instrumentos no centro do painel como há 54 anos |
Ainda ali entre os bancos uma alavanca de freio
meio exótica, em "L", de ótima pega. E meu cotovelo também se
"achou" no apoio central logo atrás dela, que esconde um útil porta-objetos.
Os essenciais conta-giros e velocímetro, este digital inserido no velocímetro, estão em local perfeito. Nos raios do volante vêem-se as alavancas de troca de marcha, ambas sobem e reduzem |
Feliz vendo o que
via, sentindo o que sentia, achei dois brinquedinhos a mais no volante, as duas
discretas alavanquinhas de troca de marcha manual, que seguem o seguinte
padrão: empurre para passar marcha, puxe para reduzir. Bob Sharp gosta assim?
Não sei. Para mim parece adequado mas neste tema o ideal é que um padrão fosse
definido, que todos os fabricantes seguissem o mesmo rumo. É utopia isso, sei
bem...
Alavanca do freio de estacionamento é estranha, mas é melhor do que se fosse para o passageiro, como no Omega australiano |
O idílio inicial
com o MINI Countryman acabou quando, ao sair da marginal, a via transversal me
dá um "Bem-vindo a São Paulo!",
e por bem-vindo entendam uma enorme ironia, com assinatura dos gêngis
kahns que ocuparam a prefeitura paulistana nas últimas décadas. Sem conseguir
rodar em nem sequer dez metros de asfalto sem um remendo ou buraco, Peterhansel
e os ralis me voltaram à mente, enquanto imprecava contra os
"administradores" e a maldida trindade, as concessionárias que
esburacam o leito das vias paulistanas – Sabesp, Eletropaulo e Comgás".
Alguns solavancos
depois e o MINI estava em minha garagem, hora de uma atenta obnservação. Primeira
ação? Sentar atrás de mim mesmo, ou seja, ocupar o lugar do passageiro que vai
atrás do motorista, ajustado para meu 1,80 metro e... surpresa! Quanto espaço
para pernas e pés, pena não ter feito a foto! A excelente habitabilidade também premia cabeça e ombros,
com o banco traseiro bipartido 60-40% se mostrando plenamente confortável. E
a isso acrescente a luz vinda do teto solar duplo (ao lado) , que garante ótima ventilação.
Abro o porta-malas e, como previsto, não há espaço de sobra, mas apenas o mínimo
para bagagem de quatro pessoas para um fim de semana, mesmo assim é razoável, 350 litros. Malas grandes? Esqueça. O
fundo é irregular, delimitado por uma travessa de reforço no piso situada na
fronteira com o encosto do banco traseiro que, aliás, pode ser movido à frente,
aumentando o espaço do compartimento de bagagem.
E como em quase todos os MINI
(à exceção dos mais básico deles, o ONE) o Countryman não tem estepe, se
valendo dos polêmicos pneus Runflat, que permitem rodar 80 quilômetros a uma
velocidade máxima de 80 km/h mesmo se o pneu estiver vazio.
Dissemos
polêmicos. E por quê? Pela razão de que apesar de estarem e sua 2ª ou 3ª
geração, tal tipo de pneus apresentam uma construção onde seus flancos e banda
de rodagem devem ser mais rígidos que um pneu radial convencional de mesma
medida. Fora isso, são mais ruidosos e... caros! Uma breve pesquisa no Google
sobre esta medida aplicada ao Mini Countryman – 225/45R18 – mostra que o preço
é de cerca 1.200 reais a unidade, sendo que não encontramos o modelo da marca
de equipamento original de nosso Countryman, o Bridgestone.
Caro e mais pesado também (a teórica perda de desempenho pelo peso maior é compensada pela ausência do estepe), os Runflat – me dizem – estão com os dias contados: é que entre todas as marcas de automóveis do planeta, apenas o Grupo BMW, que inclui a MINI, adotou este tipo de pneu em todos seus modelos, ou quase isso. E por conta desta falta de clientes de outras fábricas de carros, o desenvolvimento dos Runflat parou, o preço não caiu e a boa idéia de eliminar o estepe e permitir que o motorista, mesmo com pneu furado chegue a um lugar adequado para fazer conserto, troca ou o que seja, pode ser algo em extinção.
Pneus Runflat, bons por um lado, ruins por outro |
Volto ao Countryman: agachado na garagem, observo não só os tais pneus, mas a excelente altura do carro em relação ao solo, e o pequeno balanço frontal e traseiro. Sorte, pois rodar em São Paulo, além da buraqueira, é enfrentar valetas com complexo de fossas Marianas, de tão profundas que são.
Abrindo o capô, cumprimento um velho conhecido, o 4 em linha turbo de 1,6 litro que já usei com diferentes configurações em outros carros (Citroën DS3, Peugeot 308 THP...). Gosto deste motor, alegre, girador, pleno de saúde em extensa faixa de rotação, sem turbo lag nenhum, o tal buraco que alguns motores superalimentados, especialmente os de gerações pioneiras, apresentavam quando se afundava o pé no acalerador. E além disso tem uma bela "voz" que sai pelo par de escapamentos traseiros, um de cada lado. Esportividade explícita.
O admirável motor "universal" usado pela BMW, MINI, PSA Peugeot Citroën... |
Feito para andar rápido e agradar |
Uau! Essa expressão é adequada ao MINI Countryman com mais torque. A resposta, que já era boa, fica melhor, O acelerador parece (e de fato isso acontece...) ficar mais direto. Entra-se em uma espécie de estado alterado de consciência e as coisas vão ficando mais e mais digamos... dinâmicas. E a lei – ora, a lei – se torna algo que gostaríamos de eliminar mas, ops, não pode. Mas o que pode?
Pode, isso sim, sair da Rodovia do Bandeirantes por um estupendo acesso a uma via vicinal, uma conhecida curva em subida e com um asfalto ótimo e que, curiosamente, é avermelhado, vejam vocês! Vermelho paixão? Sim. É uma das minhas curvas favoritas e nela tenho a certeza de não colocar ninguém em risco e conseguir avaliar corretamente o coeficiente de diversão que os carros com os quais tenho o prazer de passar por ali me oferecem.
E, digo, com certeza, que poucos me deram o grande prazer que este maxi MINI me deu, pregadíssimo no chão, pedindo para ser abusado, e gostando. Ele e eu. Dava para fazer mais rápido? Sim, claro, sempre dá. O dia que não escrever isso, é porque não deu muito certo... Mas há área de escape, sem obstáculo, ainda bem! Rememorando a tal curva (alguns de vocês já sabem onde fica, certo?) me ocorreu que na entrada ela lembra o laranjinha de Interlagos, evidentemente mais estreita, mas tão divertida e desafiadora quanto.
Chamou minha atenção não apenas a capacidade do MINI Countryman de percorrer esta curva a uma velocidade significativa sem menção de desequlíbrio nenhum, mas também a habilidade da tração dianteira de jogar no chão a potência – fiz a maldade de reduzir bem no meio da curva – e a direção, oh, a direção,: rápida, quase como a de um kart.
Voltei ao normal e conduzo o Countryman pela rodovia sem faca nos dentes. Boa a insonorização, bom o sistema de som, bom que se sente a bordo, misto de esportividade com coerência prática por conta das quatro portas, do teto alto, fácil de entrar, fácil de sair, do espaço, da boa ergonomia.
De volta a São Paulo. Quanto mais perto da cidade vou chegando, menos feliz vou ficando, Remendos, rachaduras e buracos me esperam no incoerente pavimento de minha cidade. O MINI não gosta, não digere. Simplesmente é incompatível, como o título do post diz. Seria eu?
Tira-teima e chamo minha senhora, levemente entusiasta, a conferir o MINI em um percurso padrão. Ela gosta de carros pequenos, gosta de motores espertos, teve um Mercedes-Benz Classe A 190 automático e morre de saudades dele. Na volta, o veredicto é implacável: pula demais. É maravilhoso, é charmoso, lindo isso, lindo aquilo mas... um cabrito. Uma pena, pois o MINI Countryman é um grande carrinho, daqueles feitos para AUTOENTUSIASTAS com A (e o restos das letras) maiúsculo.
P.S.: Certamente o MINI Countryman é um carro para ser comprado com coração e não com a razão, tanto por conta do considerável preço como pela exposta incongruência de seu ajuste de suspensões com nosso piso. Mas, frise-se: o problema não é desse MINI, mas do chão que nos impõe, e que "engolimos" sem reclamar, ou reclamando menos do que deveríamos. Como podemos ser tão Terceiro Mundo neste item pavimentação?
Fora isso, e para quem quiser saber, o Countryman é surpreendentemente econômico. Abusando do acelerador em uso urbano, fez 8,5 km/l e no trecho rodoviário, curto e longe de ser comportadinho, mostrou 13 km/l. Modernidade é (também) isso...E vai de 0 a 100 km/h em 7,9 segundos e chega a 210 km/h!
RA
Otimo carro mas com alguns poréns principalmente pelo painel que eles teimam em deixar como o antigo uma bela central das BM ficaria show !
ResponderExcluirBela avaliação. Transferiu muito bem a sensação de andar no modelo em locais adequados e inadequados.
ResponderExcluirPaixonites e fanatismos à parte, meu Marea 2.4 tem números semelhantes de desempenho e consumo.
0-100 8,4 s, máxima de 210 km/h, cidade 8,5 km/l, estrada 12 km/l.
Aceleração em 8,4 segundos e consumo de 8,5 km/l na cidade... Descendo, né?
ExcluirMarcos
ExcluirNao exagera , vai....
Esses números estão mais para um Marea Turbo e olhe lá!
Anônimo 20:21,
ExcluirDescendo e depois subindo novamente, porque os caminhos de ida e da volta são os mesmos. E olha que BH tem muitas ladeiras e estamos a 800 m de altura, aumentando o consumo. Só saber acelerar.
Anônimo 20:59,
Os números de aceleração e velocidade final são os divulgados pela FIAT, e me parecem compatíveis com o desempenho do carro.
Sem mais,
Um Mini que não é mais mini...
ResponderExcluirNesse caso, não seria melhor partir para outra plataforma?
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André,
Excluirpoderia se chamar BMW FWD.
André, falou o que eu penso..... perfeita colocação! E salvo engano, estão fazendo porcaria semelhante com o Fiat 500
ExcluirEncanta-me o padrão de acabamento da marca Mini.
ResponderExcluirInteressante a história dos RunFlat. Por falar nisso, sonho com o dia em que teremos em nossos automóveis pneus que não mais necessitem de calibragem periódica.
Utopia. Não existe sistema no universo que vivemos um sistema que seja estanque o suficiente para permitir que se faça uma única calibragem e que nunca mais seja necessária intervenção.
ExcluirOu então você compra um desses SUV caríssimos que vêm com um sistema que mantém os pneus calibrados.
Ou você instala um rodoar no seu carro.
CSS, existe um tipo de pito que diminui drasticamente a necessidade de calibragem. Pesquise no mercado livre e eBay. Sempre esqueço de comprar para testar.
ExcluirCSS,
ExcluirProcure pelos pneus Michelin Tweel. Não precisam de calibragem periódica justamente porque nem fluidos ou gases usam.
É uma proposta até bem interessante.
Calibrar tem manha. Poucos sabem que ao retirar o bico, perde-se pressão. Por isso, sempre é bom colocar um(a) psi a mais ao efetuar a calibragem, especialmente nestes manômetros suspeitos de postos.
ExcluirPS. Por que falamos 'o' psi, ou 'um' psi, se a abreviatura se refere a um termo no feminino?
Já gostei mais da Mini, mas tanta variação acabou por banalizar ela para mim.
ResponderExcluirQuanto ao piso, a resposta é simples: faz-se um bem ruim que não dura três meses. Daí todos reclamam, sai foto no jornal, e a prefeitura é "obrigada" a contratar um prestador "em regime de urgência", sem licitação ou edital. Como não tem licitação nem edital, o "prestador de urgência" faz outro serviço porco, que não dura três meses, quando causa revolta e reclamações, fotos no jornal, etc etc.
"Pense só um pouco
ExcluirNão há nada de novo
Você vive insatisfeito e não confia em ninguém
E não acredita em nada
E agora é só cansaço e falta de vontade
Mas faça do bom-senso a nova ordem"
Não deixe a guerra começar!
Nunca andei no Countryman S, mas no 1.6 sim. Em razão das rodas aro 16, é bem confortável na buraqueira até. Mas eu - pensamento de pobre - não teria coragem de gastar mais de 100 mil num carro desse para destruir por SP.
ResponderExcluirCorsário Viajante,
Já pensei como você sobre a pavimentação. Mas sinceramente? Acho que no Brasil não se sabe fazer pavimentação decente mesmo. Até mesmo rodovias pedagiadas - salvo algumas exceções - tem pavimentação ruim, curvas com inclinação errada, etc.
Marco
O Brasil sabe fazer asfalto sim e muito bem.
ExcluirO problema é a falta de cobrança/supervisão das obras, a falta de punição para as empreiteiras que vendem autoban e entregam vicinal.
Carrinho maravilhoso. Se pudesse teria um Cooper S fácil.
Exato Marco R.A.
ExcluirÉ só entregar um produto no valor por ele cobrado, e teremos vias de 1o. mundo ou melhor.
Carrinho incrível, mesmo sendo como o mencionado cabrito ...rsss
ExcluirNão seria minha opção natural, prefiro o duas portas, mas seria um prazer enorme passar algumas horas ao seu volante.
O Mini é bonitinho. Mas não compraria. Não vale quanto custa...
ExcluirOff Topic: Alguém sabe me dizer como fica um carro sem estepe na vistoria veicular? É item obrigatório? Aqui no RJ, estepe que não esteja com banda em boas condições é motivo de reprovação.
ResponderExcluirSe não há conserto para o Runflat, como fazer no caso de um pneu furado numa estrada/cidade de interior, onde dificilmente se achará um novo à venda? Férias podem se tornar um pesadelo...
Se não me engano, não há problemas. Desde que o carro tenha sido homologado desta forma, que é o caso.
ExcluirMuito obrigado por compartilhar essa experiência conosco. Ótimo texto!
ResponderExcluirÉ um bom carro, mas sou totalmente contra qualquer adaptaçãos pseudo offroad em carros de passeio.
ResponderExcluirAgresti,
ResponderExcluirconheço a curva, da Bandeirantes para a Santos Dumont, sentido Viracopos.
O asfalto rosa avermelhado é de quando a Bandeirantes foi construída, da melhor qualidade, dos tempos em que havia uma roubalheira governamental mais controlada, e uma exigência maior de um trabalho bem feito, com materiais melhores. Ou seja, um tempo em que havia um mínimo de vergonha na cara dos políticos.
sou simplesmente APAIXONADO por esse carro! pois tenho família e tenho a certeza que a minha filha iria adorar e a patroa ia até querer aprender a dirigir pra toma-lo de mim. A soma do aspecto simjpático e familiar a potencia e desempenho deste carro me fascinam. Agora achei que ele era AWD, mas pelo jeito me enganei.
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