google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)





O texto do Marco Antônio Oliveira sobre o 3-rodas com motor Harley me deixou pensativo nesse final de semana. A complicação em quase todas as áreas de nossas vidas é regra, talvez por isso estamos cada vez mais cansados de tantas coisas. Tarefas cotidianas se tornam uma chatice, motivadas por procedimentos e idéias estapafúrdias de pessoas com pouco a fazer.

Qual o motivo, por exemplo, que faz um banco enviar sistematicamente propostas de conta-corrente e/ou cartão de crédito para um endereço que nunca se comunica de volta? Será difícil perceber que aquela pessoa não quer ser cliente?

Mas isso aqui é um blog sobre automóveis e essa foto aí de um Chevette americano nos remete ao pensamento sobre simplicidade. Vejam que idéia simples: o menor e mais leve Chevrolet da América onde cabe um V8 bem grande. Bom, caber não é bem o termo exato, dimensionalmente falando, pois alguma coisa está para fora, mas isso não é problema. Também o Chevette não é mais o menor Chevrolet americano, é o Aveo. Opa, mas isso é um carro coreano do grupo GM... deixa para lá, o que interessa aqui é que o camarada que construiu essa maravilha da foto deve ter comprado esse carro por uma ninharia e o transformado em um espetacular veículo de entusiasta.

Nosso amigo Alexandre Garcia poderá se empolgar com o que vemos na imagem e nos contar, com alguns detalhes, a estória de um carro desses que capotou para trás em uma prova de dragsters no início desse ano.

Simplicidade: pensem e exijam isso nas suas vidas. Tudo pode melhorar.



Outro dia, há algum tempo já, convenci Egan Sr. a largarmos um dia de trabalho para ir atrás de dois carros de que tínhamos ouvido falar, que estavam no Rio de Janeiro.

A proposta era boa, inicialmente. A pista indicava que eram duas Alfa Romeos, uma Alfetta "esportiva" e uma GT 1967. Ambas quase prontas e as duas pelo preço de uma. Ligamos para o dito dono dos carros. Ele confirmou, dizendo que estavam na oficina de um amigo e poderia buscar-nos no aeroporto e levar-nos lá para ver os carros. Eram dois mesmo, uma Alfetta, "esportivíssima, parecida com uma Ferrari, com o câmbio e diferencial lá atrás e tudo, quase pronta, faltando umas coisinhas pra sair da oficina", e uma GT 1967 "lindo, mas com motor de Opala 4 cilindros; eu tenho o câmbio original, vai junto, só precisa achar um motor por aí em São Paulo. E, ah!, ia esquecendo! Tenho um monte de peças de Alfa, elas vão junto no negócio!". E sim, o preço era bom. Compramos as passagens da ponte aérea para o dia seguinte e lá fomos nós.

O vôo, previsto para decolar às 8h30, levantou vôo às 10h45; chegamos ao RJ com um belo atraso e nosso anfitrião ainda não tinha chegado ao aeroporto. Aquilo já começou a cheirar mal, mas poxa, duas Alfinhas, uma para cada Egan? De repente, um senhor de idade, cambaleante, veio em nossa direção, perguntando "Seu Egan? Sou eu, o João (nome trocado, obviamente). Vamos lá?" Seguimos o velhinho, que entrou em dois (sim, dois) táxis errados antes de encontrar aquele que o tinha trazido ao aeroporto. Na saída, o taxista e "seu" João discutiram e perderam alguma saída importante, e caímos na ponte Rio-Niterói.

Maravilha, já que o tempo já seria escasso sem erros de trajeto. Pedágio no final da ponte, perguntamos como retornar, ouvimos as instruções, mas, obviamente, o taxista errou mais uma vez e perdemos o retorno. Cutuquei o cotovelo de Egan Sr. e lhe falei, "Pai, essa viagem será inesquecível..." O taxista então pára para pedir informações na beira da estrada, e, do nada, o homem para quem perguntamos responde sem pestanejar: "Estão indo ao Rio? Pô, merrmão, deixa eu ir com vocês (enquanto ele dizia isso, esticou a mão pra dentro do carro, destravou a porta e entrou) que eu explico o caminho e vocês me deixam na saída da ponte, ok?"

Naquele momento, pensei que Alfa nenhuma valia aquilo. Paulistanos temem o Rio como cariocas temem São Paulo e não era nada confortável a situação. Mas, já estávamos lá e não tínhamos muita volta naquela hora, então...

Long story short, deixamos o caroneiro no final da ponte, o taxista se entendeu com "seu" João e chegamos a um bairro longínquo da periferia do Rio. "Seu" João, agora mais certo do que fazia, dizia, confiante, a cada esquina "Direita! Esquerda aqui! Direita no final da rua! Esquerda ali, depois da Brasilia parada! Esquerda de novo! Ué, não tinha esse semáforo aqui... dá marcha ré que erramos!" Ao que o taxista respondeu prontamente, atravessando o carro no meio da rua para retornar, sem prestar respeito a nenhum dos dois ônibus que vinham um em cada sentido... "Seu" João, ainda sem se dar conta da situação, gritou: "É aquela oficina ali!" -- e paramos o carro e entramos.

"Seu" João entrou perguntando pelo José (ou qualquer outro nome genérico) e os funcionários da oficina reponderam prontamente "Aqui não tem nenhum José." E "seu" João, coçando a cabeça, sem entender, se lembrou que na verdade a oficina era a outra, vizinha de parede. E finalmente chegamos aos carros.

Entramos, eu e Egan Sr., nos espremendo entre vários carros, até chegar a uma Alfa 2300 completamente desmontado, onde o "seu" João parou e disse "Veja só a minha Alfetta, que bela - tá vendo, só falta umas coisinhas pra sair com ela...". Bom, era uma Alfetta sim. Mas não era nenhuma "Alfetta esportiva", não, era o feio sedã cujo feio desenho foi copiado para a nossa 2300, brasileira. E realmente só faltava uma coisa para terminar o carro: o interior. Inteiro.

Decepcionado ao extremo, pensei em esganar o "seu" João ali, na hora, naquela oficininha boca-de-porco na periferia carioca. Respirei fundo, mas pensei na GT 67 e nas peças que, segundo "seu" João, lotavam sua casa e eram motivo de ódio de sua esposa. Ainda poderia haver algo ali.

Seguimos mais em frente na oficina, embrenhando-nos entre carros que lembravam experiências do Dr. Moreau, feitos sem nenhum dó, nem recurso. E lá, no fundo da oficina, rodeada pelo mato já alto, estava a bela carroceria step-nose de uma GT 1967. Ao relento. Sobre UM ÚNICO cavalete (apoiando um braço da suspensão dianteira esquerda) e as rodas traseiras.

Olhei para Egan Sr. e no silêncio que fizemos um observador atento poderia ouvir a Alfa enferrujando. Tomado pelo ódio, revirei as peças e constatei que o câmbio original estava lá. Só que no chão. E com um rombo na carcaça do tamanho de uma moeda de um real (para quem nunca viu uma caixa de câmbio de uma Alfa do período, isso é mais ou menos um quinto da área lateral da caixa). Abri o capô e vi o maldito iron duke, mal e porcamente adaptado. As portas obviamente não abriam, e se abrissem não fechariam mais, mas o interior, apesar de em péssimo estado, era completo.

Ainda tentamos olhar com atenção para ver se algo ali se salvava e ainda tivemos coragem de mandar um oferta por tudo aquilo. Não chegava a 20% da pedida de "seu" João, mas era uma oferta. Ele obviamente não topou e então entramos no táxi. Ele fez questão de mostrar ainda "o lote imenso de peças que ele tinha guardado em casa e "que minha mulher vive reclamando por que não consegue andar em casa". Como era caminho do aeroporto, fomos lá.

No elevador antigo que nos levou ao apartamento, a ansiedade por encontrar aquele carburador Weber perdido, esperando um dono, só crescia. Entramos na casa, empoeirada e fedendo a mofo e maresia e, da porta, "seu" João apontou um pára-brisa de GTV apoiado na parede: "Olha ali todas as peças! Vocês vão adorar!".

Sim, senhores, o "lote de peças" era simplesmente um pára-brisa e três gavetas de peças miúdas debaixo de uma mesa. Dois ou três tipos de buchas de suspensão, lanternas de Alfas nacionais, condensadores e cabos de vela, mas nada mais. Nada de interessante. Eu, já nervoso, falei a Egan Sr. na frente do "seu" João: "Pai, vamos embora que não tem nada aqui..." e fui interrompido pelo "seu" João, que disse: "Calma, eu vou lá dentro pegar os meus carburadores para a gente fazer negócio com eles também"...

Ele trouxe para a sala um belo jogo de Webers 40 horizontais, perfeitos para a Alfa GTV 2000 que Egan Sr. tinha à época. Perfeitos, completos e ideais. "Vou fazer deles um abajur, que tal? Não é uma ótima idéia?", perguntou "seu" João, que emendou: " A não ser que vocês queiram eles também. Vocês me levam os carros pelo meu preço e com só 5 mil reais a mais vocês levam essa preciosidade para casa..."

Egan Sr. disse então umas verdades ao "seu" João e fomos embora do apartamento. Ao nos despedirmos e entrarmos no táxi para o aeroporto, "seu" João ainda soltou: "Como vamos fazer com o custo do dia do taxista? aqui metade do dinheiro, o resto vocês completam, ok?"
É, já que estamos no espírito da Hot Rod mesmo e vamos nas listinhas de 10, vou mandar a minha. Dez carros que eu gosto.

1- Dart cupê 76. Meu primeiro carro. Meu pai me ajudou na escolha. Isso 26 anos atrás, num longínquo 1982. Um carro fantástico, absolutamente genial. Tem um 360 muito bacana, bem feito, com muita coisa legal dentro. Breve ganha um vira com 4 polegadas de curso e passa a 408.

2- Charger RT 75. Meu terceiro carro, meu segundo Charger, muito mais legal que o outro RT que comprei, também 75. Era ruim, meio podre como todo Charger que tinha no Rio de Janeiro em 1986, mas eu gostei dele e resolvi salvá-lo. Era amarelo Montego, minha esposa achou que seria uma boa idéia pintar ele de preto e meti bronca. Outro carro muito legal, me trouxe muita diversão. Tem ainda um 318, que deve virar 360 breve com as sobras do Dart, virabrequim e demais trecos.

3- Dart 78. Esse foi comprado para tirar peças para os Plymouths mais abaixo. Aí ele andava e era bom pacas. Mas era feio e sem graça pintado de marrom. Meti um amarelo Interlagos nele, e como tinha um 383 sobrando, de bobeira, na garagem, meti nele também. Isso lá em 1991. Na época já era dificil comprar Gardenal.

4- Belvedere 68. Era 1989 e eu estava pela primeira vez na vida tirando férias remuneradas. Viajava pela Dutra e vi ele num ferro-velho jogado. Não resisti, voltei no dia seguinte e comprei no ato. Tem um 383.

5 - Valiant 68. Vi esse carro em 1986, jogado num lote de carros antigos de um vendedor em Petrópolis. Pirei, mas não tinha grana. Quando arrumei a grana, ele não estava mais lá. O vendedor e os carros velhos. Muitos anos depois, em 1996, achei os dois de novo. Desta vez eu tinha dinheiro. Aliás, não sei se 200 dólares é dinheiro, mas foi o que me custou. Tem o 318 original do Charger preto debaixo do capô, forte e saudável. É o mesmo carro que o Dennis Weaver usou no filme "Encurralado", de 1971, que, aliás, foi o primeiro filme do Steven Spielberg. Felizmente nenhum caminhão-tanque nunca me seguiu com ele.


6- D100 - Não se passa sem uma picape. Ainda mais Dodge. Isso bastou para eu pegar ela.

7- Chevelle Coupe 67 - Impossível de resistir, um amigo começou um projeto e não ia terminar. Ainda estou tentando.


8- Opala 4100 - Fazer o quê, V8 não é tudo na vida. Andei meio mundo nesse carro e quando precisei de um commuter econômico para ir periodicamente a Angra dos Reis trabalhar, ele ajudou muito.


9 - Caravan - Bom, essa nem precisa falar nada. Presente de Natal que meu pai me deu em 1989. Ele não gostava dela porque era beberrona, 4 cilindros, bem safadinha na visão dele. Resolvi o problema do 4 cilindros beberrão em grande estilo. Também finalmente uma foto boa neste post, Thanks PK.

10- Ram - Com o tempo a outra picape ficou pequena, acho que eu engordei muito.


11- Cherokee. Eu preciso de um veículo normal para usar às vezes. É ela.


12 - Camaro. Cada povo tem o Opala que merece. Caiu na rede é peixe. Impossível de ignorar algo tão bacana, amo esse carro.

Peraí, não eram 10? É, mas é tanto carro bacana que eu não resisti. Foi mais forte que eu. Desculpem. Lutei muito para resumir e o máximo que consegui foi isso.

Sim, senhores, inebriado pelos papos intermináveis com nosso amigo MAO, montei aí uma pequena lista de dez carros, e de um tema não muito respeitado.
Vejam aí os dez melhores carros com motores de 1 litro e entendam que o problema não é o tamanho do motor, mas, sim, o tamanho do espírito apoiado sobre os 4 pneus. Vale notar que a lista está fora de ordem, mas os carros são esses mesmos.


1) Willys Interlagos 998 cm³: Pequeno, leve e belo. Era levado por um motorzinho possuído pelo demônio e com um ronco incrível para algo tão pequeno. Motor de produção, mas levado ao limite e oferecido sem nenhum tipo de garantia pela Willys-Overland do Brasil. E claro, tudo coberto pela linha leve e equilibrada de Michelotti.


2) Mini Cooper 997 cm³: A obra de Issigonis retrabalhada por Cooper. Criou o esportivo mundano, sem classe, para mim e para você. Vestiu o capacete imaginário que pessoas como nós vestem quando dão uma corridinha ao supermercado.


3) "Carreteras" DKW-Vemag 1.089 cm³: O trabalho de Lettry e Crispim fazendo esportivos "de verdade" sofrerem em Interlagos. 2T, mais de 100 cv e o inebriante cheiro de óleo dois-tempos de base vegetal (Castrol R40). Esse cheiro deveria ser vendido em pequenos frascos, Parfum Deux-Temps. Faria sucesso, ao menos entre nós...Carro da foto é o de chassi encurtado em 35 cm, para apenas 2.100 mm. Lettry o apelidou de "Mickey Mouse".


4) DKW-Vemag Carcará 1.089 cm³: Mesmo motor, carroceria de Rino Malzoni num chassizinho de Fórmula Júnior e 212 km/h. O Bob estava lá...


5) Abarth 1000 TC: Nascido Fiat 600, era massageado em um especial de homologação dos diabos. Pra dirigir com a faca nos dentes, taking no prisioners. A pulga atômica, em sua melhor iteração.


6)NSU Prinz 1000 TT: Lindo, leve, belo, um Mini-Corvair alemão. Um 4 cilindrinhos em linha, todo em alumínio, refrigerado a ar, traseiro, transversal. Levantava a roda interna dianteira manobrando na garagem, se duvidar.


7) Mazda Cosmo 1965: Ok, Wankel, o que para alguns é como roubar, colar na prova, ou algo do tipo. Mas deslocava menos de 1 litro em seus dois rotores, 982 cm³ para ser exato, e punha para fora 110 belos cavalos de olhos puxados. E claro, lindo e com personalidade, de um jeito que japas nunca mais fizeram.


8)Renault Twingo 1.0 16v: 999 cm³, 70 cv, menos de 900 kg. Ah, em 2002, carregando dois air-bags para passear, e vários outros luxos modernos, como ar-condicionado, trio elétrico, bancos ajustáveis nas 4 posições... Injustamente ignorado, o Mini moderno ainda trazia o melhor 1-litro de 16V já feito em terras brasileiras. Um companheiro de inúmeras aventuras, e o melhor jeito de assustar motoristas incautos em estradas e onramps.


9) Austin-Healey Sprite MkI, MkII, MkIII: sim, são 3 carros, mas de 948 cm³ a 1.098 cm³, eram tudo que um carro esporte devia ser. Pequeno, leve, vestia o motorista e um passageiro, e era o melhor companheiro do dia-a-dia ao passeio de final de semana. Sonho deste colunista aqui...


10) Honda Insight: Sim, um japa, moderno, fuel-sipping. Mas não está aqui pelo apelo verde, e, sim, pela idéia de ser um cupezinho bonito, aerodinâmico, leve, eficiente. E com um 3 cilindros de 1 litro, assistido por um genial motor elétrico acoplado ao volante do motor, era econômico pacas.