Durante a Segunda Guerra Mundial, os mares
abrigavam as armadas dos países envolvidos no conflito, com elevado
poderio destrutivo. Grandes cruzadores, fragatas e os temidos submarinos
navegavam pelo mundo para defender sua nação ou atacar
seus inimigos.
Mesmo com os enormes encouraçados e seus canhões de
grande calibre que os alemães temiam, um pequeno barco de patrulha foi
muito importante para a soberania aliada. Denominados PT-Boats (Patrol
Torpedo, ou barcos de patrulha torpedeiros),
estes pequenos e ágeis barcos eram usados tanto para defesa como para
ataque a grandes navios, usando sua velocidade para melhor aproximação e
torpedos externos para o ataque.
Os PT-Boats eram pequenos se comparados às
fragatas, sua estabilidade e alta velocidade eram possíveis graças ao
casco com formato em V, em grande parte herdado dos modelos de corrida
do período entre guerras.
Diversas versões dos PT-Boats foram feitas,
geralmente com dois ou três motores. Um dos motores usados era o Packard
V-12 4M-2500, um monstro de 41,8 litros e 1.600 cv equipado com um
compressor centrífugo.
Este motor não é o famoso Rolls-Royce Merlin dos
caças da Segunda Guerra Mundial, que também foi produzido em concessão pela
Packard. O 4M-2500 foi criado para uso naval.
A tecnologia desenvolvida para os motores
aeronáuticos logo migrou para estes grandes motores marítimos. Um
comando de válvulas no cabeçote por bancada aciona as quatro válvulas de
cada cilindro, que possui também duas velas de ignição.
O motor Packard V-12 de uso naval restaurado. |
A admissão forçada pelo compressor montado na parte
dianteira do bloco, acionado internamente pelo virabrequim com a
devida multiplicação da rotação de duas vezes e meia, passa por um
carburador Holley 1685F de uso aeronáutico, capaz de
“filtrar” as diferentes condições atmosféricas em que o motor poderia
trabalhar no caso de um avião.
Após o final da guerra, muitos destes motores não
tinham mais utilidade, assim como os barcos torpedeiros. Chris Williams,
um veterano entusiasta de um clube inglês de carros antigos, achou que
seria interessante fazer uma homenagem aos
grandes carros que correram no lendário circuito de Brooklands, em
especial os carros com motores aeronáuticos.
Nascia assim, em 2003, a idéia do Mavis, nome que
seu projeto recebeu e foi concluído em 2010. Grandes carros que correram
em Brooklands receberiam uma homenagem digna, criada com a mesma
filosofia dos carros do passado: um chassi capaz
de suportar a carga e um motor capaz de gerar cargas maiores ainda.
Brooklands, a inspiração de Chris Williams. |
Nos anos próximos às guerras, muitos carros foram
construídos única e exclusivamente para participar das provas de
velocidade que existiam na Europa, equipados com motores de avião para
usar e abusar da força bruta para atingir velocidades
hoje tidas como altas.
O primeiro componente do Mavis que Williams
adquiriu foi o motor, ainda sem idéia de onde usá-lo. Um conhecido sabia
de outros carros parecidos que Williams possuía na época e sugeriu o
Packard V-12 para um novo projeto, que a primeira
vista não chamou muita a atenção, pois era grande e pesado demais.
Williams já possuía o Napier-Bentley, assunto para outra hora.
Um modelo do Bentley 8-litros que foi a base para o carro. |
Convencido pelo amigo, Chris comprou o motor e
começou a bolar o que viria a ser o Mavis, que usa como base um chassi
de Bentley 8-litros de 1930 modificado para receber os 1.300 kg do motor
V-12 naval.
A carroceria feita especialmente para o carro cobre
parte do motor, deixando de fora os vinte e quatro canos de escapamento, um
para cada respectiva válvula. Na lateral, tanques de óleo imitam
antigos torpedos.
A posição de dirigir é um pouco estranha, pois o
motor ocupa parte da cabine e diversos componentes foram realocados para
o lado. A transmissão também não é exatamente pequena para poder
suportar os maus tratos do motor.
O Bentley-Packard soltando fogo pelos canos de escapamento diretos. |
Diversos instrumentos indicam os sinais vitais do
motor, como temperatura e pressão de óleo, temperatura da água e os
comandos de ignição dos magnetos duplos, além dos controles do sistema
de combustível. O carro possui três tanques que
podem ter o conteúdo direcionados entre eles.
Com nada menos que 275 m·kgf de torque, o Mavis não
precisa de altas rotações do motor para arrancar com força e atingir
velocidade de cruzeiro. Capaz de atingir mais de 250 km/h, graças ao
potente motor acoplado a um câmbio Bentley
de quatro marchas não sincronizadas.
Nos tempos em que carros como o Napier-Railton,
Fiat Mephistofeles e mesmo os sofisticados Mercedes a Auto Union Flecha de Prata
reinavam soberanos como os reis da velocidade (e da insanidade), a
engenharia criativa era a solução para se andar cada
vez mais rápido.
Hoje em dia, um carro como este Bentley-Packard
pode não significar muito, até foi criticado como uma grande perda de
tempo e dinheiro, mas a classe com que foi construído, os detalhes e
atenção aos recursos para ser o mais similar possível
aos carros do passado, já é um grande mérito, e uma bela homenagem aos
heróis do passado.
Fotos: The Telegraph, pt-boat.com, Packard
MB
Se o sujeito criou a máquina que ele queria então não é desperdício de tempo e dinheiro.
ResponderExcluirAgora estou curioso mesmo é sobre a transmissão, como de qual carro que veio esse câmbio Bentley e de onde saiu o eixo traseiro.
Marcos, essa transmissão era usada nos modelos pré-guerra da marca, como o 4,5-litros e alguns dos carros de competição. Acredito que o eixo traseiro seja um caso parecido.
Excluirabs,
Não foi este que foi mostrado no topgear?
ResponderExcluirNão. A do Top Gear era o BMW-Brutus.
ExcluirH
Nesses carros com um conjunto mecânico absurdo sempre imaginei mais o câmbio e embreagem que usa do que o próprio motor, pois esse torque é absurdo demais.
ResponderExcluirRealmente em tempo e dinheiro, é uma opção de cada um fazer e usar, mas certamente o resultado disso(e essa velocidade máxima) foi algo estrondoso para a época em que foi feito, quem tem $$ acho que é para aproveitar mesmo, quem não tem é que fica só imaginando, como eu... rs
MB,
ResponderExcluiré de estórias assim que eu gosto. isso faz minha digestão mais leve !
Obrigado.
Com 275 m·kgf, acho que só precisa da 4º marcha mesmo... rsrsrsrs
ResponderExcluirBARRABÁS...(como diria o saudoso Expedito Marazzi)!!!!
ResponderExcluirQue máquina incrível! Vou até colaborar com outra máquina aquática: http://www.jornaldosclassicos.com/2013/04/02/riva-tritone/
MFF
E viva a Packard que permitiu esse tipo de carro com seu fantástico motor.
ResponderExcluirFantáticos esses carros dos anos 20 e 30 marcas como Panhard-Levassor,Mors,Packard e outras povoam nossas mentes de autoentusiastas, eram impressionantes os motores chegando a 13 ou mais litros.
ResponderExcluirParabéns pelo post.
Gen.Weigand(ex Coronel Anônimo)
Belo carro!
ResponderExcluirEsse carro me lembrou o BMW Brutus.
ResponderExcluirH
SHUT UP AND TAKE MY MONEY!!!
ResponderExcluirDeve ser a coisa mais próxima de dirigir um torpedo possível!
Não sei quanto ele gastou, mas tenho certeza que valeu cada centavo! Incrível demais!
Uma vez o Schumacher comentou que o que os pilotos dos anos 20 e 30 faziam era algo insano,e ao ver um carro desses não posso deixar de dar-lhe razão. Pelo visto fazer algo assim requer alguma ou total ausência de senso do perigo. Só que mais importante do que isso,é ver como se exploravam os limites por mais absurda que fosse a idéia,sem ter de topar com leis de mercado ou a preocupação de que não irá vender. O velho Ettore Bugatti afirmava que "aos sonhos,não importa o preço". Só posso aplaudir de pé aqueles caras.
ResponderExcluirComo faz pra soltar fogo pelo escape? Atrasa o ponto da ignição?
ResponderExcluirEu acho que deve ser tambem a mistura ar/combustível rica, que é manualmente regulável nos motores aeronáuticos, e acredito que seja tambem nesse naval.
ExcluirO escape curto sem nenhum tipo de restrição (abafador, catalisador, etc), o grande volume de cada cilindro e mesmo as baixas rotações fazem este efeito.
ExcluirA qualidade da queima da mistura não é boa nestas condições, e muito do combustível que vai para a câmara passa e vai para ser queimado no escape.
abs,
Acredito que pela força da explosão e o escapamento sendo bastante curto, a chama atinja a ponta, só isso.
ResponderExcluirBob, preciso de sua ajuda,
ResponderExcluirLembro-me de um post seu sobre a (falta) de qualidade dos remendos nas nossas ruas, onde inclusive você cita como em outros lugares, Alemanha se não me engano, os "tapa buracos" são bem feitos. Pois bem, procurei mas não consegui achar essa postagem. Poderia postar o link para ela, por favor? Agradeço desde já.
Rogério
ExcluirNão tenho como localizar post pelo sistema, mas já liguei o meu "HD" que fica acima do pescoço para achá-lo (rsrsrs). Aguarde.
Esses posts são os mais legais! Valeu MB
ResponderExcluirBob, Rogério,
ResponderExcluirpoderia ser este ?
http://autoentusiastas.blogspot.com/2011/10/nao-sabem-mais-fazer-ruas.html
Não JJ, é um mais antigo. Lembro-me que o Bob até cita o caso de ele ter ido a outro país, alemanha acho, e citar que apesar da rua parecer uma colcha de retalhos de remendos, o asfalto ainda sim era completamente liso.
ExcluirAgradeço a vocês pela atenção.