O Bugatti não teve nada e ver com isso.
Quiseram dar um
clima mais sofisticado para a morte daquela linda bailarina americana que fazia
sucesso dançando pelada pelos palcos do mundo nos anos cercanos da 1ª Guerra, a
Isadora Duncan (1877-1927), e inventaram que ela estava dirigindo um Bugatti tipo 35 (foto acima) nas
ruas da Riviera Francesa, quando o écharpe que lhe enrolava o pescoço também
enrolou no eixo traseiro do esportivo e isso a estrangulara. Mas não foi bem assim.
O Amilcar CGS |
O carro era um Amilcar CGS, na época
apelidado de “Bugattinho dos Pobres”, porque era parecido com ele, mas estava
muitos degraus abaixo na hierarquia esportiva. Era tipo um Karmann-Ghia TC
perto de um Porsche 911. O Amilcar CGS era um voiturette, um peso-pena,
motorzinho de uns 30 cv, enquanto que o Bugatti tipo 35, mesmo o menos potente,
o sem compressor, tinha mais de 100 cv e custava uma baba.
Ganhou mais de 1.000 corridas ao longo dos anos 1920. Rodas de alumínio – novidade na época – e eixo rígido dianteiro oco, para redução do peso não suspenso.
E a Isadora andava com o coração muito baleado, em
frangalhos. Ela perdera os dois filhos pequenos num acidente de carro quando
seu motorista caiu com a limousine num canal d´água, e após isso a Isadora
desmiolou de vez, passando a sair direto pra balada enchendo a cara e saindo com
tudo quanto é sujeito que lhe proporcionasse os mais diversos frenesis, pra
tentar esquecer sua desgraça.
O garanhão dessa noite tinha um Amilcar CGS, e ela ia de carona quando seu écharpe enrolou no eixo traseiro. O tranco foi tamanho que ela voou para fora do carro e foi arrastada. Morreu nessa, coitada. Ao menos morreu instantaneamente, já que quebrou o pescoço no ato.
Linda, pernuda, esguia, inteligente, culta; mulher
interessante. Buscava a essência da dança, as origens, e por uns tempos foi morar
na Grécia para pesquisar a dança da Grécia Antiga, a clássica, e viu que lá as
bailarinas bailavam seminuas, viu que lá o balé era uma coisa essencialmente
sensual, então ela também partiu para essa e saiu dançando pelada só com uns
finos véus e deixando todo mundo louco; os homens loucos de paixão e as
mulheres loucas de raiva.
Isadora Duncan e sua dança sensual |
Fez um sucesso tremendo, mundial, e revolucionou a dança ao trazer à tona a sua essência, que então estava esquecida, soterrada por modismos efêmeros.
Buscar as verdadeiras origens das coisas é o melhor a se
fazer, quando se deseja entendê-las.
E o Bugatti tipo 35 é a Isadora Duncan dançando pelada e
esvoaçando pelo palco. Ele é a essência do carro.
Por falar nisso, a PurSang recria o tipo 35 em Paraná, Argentina,
cidade 600 km a noroeste de Buenos Aires. Faz tudo absolutamente igual,
inclusive motor, caixa de câmbio, freios a tambor etc. Suas peças, todas,
servem de reposição aos originais.
Ela faz também o tipo 35 com o compressor tipo Roots, e aí o 8-cilindros em linha, de 2.300 cm³, rende ao redor de 140 cv. Nada mau para um carro que pesa 750 kg (5,3 kg/cv). Esse beira os 200 km/h. Um argentino que tem um amarelinho me disse que já deu 185 km/h, medindo com GPS, e disse que ele ainda tinha fôlego pra mais.
Mais um delicioso post do Arnaldo.
ResponderExcluirTem coisas que só o AE faz pra você.
É ISSO ARNALDO, POST ÉPICO SOBRE UMA MARCA ÉPICA!
ResponderExcluirAh, PurSang! Se não fosse o preço...
ResponderExcluirPursang , Nestor Salermo ... Incrivel como nossos hermanos argentinos gostam, conhecem e sao competentes na fabricacao dessas replicas!
ResponderExcluirOpps!
ExcluirEsses carros não devem ser chamados de réplicas, porque aí seriam colocados no mesmo nível dessas réplicas de Cobra, Porsche, etc, que fazem por aí e que são diferentes dos originais, são de carroceria de plástico, e não de alumínio, (Cobra original era alumínio, Porsche 550 era, etc), mecânica diferente em tudo.
Não, esses carros aí são idênticos.
Essa PurSang é tão show, que fizeram uma recriação de um avião biplano de caça da 1a Guerra, tudo igual, inclusive motor, e fizeram a coisa voar, mas voar mesmo, igual. Fizeram recriações do Mercedes 500K e perfeitas.
Réplicas, portanto, não. Recriações ou outro nome que queira dar, OK.
Achei perfeito: O estado da arte de se fazer carros deveria mesmo ter o estado da arte das réplicas, mas não creio que seja demérito chama-las assim. O problema é, como quase tuno no Brasil, a corrupção. Uma carroceria inspirada num clássico, com mecânica e técnica totalmente diferentes do original não deveria ser considerada réplica, e sim "releitura".
ExcluirDo jeito que está, quando acha-se uma réplica tão esmerada, o termo para denominá-la já foi tão corrompido que parece até ofensivo...
Arnaldo, data vênia seu entendimento, mas é uma réplica sim por definição. Réplica é o objeto que tem características idênticas ou próximas a do original, remetendo a este, quer seja em temanho natural ou em escala. O que não se pode é adulterar um conceito lato sensu para que seja ou não pejorativo diante de uma rotulação específica, sob pena de estarmos pervertendo o sentido da palavra. Existem réplicas bem feitas e mal feitas, esta é a distição a ser posta. Ademais, não podemos nos esquecer que certas réplicas ditas "indignas" são bem vistas pelo próprio produtor do original, tal qual os Envemo S90 elogiados pela diretoria da fábrica de Stuttgart, o que não nos impede de apontar como diferença a carroceria produzida em fibra, distinta do original, o que não diminui a qualidade do objeto, mas apenas reduz sua fidedignidade.
ExcluirNossa! 200 por hora num bicho desses? Coisa pra macho. Agora, vem cá, só por curiosidade, quanto será que a PurSang cobra numa dessas obras de arte?
ResponderExcluirPenso exatamente o mesmo. Os pilotos daquela época tinha que ser muito machos para andar a 200 km/h com carros do tipo do Bugatti Tipo 35. Apesar de que o Bugatti era muito bom para a época, existiam carros ainda mais temerários...
ExcluirBah, se eu ganhasse uma mega da virada, tentaria ressucitar a Puma ou a Gurgel, a Gurgel só os jipinhos, pra não ter risco de falir...e coisa bem modesta, precisava dessa perfeição toda dos hermanos, não, eheheehe...Puma GTB com opção de motor LS7 dos Vettes, senhores.
ResponderExcluirE, desses carrões aristocráticos daquelas épocas, meus preferidos são aqueles Bentley mastodônticos, que ganharam em Le Mans nos anos 20.
ResponderExcluirEngraçado como as celebridades femininas eram realmente especiais, e não essas patéticas filhotes de reality show e ilha de caras, de hoje. Isadora Duncan, Helle Nice, Amelia Earhart, Greta Garbo, Mata Hari, Anita Malfatti e, mesmo, a Carmen Miranda
Arnaldo, recebeu meu email sobre o Chevette V6?
ResponderExcluirAbs, RicarFernandes
Ricar, recebi sim. Te respondi e não recebi resposta. Vou tentar de novo. Lindo carro, bem original no exterior, do jeito que gosto. Parabéns!!
ExcluirRicar, por acaso voce é o proprietário d Chevette V6 cor de vinho?
ExcluirSou sim, Marco. A disposição!
ExcluirArnaldo, nao recebi seu email, qualquer coisa, mando em outro email.
Abs
Parabéns pelo post,Arnaldo,não sabia desta versão verdadeira da morte da Isadora. O que sabia era que ela,ao entrar no que seria o Bugatti,teria dito:"Adeus,meus amigos,estou indo para a glória!",logo antes de a écharpe dela se enroscar no eixo traseiro.
ResponderExcluirOutra versão sobre outro Bugatti,se não me engano um tipo 57,era que um dono de um reclamou com Ettore Bugatti de que o carro demorava a pegar em uma manhã de inverno. Ettore teria dito:"Meu caro,se o senhor pode ter um Tipo 57 o senhor pode ter uma garagem aquecida!"
Geniosos,porém geniais...
Essa PurSang argentina é a "cereja do bolo" para recriações.
ResponderExcluirVocê quer dizer que eles fabricam motor, bielas, virabrequim, bomba de óleo, carburador, câmbio, embreagem, amortecedores, dínamo, tudo igual??? Você já visitou essa empresa e viu eles fazendo isso? Tá bom que esses carros antigos eram um tanto simplórios, mas dizer que uma empresa pequena consegue reproduzir todos os detalhes está mais para lorota de argentino, coisa em que eles são pródigos.
ResponderExcluirLorenzo.
ExcluirNão é lorota. Já vi o carro numa exposição em Buenos Aires e vi funcionar e falei com o dono da fábrica. Além do mais, se eu tivesse alguma dúvida eu não faria papel de trouxa dizendo o que eu disse.
os argentinos botam o Brasil no chinelo quando a questão é preparação de motores, projeto e fabricação de carros de corrida, réplicas, enfim, é só olhar o que é as corridas de turismo deles, as mil milhas Argentinas... compara com nossa stock, patética, motores vindo prontos dos estados unidos, girando uma miséria, e aqueles carros nada a ver com o banco no meio do carro, acho miserável nossa stock comparada a Turismo Carretera, que afinal é mais antiga até que a nascar.
ExcluirLorenzo, aqui cabe uma explicação que talvez o Arnaldo possa esclarecer melhor. Tenho um vizinho argentino que trabalhou nessa pequena empresa. Na realidade, há muitos anos eles estabeleceram um pequeno parque de fabricação de peças de reposição para as Bugattis antigas, inclusive receberam os desenhos de projeto originais. Guardadas as proporções seriam os "chineses" da época e exportavam essas peças para os restauradores da europa com a sanção do órgão que zelava pela marca antes da mesma ser vendida para VW. Uma coisa leva à outra e para eles é até fácil fabricar um tipo 35 que é um carro muito simples. Outro excelente fabricante de réplicas fiéis é o Nestor Salerno que já recebeu até processo da Ferrari tentando impedir seu trabalho. O Salerno faz uma réplica de Maserati A6GCS 1948 e uma Alfa Romeo esporte inspirada no estilo de meados de 50. Ambas são bipostos e tem um exemplar de cada aqui no Brasil.
ResponderExcluirZullino,
Excluira diferença é que o Salerno não faz motor. Ele usa motores das marcas e dos anos 60, que basicamente são os mesmos motores que os originais tinham. Por exemplo, guiei um Maserati 450 S que tinha motor V-8 da Ghibli, que, vc sabe melhor que eu, é o mesmo bloco.
Verdade, sei pouco dessa empresa de Bugattis, mas sei que eles tinham sanção do Bugatti Trust antigamente, não sei se o Trust existe mais. Não podem ser considerados como fabricantes de réplicas tradicionais, eram quase que uma pequena fábrica de peças de Bugatti e que eram consideradas originais para reposição.
Excluire verdade
ResponderExcluirarnaldo,
ResponderExcluirproprietário de amilcar cgs tenho a obrigação de sugerir uns pequenos rococós em sua esclarecedora história.
tudo certo, a isadora era libertária e liberou de vez para aplacar sua dor. a morte se deu num amilcar - dela. e a confusão é porque no tal período de busca de emoções, ela se envolveu com um peixeiro - nada quanto ä atividade, mas o tal de peixeiro devia ter conhecimentos vários, exceto automóveis. ele chamava o amilcar da ficante como bugatti, e por isto ela apelidou o peixeiro de bugatti.
ela dirigia o próprio amilcar e a drapeante écharpe se enroscou na roda raiada, de cubo rápido. deu no que deu. o imbecil, sobrevivente, deu a notícia como sendo óbito num bugatti. tinha mais charme, valia mais a versão que o fato, colou.
nasser, amilcariste
Caro amigo Nassr,
ResponderExcluirO livro da biografia de nossa musa diz que o carro era do acompanhante. Só não diz que o cara era peixeiro, porém, já que era peixeiro, desconfio que tenha sido um especialista em Linguado.