google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014): corcel
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Amigos, andei novamente de Del Rey depois de exatamente 21 anos. O jovem amigo Eric Erbert, um cara que podemos classificar de forma respeitosa como esquisito, atendeu de pronto meu estranho pedido de tirar da garagem seu médio luxuoso, em vez de um dos seus outros dois carros que seriam uma escolha mais lógica. Ele tem dois Dodges nacionais, um Dart absolutamente malvado, animalesco, com motor muito modificado e cerca de 400 cv, além de outro Dart Gran Sedan totalmente original, que ele chama de vovô.

Ele não tem carros mais novos para utilizar, o mais atual sendo justamente o Del Rey Ouro mostrado nessas fotos. Não é exatamente o perfil normal de uma pessoa com menos de 40 anos de idade e que goste de carros. Mas está valendo, já que ele saiu verdadeiramente dos lugares-comuns com o Del Rey.

O sedã médio de luxo é de 1984, com motor CHT, na cor de lançamento, um amarelo-dourado metálico cujo nome não encontrei até agora. O ano de 1984 é importante pela adoção do motor de 1,6 litro batizado de CHT, igual ao já usado no Ford Escort nacional desde o início, em 1983.  No Brasil, foi o primeiro caso de aplicação de um mesmo motor em posição longitudinal e transversal, como era instalado no Escort.

CHT significa Compound High Turbulence (alta turbulência composta), se referindo ao projeto de coletor, dutos de admissão e pistões que forçavam um movimento turbulento na mistura, de forma a atomizar ao máximo o combustível e permitir a queima eficiente, diminuindo o consumo específico do motor. A origem desse motor está bem explicada nesse post aqui.

Funcionava bastante bem, já que foi um aperfeiçoamento do motor do Corcel, que foi o primeiro motor a álcool com funcionamento correto no Brasil, sem dificuldades para fazer ligar quando frio e ser capaz de andar de forma civilizada (sem trancos) na fase de aquecimento. Com números de consumo bastante baixos em relação a média dos concorrentes, ajudado pela cilindrada, apenas 1,6 litro (1.555 cm³), esse motor permitia obter-se algo como mais de 8 km/l com álcool andando na cidade. Lembremos-nos que carros de projeto pré-onda da segurança de final dos anos 1990 são quase sempre mais leves que os atuais. Esse Del Rey pesa cerca de 1.020 kg em ordem de marcha com o tanque de 57 litros cheio. Além de a mistura ser formada por um carburador de corpo duplo; nada das injeções modernas de hoje.




Creio que o Ford Del Rey seja conhecido de todos no AE. Ele foi lançado em junho de 1981, claramente baseado no Corcel, mas oferecendo itens de luxo até então inéditos no país, como acionamento elétrico de vidros e travas, relógio digital (no console de teto), um painel completo (tinha até manômetro de óleo) com uma bonita iluminação misturando luzes vermelhas e azuis, aliado a um acabamento primoroso, abundância de forrações e opção de quatro portas e de ar-condicionado.

Porém, trazia sob o capô o antigo motor Ford usado no Corcel, herdado da Willys, baseado no motor Renault Sierra, que foi ao longo dos anos aumentado de 1.289 para 1.555 cm³. Era um motor adequado a um carro médio da época, mas não a um carro de luxo como o Del Rey se propunha ser.

Por isto, o Del Rey sempre teve seu desempenho criticado em uma quase unanimidade. Na época de seu lançamento, seus concorrentes, tanto em preço quanto em requinte, eram Chevrolet Diplomata, Alfa Romeo 2300 e até o irmão maior Ford Landau, todos com motores que proporcionavam um desempenho muito melhor do que o que o velho motor do Corcel podia dar a ele.

O que levou a Ford a criar um carro de luxo com motor tão fraco assim? A resposta pode ser encontrada se voltarmos alguns anos no tempo, quando o Del Rey era apenas um projeto.
Foto: toptenz.net

Trinta e seis anos atrás...

Este post saiu de uma brincadeira em um momento da mais absoluta falta do que fazer. Um belo dia, por não ter nada melhor para fazer, comecei a brincar com a Calculadora Cidadão do Banco Central, uma página que, entre outras coisas, faz correção de valores baseando-se na inflação. E, num ápice de falta do que fazer, veio uma curiosidade de saber qual o momento em que 1 cruzeiro (moeda que vigorou entre 1970 e 1986, tempo da minha infância e adolescência) teve o mesmo valor que hoje tem 1 real. Encontrei, usando o índice IGP-DI, que este momento foi entre agosto e setembro de 1976.

Cr$ 0,10
Uma cautela deve ser tomada na correção de valores por longos períodos: As imprecisões e manipulações dos índices de inflação podem se amplificar muito e distorcer enormemente os resultados finais. Porém, lembrando que em minha infância uma Bala Juquinha custava 10 centavos (eu juntava 10 cruzeiros para comprar 100 balas – sonhos de consumo de criança) e que uma bala pode ser encontrada nos bares por valor semelhante atualmente, não devia estar muito longe mesmo.


Achada a época, bateu outra curiosidade, esta entusiástica: Como era o mercado de automóveis naquela época? O fato de não precisar converter valores (1 cruzeiro = 1 real) aguçou mais ainda esta sensação: Fui olhar no Acervo Digital da Quatro Rodas como estavam as coisas em agosto e setembro de 1976, quando eu ainda tinha oito anos (é, entreguei a idade nessa...) e, apesar de ainda não entender patavina de mercado, já gostava muito de carros.

Foto: Quatro Rodas


Alguns dias atrás o MAO e eu tivemos uma discussão sobre dois carros que povoaram muitas garagens até pouco tempo. No mesmo estilo dos nossos textos sobre Ferrari Daytona e Lamborghini Miura, fizemos o mesmo para esses nacionais que a maioria conhece bem de perto.

Como foram carros que tivemos em casa, o assunto é vasto e as lembranças, ótimas. Esperamos que vocês tomem partido e comentem com bom humor e mais memórias.


Passado e Futuro
Por Marco Antônio Oliveira

Para mim é quase impossível falar objetivamente sobre os dois carros que o Juvenal Jorge propôs para nosso segundo duelo de opiniões. São carros que povoaram minha infância e adolescência, menos que os para mim onipresentes Chevettes e Opalas, mas mesmo assim de uma forma muito marcante. Sendo assim, minhas opiniões a respeito dos dois são permeadas pela forma absoluta e sem ambigüidades que caracterizam os jovens. Não há tons de cinza aqui, o Passat é nada menos que maravilhoso, um carro com estabilidade sensacional e um desempenho esportivo, enquanto o Corcel é uma barca balouçante e letárgica destinada aos velhos de todas as idades. É isto que penso.

Mas, para não ser completamente injusto, e formar algum argumento para sustentar essa arraigada opinião, um pouco de objetividade se faz necessária, e, portanto, não farei o que gostaria de fazer, deixar apenas este parágrafo acima registrado e continuar minha vida tranqüilamente, povoando a cabeça com outros afazeres diários. Não, por respeito ao leitor, e por culpa do Juvenal que inventou esta discussão absurda, tenho que elaborar mais um pouco.




Muitos anos atrás, li em algum lugar que o motor CHT é derivado do Renault Ventoux. Não causa surpresa, pois este motor, apesar de ser conhecido aqui como um motor Ford, ele descende do motor do Ford Corcel, um projeto herdado pela Ford quando esta comprou a Willys-Overland do Brasil, que fabricava sob licença aqui os carros Renault. A Willys fabricava no Brasil os Renault Dauphine/Gordin/1093 e, com o mesmo motor Ventoux – nome dado em homenagem a uma montanha no sul da França onde se realizavam provas de subida de montanha muito conhecidas – o Interlagos em versões cupê, conversível e berlineta, esta um elegante cupê. Sendo assim, e dada a semelhança externa entre os motores, era natural concluir que um era a origem no outro. Em vários sites da internet afirma-se que o CHT origina-se do Ventoux.

Dizem que uma mentira contada muitas vezes acaba por tornar-se uma verdade. É o que ocorreu na internet: Até mesmo sites em inglês sobre o motor Ventoux diz-se que o Ventoux originou o CHT, como se o CHT fosse uma versão do Ventoux. Só que a informação de que o CHT descende diretamente do Ventoux é equivocada.

O Ventoux havia sido desenvolvido inicialmente pela Renault para o 4CV (conhecido aqui como “Rabo Quente” por causa de seu motor traseiro – o fato de ter desembarcado aqui alguns anos antes do Fusca livrou o VW desta pecha), lançado em 1947, substituindo o antigo motor de válvulas laterais que equipava seu antecessor, o Renault Juvaquatre. Inicialmente, tinha 760 cm³, tendo sido aumentado até 845 cm³, sua maior cilindrada.

Renault 4CV "Rabo Quente"

fotos: imcdb.com e americanracing.com

Fui presenteado com uma revista de dezembro de 1977 por um amigo. O Érico já sabe há tempos que sou um colecionador de peças literárias antigas, vulgo "lixeiro literário", e de vez em quando sobra algo de presente, que, invariavelmente, é bem interessante.

A revista que ganhei tem vários anúncios de carros, inclusive um dos primeiros do Corcel II, que saiu como modelo 1978.

Aliás, é bom lembrar que nessa época não se lançava um modelo de um ano qualquer com mais de três meses de antecipação. As fábricas eram menos ansiosas do que hoje, quando vemos modelos 2012 desde fevereiro de 2011, por exemplo, o que mostra a idiotice que norteia os fabricantes.


Fácil lembrar qual a primeira vez que um carro me fez gastar um tempo em volta dele. Foi quando meu pai colocou, em 1971, um kit de aparência de GT no Corcel 1969 que tínhamos como único transporte.
Sim, era um tempo em que poucas mães dirigiam, e a maioria das famílias tinha só um carro em casa, enquanto não haviam filhos com mais de 18 anos.

O Corcel ficou chamativo. Faixas laterais, teto de vinil , capô preto-fosco com um scoop (tomada de ar falsa, não entrava ar) de plástico reforçado com fibra de vidro, que era fabricado pela Puma e fornecido à Ford , e mais alguns detalhes que não me lembro. A decoração de esportivos nesse período seguia a mesma onda dos muscle cars americanos. Época de ouro, diga-se de passagem.
Depois desse, os Dodge Dart e Charger foram os que me moveram para esse mundo que eu pouco entendia, mas que me fascinava. Ficava sentado no degrau na porta do prédio onde morava, olhando para o quarteirão anterior ao meu, uma baita descida, esperando aparecer um Dodge só para vê-lo passar. E escutar aquela música dos escapamentos, claro. Não eram tão raros, mas havia dias em que não via nenhum, nesse meu mundinho pequeno de menino com 5 ou 6 anos.

Por ser o meio de transporte mais popular na vontade das pessoas, os automóveis geram todo tipo de desejos e ações. Para a maioria, porém, trata-se apenas de um símbolo de poder, de situação social e econômica, um atestado de exibição do que o proprietário conseguiu comprar com o suor do seu trabalho. Ou com o esforço de umas tramóias excusas.

Entusiastas, porém, são seres estranhos a essa maioria. Quase todos estão pouco se importando para as aparências diante do não-entusiasta (que chamarei de normal daqui para frente).
Os normais acham um absurdo gastar dinheiro em carros velhos e ruins, para mantê-los funcionando, quando se poderia comprar um zero-km, "último tipo", como se falava há umas três décadas. Consideram uma bobagem ficar trocando peças caras em carros ultrapassados, em vez de aproveitar o sol do domingo para ir naquele feirão de fábrica e torrar uma nota naquele carro prata ou preto, novinho.

Como explicar aos normais a importância daquele carro esquisito? Será que há uma maneira racional de dizer que um jogo de amortecedores de um Gordini é mais importante que um aparelho de som com MP3 adquirido como opcional no carro novo das pessoas normais? Ou que um coletor de escapamento feito de tubos curvados e soldados a mão é muito mais belo e importante que aqueles apliques de plástico pintado de prata dentro do carro?

Não, não há, e vou ser claro com vocês, amigos entusiastas: não tentem explicar esse tipo de fato. Os normais não irão entender. Vocês serão alvo de chacotas, de risos estranhos, serão o assunto da família no final de semana. Ignorem. Façam o que tem que ser feito com seu antigo/velho/quase antigo / clássico, seja lá qual categoria em que o seu carro-amigo se classificar.

Mantenha-o da melhor forma possível. Faça tudo o que você mesmo puder fazer. Aprenda com ele. Use-o.

E não tente explicar nada aos adultos que lhe consideram um anormal. Estes mal sabem onde fica a trava secundária do capô, aquela que é aberta por fora do carro, lá perto do motor, uma máquina quase totalmente misteriosa para os normais, que só tem contato com ela através do pedal do acelerador.

Explique porque você é assim somente às crianças. Estas sim, merecem toda nossa dedicação na tarefa de perpetuar a espécie entusiasta por automóveis. E manter vivo o fato de que um carro não é apenas um carro.

JJ