Aqui segue um filminho que recentemente fiz da Curva 3 do Circuito de Interlagos. Eu estava com um Peugeot 207 Quicksilver – motor espertinho de 1,4-litros e carro bonzinho de curva – e, quando fui a Interlagos para a comemoração do 70o aniversário do autódromo, da área dos boxes vi a Curva 3 lá ao fundo, quieta, deserta e abandonada. A festa aqui, aquela barulheira estridente de locutor desenfreado, aquele monte de gente nada a ver com corridas zanzando, e a mega-curva lá, sozinha, silenciosamente se esfarelando por abandono, por esquecimento.
Mundo ingrato.
Ingrato porque o Autódromo de Interlagos deve sua glória ao hoje desprezado e esquecido circuito antigo, que infelizmente teve seus pontos fortes amputados e, pior, amputados por estupidez, por burrice – por cabeças de meleca que tiveram ideias de meleca e com poder de transformar suas ideias de meleca em realidade de meleca. Mundo ingrato, mundo burro, insensato, insensível, onde ignorantes conseguem impor sua pequenez.
Amputaram os membros mais fortes, os mais saudáveis, os mais representativos.
E pra quê?
A justificativa é estapafúrdia: o circuito seria extenso demais para a Fórmula 1 "moderna" – demoraria muito tempo para que chegasse o socorro num caso de acidente.
Os miolos de siri dão essa explicação e tudo bem – como se não fosse possível colocar mais ambulâncias, bombeiros, etc.
E o pior é que essa baboseira colou e tocaram adiante a coisa a partir dessa premissa errada. E ainda disseram que foi o Senna que ajudou a bolar a coisa. Mentira. O Senna ficou estarrecido, chocado, isso sim; que eu sei de boa fonte.
Não sou, da equipe do Autoentusiastas, a pessoa certa para falar do circuito antigo, porque nele nunca corri. Naquele tempo eu corria de kart e em seguida parti para surfar e viver na fazenda, e com isso me distanciei das corridas.
A pessoa certa aqui é o Bob Sharp, que ali correu dezenas ou centenas de vezes, ali lutou duras lutas contra pilotos, contra dificuldades mecânicas, contra a neblina da madrugada, contra a sede e contra só ele sabe o que. Ali ele perdeu e ali venceu, e assim, ali deixou sua marca. A marca está lá, no ar, assim como a marca de outros grandes e também dos pequenos, por que não? Peço que o Bob logo dê aqui a sua opinião a respeito, ainda mais porque sei bem qual ela é.
Mas naquela tarde do passado mês, era eu que estava olhando para a Curva 3. E ela olhava pra mim. Parecia um monstro que me convidava a voltar a sentir a sua energia. Era um desafio que me fazia? Não. Uma curva nunca te desafia, simplesmente porque elas sabem que são imbatíveis – sempre haverá um modo de fazê-las mais rápido, portanto, não há como vencê-las.
Eu já a conhecera. Já testara carros na parte abandonada da pista e já despinguelara por essa maravilhosa curva em relevé algumas vezes. Ela fica no final do antigo Retão. O camarada passava lascado pela Reta dos Boxes e, dependendo do carro, fazia as Curvas 1 e 2 com o pé cravado. Assim, já entrava no Retão com o motor cheio e em marcha alta. O Retão é numa leve descida e é longo, bem longo, e nele o carro dava tudo o que tinha, tudo o que podia. A maioria dos carros ali dava a sua velocidade final mesmo. Hoje, não. Hoje as retas logo acabam e em muitos carros nem se coloca a última marcha, o que é ridículo.
E nessas, ao final do Retão o sujeito vinha em última marcha e com o motor quase saindo de giro, e toca a frear e reduzir para tomar a Curva 3. Dureza! Haja freios, haja discos e pastilhas e/ou tambores e lonas se atritando e rangendo desesperados; hajam punta-taccos e sutil sensibilidade para ajeitar e equilibrar a máquina para enfrentar esse autêntico enorme mergulho que é fazer a Curva 3.
Vai aqui, portanto, a deliciosa Curva 3. Procure imaginar o que era fazer isso com uma carretera endemoniada cuspideira de fogo pelos escapes, procure imaginar fazer isso sob neblina densa de cortar com faca, procure imaginar a envolvente volúpia dessa curva.
E já que ela me convidou, fui. Fui e filmei, para que os que não a conhecem sentissem um pouquinho da sua delícia.
Dois filetes d’água, bem na tomada da curva, me acautelavam, fazendo com que maneirasse alguns metros até que os pneus secassem de todo. Em seguida à 3, claro, vem a 4, que já está lá embaixo, no plano, e creio que o melhor é uni-las numa só linha curva, e foi o que fiz. Os asfalto está poroso e em alguns pontos há areia e noutros há pedregulhinhos soltos. No Retão eu maneirei, para que não me notassem e viessem pegar no meu pé.
Estranho – foi uma experiência que, como sempre me ocorre ali, provocou alegria, prazer, tristeza e revolta, pela ordem.
Mundo ingrato.
Ingrato porque o Autódromo de Interlagos deve sua glória ao hoje desprezado e esquecido circuito antigo, que infelizmente teve seus pontos fortes amputados e, pior, amputados por estupidez, por burrice – por cabeças de meleca que tiveram ideias de meleca e com poder de transformar suas ideias de meleca em realidade de meleca. Mundo ingrato, mundo burro, insensato, insensível, onde ignorantes conseguem impor sua pequenez.
Amputaram os membros mais fortes, os mais saudáveis, os mais representativos.
E pra quê?
A justificativa é estapafúrdia: o circuito seria extenso demais para a Fórmula 1 "moderna" – demoraria muito tempo para que chegasse o socorro num caso de acidente.
Os miolos de siri dão essa explicação e tudo bem – como se não fosse possível colocar mais ambulâncias, bombeiros, etc.
E o pior é que essa baboseira colou e tocaram adiante a coisa a partir dessa premissa errada. E ainda disseram que foi o Senna que ajudou a bolar a coisa. Mentira. O Senna ficou estarrecido, chocado, isso sim; que eu sei de boa fonte.
Não sou, da equipe do Autoentusiastas, a pessoa certa para falar do circuito antigo, porque nele nunca corri. Naquele tempo eu corria de kart e em seguida parti para surfar e viver na fazenda, e com isso me distanciei das corridas.
A pessoa certa aqui é o Bob Sharp, que ali correu dezenas ou centenas de vezes, ali lutou duras lutas contra pilotos, contra dificuldades mecânicas, contra a neblina da madrugada, contra a sede e contra só ele sabe o que. Ali ele perdeu e ali venceu, e assim, ali deixou sua marca. A marca está lá, no ar, assim como a marca de outros grandes e também dos pequenos, por que não? Peço que o Bob logo dê aqui a sua opinião a respeito, ainda mais porque sei bem qual ela é.
Mas naquela tarde do passado mês, era eu que estava olhando para a Curva 3. E ela olhava pra mim. Parecia um monstro que me convidava a voltar a sentir a sua energia. Era um desafio que me fazia? Não. Uma curva nunca te desafia, simplesmente porque elas sabem que são imbatíveis – sempre haverá um modo de fazê-las mais rápido, portanto, não há como vencê-las.
Eu já a conhecera. Já testara carros na parte abandonada da pista e já despinguelara por essa maravilhosa curva em relevé algumas vezes. Ela fica no final do antigo Retão. O camarada passava lascado pela Reta dos Boxes e, dependendo do carro, fazia as Curvas 1 e 2 com o pé cravado. Assim, já entrava no Retão com o motor cheio e em marcha alta. O Retão é numa leve descida e é longo, bem longo, e nele o carro dava tudo o que tinha, tudo o que podia. A maioria dos carros ali dava a sua velocidade final mesmo. Hoje, não. Hoje as retas logo acabam e em muitos carros nem se coloca a última marcha, o que é ridículo.
E nessas, ao final do Retão o sujeito vinha em última marcha e com o motor quase saindo de giro, e toca a frear e reduzir para tomar a Curva 3. Dureza! Haja freios, haja discos e pastilhas e/ou tambores e lonas se atritando e rangendo desesperados; hajam punta-taccos e sutil sensibilidade para ajeitar e equilibrar a máquina para enfrentar esse autêntico enorme mergulho que é fazer a Curva 3.
Vai aqui, portanto, a deliciosa Curva 3. Procure imaginar o que era fazer isso com uma carretera endemoniada cuspideira de fogo pelos escapes, procure imaginar fazer isso sob neblina densa de cortar com faca, procure imaginar a envolvente volúpia dessa curva.
E já que ela me convidou, fui. Fui e filmei, para que os que não a conhecem sentissem um pouquinho da sua delícia.
Dois filetes d’água, bem na tomada da curva, me acautelavam, fazendo com que maneirasse alguns metros até que os pneus secassem de todo. Em seguida à 3, claro, vem a 4, que já está lá embaixo, no plano, e creio que o melhor é uni-las numa só linha curva, e foi o que fiz. Os asfalto está poroso e em alguns pontos há areia e noutros há pedregulhinhos soltos. No Retão eu maneirei, para que não me notassem e viessem pegar no meu pé.
Estranho – foi uma experiência que, como sempre me ocorre ali, provocou alegria, prazer, tristeza e revolta, pela ordem.
AK
EXCELENTE ARTIGO !
ResponderExcluirPena que eu nunca vi uma corrida no traçado antigo.
Dizem que era "sangue no zoio".
AK, super inspirado nesse texto. Eu lembro bem disso, o Bob me levou para uma volta quando era moleque.
ResponderExcluirEu vi cada uma naquela curva.
ResponderExcluirTem um carinha que costumava dizer que chegar na 3 de cano cheio, dava uma saudade de casa...
É só o locutor da RaceTV.
Grande Edgar.
Outro que sabe tudo de Interlagos completo.
Que raiva me dá quando apareço por lá.
Das 3 opções escolheram a pior, que matou o retão e a 3 só pra ter a grife porcamente eternizada.
ops... faltou... que matou a 1 a 2 o retão e a 3...
ResponderExcluirsorry.
e aquele projeto de reativar o interlagos antigo, não está indo para a frente? tinha tanta gente importante dando apoio, seria espetacular ter de volta este traçado, eu faria de tudo para poder correr as mil milhas no circuito original se um dia esse projeto der certo, com qualquer carro.
ResponderExcluirInfelizmente, hoje, Interlagos e Jacarepaguá como eram nos seus melhores dias só no simulador, ambas foram recriadas com uma fidelidade bastante boa às originais.
ResponderExcluirE a chegada da curva 3, mesmo na simulação, ainda continua tão complicada como descrito pelo AK. :)
AK, gostaria de usar um verso de uma música para descrever o que sentí ao ler seu post, " Repentinamente a dôr me pealou, me molestou os olhos.... o que fizeram com o antigo traçado de interlagos poderia ser incluso facilmente como crime hediondo, feito por pessôas que tem ervilho no lugar de cérebro !
ResponderExcluirAK,
ResponderExcluir"Olha oque interlagos perdeu! Isso era coisa de macho!" kkkkk A frase resumiu tudo. Sou de BH, nunca estive no circuito (sou doido pra ir), mas ver o mergulho no final da reta dá pra imaginar como devia ser. Lembra muito alguns circuitos europeus. Uma curva assim é oq faz o automobilismo precisar de 2 bolas pra ser praticado kkkk...
Grande abraço! Vlw muito pelo post!
Amigos,
ResponderExcluiro texto que ainda aí está 11:49 de 5a feira, está incompleto e a palavra relevé está errada. Em breve será trocado pelo definitvo, que está em outro computador, inacessível no momento. Desculpem, deu uma confusãozinha.
A curva é de dar frio na barriga, sim, um delicioso friozinho.
Corri 4 anos de Yamaha TD1 250/350, a primeira Yamaha importada pela fábrica. Na época havia corridas de moto pelo anel externo também. Há duas situações em relação à curva 3. Quando se corre pelo anel externo a curva 3 é razoavelmente fácil, a mais difícil de fazer é a 2, o porque não sei explicar. Na 3 era levantar o corpo dar uma freada que a moto fazia sozinha e já entrava direto na chamada Junção e subida do box.
ResponderExcluirJá no circuito completo tinha a curva 4, a continuação da 3, a que dá entrada para a reta da ferradura e nessa o bicho pegava. Se fizesse a 3 muito bem feita e forte na 4 acabava fazendo besteira.
No circuito completo com moto praticamente todas as curvas eram duras, a entrada da ferradura com uma curva para a direita e logo depois a ferradura para a esquerda, o sol que pregava peças, pois começava com um raio longo e terminava com raio curto e um barranco, a freada do sargento e a própria curva feita sem muita visibilidade por causa dos capacetes fechados da época e por aí vai. A 1 e 2 também não eram moleza, vi um dos bambas da época tomar um tombo entre a 1 e 2 e vir de bunda até bater no guard rail se quebrando todo.
Eu estava parado e fui socorrer, mas acabei me sentindo mal de ver e vomitei. Os caras da ambulância acharam que era eu que tinha me acidentado e foi um custo me livrar deles, o piloto acidentado estava escondido pelo capim alto.
Não acredito nesses movimentos de recuperação. Pode-se ver no filme do Arnaldo dois prédios de médio padrão na curva 3, bem onde ficava a chácara do japonês, chácara integrante de inúmeras histórias de carros e motos aterrizando na horta. Um conhecido integrante de um trio de cantores, dois meninos e uma menina que ficou famosa depois, acabou saindo da 3 e caindo em cima das alfaces, couves e tomates com uma Bultaco 250, mas não se fez nada a não ser comer salada com terra preta. Se fosse hoje entraria pela janela do terceiro andar e almoçaria com os moradores.
Arnaldo,
ResponderExcluirMuito bem dito. Nunca me conformarei com este crime que foi cometido com o velho Interlagos.
Para mim, a pista morreu, e acho que é um dos motivos de meu desinteresse com a F1 moderna.
MAO
Arnaldo,
ResponderExcluirbelo texto, pena que foi curto. Você poderia escrever mais e não cansaria a nós, leitores.
Me lembro bem de Turismo 5000 e Stock-Car de Opala, no circuito antigo. O som dos carros descendo a reta, e a "encolhida" que eles davam na freada para a 3 era de outro mundo. A 5000, então, pelo anel externo, foi um dos momentos memoráveis de Interlagos.
Pior é que a burrice inutilizou o circuito antigo, ao invés de preservarem-no para as categorias que desejassem usá-lo. Há tantos outros autódromos antigos assim, porque não o nosso, certo ?
Vamos ver se um dia teremos mesmo o projeto de reativar Interlagos de verdade saindo do papel.
Abraço.
Zullino,
ResponderExcluirQue história fantástica!
Marcelo,
ResponderExcluirAntigamente os ricos corriam de carro e os pobres corriam de moto. quando a "puliça" chegava em uma corrida de moto, metade já ficava de mão na parede e a outra metade sumia. Em todo mundo é assim, preconceito contra nós pobres motociclistas, até em Daytona acontece.
O circuito antigo separava os homens dos meninos mesmo. Fora o que se precisava de motor, era arame enrolado da junção até a curva 3 e se chegava na 1 em uma velocidade muito grande. Dava para fazer a 1 de pé embaixo? Dava, mas você tinha que se chamar Jean Pierre jarrier ou Jackie Ickx. O problema que logo depois vinha a 2 que tinha que ser feita se olhando a caixa d´água que existe até hoje, era mirar e fazer. A moto como o carro sempre vai para onde se estiver olhando.
Restaurar será difícil, comeram a curva do Sargento, o final da Ferradura e o final do Sol, virou páteo ou quadra. No entanto, acho que dá para fazer um bem bolado aproveitando algumas coisas.
Uma das coisas que fazem falta é o circuito externo, os 500 km sempre foram disputados no externo e mesmo de formula Vee a velocidade era grande.
O Eloy Gogliano foi o partícipe da corrida mais doida que teve no circuito externo. O Eloy apesar de ser o presidente do Centauro estava meio afastado do motociclismo e resolveu organizar umas 200 milhas pelo externo. Só que ele se esqueceu que as máquinas eram todas dois tempos e modernas, tinham acabado as Nortons, matcheless, bsas que ele estava acostumado.
Na hora que ele viu que a velocidade das dois tempos era outra e que as máquinas iam embalando e andando cada vez mais, ele começou a ficar apavorado.
Cada piloto que parava para reabastecer levava um esporro em regra do Eloy para andar mais devagar.
No final ele ficava em frente ao box fazendo sinal para o pessoal diminuir, uma coisa maluca, estávamos em uma corrida e o diretor queria que andássemos devagar. Só o Eloy mesmo, uma grande figura e um bom coração, ajudava todo mundo que pedia ou que ele via que precisava, mesmo que ninguém pedisse. Arrumava gasolina, pneu, peças, o que ele queria era ver a molecada na pista.
Pelo cargo ele não podia fazer isso, afinal era o juiz supremo, mas todo mundo aceitava porque sabia que o que ele fazia era com as melhores intenções e não para proteger ninguém. No íntimo ele vibrava quando um underdog dava pau nas equipes maiores e mais organizadas.
Ótimas histórias, Zulino!
ResponderExcluirGuiando ali dá pra entender perfeitamente o que vc disse a respeito de fazer a 3 muito bem e se ferrar na 4. De carro acontece o mesmo, além do mais hoje há uma depressão transversal um pouco antes da 4, então, se o camarada vier no limite essa depressão é o que basta.
Na época vi corridas de moto e muitos treinos, enquanto eu treinava de kart, e digo que era absolutamente apavorante vê-los beirar a grama na saída da 2. Fio da navalha. Doideira federal.
Aí é que está Arnaldo, correr de moto é muito menos apavorante do que de carro, pelo menos para mim. Na realidade não se tem consciência total do que se está fazendo, olha-se algum ponto de referência e manda-se bala sem reparar em muita coisa que está acontecendo. A própria posição não ajuda muito, na realidade correr de moto é um "mind game", tem que ter fé que a josta vai fazer.
ResponderExcluirOs melhores e que não se machucam são os que conseguem avaliar rapidamente se dá ou não dá e se não dá tem que se livrar da máquina, é ela que te mata ou machuca.
Isso exige coragem de se atirar fora, o que é antinatural, geralmente o cara se agarra à máquina tentando controlar o incontrolável e acaba se machucando. É o único momento que precisa de coragem e sangue frio para reconhecer que a vaca foi para o brejo e se atirar, no resto é automático e medo mesmo não dá durante a corrida.
O problema, Zulino, e vc sabe bem, é a adrenalina que anula o medo.
ResponderExcluirSabe o alcoólatra que não bebe porque sabe que bebendo ele se transforma? É a mesma coisa, então é melhor nem começar certas coisas.
Excelentes, o texto e o vídeo do Arnaldo - e as contribuições do Zullino.
ResponderExcluirInterlagos original era tudo de bom - que saudade!!!
ResponderExcluirFiz um curso de pilotagem lá com o Grande Expedito Marazzi. Eu tinha um Passat Pointer na época e fazer a 1 e a 2 pé embaixo não era fácil. Em uma das aulas o Mestre Marazzi foi ao meu lado e elogiou a minha aproximação e contorno da 1 e 2.
Ler esse tópico agora me fez relembrar todas as voltas que eu dei lá.
Já andei várias vezes no traçado "novo", e comparando os dois o segundo é totalmente sem sal...
Pelo menos eu sou um dos que teve o prazer de guiar no Templo.
Abraços,
Valente
apesar de gostar do traçado antigo o mesmo também tinha seus problemas, principalmente na época que não tínhamos essa sofisticação toda de comunicação e acesso. para equipes mais modestas era um drama se alguma coisa quebrasse na curva 3 ou no retão. até chegar ajuda já tinha passado muito tempo.
ResponderExcluiro pessoal pensa que o S do Senna foi inventado pelo próprio. o S do Senna existia em terra desde 1940, era usado de noite nas MM para os espertos cortarem caminho. era só apagar a luz e já sair no Sol. fora as histórias dos motores de DKW jogados no lago nas MM.
também corri e de vez em quando dou umas voltas no traçado novo e gosto. outro dia dei umas voltas de noite com minha Alfa 145 e me diverti muito, no traçado novo não tem muito tempo para descansar, é pauleira o tempo todo. na época dos DKws dava para dar uma relaxada no retão.
É um absurdo o que já fizeram com Interlagos. A última foi a construção de uma gigantesca estrutura de concreto encima do paddock...
ResponderExcluirMas o pior ainda está por vir: existe por aí uma idéia de transformá-lo em uma arena muliuso, para shows de rock, manifestações religiosas, etc... Depois do que fizeram com o maravilhoso traçado de Jacarepaguá não é de se estranhar.
Mas tudo bem, tá de acordo com a moral e a cultura de nosso pais...
Brasiúúúúúúúl!!!!!!!!!!!!!!!!!
Não há palavras, deixo aqui registrada minha frustração pelas "pérolas" que encontramos por aí.
ResponderExcluir1.4 litroS???
ResponderExcluirque dor no joelho!!
Ao contrário vocês já andaram? Tanto no novo quanto no velho o que pega é a freada da Junção. PQP! QUALQUER COISA chega rápido lá. O resto é mole. Mas a descida do Café...
ResponderExcluirQuando era barato e fácil não era incomum alugarmos a pista para andar com nossos carros de rua a tarde inteira. A turma quase toda tinha carteira de piloto.
E é impressionante como muda de personalidade o Lago no sentido "certo" agora que tem a saída com raio menor e a entrada com raio relativamente maior. Não tem como entrar de cano cheio ou dando uma respirada e esperar o carro perder velocidade na deriva dos quatro pneus antes de espetar a terceira. Tem que fazer mais ou menos como o bacião do kartódromo, só que em subida.
Mas a freada da Junção é foda. Recomendo a experiência. Mesmo porque se for depois do ponto a freada, tem como fugir reto para a Junção velha.
Bom, o assunto é a 3 e a 4. Confesso que nunca achei que lá fosse lugar para brincar. Era sério o negócio. Errou, ferrou. Confirmo o que já disseram sobre fazer a 3 direitinho e se ferrar na saída da 4.
Como nunca fui profissional, nunca me obriguei a acertar a 3 (e nem trecho nenhum) em 100% das tentativas. Mas tinha dia que era O DIA de fazer a 3 certo. O dia de fazer a 3 certo requeria calibragem de pneus absolutamente anômala. Pelo menos para mim e mais alguns alunos do CMP que usavam Passat de rua (1500 cc, câmbio louco, com os ótimos CN36 175/70R13 comprados no Mané 5 Estrelas). Do canto direito dianteiro para o dianteiro esquerdo vindo pelo lado direito do carro: 45, 47, 41, 42. Para fazer o Sol e o Lago não ficava bom mas na 1 e a 2 não tinha problema. Desse jeito dava para dar um temperinho no freio de pé esquerdo mesmo logo antes dos 50 metros e apontar para o começo do segundo terço da pista (primeiro terço bem à esquerda com pouca inclinação, segundo terço já com a inclinação certa e pista limpa, terceiro terço nem pensar). Aí era só esperar a leve traseirada sem mexer na direção. Se o carro passasse bem no começo do segundo terço da pista na tangência, saia com as rodas do lado direito sobre a zebra do pedaço alargado da entrada da reta da Ferradura. Todo esse estragema era só para temperar o freio, e não frear de verdade, o que fazia a frente do Passat afundar e causar o maldito bump steer, o que me tirava a precisão da pontaria para o lugar certo.
Mais adiante no tempo, já participando do campeonato de Aspirantes, levei o recém comprado Escort L 1600 da mamma para experimentar numa das deliciosas tardes de quarta-feira. De reta ia bem. Tinha cinco marchas e cortava o ar facilmente. Era ruim de freada (pneus 165/80R13) e péssimo de contorno por ser mole demais. Depois de umas voltas aparece no retrovisor o Voyage 1600 pré AP acertadinho do Fabio Murari (o sobrenome é esse mesmo. O nome, pode ser que não). Me passou e passei eu a andar na paquera dele. O cara entrou na 3 rápido (Voyage ACERTADINHO, baixo, com cambagem na frente, pneus bons, motor esperto, etc, etc) e arrisquei acompanhar no contorno depois da freada e redução para quarta. O carro traseirou de leve uma vez, voltou, retomei WOT e traseirou de novo. Provavelmente a uns 125 km/h reais (uns 130 ou pouco mais no velô – minha referência lá de Passat era um pelinho acima de 120 km/h). Preparei-me para o estampão, para as broncas do Expedito e da minha mãe, para a tentativa de emasculação sem anestesia pelo meu pai e para o aluguel dos amigos, tirei bem o pé do acelerador mas não até idle e contra-esterçei esperando que o arrasto dos pneus diminuisse a velocidade. Deu certo mas a roda traseira direita passou muito perto da graminha antes do guard rail, já na sujeira.
Na pista nova sobrou só uma curva legal de fazer, infelizmente. O Laranjinha. Muito legal de fazer desde que o coche não seja dianteiro demais. Na medida para Pumas de rua bem cuidados. Como não tenho a cara de pau como a de alguns que conheço, vez por outra boto o GTE para andar em rallies de regularidade.
Irineu
Tens razão, Prof. Pasquale, tens razão. Desculpe a falha.
ResponderExcluirValeu, Irineu!
Bem descrito. Vivenciei as encrencas. Obrigado.
Excelente post e comentários...
ResponderExcluirBem no início de 2001 ou 2002, a VW fez um teste de durabilidade do Gol 1.6 Power no circuito externo.
Cheguei lá e encontrei a pista toda emborrachada pelos Golzinhos, corri no Ernesto e ganhei uma " não proibição " de entrar na pista ( rs rs) , e enquanto o pessoal do Manzini preparava o pessoal da aula que viria, catei um carro no kartódromo e me fartei em boas voltas por ali.
A curva três realmente é de assustar, hora que desce o retão se enxerga aquela " paredinha" lá embaixo, o grau de inclinação é muito alto, dá para ver isso quando o Arnaldo retornou na contra-mão.
Como disse o Zullino. ali era uma ' rampa de lançamento ' lá pra fora.
Quando andei, o asfalto estava rugoso, trincado, mostrando que os Gol Power gastaram bastante borracha e bons rolamentos de roda por ali.
O JLV, no primeiro teste dos Gol GT 1.8 " isso diz tudo" , na motor 3, revelou umas coisas : que na disputa contra o Marazzi pela melhor volta, estavam virando 1.19.3 com o Marazzi uns 2 a 3 décimos na frente, deu uma de suicida ali numa das retardadas de freada para a 3 e o GT perdeu a compostura e a trazeira, JLV revelou que estava a 140 Km/h,puxou a terceira( longa) do GT 4 marchas que estava e se safou com vida e o tempo de 1.18.8 , tempo para o carro com setup todo original.
Como diz o AK para o Zullino, a adrenalina em certas horas encobre o medo e coisas acontecem ..., :D
Alexei
O charme do circuito antigo não era devido apenas ao traçado, mas aos costumes e à liberdade de andar por onde se quisesse, cansei de ficar dentro do bueiro da curva 3 tentando fotografar a parte de baixo dos carros.
ResponderExcluirA junção também tinha suas histórias. Uma vez estava com um amigos no morrinho que existia na parte externa vendo o treino de f1. Na realidade, não víamos muita coisa, pois ficávamos andando pelo circuito parando de vez em quando. O John Watson estava correndo de Brabham da Hexagon pintado de marrom, um horror. Acho que tinha aquelas persianas na frente dos pneus. De repente, o cara se entorta todo e foi um "barata voa", nós para um lado e ele para o outro. No box depois do treino acabamos encontrando ele que muito simpático pediu desculpas, ele tinha nos reconhecido. Ele explicou que estava nos usando como ponto de referência, pois conseguia nos ver bem antes da curva. O problema é que demos uma andada para cima e ele perdeu o ponto de freada e quase nos mata.
O melhor das corridas de moto eram os pegas com as Kombis, na época 1200 em sua maioria e em mau estado. Davam 90 km/h no retão e o barato era fazer a curva 3 sem as mãos no volante, a trapizonga fazia sozinha pela inclinação. Aliás, é impressionante o que as kombosas fazem de curva.
Arnaldo, Zullino, Irineu, muito obrigado por compartilhar estas experiências! Por favor queiram continuar, estou (ou melhor estamos) acompanhando o show.
ResponderExcluirAbs
Lembrei de outra da 3. O Toninho de Souza fez um torneio não me lembro mais em que ano (se lembrar, escrevo mais adiante ou em outra interveção). Chamava-se Seja Um Campeão. Aliás, a história de como conseguí a grana para a inscrição nesse torneio é tão interessante quanto impublicável. Se bem que já deve ter ocorrido a prescrição. Consistia de quatro fases, todas eliminatórias. Acho que a primeira era um questionário para ser respondido, sucedido por três sets de voltas na pista à bordo de Gols de div. 3, com motores a ar standart mas acertadinhos.
ResponderExcluirOs instrutores (coitados) que iam no banco da direita eram o Maurizio Sandro Sala e o Zé David. O Sala eu conhecia porque tinhamos amigos em comum. O Zé eu ia ver andar na pista sempre que dava. Ele mandava extra bem de F Fiat e depois numa formula que englobou carros velhos da F Ford, F 2 e F Super Vê.
Como eu fazia naquela época a mesma coisa que alguns respeitáveis senhores continuam fazendo hoje, a pista não tinha segredo. E acostumado que estava a malhar umas voltas de Passat, Chevette e Dodge Polara equipados com pneus comuns (radiais no Passat, diagonais nos outros) nas madrugadas e depois de corridas do Paulista, me encantei com o primeiro contato com os mágicos pneus slick.
Os candidatos tinham que obedecer a vários quesitos a serem avaliados pelos instrutores, como postura en la butaca, observância do limite de giro (contagiros Smiths mecânicos... de babar!), traçado, frenagem, etc, etc, etc.
Mas a primeira volta da série era dada de lambuja para quem demonstrasse alguma habilidade.
Meu instrutor nessa fase foi o Zé, que já me conhecia e sabia que eu malhava voltas clandestinas. Descendo o retão perguntei se ele já tinha feito a 3 flat de Gol. Gritando, claro. O Zé balbuciou alguma coisa, prontamente interrompida com um "vamuvê agora he he he"
Alguém aí faça a conta da velô que os Golzinhos de D3 chegavam no fim do retão: quarta 0,88, dif 8/31 (3,875) e 5 krpm saindo parado dos boxes. Não lembro o perímetro dos pneus mas eram os 235/45R13 traseiros dos F Ford.
Não tendo escolha, o Zé tratou de segurar a prancheta com os quesitos e de se segurar.
Chegando nos 50 metros botei as rodas da direita do Gol bem paralelas com a última beirinha da pista e caprichei na virada da direção sem mover um milímetro do pé do acelerador. Dura que era a suspensão traseira, quase não precisou virar a direção. Fez quase na boa, saindo com as rodas da direita sobre a zebra do fim da 4.
Daí continuei, feliz da vida por não ter errado, mas no giro estipulado para aquela fase (3 krpm).
Irineu
P.S. Fiz a conta. Dá pouco mais de 143 km/h.
Zullino,
ResponderExcluirRachei o bico com o estelionato aplicado no Watson. O Expedito sempre falava para a gente não tomar como referência mato na beira da pista, gente e coisas que poderiam não mais estar lá de uma hora para outra. He he he...
Irineu
Acho que o Watson não teve aulas com o Expedito que sabia das coisas. Se tivesse tido aulas não teria quase se matado e principalmente quase nos matado, foi por um fio.
ResponderExcluirO Expedito era uma grande figura e tinha o dom de conviver com atitudes completamente díspares e não estava nem aí. Como jornalista da Quatro Rodas ele era todo certinho, mas na vida real era um doido de pedra.
Até hoje lembro dele com aparecendo para o kilômetro lançado na Marginal do Pinheiros com um Lorena dourado pintado de color gin e com o santo antônio feito de tubos de PVC.
Como piloto ele era meio bruto com o carro, mas era um excelente professor e tinha explicação para tudo.
Uma vez conversamos sobre a dupla debreagem, eu dizia que era besteira e ele insistia que era absolutamente necessário que se usasse a dupla debreagem mesmo em carros com sincronizado. No final, ele me convenceu ao dizer que somente a dupla debreagem podia garantir que a marcha entraria sempre, o que de certa forma é verdade.
Isso ficou na minha cabeça e até hoje não consigo guiar sem usar a dupla debreagem, mesmo sabendo que não precisa.
Um dos melhores pilotos de Opala e Omega que é o Coruja não usa, ele manda bala nas reduções e quando me vê usar dá risada e fala que eu devia dirigir caminhão velho de catadores de papel. A culpa é toda do Expedito.
Não conheço o Coruja pessoalmente mas já troquei vários e-mails com o Trimilika, irmão dele, sobre preparação de motores a ar (a vento, como ele diz).
ResponderExcluirA diferença de approach na questão das reduções de marcha entre o Coruja e o Expedito é fácil de entender. Para o Coruja não custa nada trocar ou desmontar e remontar "una caja" quebrada porque ele é mecânico. Para o Expedito era foda. Ele não era amigo das ferramentas.
Sobre ter sido bruto com carros, discordo. Foi justamente o Expedito que me convenceu dos benefícios da pilotagem suave, evitando ao máximo trancos e balançadas de qualquer natureza.
Aliás, Expedito Marazzi é sempre bom tema para conversas. Apesar de turrão e de termos discutido várias vezes, ele era O CARA. Sobre ele ter sido doido de pedra prefiro não comentar. Seria o roto falando do esfarrapado.
Irineu
Irineu,
ResponderExcluirEu conheci o Expedito em outra época, acho que nem filho ele tinha ainda e sempre achei ele meio brutão com os carros, aliás era mais pelo tipo dele, era um cara fortão e mais velho que nós. Isso pode ter deixado a impressão agravada pelos carros da época. Ver um Catarino dava a mesma impressão, o gaúcho não queria nem saber, a maioria dos antigos passava essa impressão de brutalidade com os carros.
O expedito escrevia bem, pois tinha conhecimento ou se não tinha arrumava alguém para explicar, sem resposta ninguém ficava.
Era muito atencioso e educado, falava com todos e dava atenção a qualquer moleque que quisesse conversar sobre carros e motos. Isso deve ter sido lá por meados dos anos 60 quando ele era reporter da QR. Outros tempos.
Mas a questão dele da dupla não era economizar caixa, era porque garantia a entrada da marcha em qualquer hipótese e isso ele achava fundamental. No final acabou me convencendo com esse argumento e nunca mais me livrei do hábito, o que deve valorizar meus carros para eventuais compradores, os sincronizadores estarão intactos.
Zullino,
ResponderExcluirSou bem mais novo do que você e ainda mais do que o Expedito se estivesse vivo. Não adianta nem me socorrer das lembranças do Gabriel Marazzi porque temos a mesma idade e certamente ele não se lembra do pai-piloto-jornalista dos primórdios da Quatro Rodas. Mas dá para acreditar no que você fala numa acareação com as histórias de família que o Gabriel me contou, pelo menos até a vinda do Piero Taruffi para o Brasil. O Expedito que conhecí seguia à risca o que o cara preconizava.
De fato, enfrentar o Expedito num dia ruim não era uma boa experiência.
Jornalisticamente falando, já que você mencionou a atuação dele na QR, sempre preferí os textos pulicados na Motor 3.
Mas já que o post saiu da "cara" do blog, melhor deixá-lo acabar e continuar a conversa em outra ocasião.
Irineu
Vcs tem sorte de ainda terem pelo menos o arremedo de Interlagos,por aqui logo logo vão passar a motoniveladora sobre tudo....4R era uma até o Expedito,ficou outra sem ele....Excelente post, a colaboração de todos elevou o nível ao ponto máximo,isso é combustível para qq livro sobre a história do nosso automobilismo,num país que não se preza a memória de coisa nenhuma, de automóvel então....
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