Recentemente o programa
britânico Top Gear mostrou uma matéria sobre o novíssimo Ferrari F12, uma
maravilha tecnológica que literalmente voa pelas estradas.
O inolvidável Jeremy
Clarkson mostrou detalhes interessantes e que fazem salivar os entusiastas das
novidades. Magnífica é a cobertura que se abre no pára-choque dianteiro para
aumentar a área de passagem de ar para os freios, comandada pela informação de
sensores de temperatura, apenas um exemplo de alta tecnologia empregada no
modelo. Há tanta coisa na máquina italiana que nem dá para lembrar. É necessário consultar ficha
técnica e mais um descritivo do carro para entender o conteúdo.
Mas Clarkson, após
muito explorar a potência e agilidade do carro, disse que há dois problemas.
Uma direção rápida e leve demais, que não dá tranquilidade ao motorista, e
excesso de potência. Pela primeira vez na vida ele reclamou de excesso de
potência. Foi realmente cômico escutar isso de Clarkson, e mais ainda os
comentários de seus colegas de apresentação do viciante programa da BBC.
Como é possível um carro tão magnífico, feito por uma empresa com uma história tão significativa, conceber um produto que gere comentários negativos sobre dois dos sistemas que são dos mais importantes em carros de grande desempenho, direção e trem de força?
E eu, mais uma vez, me vi pensando no F40, meu Ferrari preferido.
Ùnico exemplar azul de fábrica
O F40 veio em uma era
em que o mundo já estava ficando muito complicado, e ele mesmo tem ao menos
um sistema bem sofisticado, que é sua injeção de combustível.
Mesmo assim, é um carro
bem simples comparado ao conteúdo elétrico, hidráulico e eletrônico que se tem hoje em Ferraris
e mesmo em muitos carros mais normais, ao ponto de ter apenas um item de conforto, o indispensável ar-condicionado. O carro todo é apenas funcional, sendo
considerado mais um veículo de corrida do que de rua. Notando isso, chegamos à
origem da marca, que seguramente é a mais conhecida do mundo no que se refere a
carros, mais que a Ford com o modelo T, ou a Volkswagen com o Fusca.
Esse nosso mundo autoentusiasta é mesmo bacana. Acabei de receber um vídeo do Mestre Mahar que me fez escrever este post.
Tenho que confessar algo. Até há pouco tempo em não gostava muito, ou tinha muito pouco interesse em automóveis anteriores aos anos 1950. Sei lá; talvez pela distância no tempo e o pouco contato. Ou até pela paixão pela força e potência dos muscle cars e esportivos. Mas ao começar a trabalhar junto com o primo Arnaldo e seus maravilhosos clássicos essa figura se alterou muito.
Tudo começou quando fizemos uma matéria sobre um MG TC 1949. Um carro recém-restaurado e impecável. O jeito com que o Arnaldo tratou o carro e se interessou por cada detalhe me chamou atenção. O lugar onde estávamos e o lindo dia de sol fizeram o cenário das fotos muito prazeroso. Senti uma emoção diferente, forte, de natureza completamente dirversa de todas as emoções que já havia sentido antes. Não seria exagero dizer que foi um tipo de êxtase, algo próximo da plenitude, ou lembrando de outro post (veja a introdução desse post do MAO), algo com estar atendendo ao chamado. Essa emoção veio exatamente quando fiz essa foto abaixo.
Meses mais tarde nos encomendaram uma matéria para a comemoração dos 100 anos do Ford modelo T onde fotografei um modelo 1926 e vi a dificuldade de dirigi-lo. Infelizmente a conjunção de fatores que levam ao êxtase não ocorreu dessa vez. Mas passei a olhar para o T com outros olhos. Com muito mais romantismo e emoção. Uma pena que eu não consegui expressar isso nesse dia.
E depois fizemos uma matéria sobre um lindo Fiat 509A 1927. Carros muito antigos são mais difíceis de rodar por aí. Um problema na linha de combustível dificultou muito o trabalho, pois não achamos um lugar tão bom para as fotos. Quanto mais antigo o carro maior o grau de dificuldade para fazermos uma matéria. Mas esse 509A também me encantou. A foto abaixo foi inspirada na foto do MG.
Mas o que me faz lembrar de tudo isso foi o vídeo enviado pelo Mahar que conta um pouco sobre a história do Ford modelo T e da massificação do automóvel. Está em inglês, mas as imagens dizem muito. Alguns pontos são bem interessantes.
O visionário Henry Ford, além de fazer carros, foi o maior responsável por viabilizar o acesso das classes mais baixas ao automóvel. Ele teve a grande ideia de tornar seus funcionários também seus clientes. Para isso, com os ganhos em produtividade e em escala passou a pagar mais para os funcionários do que outras indústrias pagavam na época. Antes do Ford modelo T os modelos eram fabricados à mão. Um T demorava um décimo do tempo para ser fabricado. O Ford também reduziu o turno de trabalho de nove para oito horas, permitindo o trabalho em três turnos e aumentando o volume de produção e o número de empregados.
O Ford modelo T era simples, robusto, mais barato e era fabricado apenas em preto. Quando chegou ao mercado em 1909 seu preço era de 950 dólares. Ficou no mercado por 19 anos, até 1928, com pouquíssimas alterações, quando foi substituído pelo modelo A.
Ford modelo T 1926 e Ford modelo A 1929
As rodas eram de madeira e seu motor 4-cilindros de 2,9 litros tinha pouco mais de 20 cv de potência ligado a uma caixa de 2 marchas com troca feita por um dos pedais no assoalho. O acelerador é numa alavanca no volante - qualquer dia o Arnaldo explica como se dirige um T. Pesando próximo dos 550 kg dependendo do tipo de carroceria, atingia 70 km/h de velocidade máxima. O que o fazia muitas vezes mais rápido que um cavalo ou carruagem.
Havia uma linha de produção para o chassi e outra para a carroceria, também para ganhar produtividade. No ponto em que ambas estavam prontas elas se encontravam. Isso é assim até hoje em picapes, utilitários e caminhões. Muito versátil. ao longo dos anos foram vários tipos de carroceria: carro de passeio 2-portas e 4-portas, roadster, conversível, picape, picape conversível, furgão/perua. Dá pra ver algumas variações saindo da fábrica em Highland Park.
Com 19 anos de produção o modelo atingiu a marca dos 15 milhões de unidades. Essa unidade número 15 milhões pode ser vista no vídeo, no final da linha de produção com o Henry Ford como passageiro. E não deve ter passado pelo controle de qualidade. Vejam que o próprio Ford teve que dar uma forçadinha para fechar a porta. Nessa época já havia outras opções de cor.
O filme também destaca a versatilidade de uso do T. Vejam que impressionante sua capacidade de trafegar em diversas condições de rodagem que vão de uma estrada pavimentada, passando por neve e até fazendo trilhas fora de estrada. Coisa que um carro moderno não faz – ok, hoje temos ruas e estradas por todo lugar. Eu achei impressionante!
Não é à toa que o Ford modelo T foi eleito o Carro do Século. Merece todo meu respeito e admiração.
PK
Outro dia tive a feliz oportunidade de andar de Ford modelo T 1926 junto com o Arnaldo Keller.
Apesar de reconhecer a importância do modelo T na popularização do automóvel na América e conseqüentemente no mundo (foram fabricados mais de 15 milhões de unidades!), confesso que nunca tive amores por ele; talvez por nunca ter andado em um.
Gostei muito da experiência. O tempo de contato com a relíquia foi muito curto e dado a complexidade dos comandos, que será devidamente explicada pelo Arnaldo na Car and Driver, achei melhor me concentrar nas fotos e curtir o passeio.
Ao final a experiência foi muito enriquecedora e me fez ver o T com outros olhos.