google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 "HALLO, SENHOR VOLKSWAGEN" - AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

"HALLO, SENHOR VOLKSWAGEN"


O amigo Carlo Gancia, filho de Piero Gancia, também grande amigo mas que se foi em novembro do ano passado, me mandou este artigo acima intitulado e publicado na revista alemã Stern em 16 de outubro de 1966. O artigo, de autoria do jornalista Jörg Andrees Elten com fotos de Fred Ihrt (que infelizmente não vieram) fala de Friedrich Wilhelm Schultz-Wenk, o alemão que convenceu Heinz Nordhoff, o diretor-superintendente da Volkswagen, a abrir uma filial no Brasil e construir uma portentosa fábrica em São Bernardo do Campo. 

Schultz-Wenk dirigiu a Volkswagen do Brasil de 1953, ano de fundação, a 1969, quando faleceu ainda jovem, aos 55 anos, vitimado por um câncer cerebral 

Pelo valor histórico, achei que deveria reproduzi-lo no AE. Espero que apreciem.

BS


HALLO, SENHOR VOLKSWAGEN

Ele parece exatamente o que a Metro-Goldwyn-Mayer quer em um astro de cinema: esbelto, alto, elegante, grisalho nas têmporas, olhar penetrante, sorriso de vencedor, dentes brancos e tudo isto envolto em uma colônia cara.  Esta foi minha impressão quando o conheci pessoalmente pela primeira vez no Hotel Vier Jahreszeiten (nota: Quatro Estações) em Hamburgo, onde estava recebendo amigos e parceiros de negócios. Ele tinha acabado de chegar do distante Brasil. onde ele é o CEO do maior empreendimento alemão no estrangeiro: a Volkswagen do Brasil. A recepção tinha realmente a atmosfera de filme, “Bobby” (assim os seus amigos chamam o nosso homem no Brasil) era o astro e desempenhava seu papel com maestria. As referências às damas eram do tipo “A senhora está de novo arrasadora”, e aos senhores, “Eu sei como o senhor anda ocupadíssimo e mesmo assim foi maravilhoso ter vindo”. Isto saía naturalmente de seus lábios, como se tivesse decorado as linhas com o diretor. E obviamente sua imagem junto ao seu público era, mais uma vez, excelente.

Enquanto garçons de fraque passavam caviar e as rolhas de champanhe francês espocavam, para o deleite dos convidados, o anfitrião era discretamente chamado ao telefone: Rio, Londres, Zurique.

Com as últimas economias pessoais, para o Brasil

Há dezessete anos Bobby Schultz-Wenk, que como tenente-coronel lutou na frente oeste até o fim, seguido de um breve período em campo de prisioneiros, comprou a passagem para o Brasil. Ele tinha sido um jovem entusiasta da Hitler-junge (nota: Juventude Hitlerista). Agora ele se sentia – como muitos de sua geração (1914)- amargamente traído. As fronteiras da Alemanha vencida ficaram pequenas para ele. Ele queria sair, deixar o passado para trás, e começar uma vida nova. Hoje ele pertence a elite de CEOs internacionais, é chefe de 13.000 funcionários e da maior empresa privada da América Latina, que ele, enfrentando dificuldades enormes organizou e construiu.

Ao nos despedirmos de Schultz-Wenk no saguão do hotel por volta da meia-noite, ele nos disse: "Venham ao Brasil, me visitem em São Paulo e olhem a nossa produção de besouros brasileiros."

Algumas semanas mais tarde estávamos a caminho.

Depois de nove horas de vôo apareceu a imagem dramática do Rio de Janeiro, a cidade com a natureza mais bonita do mundo, o cartão postal do Brasil. Centenas de vezes vimos suas imagens em fotos, mas a realidade ultrapassou todas as expectativas. Encravada entre o mar e a montanha e como uma jóia reluzente no veludo macio.

A imagem de Copacabana com as ondas arrebentando contra uma faixa larga de areia para a qual dá o hotel e apartamentos de luxo nos trazem vagas lembranças de Nápoles e Hong Kong. Em nenhum lugar há uma mescla tão grande de fauna e flora tropical com a moderna civilização.

No aeroporto somos recebidos por João Corduan, alemão-sul-americano, chefe de imprensa, relações publicas e “ministro do exterior” da VW do Brasil. Com bigode, camisa esporte, ele se parece como um gentleman britânico que está representando um dono de rancho texano. Ao seu comando as malas saem da alfândega, o carro aparece e a porta da suíte do hotel Copacabana Palace, a qual é alugada o ano todo à VW do Brasil, se abre.

Aonde for que o  VW-Corduan vá ele representa a influência e o poder de uma organização que já recolheu ao estado brasileiro 140 milhões de marcos e que tem ramificações em todos cantos deste enorme país.

O comandante do aeroporto nos acompanha pessoalmente ate o bimotor Beechcraft Queen Air que a Volkswagen nos mandou junto com dois pilotos para a viagem até São Paulo. “Nós temos amigos em todos lugares”, sorri Corduan,  tirando gelo e uísque de um bar no avião depois da decolagem.

Ao entardecer aterrisamos em São Paulo. Na cidade de seis milhões de habitantes onde os prédios se espremem mostrando uma dinâmica brutal, chegamos na hora do rush. Em uma onda de Volkswagens seguimos para o Centro e Corduan confirma que de cada dois automóveis neste País, um é Volkswagen.

A fábrica fica a 24 quilômetros da cidade em paisagem descampada. Moderna e luxuosa com palmeiras defronte à entrada e com prédios largos e com fachadas de tijolos. Segurança uniformizada dirige um trânsito intenso. As carrocerias coloridas dos Fuscas passam no alto  por trilhos do prédio de pintura para o da linha de montagem.

Aqui são produzidos 410 carros por dia entre Fuscas, Kombis e Karmann-Ghias. A matriz da Volkswagen em Wolfsburg investiu 10,6 bilhões de cruzeiros, 80 porcento pertence a ela e os restantes a um grupo familiar brasileiro (nota: Grupo Monteiro Aranha, do Rio de Janeiro). Enquanto o empreendimento estava sendo construído só houve gastos, mas agora a fabrica está madura e já pode repatriar parte dos investimentos como remessa de lucros. Os ganhos não são desprezíveis: um Fusca custa o equivalente a 10.000 marcos. O investimento alemão começa a dar frutos.

A gente poderia pensar que estivesse em Wolfsburg, se não fosse pelos muitos trabalhadores de pele morena, que aqui vestidos em macacões azuis operam com destreza prensas, soldas de ponto e chaves de parafusos elétricas. Como em todo Brasil, aqui também as raças estão misturadas. Negros e brancos trabalham lado a lado na linha de montagem junto com chineses, japoneses, indianos e índios. O poder de assimilação da terra os funde em brasileiros. Aqui não existe discriminação e brigas entre raças.

As preocupações do País são outras. A população de 85 milhões cresce a uma taxa de 3% ao ano. Isto significa dois milhões e meio de brasileiros todo ano que contemplam o analfabetismo e a fome. Na corrida contra o crescimento da população precisam ser criados 1 milhão de empregos anualmente, uma meta que está longe de ser atingida.

Apesar da inflação estar em queda, os alimentos subiram 20 por cento em um ano. A pobreza cresce. O funcionalismo público é inchado e a burocracia, péssima. Os movimentos sociais não acabam mais em confrontos dramáticos, a leve ditadura do presidente Castello Branco, que tomou o poder em março de 1964, as desarmou. Mas eles continuam e representam uma ameaça constante à estabilidade política do País.

Bobby Schultz-Wenk nos recebe de ótimo humor no refeitório da diretoria da fabrica. Móveis antigos, tapeçarias e painéis de madeira decoram o refeitório. Do outro lado da  porta está o barulho de prensas da linha de montagem. Duas moças bem apessoadas em bonitos vestidos verdes nos servem o menu. “Os vestidos eu mesmo criei,” - diz o chefe da VW- "eu não suporto mulher feia perto de mim”. Depois disso ele fala de seus planos. "No ano que vem vamos fabricar 500 carros diariamente, em 1970 serão 1.000 por dia. Quando eu cheguei aqui você mal conseguia comprar um queijo e agora dêem uma olhada como isto aqui progrediu. O Brasil é um país fantástico."

Bobby paga os maiores salários do País.

“E o que sobra para o senhor pessoalmente?” - pergunto. “O senhor quer dizer o meu salário? Eu sou comissionado pelos resultados” Se o negócio não der lucro, quer dizer que eu não dei conta do recado e aí também não quero ganhar nada, mas se der lucro aí quero a minha parte. Eu acho este o sistema mais saudável. “Aqui é assim, nunca um dirigente vai trabalhar somente pelo salário”.

Durante a sobremesa, fatias de manga ao licor, pergunto como é que um dirigente alemão se dá com o sindicato de trabalhadores brasileiros. Schultz-Wenk sorri: “Aqui eu sou o meu próprio sindicato”, e Corduan acrescenta “Relações industrias aqui não têm tanta importância assim, e greve também não tem, se alguém quer fomentar uma é despedido”. Pouco tempo atrás, Schultz-Wenk aumentou a produção de uma maneira simples, ele aumentou a velocidade da linha de montagem. Na Alemanha os trabalhadores já estariam entrincheirados. No Brasil isto não é um problema. Schultz-Wenk: “Os supervisores colocam pressão no pessoal e eles correspondem de forma admirável”.

O chefe da VW  pode se dar o luxo de empregar estes métodos porque ele introduziu benefícios sociais que são exemplo para o Brasil inteiro – e que muitos capitães da indústria brasileira observam com grande desconforto. A VW do Brasil paga os maiores salários do País. Os médicos da fábrica não tratam somente dos funcionários, mas de toda a família, até a hospitalização é de graça. E a excelente comida do refeitório custa somente 45 centavos. “Eu só consigo fazer um bom produto com trabalhadores satisfeitos”, comenta Schultz-Wenk. Quando três anos atrás uma greve geral paralisou o País, a VW do Brasil foi a única que continuou trabalhando a todo vapor.

A trajetória do chefe da VW brasileira começou a partir do fim da guerra. Depois de um curto tempo como prisioneiro de guerra ele assumiu a direção de um depósito de veículos de transporte sob comando dos ingleses que estavam desmobilizando seus veículos de guerra. Durante este tempo também era de sua alçada o contato com a fabrica da Volkswagen em Wolfsburg, que acabara de reiniciar sua produção. Em Wolfsburg o gerente de frota conheceu o chefão da Volkswagen, Professor Nordhoff. Foi o encontro decisivo em sua vida. Nordhoff ficou visivelmente impressionado com o charme positivo, o poder de convencimento e a atitude “mãos à obra” do jovem que cresceu na tradição comercial de Hamburgo e que demonstrava dom empresarial aliado a maneiras de homem do mundo.

Quando Schultz-Wenk, em 1949, decidiu que emigraria para o Brasil,  Nordhoff o pediu para verificar a possibilidade de vender Fuscas na América do Sul. Schultz-Wenk então partiu para São Paulo como vendedor da Volkswagen. Logo que chegou viu que não iria ser fácil vender o Fusca na América do Sul. Os carros americanos dominavam o mercado. Ninguém conhecia o estranho Fusca de Wolfsburg. Mas quando Nordhoff veio em visita a São Paulo em 1950  e ofereceu a representação da Volkswagen para a América do Sul ao imigrante de Hamburgo, este não vacilou. Em cinco anos vendeu mais de 30.000 Volkswagens. Foi um negócio difícil. O Fusca precisava ser importado pelo método de compensação. Schultz-Wenk comprava produtos agrícolas no Brasil que trocava por Fuscas alemães.

Condecorado a Cavaleiro da Ordem pelo Cardeal

Em 1955, um novo decreto de importação declarava que somente empresas que se dispusessem em fabricar seus carros no Brasil poderiam operar e participar da corrida por uma fatia do mercado brasileiro. Schultz-Wenk entrou em acordo com Nordhoff para erguer uma linha de montagem. As peças viriam da Alemanha.” Começamos em um galpão de madeira a montar nossos veículos” se lembra Schultz-Wenk. Foi o começo da indústria automobilística no Brasil.

Empenhado em industrializar o País, o governo decretou que em um prazo de cinco anos o carro tinha que ser totalmente produzido no País. Schultz-Wenk sabia que  depois  de  cinco anos não podia mais importar peças, motores, velas, carburadores, virabrequins, amortecedores, hodômetros e todo resto que compõem um veículo. Uma fábrica nova teria que ser erguida, uma pequena Wolfsburg com todo o resto. Uma tarefa enorme e complicada, pois não havia mão-de-obra qualificada, não havia indústrias de peças, faltava o know-how técnico, enfim tudo para poder fabricar um produto tão complicado que consistia de cinco mil peças individuais.

"A gente racionalmente não pode produzir todas". Schultz-Wenk, assim, teve que achar empresas que se dispusessem a fabricar no Brasil peças de que a Volkswagen iria precisar. O talento empresarial do imigrante de Hamburgo agora se mostraria: seu poder de convencimento, seu otimismo, seu empenho, dedicação, sua facilidade em fazer amigos, seu talento organizacional e trato diplomático. Schultz-Wenk estava constantemente viajando, a cada quatro semanas estava na Alemanha. “No começo a gente ainda viajava em aviões a hélice, uma viagem de 20 horas, tinha uma cama na primeira classe, era bastante confortável, eu ficava horas conversando com as aeromoças e elas me serviam o café da manhã na cama”. 

Na Alemanha ele convenceu vários fornecedores de peças a abrirem filiais no Brasil e a fabricar peças. A maioria ficava desconfiada, não tinha idéia sobre o que era Brasil, mas Schultz-Wenk lhes garantia que por trás estava uma pessoa com a mais alta reputação no círculo industrial da Alemanha, o chefão da VW Heinz Nordhoff. Schultz-Wenk se refere a ele como amigo fraterno e diz “Nordhoff sempre foi brilhante”. Se não fosse a generosidade de Wolfsburg desde o começo não haveria Fusca brasileiro.

Quando Schultz-Wenk não se encontra viajando à Alemanha ou aos Estados Unidos, ele age no cenário brasileiro como diplomata da VW. “Aqui a gente só vai em frente se tiver amigos influentes” diz ele. No Brasil existem talvez 200 pessoas importantes entre ministros, governadores, generais, banqueiros e assim por diante. “Conheço todos pessoalmente”.

Com cinco Kombis por dia fabricadas à mão, Schultz-Wenk iniciou a própria produção em 1957. Dois anos depois os primeiros Fuscas seriam produzidos. Hoje a VW do Brasil é um empreendimento com valor de 600 milhões de marcos. A VW do Brasil vai ter um faturamento de um bilhão de marcos este ano e domina o mercado de automóveis brasileiro. Das cinco mil peças que compõem um Volkswagen, somente quatro são atualmente importadas da Alemanha - num valor de 11 marcos no total - e. mil e quinhentas peças são compradas de fornecedores que se estabeleceram no Brasil graças ao esforço de Schultz-Wenk. O restante é fabricado na VW do Brasil, e entre seus treze mil funcionários só restam 28 técnicos de Wolfsburg.

O imigrante de Hamburgo se tornou brasileiro, Schultz-Wenk se naturalizou. No consciente brasileiro a sua figura e o Fusca estão interligados. À minha pergunta: ”Que carro o senhor dirige”, a resposta de vários brasileiros era “um Volks-Wenk”.

Volks-Wenks estão por toda parte. Quando da inauguração da capital Brasîlia, Schultz-Wenk mandou fabricar 50 Kombis na versão camping que acabaram sendo usadas como escritórios provisórios para recepção de convidados de honra.(“Um sucesso de relações públicas”). Quando da visita oficial do presidente Lübke ao Brasil, foi o chefe da VW que mandou imprimir 20.000  fotos do presidente alemão junto a milhares de bandeirolas com as cores da Alemanha e as distribuiu entre o povo. (“Ele não vem todo ano, então a gente tem que ter clima de festa”).

Ele conhece todos e não tem quem não o conheça. Não há ministro de estado alemão em visita oficial que não sente à sua mesa, ou ministro do Brasil que não tenha estado em sua casa.

Enquanto a VW do Brasil se desenvolve em indústria-chave que estimula toda a economia, o prestígio do seu chefe sobe tanto que o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro o condecora com a comenda "Cavaleiro da Ordem Sagrada". Schultz-Wenk ainda se questiona: “E eu nem católico sou”.

Fusca, esporte e mulheres bonitas.

No auge de seu sucesso ele agora está com 52 anos – jovem ainda para poder desfrutar a vida. Ele gosta do reconhecimento dos poderosos mas gosta mais quando mulheres bonitas o acham atraente. Consciente de seu físico, ele faz dieta, não fuma, bebe socialmente e fica com raiva quando a balança mostra que ganhou um quilo. Golf e tênis ele não joga mais. Mas no jardim de sua casa faz exercícios físicos para manter a forma. (“Um homem de cinqüenta não tem que ter braços flácidos”)

Habilmente ele equilibra trabalho com lazer. Cinco dias da semana são dedicados à fábrica, inclusive noites quando recebe em sua casa para tratar de negócios. Sua companheira e esposa Eta se ocupa para que tudo em casa corra bem. Inteligente e culta, ela dirige seu pessoal com maestria silenciosa.

Os finais de semana o casal Schultz-Wenk passa com os filhos Peter (16), Axel (14) e Christiane (8) em sua fazenda. O chefe da VW a chama de “minha pequena fazenda”, mas se trata de um empreendimento-modelo de cento e oitenta alqueires, 1.200 suínos,10.000 frangos, vacas leiteiras de Holstein . Ele teve que derrubar a mata para formar pastos e terra para plantio. Seu cartão de visita é sua casa que ele construiu junto com a mulher Eta. Tudo foi pensado até o último detalhe. Eta, que é sócia de um antiquário em São Paulo, decorou a casa com antigüidades preciosas, tudo num bom gosto refinado.

Aqui o CEO desliga e recarrega as baterias, mas não sozinho e tranqüilo. O homem até para desligar precisa de agito. Ele adora festas e convidados – quando Fred Ihrt e eu chegamos não fomos os primeiros. Da piscina vinha som de música beat. Os convidados, entre os quais várias mulheres bonitas, se bronzeavam em espreguiçadeiras coloridas, outros jogavam croquet no gramado extenso e ao fundo pastavam cavalos de montaria. 

Por volta de meia-noite, enquanto convidados dançavam em frente da generosa lareira vestidos de jeans e pulôveres, chega o Corduan e anuncia: “O governador de São Paulo (Adhemar de Barros) caiu”. A notícia ainda não tinha chegado às emissoras de tevê e rádios. Para o chefe da VW, a notícia era de suma importância. O governador era um amigo da Alemanha e incentivador da fábrica (todos os carros da policia e ambulâncias eram Volkswagen). E a VW do Brasil mantinha estreitas ligações com o governador não só comercias, mas políticas também. Agora ele tinha perdido a batalha pelo poder para o presidente. A ameaça de crise estava no ar.

Bobby Schultz-Wenk largou sua parceira, puxou Corduan para um lado e perguntou: ”Quem será o substituto?" “Roberto Abreu Sodré”, disse Corduan. O chefe da VW respira aliviado “Bom. Também é um amigo nosso”

Em seguida sorrindo disse para mim:” Desde de que chegamos aqui já vimos muitos governos irem e virem e a VW do Brasil continua”.

Fim

25 comentários :

  1. luiz borgmann04/09/2011, 16:55

    O filho Peter T.Schulz-Wenk, hoje deve estar com 60 anos, participou ativamente do torneio nacional Passat com o carro da Rio Motor/Castrol.
    luiz borgmann

    ResponderExcluir
  2. Bob

    Ele batiza uma bucólica ruazinha que fica atrás do restaurante São Judas Tadeu, na rota do frango com polenta em São Bernardo do Campo.

    Através dela se tem acesso a uma das alas da VW.

    FB

    ResponderExcluir
  3. Matéria muito boa, mesmo, Bob.
    Reveladora de um Brasil que não existe mais.
    Parabéns.


    Sérgio Gomes

    ResponderExcluir
  4. Pedro Navalha04/09/2011, 19:52

    Texto muito bem escrito!

    Atualmente é muito raro ler um artigo ou reportagem que vá tão fundo sobre um assunto. Através de sua leitura parece que podemos voltar no tempo e viver um pouco de toda essa história que marcou nossa indústria automobilística. Pena que certos problemas, assim como a VW Kombi, continuam a nos assolar ainda nos dias de hoje, e ao que parece, continuarão a nos assombrar por um bom tempo...

    A "pequena fazenda" à qual Schultz-Wenk se refere é o Haras Bobeta, que tem esse nome pela fusão dos nomes Bobby e Eta, sua mulher. Essa propriedade existe ainda, apesar de sua filha Erica já ter vendido uma boa parte de suas terras.

    Os restos mortais do primeiro presidente da VW do Brasil, bem como de sua mulher, ainda repousam numa espécie de capela que existe no local.

    ResponderExcluir
  5. Impressionante.

    Desconhecia TUDO isso.

    ResponderExcluir
  6. Foi bom ler. Artigo histórico que deve ser preservado.

    ResponderExcluir
  7. Antonio Gomes04/09/2011, 21:17

    Excelente postagem, Bob.
    Não só mostra a história do início da indústria automobilística no Brasil, como também diversos temas percebidos pelo excelente jornalista estrangeiro que por aqui esteve, não escrevendo para nós brasileiros, mas para uma publicação alemã.
    Descreveu com maestreza tudo o que percebeu no nosso cenário daquela época: desde a beleza inquestionável da cidade carioca, passando por dados estatísticos sociais e econômicos, relações trabalhistas, lucros generosos, relações da empresa com a política e por aí vai.
    Revela sem dúvida o talento do Bobby, que fez a Volkswagen plantar raízes aqui e desenvolver essa gigante e importante indústria, como também um pouco da sua vida pessoal.
    Um pouco de história do nosso Brasil, nem parece muito que é sobre a Volkswagem. Show de bola, parabéns!

    ResponderExcluir
  8. Bela história!

    ResponderExcluir
  9. Impressionante documento histórico de um Brasil que não mais existe...

    ResponderExcluir
  10. Ótima postagem.
    Excelente e pouco conhecida matéria.
    Muito bem escrita, conta um pouco do que foi o grande Schultz-Wenk, ousado desbravador da nossa industria automobilistica.
    Reza a lenda que Wenk era muito bem humorado e quando do acordo entre a VW e a Karmann Ghia para a fabricação do esportivo por aqui, a fabrica queria lhe presentear com o primeiro carro.
    A pessoa que foi fazer a comunicação perguntou se ele gostaria de escolher uma cor diferente das cores da linha de montagem.
    E ele pensou um pouco, logo se abaixou, tirou um sapato, tirou a meia entregou-a ao seu interlocutor e disse: Pinte o carro nessa cor.
    E assim, o primeiro KG foi pintado com a cor das meias de Schultz-Wenk.
    Si non é vero...é bene trovato!
    Romeu.

    ResponderExcluir
  11. Bob, obrigado por compartilhar conosco uma peça tão interessante!

    ResponderExcluir
  12. "O funcionalismo público é inchado e a burocracia, péssima."

    Acho que o tal "retrato de um Brasil que não existe mais" não se aplica ao texto como um todo. É, parece que certas coisas nunca mudam...

    Inegável o papel da Volks em nossa industrialização, mas mesmo assim vemos que foi preciso ter certas amizades para isso dar certo. Mantendo esse pensamento começo a imaginar quantas vezes a Volks pode ter usado dessa influência para sufocar ameaças, onde o caso do Democrata sempre é o primeiro que me vem à cabeça.
    Mesmo assim, com ou sem teorias conspiratórias, Bobby Schultz-Wenk simplesmente acreditou no Brasil em uma época onde o mundo nem sabia que existíamos.

    ResponderExcluir
  13. Mas que pérola essa reportagem!! Pura História da indústria automobistica brasileira!!

    ResponderExcluir
  14. Muito bacana esse texto. Daria para fazer um novo post só de comentários a respeito. Mas o que mais me chamou a atenção, logo que comecei a ler, foi o texto bem escrito, culto, mas sem exageros. Infelizmente, os textos jornalísticos atuais são em geral bem ruins, a começar por linguagem muito coloquial e terminando em erros de português, muitas vezes, grotescos...

    Outro ponto interessante foi a necessidade de ter que trazer várias empresas alemãs para que a fábrica Volkswagen fosse possível. E tudo isso num prazo de 5 anos! Somente mesmo uma pessoal muito bem preparada técnica e administrativamente, com excelente visão de negócios, poderia dar conta do recado.

    ResponderExcluir
  15. Luiz Evandro Águia05/09/2011, 07:36

    Parabens ao amigos Bob e Carlo , pela brilhante publicação.. abs do " Águia" from Floripa.

    ResponderExcluir
  16. Pelo jeito a vocação de arrancar o couro dos brazucas vendendo produtos da VW muito além do que valem vem de berço, sem falar na exploração dos funcionários citada no texto.

    Texto ótimo pelo valor histórico, mas fiquei com a imagem desse cara como um (ex-?)nazista aproveitador e ególatra.

    ResponderExcluir
  17. "...mas agora a fabrica está madura e já pode repatriar parte dos investimentos como remessa de lucros. Os ganhos não são desprezíveis: um Fusca custa o equivalente a 10.000 marcos. O investimento alemão começa a dar frutos."

    Por quanto será que eles vendiam um Fusca equivalente lá na Alemanha?

    ResponderExcluir
  18. Caio Cavalcante05/09/2011, 14:09

    Bob, que texto maravilhoso!
    À parte questões como a proximidade com o governo militar, conluio com praticas como o suborno e tráfico de influência, é edificante ver o relato desses alemães entusiasmados e maravilhados com a descoberta dessa nossa terra e seu povo. Ler sobre seu ímpeto empreendedor me faz muito bem, principalmente quando só vemos notícias ruis e coisas do outro mundo sobre nossa pátria. Como às vezes falo, queria ver o Brasil com os olhos de um turista, olhos que enxergam aqui um lugar abençoado e rico em oportunidades.

    Grande abraço

    ResponderExcluir
  19. Absalão Bussamra05/09/2011, 16:05

    Cavalcante,

    Acho que não teve muito "suborno" durante o regime militar. Tanto que o Figueiredo deixou um único imóvel, o apartamento na Praia do Pepino, onde dona Dulce faleceu há meses atrás. O imóvel está caindo os pedaços.

    Realidade bem diferente da de um certo ex-ministro, só para ficar apenas num exemplo.

    ResponderExcluir
  20. Absalão Bussamra (!?)

    Sem contar empresários "amigo$" do Partido Mensaleiro, como Eike Batista, que embora baseado no seu pai, ex-ministro no regime militar, começou a emprestar seu jatinho ao Zé Dirceu e já foi para a lista dos mais ricos do mundo...

    Nessa época o Brasil era mais pobre, mas era mais limpinho...

    ResponderExcluir
  21. Um dos melhores textos que já li aqui. Mostra que ninguém é santo, mas também como um alemão acreditou no Brasil mais do que muito brasileiro. E estava certo.

    ResponderExcluir
  22. Amei o artigo. Fui funcionaria do Banco Lar Brasileiro e tivemos a Auto Industrial como cliente, ocasião que tive a oportunidade de ter contato com o Dr. Axel. O conteúdo deste artigo já era de meu conhecimento pq ouvi a historia de uma pessoa que após trabalhar com Dr. Bobby, casou-se com minha tia.

    ResponderExcluir
  23. Caro Bob,
    Um repórter costuma reproduzir o que ele consegue ver, pesquisa ou o que contam para ele. Vamos deixar os que inventam ou os que entendem tudo errado de lado...
    No caso desta reportagem eu acho que contaram meias verdades de um lado e de outro ele não pesquisou muito; se bastou em reproduzir o que viu e o seu entendimento do que disseram para ela.
    No caso da viagem ao Brasil em 1949, foi omitido que antes de vir ao Brasil Nordhoff e Schultz-Wenk estiveram na Argentina, mas não encontraram condições favoráveis para implantar a VW lá. Isto não foi comentado na reportagem.
    Por outro lado a história de fabricar Kombis em um barracão é outra licença poética que causa impacto aos leitores alemães aos quais era dirigida a reportagem. Antes disto deveria ter sido dito que a VW fechou um acordo mundial com a Chrysler que se refletiu no Brasil na montagem, já em 1951, de carros pela Brasmotor – aliás, a VW simplesmente omite esta pioneira parte da história.
    Também não se falou dos tempos da Rua do Manifesto, onde a VW se estabeleceu depois de ter rompido com a Brasmotor e ter se bandeado para o lado do Grupo Monteiro Aranha.
    O tal barracão onde foram fabricadas as primeiras Kombis era uma ala de alvenaria com 10.000 metros quadrados onde também começou a fabricação do Fusca. Aliás, antes de tudo isto, esta ala foi usada para a montagem de Fuscas e Kombis em CKD’s, cujas linhas de montagem foram transferidas do Ipiranga para São Bernardo do Campo logo que a cobertura ficou pronta.
    Eu desconheço a parte da história na qual o Shultz-Wenk vendeu carros montados no Brasil – entre 1950 e 1953 foi a Brasmotor que importava carros prontos ou em CKD, que montava em sua então moderna fábrica de São Bernardo do Campo, do outro lado da Anchieta em relação da então futura fábrica da VW. Carros que eram distribuídos aos revendedores da época em especial à Sabrico – considerada a primeira revenda VW do Brasil.Ou o repórter entendeu algo errado ou contaram uma historinha para ele... Mas certamente a versão de luta empreendedora contada no artigo deve ter deixado os alemães profundamente impressionados...
    É interessante o quanto de história foi omitido e mal contado neste artigo.
    Sem entrar em detalhes, o relato sobre o contato inicial do Schultz-Wenk com o Nordhoff também não confere, se levarmos em consideração o que o filho Axel comentou comigo – em linhas gerais: consta que havia um comprometimento de durante a guerra... Mas quem é que ia levantar coisas da guerra numa reportagem para a Alemanha que naquele tempo se debatia num forte sentimento de culpa por causa das atitudes nazistas... Esta está justificada.
    A parte que fala da festinha na fazenda é o que deve ter causado sensação neste artigo e é uma descrição bem escrita que relata como o repórter viu o que estava a ocorrer – normal.
    Veja como é complicado filtrar um artigo da Stern de 1966, mas para poder fazer este filtro a gente tem que conhecer um pouco da história...
    Um abraço
    Alexander Gromow

    ResponderExcluir
  24. Alexander
    Foi apenas uma matéria da revista Stern que não me caberia filtrá-la, interpretrá-la ou criticá-la, tampouco contar a história da Volkswagen no Brasil. Você, como o maior conhecedor do País dessa parte da história, tem espaço aberto no Autoentusiastas para contá-la e, graças à internet, sem limite de espaço.

    ResponderExcluir
  25. ao senhor que postou esta emocionante reportagem , nosso muitíssimo obrigado , sempre tive interesse em saber quem dirigia o volks do juscelino ! história acima de tudo ! vou guardar e mostrar para meu filho e netos se um dia os tiver.não dê importância a esses pobres de espírito e com insuficiência mental que sempre sofrem de carência afetiva , quando te atacaram : os cachorrinhos ladram enquanto passa a carruagem...saúde e paz para você !!!!!!!!!!!

    ResponderExcluir

Pedimos desculpas mas os comentários deste site estão desativados.
Por favor consulte www.autoentusiastas.com.br ou clique na aba contato da barra superior deste site.
Atenciosamente,
Autoentusiastas.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.