AUTOentusiastas Classic (2008-2014): A HUMILHAÇÃO DE UM CIDADÃO

Desenho: dicasdiarias.com

O Eduardo Spínola e Castro, um velho amigo e carioca como eu, transferiu-se para São Paulo em 1995. Enquanto no Rio, as famílias se freqüentavam, inclusive ele e a mulher eram meus clientes na concessionária VW que eu tinha. Ele até comprou uma Yamaha RD 350 por meu conselho. 

Hipista, o Eduardo é advogado e entre seus créditos está a obtenção de liminar contra o Conselho Técnico Desportivo Nacional da CBA, que queria cassar a homologação do Opala versão 250-S, até negando, através da Federação Paulista, inscrição numa prova em São Paulo. Com a liminar na mão, entreguei-a (cópia) ao diretor da prova, que não teve saída senão acatar a decisão judicial. Isso foi em 1975, acho. A competência do advogado Eduardo foi admirável. Numa rápida conversa ele havia captado todo o problema técnico-desportivo.

Na hora de renovar sua  CNH, já em janeiro, por conta de mudanças na sistemática adotada pelo Detran de São Paulo a partir de 19 de dezembro passado, que agora exige que se compareça pessoalmente ao órgão, ele teve de ir lá. E me contou como foi o atendimento ao cidadão naquele departamento de trânsito. Vale a pensa ler.

"Precisando renovar meu passaporte, o fiz na sede da Polícia Federal na Lapa. Prédio limpo, ar-condicionado, indicações precisas sobre os locais de atendimento, funcionários identificados com crachá, tudo eficiência e cortesia.  Minha foto foi feita e minha digitais foram colhidas em cinco minutos, sem qualquer problema.

Cerca de 20 dias depois, precisando renovar minha Carteira Nacional de Habilitação, categoria amador A/B, depois de fazer a prova de Primeiros Socorros e Direção Defensiva num Centro de Formação de Condutores, e agendar o cadastramento no Detran, apresentei-me-se a este órgão, n° 900 da Av. do Estado.

Prédio sórdido, ao lado de um lixão, sem que funcionários (sem crachá) prestassem informações sobre o local de atendimento, pessoas (cidadãos) andando às tontas.  Com esforço, localizei a porta do chamado Pré-Cadastramento.  À hora marcada, apresentei-me, recebi uma primeira (??!!) senha. Funcionários sem crachá de identificação (para dificultar reclamações?), conversando entre eles, dando risadinhas, enquanto o cidadão (??) espera que lhe dêem  um instante de suas preciosas atenções. Finalmente, o funcionário digita algo, sempre conversando e rindo com a colega, e envia o cidadão (eu, cada vez menos cidadão) a outra mesa, para retirar uma segunda senha (??).

Chamada a segunda senha, vou eu (sessentão) a uma mesa,  ajeito o banquinho de metal para apoiar o guarda-chuva, e sento-me, para ouvir da funcionária uma reprimenda: "eu não permiti que mexesse o banco!".  O cada vez menos cidadão (eu) cala-se, humilde, e aguarda ordens. Depois de três tentativas frustradas de fotografia, a funcionária descobre que lhe falta a senha do sistema.  Sai da mesa, volta com uma colega, que insere a senha, e finalmente faz-se a foto.

Segue-se a tentativa (frustrada) de coleta das 10 digitais.  A funcionária prontamente me acusa, a vítima (o ex-cidadão): "o senhor tem alergia nas mãos! ". Pensei em perguntar se a moça era médica, mas, amedrontado, disse apenas que  nunca soubera ser portador de uma "alergia nas mãos", o que quer que seja isto.  E volta a acusadora:  "por isto suas digitais não saem no sistema";  "vai ter de voltar ou esperar que o Detran conceda uma exceção".  E a vítima é mandada embora, atônita.  Dias depois, consegue fazer o exame médico, e aí ouve, na clínica, o que já sabia:  "o sistema do Detran é uma vergonha, não funciona!"

Lembrando: 20 dias antes, eu renovara meu passaporte na sede da polícia federal na Lapa, onde minhas digitais foram tomadas em cinco minutos, com eficiência e gentileza, e o passaporte foi expedido..

Enfim, mais um cidadão humilhado, espezinhado, pela arrogância e despreparo das "autoridades" do trânsito de São Paulo." 

Até quando o Departamento de Trânsito do estado onde fica a maior cidade brasileira prestará serviços deploráveis e desrespeitosos como o relatado?

BS