Fotos: Lotus Cars
O lançamento que
mais me agradou no ano passado foi o novo Lotus Exige, que agora vem só com motor V-6 3,5-litros de350 cv.
Até então ele vinha só com o motor da Toyota, de alumínio, 4 cilindros, centra-traseiro transversal, de 1,8 litro e com compressoe. Gerava 267 cv a 8.000 rpm e 24,5 m·kgf de torque a 5.500 rpm. Nada mau para um esportivo que pesa 930 kg, tanto que faz o 0 a 100 km/h em 4 segundos e atinge 255 km/h.
É importante observar que o pessoal da Lotus é muito objetivo, sabe o que quer e vai direto ao ponto. Podemos observar isso no coeficiente aerodinâmico dos seus carros. O Elise e o Exige não têm Cx abaixo de 0,40, portanto seu arrasto pode ser considerado alto, já que os modernos sedãs têm vindo com o Cx abaixo de 0,28. Mas isso é proposital, pois o que os Lotus Elise e Exige perdem em fluidez aerodinâmica ganham em downforce, a força vertical descendente.
Parece que chegaram à conclusão de que pouco adianta um esportivo chegar a velocidades impraticáveis e preferiram sacrificar a velocidade final máxima, que muito raramente é atingida, em favor da máxima velocidade em curvas. Resumindo, seguiram a Fórmula 1, cujos carros têm Cx acima de 0,55, mas que com os itens aerodinâmicos anexados passa de 1,8.
Para melhor idéia do que esse 1,8 signfica, um carro de Fórmula 1 estando numa reta a 300 km/h, levantar o pé do acelerador resulta num desaceleração de cerca de 0,8 G – a mesma de um carro de rua freando com tudo.
Vamos e venhamos. Quando é que se acha condições de passarmos dos 300 km/h? Só fiz isso uma vez na vida, com um Audi R8 GT, e numa pista de aeroporto com cinco quilômetros de extensão (a pista de ensaios de vôo, da Embraer, em Gavião Peixoto, interior de São Paulo), e vou dizer, não achei tanta graça nisso, já que é só atolar o pé no acelerador e se mexer o mínimo possível. “Pedal to the metal and don’t move!”. Esse lance de velocidades interestelares, para mim, só serve de propaganda para alardear algo que não serve para nada.
Ruta 40, Argentina. Talvez aí |
Já a Lotus sabe
bem que muitos dos seus Elise e Exige vão para corridas de track-days e outras
mil categorias que o mundo civilizado autoentusiástico promove, principalmente
EUA e Inglaterra. E a Lotus sabe bem que nesse pega o que vale é aceleração
rápida, freadas fortes e velocidade em curvas, daí que, para conseguirem essas
características seguiram o espírito da marca, espírito esse obsessivamente implementado
pelo seu criador, Colin Chapman: onde quanto menos peso, melhor.
Segundo um de seus pilotos, a quem entrevistei, Sir Stirling Moss, o Chapman era tão obsessivo quanto a isso, que o método dele, na época, anos 1950 e 1960, em que ainda não havia simuladores em computador, era ir fazendo estruturas e suspensão cada vez mais delgadas e leves, até que nos testes em pista elas se rompessem. Uma vez rompida, o limite era achado, e aí voltavam à última um pouco mais reforçada e que agüentaria o esforço.
Segundo Sir Moss, em vista disso, em vista do perigo que era correr pela Lotus, a equipe só era procurada por pilotos mais jovens, com uma vontade alucinada de vencer e dispostos a arriscar a pele mesmo. Segundo ele, os carros de F-1 da Lotus eram difíceis, muito rápidos de reação, algo traiçoeiros, mas quem os dominasse vencia.
Segundo um de seus pilotos, a quem entrevistei, Sir Stirling Moss, o Chapman era tão obsessivo quanto a isso, que o método dele, na época, anos 1950 e 1960, em que ainda não havia simuladores em computador, era ir fazendo estruturas e suspensão cada vez mais delgadas e leves, até que nos testes em pista elas se rompessem. Uma vez rompida, o limite era achado, e aí voltavam à última um pouco mais reforçada e que agüentaria o esforço.
Segundo Sir Moss, em vista disso, em vista do perigo que era correr pela Lotus, a equipe só era procurada por pilotos mais jovens, com uma vontade alucinada de vencer e dispostos a arriscar a pele mesmo. Segundo ele, os carros de F-1 da Lotus eram difíceis, muito rápidos de reação, algo traiçoeiros, mas quem os dominasse vencia.
Tudo leve, alumínio |
Mas nada tema, que
com os Lotus de hoje não há problema. São resistentes e nada traiçoeiros.
E no ano passado a Lotus estabeleceu basicamente três modelos em sua linha: os Elise, com motores de 4 cilindros, os Exige, muito parecidos com os Elise, só um pouco maiores e pesados, com motores V-6, e os Evora, um modelo 2+2 com esse mesmo motor V-6.
O Elise se divide em três versões, todos targa. O Elise básico vem com motor 4-cilindros, central-traseiro transversal de 1,6 litro, aspirado, que gera 137 cv a 6.800 rpm e 16,2 m·kgf de torque a 4.400 rpm. Parece pouca potência, porém ele pesa somente 876 kg, o que lhe dá uma boa relação peso-potência de 6,4 kg/cv. O resultado é o 0 a 100 km/h em 6,5 segundos, o que é uma boa marca, e atinge 204 km/h. Seu Cx é 0,41.
Elise, nome que vem de Elisa, neta do então presidente da Lotus |
Há o Elise CR, que
já vem mais direcionado para as club racings, corridas de amadores em autódromos secundários, daí o CR no nome, então ele
sofreu uma redução de peso de 24 kg, fora um detalhe ou outro que melhora seu
desempenho na pista. O motor é o mesmo de 137 cv.
E há o Elise S, que este vem com o motor que anteriormente equipava os Exige: um 4-cilindros de 1,8 litro com compresssor, motor oriundo da Toyota, que gera 219 cv a 6.800 rpm e 25,4 m·kgf de torque a 4.600 rpm. Ele pesa um pouco mais: 924 kg, e sua relação peso-potência cai para 4,2 kg/cv, o que é ótimo. Faz o 0 a 100 km/h em 4,6 segundos e atinge 234 km/h.
E agora, como já foi dito aqui, há os Exige S e o Exige Roadster, sendo que a única diferença é que o Roadster é, na verdade, um targa, ou seja, só o cimo do teto sai. Ambos vêm com o motor que também equipa os Evora, um motor também derivado da confiável Toyota, um V-6 de 3,5 litros, comando de válvulas variável e com compressor. Gera 350 cv de potência a 7.000 rpm e 40,7 m·kgf de torque a 4.500 rpm.
E o interessante é que essa potência toda só tem o trabalho de empurrar 1.170 kg, uma relação peso-potência de 3,34 kg/cv. Canhonaço. Canhonaço, sim, pois, veja bem, caro leitor, um superesportivo de hoje costuma pesar 1.700 kg, portanto, para ter a mesma relação peso-potência do Exige S ele precisaria de um motor de 508 cv.
Fora que, quanto
maior a leveza, mais rápidas são as reações do carro, além do prazer maior,
pois carro leve tende a passar ao piloto sensações mais fortes e de maior
contato com a máquina. Além do mais, tudo tende a ficar mais barato, ou,
digamos, menos caro.
Elise e Exige, só câmbio manual de 6 marchas.
Eleven 1.100-cm³ |
Devido ao tremendo
sucesso que a Lotus conseguiu a partir do lançamento do Elise, em 1996 (nota: a
partir do Lotus Eleven, carro que destacou a marca nas competições, após
vencer, em 1956, a 24 Horas de Le Mans em sua classe (750-1.100 cm³), todos os modelos
posteriores passaram a ter seus nomes começados com E, como Elan, Europa,
Elite, Esprit... Outra nota: não existe Lotus 7, mas sim Lotus Seven, nem
Lotus 11, e sim, Eleven) a marca teve impulso para, com o lançamento do Evora,
buscar uma categoria mais sofisticada, ocupada principalmente pelos modelos
Porsche Boxster, Cayman e 911.
Eleven 1.100 cm³ |
O Evora, um modelo
2+2, já é maior e mais pesado, apesar de leve: 1.383 kg. Mesmo motor do Exige,
um V-6 central-traseiro transversal de 3,5-litros. O Evora normal tem motor
aspirado de 280 cv a 6.400 rpm e 36,7 m·kgf de torque a 4.600 rpm. Acelera
do 0 a 100 km/h em 4,8 segundos e vai a 262 km/h de velocidade final.
Evora S |
Já o Evora S tem compressor, o que eleva a potência para 350 cv a 7.000 rpm e torque para 40,7
m·kgf a 4.500 rpm. O desempenho passa a ser: 0 a 100 km/h em 4,4 segundos e
velocidade final, 286 km/h. O Cx dos Evora é 0,33.
Como se vê, o Evora, apesar de ser um tremendo esportivo, já saiu da proposta do Elise, mas é perfeitamente válido, é um 2+2 que oferece todo o conforto e comodidade que muitos hoje exigem. Um exemplo: uma vez dirigi um Exige que estava à venda. O pobre coitado o estava vendendo porque sua esposa não queria saber de entrar no carro, dizendo que aquilo não era carro, que era muito pequeno, que tinha carroceria de plástico, que não tinha forração nas portas, era muito leve, perigoso etc., essas chatices todas com as quais algumas mulheres conseguem cortar o barato de um pobre coitado.
Já você, caro leitor, exija o seu Exige e seja feliz.
AK
Ao trabalhar com o Cx acima de 0,40 os projetistas da Lotus conseguem duas coisas: maior downforce e desenho limpo, algo que infelizmente a Fórmula 1 perdeu com seus apêndices aerodinâmicos que vão do essencial (aerofólios) ao penduricalho, deixando as máquinas parecidas com uma árvore de Natal.
ResponderExcluirNum Lotus Exige você não vê saias rebaixadas, asas traseiras que se levantam a partir de um zilhão por hora e, talvez por isso, o carro tenha preservado a personalidade de sua marca.
Com relação às mulheres que judiam de pobres coitados, foi graças a uma delas que tenho um MP Lafer. Um brinde às cortadoras de barato!
Infelizmente não tenho condições de $$$ e nem braço pra ser feliz com um Lotus...hehe. Embora habilidade na direção (e nos pedais) seja algo que eu possa aprender e aprimorar, não é mesmo? Mas quem sabe um dia eu compre um DS3, que pelo menos é algo que está ao meu alcance. Chega de ficar se gabando de acelerar esse modernos carros com cambio automático/automatizado em linha reta ... (isso até um macaco treinado faz, quanto mais um reles motorista como eu...)
ResponderExcluirEu gosto de carro com cambio automatico.
ExcluirMais facil de sair em ladeiras e menos cansativo no transito.
Caro anônimo, para o dia-a-dia também prefiro... mas estamos falando de outro conceito de carro, não de mero meio de transporte.
ExcluirFélix, em relação às condições de $$$, há uma solução: veja os livros "Build Your Own Sports Car: On a Budget" e "Build Your Own Sports Car for as Little as £250 and Race It!". Eles ensinam construir um Lotus Seven! Um abraço.
ExcluirNão existe mais Ferrari de 3 pedais. Viraram "mero meio de transporte"?
Excluirfélix, apesar do DS3 ser uns excelente carro, está vindo para o Brasil uma porção de hot hatches, eu consideraria uma revisão, para achar um carrinho melhor.
ExcluirE concordo, para o que queremos é melhor o cambio manual ao automático
Caro Anônimo das 22:13 - acho que estamos falando de coisas diferentes.... Respeite quem ainda tem vontade de aprender a arte de controlar a embreagem e a alavanca de câmbio! Pô, o AK falando de Lotus e vem gente falando em facilidade de sair em ladeira!?! E lembrar uma coisa que TODOS aqui sabem sobre o câmbio da Ferrari!? Santo Deus!
ExcluirFélix, aprender operar embreagem não significa ser bom piloto. Geralmente quem se vangloria muito disso, não corre em categoria nenhuma, só quer aparecer, jogar pra galera.
ExcluirAntônio,
ExcluirNinguém está se vangloriando de nada. Só dizendo que gosta e boa. OK?
Não tem nada a ver criticar isso.
Arnaldo, este motor V6 é o mesmo que equipa o Camry, só que com alguns itens trabalhados para adição de potência (60 cv a mais), correto?
ResponderExcluirE Lotus é carro pra purista! Ainda bem que abandonaram aquela ideia de lançar sedans fora de propósito, como este aqui:
http://www.cartype.com/pics/8582/full/lotus_eterne_15_03.jpg
Oh que texto delicioso de ler ! Parabéns !
ResponderExcluirtá ai uma das unicas empresas que fazem carros esportivos a moda antiga, acessiveis e leves. vida longa a lotus!
ResponderExcluirAcessivel ???????
ExcluirOce tá podendo , hein?
é comentei depois que eu vi os preços. o básico tá 40mil euros! acessivel nada haha
ExcluirA proper sports car!
ResponderExcluirEssa do marido aí é de chorar. Melhor deixar que ele resolva os problemas dele.
ResponderExcluirArnaldo, espero que não soe como heresia: o Elise seria viável num uso corriqueiro? Essa solidez aliada à leveza (que exclui muita coisa supérflua) me faz pensar nele como um carro muito robusto e que possa ser usado sem maiores dores de cabeça, ainda mais com componentes mecânicos compartilhados da Toyota, por exemplo.
Não, não penso em comprar um. Só sonho.
João, hoje até Ferrari é robusta para malhar no dia a dia. Só depende de você querer/poder. Mas, você sabe, não são ideais. Tipo moto speed, aguentar a cidade, aguenta, mas uma 125 é até melhor na cidade.
ExcluirNunca havia prestado atenção que os Lotus usam compressores em vez de turbocompressores... além de curvar rápido, deve dar um "soco" em baixa-média rotação que não é brincadeira!
ResponderExcluirAh vá anonimo!
ExcluirSoco é andar na buraqueira que esta nas ruas de Sao Paulo....
Anônimo,
Excluirnada de soco. Não é como os turbo antigos que até encher o turbo eram frouxos e quando entrava era intempestivo. A vantagem é que com compressor o comportamento do motor se assemelha ainda mais ao aspirado. Empurra forte desde baixa, mesmo.
Maravilha de texto, Arnaldo! E você quando participará de trackdays? Os vídeos ficarão sensacionais.
ResponderExcluirAbraço
Kiko,
ExcluirOs ralis do Jan Balder têm caído em fins-de-semana em que minha família quer viajar e eu as obedeço, que não sou trouxa...
AK,
ResponderExcluirVc pode adicionar o vídeo que fez ao rodar com o Exige?
A dupla Elise/Exige é diversão certa. Aqui no Rio, nos últimos track days que aconteceram no finado autódromo, um Exige era um dos maiores bicho-papões.
AK é o meu heroi!!!
ResponderExcluirMaravilhoso.
Compartilho todos os pontos de vista!
Pena que ainda é um pouco salgado pro bolso dos pobres mortais...
Eu acho que falta um SUV no portfolio da Lotus: grande, pesado com um motor de 12 cilindros e 6 litros pra poder movimentar o brutamontes.
ResponderExcluirSó vi um Elise uma única vez nas ruas de São Paulo - e me apaixonei na hora. Em princípio, nem sou fã de esportivos, gosto é dos carros pequenos e ágeis no trânsito urbano - mas o Elise é um esportivo diferente, ao mesmo tempo purista, mas muito compacto.
ResponderExcluirCarros assim talvez dêem mais diversão ao serem dirigidos do que as super-máquinas de muitos milhões. Emerson Fittipaldi também já havia falado uma vez sobre a fragilidade dos projetos do Colin Chapman,especialmente do carro-asa,onde qualquer problema nas minissaias era suficiente para fazer o bólido voar pra fora da pista. Isso só valoriza o talento dos que venceram nesses carros,incluindo o próprio Emerson,Moss e Jim Clark.
ResponderExcluirQuanto ao ex-dono do Lotus,tinha que ter posto aquele adesivo com a frase:Minha mulher me deu um ultimato:ou eu ou o carro. Tenho muita saudade dela.
Caramba, esse Eleven nº 8 parece ter saído do desenho do Speed Racer!
ResponderExcluirEu também não sabia que o Elise utilizava os motores da Toyota. Corolla? Vivendo e aprendendo!
Talles
E a confiabilidade geral dos Lotus, melhorou ?
ResponderExcluirTem um Evora tentando correr nas competições de GT aqui no Brasil, ele dá trabalho pros fortões.
Carro inglês sempre teve essa má fama de gostar de oficina. Mas como agora o principal vem da Toyota, deve ter melhorado bem.
ExcluirIgual a PSA, que agora usa motor BMW e caixa Toyota, ficou perfeito.
Sempre que me perguntam que carro eu gostaria de ter, independente do preço, a resposta é simples: Lotus Elise.
ResponderExcluirVou totalmente contra o pessoal que gostaria de ter Ferrari 458, Lamboghini Aventador, ...
Eu sempre sonhei com um Lotus Elise, e posteriormente com o Exige. É carro de purista mesmo. E sempre admirei a Lotus, dadas as suas soluções que faziam seus modelos vencedores pela intelugência, não pela força. Baixo pese, princípios de engenharia levados a sério com extrema prioridade, chassi do Elise extrudado em alumínio, etc... Show de bola!
ResponderExcluirUma dúvida: o nome correto é Espirit ou Esprit?
Rodrigo
ExcluirÉ Esprit, já foi corrigido, obrigado.
Também sou fã dos esportivos leves, onde um motor menor faz estragos quando levado ao limite. Por esse motivo é que não dou muita bola para o mastodôntico Bugatti Veyron. Sem dúvida alguma é um tremendo de um carro, com tecnologia de sobra para impressionar qualquer um, mas o enorme peso acaba com boa parte da diversão. E quando é que um mero mortal irá poder usar todo o poder de fogo e atingir os mais de 400 km/h de final?
ResponderExcluirVídeo EXCELENTE relacionado:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=Ci_RbjDvW-Q
Muito bom o vídeo. Bom mesmo.
ExcluirBela matéria como sempre AK!!!
ResponderExcluirEu sei que vc falou de uma maneira geral com relação a aerodinâmica e o cx de 0,40... Não sei quando, mas eu tenho certeza que um dia teremos projetos mais inteligentes com baixo arrasto nas retas e auto downforce nas curvas... ;o)
Abs
Lawrence, o Pagani já está fazendo isso no último carro dele. Flaps sobem nas curvas e nas freadas.
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