Um quarto de século de idade! |
Em 1988, pouca gente esperava ver algo do tipo que a
Italdesign apresentou em Turim.
O Aztec deu a tônica em um salão algumas semanas
depois de Genebra, onde só se falou de emissões de poluentes, um dos assuntos
mais recorrentes e desagradáveis no universo automobilístico.
A empresa Italdesign, de Giorgetto Giugiaro e Aldo Mantovani, tinha que chacoalhar a audiência, pois havia perdido trabalhos de dois grandes
clientes, a Fiat, que fizera o Tipo e os derivados das marcas Alfa Romeo e Lancia com o estúdio I.d.E.A, e a
Lotus, com uma atualização do desenho original de Giugiaro para o Esprit, feito
pelo inglês Peter Stevens, que depois viria a ser o mestre criador do desenho do
McLaren F1.
O que a Italdesign mostrou foram, na verdade, três carros
diferentes ao mesmo tempo e com uma inspiração única, parecendo naves espaciais
pela característica principal de serem visíveis painéis de acesso de
manutenção, totalmente práticos e propositalmente aparentes. Apenas um
deles era um carro de verdade que andava e era completamente funcional.
O Asgard era um sete-lugares multiuso, com tendência
esportiva e muito luxo. O motor seria
central, debaixo dos bancos dianteiros.
O Aspid, um
cupê monovolume, com teto transparente emendando com a cobertura do cofre do motor, linha de cintura alta, um desenho
elegante e futurista. Muito similar ao Aztec, porém de cabine convencional, com um teto único para todos os ocupantes.
Ao fundo o Asgard, no centro o Aspid e o Aztec em primeiro plano |
Mas o carro que entraria de verdade para a história
foi o Aztec. Parecido com o Aspid, mas com as coberturas dos alojamentos de motorista e
ocupante separados, com duas bolhas independentes e um aerofólio enorme e funcional, lembrava um carro de corrida do
futuro, também pelos postos separados.
Os dois primeiros eram modelos estáticos, sem mecânica rodante, mas o
Aztec não. Propulsionado pelo motor Audi de cinco cilindros do modelo 200, o
Aztec o tinha colocado atrás dos ocupantes,
na posição transversal, com 253 cv e tração nas quatro rodas, óbvio. Aqui uma
estranha informação, mas fácil de admitir como verdadeira. Algumas fontes citam
que a transmissão era do Lancia Delta Integrale, o que pode parecer estranho,
mas bastante lógico, já que os Audi com tração integral tinham motor
longitudinal. Assim, é tecnicamente lógica essa informação, pois o Delta sempre
teve motores transversais.
Há inclusive alguns exemplares que foram equipados com rodas desse italiano multicampeão de ralis. Alguns exemplares de carro de conceito? Sim, explicarei mais adiante.
Rodas do Delta Integrale nesse exemplar |
O visual do carro era de paralisar os entusiastas,
num efeito que Giugiaro via como a saída para os carros esportivos dos anos que
se seguiriam, já que desempenhos cada vez melhores de carros normais e
pseudo-esportivos já se faziam notar com facilidade na maioria das marcas.
O Aztec tem duas entradas de ar na frente para o
radiador do motor, dois pára-brisas e tetos independentes em forma de bolha, se
emendando com duas coberturas de motor protuberantes, que deveriam cobrir dois
motores V-8, a idéia original, alterada para o mais pé-no-chão motor cinco-em-linha da Audi. Por isso as quatro saídas de escapamento, uma para cada quatro
cilindros, se o carro tivesse os dois motores.
Cinco cilindros Audi na transversal |
O problema maior dos motores centrais: o acesso |
Semelhança de lanternas traseiras entre o Aztec e o Alfa Romeo 164 |
Mas talvez o detalhe mais interessante do Aztec
sejam as coberturas laterais localizadas à frente da caixa de roda traseira. O ponto principal são três teclas amarelas que
permitem o acesso a várias informações e acessos do carro. Pelos códigos
inseridos se abre a cobertura das rodas traseiras, verifica-se nível de fluido
de freio, de líquido de arrefecimento do motor, abre-se o alojamento do
conjunto de ferramentas, aciona-se macaco hidráulico e outras ações. Bastante
futurista, e se pode imaginar os procedimentos ao redor do carro, se parecendo
com as verificações feitas em aviões antes da decolagem, ou nos filmes de
ficção científica, onde naves pequenas e práticas são facilmente manuseadas.
Um funcionário da Italdesign disse que esses três conceitos se pareciam com "salva-vidas de naves espaciais", lembrando-se obviamente dessas pequenas naves, sempre vistas em filmes do gênero. As tampas ou coberturas seriam diversão pura para quem gosta de mexer em seu próprio carro (eu, por exemplo).
Brinquedo para entusiasta de carros e ficção científica |
Códigos de acesso à mostra, para ninguém ter problemas |
Pessoas do mundo do design deram suas opiniões.
Chuck Jordan, o vice-presidente de design da General Motors, disse que o que ele
estava vendo era o mais importante desde o Medusa, de 1980, também obra de Giugiaro. Peter Stevens
afirmou que qualquer coisa que saía da criatividade de Giugiaro deveria sempre
ser levado a sério.
Os ocupantes podiam se comunicar por um sistema de fones
de ouvido, mas a parte inferior do
habitáculo era única, apenas separada nas bolhas de cobertura que podiam ser retiradas para que o carro se tornasse um conversível. Os ocupantes ficavam separados por cerca de 600 mm, uma distância grande, proporcional à largura do carro, 1970 mm, que já nem
parece tanto hoje.
Nesse tempo, o estúdio Italdesign argumentava que o
problema maior das cidades grandes é o comprimento, e não a largura dos carros.
Hoje, ao menos no Brasil, temos certeza que os maiores problemas enfrentados no
trânsito se devem a larguras excessivas dos carros, devido principalmente à parcela pouco
instruída dos condutores de motos e similares, que insistem em passar onde eles
não cabem, e crítica ao extremo em estacionamentos e garagens. Sem contar certas faixas de rolamento ridiculamente estreitas e fora de norma adotadas pela CET de São Paulo.
Passageiro dispõe de acesso a várias funções por meio de teclado |
Se o monovolume Asgard e o Aspid nunca se materializaram, o
Japão aceitou bem a idéia da minivan com
motor central, que a Toyota Previa adotou, com o motor deitado debaixo dos
bancos dianteiros, sendo que os pontos de verificação e manutenção básicos
estão debaixo do capô, e longe do motor. A Previa tem tração nas quatro rodas também.
Incrivelmente, a Italdesign vendeu os direitos do
carro para uma empresa de trading de Turim, que licenciou a Carrozeria Savio
para produzir cinquenta Aztecs para o Japão, com o nome A Z Tech, pela industria Myakawa, já que o nome original foi
registrado pela General Motors, independente da grafia que utilizou no Aztek. As
informações disponíveis dão conta da produção de dezoito ou vinte carros
apenas. Há pequenas diferenças entre os protótipos de Giugiaro e esse A Z Tech,
como as lanternas traseiras, por exemplo.
Um Aztec numa rua de Paris, carro de uso normal |
Tivemos a felicidade de ver de perto o Aztec na mostra
de São Paulo que o Arnaldo Keller postou aqui há alguns dias, e que foi maravilhoso para eu aproveitar e terminar esse texto, iniciado mais de um mês atrás. Foi uma rara
chance de ver um carro conceito que foi transformado em realidade e produzido em pequena quantidade. Ainda há muito tempo para visitar a exposição, que vai até 31 de março.
Abaixo mais fotos de detalhes, um pouco prejudicadas pelo contêiner em que o carro foi transportado e está exposto, com barras de metal atrapalhando a visualização.
JJ
Interessante como carro conceito mas, na minha opinião, longe de ser belo.
ResponderExcluirDeve ser bem estranho dirigir com a cabeça dentro de uma bolha, fora a visibilidade que deve ser terrível.
Perto dos carros futuristas que são apresentados hoje (tenho até medo de vê-los nas ruas, como carros do cotidiano) não achei feio, exceto pela lateral traseira.
ExcluirSurpreendente esta série sobre concept cars.
ResponderExcluirÉ incrível como o Aztec, mesmo com seu desenho datado, seria convincente em um remake do filme Blade Runner.
PQP que carro bonito!
ResponderExcluirJoão Paulo
Esse Aztec não é para quem tem claustrofobia.
ResponderExcluirAnônimo de 18/02/13 22:04.
ExcluirSe não estiver chovendo, as coberturas podem ficar em casa, aí nada de claustrofobia.
JJ,
ResponderExcluirEu pude ver de perto o Aztec e posso garantir que as lanternas são cópias das lanternas da Alfa 164, existe uma pequena diferença no comprimento da parte central da lanterna, exatamente onde lê-se Aztec, e também um complemento nas beiradas da mesma! No mais não vejo problema nenhum em usar essa peça, tenho certeza que o Giugiaro também se encantou com o design daquele sedã Alfa feito pela Pininfarina!
Esse carro parece mesmo saído de um filme de ficção científica. Aliás, naquela época sempre havia lançamento de ao menos um filme do gênero a cada ano.
ResponderExcluirInteressante esse desenho simétrico do painél. Por um momento achei que o carro tivesse dois volantes, mas depois vi que não.
ResponderExcluireste carro aparece em uma re leitura de frankenstein , no filme Frankenstein Unbound,de 1988 onde o inventor tinha inventado um carro inteligente e uma maquina geradora de buracos de verme , consequentimente ele encontra -se com mary shaley criadora de frankenstein, no final os dois "monstros" destroem o seu criador no caso da maquina temporal destroi a propria especie com uma onda temporal que produz outra era do gelo levando a sociedade "futura" a destruiçao.
ResponderExcluire um filme interessante, como os melhores feitos naquele periodo infelizmente hoje as pessoas estao mau acostumadas com lixos tipo velozes e furiosos !!!! o medo de mcfly estava correto de as pessoas se tornarem estupida a ponto de vangloriar franquias vazias !!!
http://monstermania-batcat31.blogspot.com.br/2011/10/monster-movie-for-thinking-person.html